Capítulo X – Traição ou Perdão?

– Draco Malfoy?

Agnès estava em choque. O loiro, pelo contrário, parecia bastante divertido.

– Quem esperavas? O coelhinho da Páscoa dos Muggles? – ironizou ele. – Oh, já sei. Estavas à espera do teu namoradinho?

A Ravenclaw suspirou, misturando alívio e raiva. Afinal, não era ele… mas ele sabia.

– Como é que sabes? – começou, sem pensar. – Espera. Foi o teu amigo que te contou?

Malfoy sorriu por duas razões. Uma delas era a satisfação de ver aquele ar indignado da jovem. A outra…

– Claro que me contou. Aliás, nem era preciso contar-me. Eu sempre soube. "És tão maravilhoso!!! És a melhor coisa que me aconteceu este ano." – imitou ele, com uma voz fina.

Agnès corou de raiva. Como é que ele poderia saber?

– Mas… como é que tu sabes? – balbuciou.

– Fácil. Eu estava lá e ouvi.

A princípio, não percebeu o que ele queria dizer. Será que estavam a ser espiados desde o primeiro encontro?Contudo, uma terrível sensação de percepção abalou-a de imediato.

– És tu? Quero dizer, tu és o meu "Amigo Invisível"? – perguntou, a medo.

– Sim.

– Não pode ser.

– Mas é. – cortou ele, aproximando-se dela, apesar de nenhum dos dois reparar.

– Porquê? Porque fizeste aquilo? Porque é que andaste a brincar com os meus sentimentos? – acusou ela, muito corada e com os olhos molhados.

– No início, pensei que, ao ajudar-te a esquecer Zabini, ele se desinteressaria de ti. Ele não sabia de nada, até ao dia em que nos viu juntos. Mesmo assim, não me reconheceu. Tal como tu.

A loira estava sem palavras. Ouvia o discurso do Slytherin, incapaz de conter as lágrimas por mais tempo.

– O meu plano fora delineado habilmente; não havia espaço para falhas. No entanto, tu tornaste tudo muito mais confuso. – continuou, num tom mais baixo e grave. – Eu estava, apenas, a tentar consolar-te, de modo a poderes seguir em frente com a tua vida, sem o Zabini. No entanto, saiu-me o feitiço pelo lado errado da varinha. Lentamente, tu apaixonaste-te por mim e…

– Eu não me apaixonei por ti! – interrompeu ela, por entre um mar de lágrimas. – Eu apaixonei-me pelo A.I.

– … e eu por ti. – concluiu ele, como se ela não o tivesse interrompido.

Agnès ficou momentaneamente estática, ao ponto de as suas lágrimas deixaram de escorrer pela sua face.

– Penso não ter ouvido bem. O que disseste?

– Que eu me apaixonei por ti. Pronto. Percebeste? – atirou ele, sem sorrir.

– Mas…tu eras sempre tão horrível para mim. De cada vez que me vias, como Draco Malfoy, tratavas-me abaixo de cão. E quando eras o A.I., fazias-me sentir segura, amada…

O rapaz virou-lhe costas.

– Eu não podia deixar que descobrisses. Nem tu nem ninguém. Por isso, a princípio, eu usava um manto de invisibilidade. Mais tarde, passei a utilizar uma máscara, para ser, hum, mais prático. – explicou ele, ainda de costas, para ela não ver o quanto corado estava. – Tinha de manter o disfarce. Portanto, tinha de te continuar a tratar como sempre fizera. Zabini não podia saber. Eu queria ajudá-lo, mas acabei por traí-lo. Percebes, agora?

Agnès compreendia, embora ainda estivesse demasiado magoada para poder pensar em perdoá-lo.

– Então, tudo o que me disseste era mentira? – inquiriu.

Malfoy tinha de mentir. Não podia continuar com aquilo. O seu Mestre não podia saber, isso colocaria Agnès em grande perigo. Não tinha outra opção. A menos que… não, não podia.

Ele virara-se para ela, pronto a encará-la e dizer-lhe que sim, que mentira. No entanto, ela antecipou-se e beijou-o. Ele correspondeu, mesmo sem querer.

– Agnès, foste a melhor coisa que me aconteceu. – admitiu, entre dois beijos.

Ficaram muito tempo juntos, não se importando com o piar das corujas.

– Sabes, quando ia ter contigo, usando o manto da invisibilidade, ao ver-me ao espelho , sentia nojo de mim, por estar a trair um dos meus melhores amigos e por te ter tratado tão mal.

– Não vale a pena pensares nisso, neste momento.

– Eu tenho de o fazer. – continuou ele a confessar, melancolicamente. – Quando te tapei os olhos e me disseste que eu era o Harry Potter, pensei, por escassos momentos, que andavas com ele. – ambos se riram. – Eu sei que mereço, mas, de cada vez que falavas em mim (e era sempre mal, deixa que te diga), sentia-me mal.

– Já te disse para esqueceres isso. – cortou ela, implacavelmente.

– Só te peço mais uma coisa. Temos de continuar a encontrarmo-nos às escondidas. Ok? – pediu ele, gravemente.

– Tudo bem. – respondeu ela. – Com uma condição: tenta não me tratar tão mal, quando me vês.

– Vai ser difícil. Estou a brincar! Vou passar a ignorar-te, sempre que estiver acompanhado. Melhor? – sugeriu o loiro.

– Pode ser. Já agora, não queres mais nada? – brincou ela.

– Hum, pode ser um monte de beijos de Natal?

Referência ao capítulo VII – Ser Invisível Faz Bater Corações, terceiro parágrafo.