Capítulo III – A Derradeira Traição

Hogwarts surgiu imponente, mesmo em frente aos seus olhos. Não mudara desde o último ano, continuando misteriosa e acolhedora, ao gosto da maioria dos alunos.

Agnès Moonatre, uma jovem de origem francesa, frequentava a Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts e preparava-se para iniciar o seu sexto ano. O facto de já ter vivido cinco anos no castelo não a impedia de se admirar com a sua imponência, de todas as vezes que mirava a sua estrutura.

Nesse momento, uma sombra interrompeu os seus pensamentos. Um Slytherin alto aproximou-se de si e envolveu-a num longo abraço.

– Assustaste-me, Blaise. – replicou ela, com um sorriso enorme.

– Também tive muitas saudades tuas. – respondeu ele, com um sorriso maroto.

Continuaram assim, abraçados, até transporem a porta principal. Nessa altura, Draco Malfoy surgiu e, após ter olhado de uma forma esquisita para Agnès, alegou que precisava de falar com o amigo.

Zabini desculpou-se e deixou-a. Agnès não se importou; sabia que o namorado era amigo do Malfoy, apesar de não gostar deste. Contudo, sentia-se perturbada: já não era a primeira vez que Malfoy olhava para ela assim. Pensando bem, desta vez fora diferente; parecia que tinha medo.

– Agnès, viste o Harry? – perguntou-lhe Hermione Granger.

– Ah, olá Hermione. Não; a última vez que o vi foi quando ele saiu do gabinete do novo professor.

Hermione acompanhou-a até ao salão. Uma vez lá, Agnès dirigiu-se à mesa dos Ravenclaw e sentou-se ao lado de Cho Chang. Procurou um certo Slytherin com o olhar, encontrando-o sentado ao lado de Malfoy, rindo às gargalhadas. Parecia que Malfoy estava a relatar uma agressão particularmente violenta.

– Agnès, preciso de te contar uma coisa. – disse Cho Chang, numa voz apreensiva.

– O que foi, Cho? O que se passa?

– Eu tinha de te contar, não te podia esconder o que ouvi. Eu…

O Director interrompeu-a. Depois, Harry Potter atravessou o salão, o que deixou Cho sem fala. De nada serviu pedir-lhe que continuasse, portanto a rapariga começou a jantar.

Após o fim da cerimónia, voltou a olhar para a mesa dos Slytherin. Para sua surpresa, Zabini desaparecera.

– Cho, viste para onde foi o Blaise?

– Não vi. Mas, se eu fosse a ti, seguia aquela Gryffindor.

O coração de Agnès disparou. Outra vez? Não queria acreditar. Não queria trair a confiança de Blaise espiando-o, mas não tinha outra hipótese.

Levantou-se e, discretamente, seguiu aquela rapariga. Esta última entrou numa sala de Transfiguração vazia e encostou a porta, após deitar uma olhadela furtiva, em redor.

A Ravenclaw espreitou. Não conseguiu ver nada, a não ser o facto de a rapariga ter entrado numa sala anexa.

Será que me estou a precipitar? Se calhar, a rapariga veio buscar algo que perdeu. No entanto, esta hipótese pareceu ser demasiado irreal para ser verdadeira. Silenciosamente, entrou e apressou-se a esconder-se atrás de uma estante, donde tinha uma boa vista do que se passa naquela outra sala.

Ficou sem pinga de sangue. Blaise estava sentado numa mesa e sorria, enquanto a rapariga se aproximava. Ela sentou-se no seu colo, provocadoramente, e beijou-o, com à-vontade.

Agnès reprimiu um vómito, apoiando-se na parede para combater uma tontura. Fechou os olhos, pensando estar a alucinar. O par continuava lá, quando os voltou a abrir. Beliscou-se e, mordendo a língua para não gritar de dor, percebeu que não mesmo estava a sonhar.

O beijo terminou, abruptamente. O rapaz anunciou, sorrindo galanteadoramente:

– Beijas muito bem, sabias? Adoro estar contigo.

– Eu também te adoro. – respondeu a Gryffindor, provocantemente.

Desta vez, teve de tapar a boca com a mão, para reprimir um grito. Tentou ir embora, mas as suas pernas não lhe obedeciam. Furiosa consigo própria, manteve-se escondida, a ouvir.

Na sala, Zabini e a rapariga estavam novamente aos beijos, comportando-se de um modo cada vez mais ousado. Quando a rapariga deslizou uma mão pelo peito dele, Agnès não aguentou mais. Gritou, angustiada.

– Quem está aí? – perguntou a rapariga, desconfiada.

A invasora avançou na sua direcção. Um segundo antes de se tornar visível, o rapaz soube logo quem era.

Ela aproximou-se. Estava quase a chorar, contudo, não o demonstrou. Preferiu revelar-se fria e irritada.

– Agnès, que fazes aqui?

A fraca tentativa para ganhar tempo não passou despercebida à jovem. Os seus olhos faiscaram, perigosamente.

– Isso perguntaria eu, se não tivesse visto o que vi. – começou a sentir dificuldade em respirar. – Acabou, Blaise. Não me procures mais.

O negro empurrou a sua amante para longe de si, como se a sua presença o magoasse.

– Não, Agnès! Tu sabes que eu te adoro.

Agnès fungou e desatou a rir. Era um riso histérico e pouco natural, nada característico dela. Adoptou uma posição defensiva, carregada de uma ironia fria.

– Claro que sim! Amas-me tanto que não me estavas a trair com ela. Estavas só a ensiná-la a beijar…

– Agnès… – apelou ele, parecendo desesperado.

– CALA-TE!!! Não te quero ouvir mais! Desaparece da minha vida.

E desatou a correr. Zabini fez menção de a seguir, mas a sua amante interpelou-o:

– Deixa estar. Ela não era nada especial. Fica comigo.

– Tu não percebes. Eu amo-a. – gritou ele, verdadeiramente desesperado.

– Então, porque estavas aqui comigo? – indagou ela, batendo as pestanas, fingindo confusão.

Ele não respondeu, limitando-se a empurrá-la e a seguir na direcção que a namorada tomara.

Enquanto a perseguia em direcção à Floresta Proibida, só pensava: O que é que eu fui fazer?