Capítulo V – O Amigo Invisível

Agnès constatou que, desde a semana passada, Zabini deixara de tentar falar com ela. Por um lado, foi um alívio. Mas por outro…

Bem, finalmente decidiu esquecer-me. Eu devia fazer o mesmo, pensou, sentada na biblioteca. Afinal, não gostava mesmo de mim.

Esteve todo o dia na lua, não prestando atenção a nada. Só voltou à Terra, quando Cho Chang lhe chamou a atenção para uma certa pessoa.

Blaise Zabini estava, no meio do Hall da Entrada, aos beijos com a mesma rapariga daquele fatídico dia. Sem pestanejar, Agnès virou costas àquele espectáculo, mesmo antes de o rapaz reparar na sua presença. Este, sem perder tempo, declarou à sua nova namorada:

– Amo-te.

Ele nunca lhe tinha dito aquilo, durante o tempo que tinham namorado.

Desta vez, não conseguiu conter uma exclamação e desatou a correr. Não chorava; não o conseguia fazer num local público. Não queria que ninguém soubesse que aquele acontecimento a afectara.

Ainda no Hall, Zabini sorriu, triunfante.

Nas costas dele, alguém observara a cena, detrás de uma armadura. Logo que viu a rapariga a fugir, desapareceu.

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Agnès só parou no quinto andar. Encontrou uma sala de aulas vazia e, sem se preocupar em fechar a porta, sentou-se a um canto. Começou a chorar copiosamente, em parte devido ao que os seus sentidos tinham registado. O nó que se tinha instalado na sua garganta apertava-se, cada vez mais.

Passaram alguns minutos e ela continuava na mesma. Só conseguia perguntar-se: Porquê?

De repente, ouviu passos. Olhou em volta, receando ver Zabini, contudo, não conseguiu vislumbrar ninguém.

Estarei a ficar maluca?

Tinha quase a certeza de que estava sozinha. Porém, para dissipar, de uma vez por todas, as suas dúvidas, decidiu perguntar quem estava ali.

– Pára de chorar. Ele não merece. – respondeu uma voz abafada.

Agnès pôs-se de pé de um salto. Não gritou, pois não tinha forças para isso. Estava assustada, mas conseguiu perguntar, de novo:

– Quem és tu?

Agora conseguia sentir alguém do seu lado esquerdo.

– Apenas um amigo. – retorquiu, simplesmente.

Percebeu, pela sua voz, que aquela pessoa não lhe queria fazer mal; apenas pretendia ajudá-la. Mesmo assim, continuava ansiosa.

– Porque é que não te mostras? Porque usas esse manto da invisibilidade?

O Amigo não lhe respondeu. Ela notou que ele se afastava ligeiramente.

– Por favor, não te vás embora. Não tens de te mostrar. Eu não preciso de saber quem és. Basta-me saber que és meu amigo. – desabafou ela, tentando que ele não a abandonasse.

A pessoa voltou a aproximar-se dela. Sentiu que ele lhe tocava, com o manto, na cara, limpando-lhe as lágrimas.

– Não vale a pena chorares. – disse-lhe ele, com neutralidade. – Nem perguntares-te porque é que ele te deixou.

– Mas eu sei porque é que ele me deixou! Isso aconteceu, porque ele, na realidade, nunca gostou de mim. Eu era, apenas, uma diversão. – explicou ela, com uma voz arrastada. – Eu pergunto-me porque é que me apaixonei por ele, porque é que não consigo esquecê-lo.

Voltou a chorar. Não aguentava mais e abraçou-se ao seu ouvinte. Este, muito surpreendido, também a abraçou, após uns segundos de retraimento.

– Agnès, não te deves culpar por isso. Tens uma ferida recente, que ainda não sarou. – interiormente, ele não sabia como se lembrara daquelas palavras. – Tens de tentar esquecer o que aconteceu e continuar a viver. Tens de ajudar os teus amigos, como sempre fizeste.

A rapariga olhou para o local que pensava corresponder aos olhos do seu novo amigo. Ele correspondeu o olhar, mas ela não o viu.

Notou que aquela rapariga tão forte era, afinal, muito frágil. O seu cabelo loiro caía-lhe pelos ombros, em ligeiros caracóis. Os seus olhos verdes estava vermelhos e inchados de tanto chorar. E, mesmo assim, achou-a linda.

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Quando chegou aos dormitórios, apenas Padma Patil estava, ainda, acordada. Perguntou-lhe, mais curiosa do que preocupada:

– Agnès, onde estiveste? O que se passa contigo?

Agnès já não chorava. Os vestígios ainda eram evidentes, mas, agora, sorria.

– Não se passou nada. E não me apeteceu jantar. – respondeu, vagamente. – Boa noite. – acrescentou, não dando hipóteses à outra de lhe fazer mais perguntas.

Deitou-se e voltou a pensar no que ocorrera. Lembrou-se daquele "espectáculo" e quis chorar, no entanto, apercebeu-se de que era impossível derramar mais lágrimas.

Decidira, graças ao seu "Amigo Invisível", que não valia a pena chorar por quem não a queria. Voltar-se-ia para quem se preocupava, realmente, com ela.