Cinco quarteirões depois do parquinho, os garotos pararam, tentando recuperar o fôlego.
-F-foi r-real...realmente...fantástico. – ofegou Fred, sorrindo.
-Hum...é...t-talvez. – disse Alex, também ofegante.
Enquanto recuperava o fôlego, Fred olhou em volta.
Estavam numa rua quase deserta, a não ser por um velho sentado à entrada de uma grande casa branca e uma garotinha agachada no meio da rua.
Após recuperar o fôlego, Alex falou:
-Então, você está bem? Eu não esperava que aquilo fosse acontecer. Não imaginava que aquele auror nos atacasse...atacasse você...
-Não se preocupe, eu estou bem. – apressou-se Fred a dizer. – Você foi realmente incrível. Muito ágil. E sua mira é ótima. Ah, sua esquiva foi incrível. Muito ligeiro...ah... – Fred hesitou, deixando escapar um grande sorriso, quando viu que Alex estava vermelho.
-M-muito obrigado. – agradeceu Alex, encabulado. – Seu soco foi realmente bom. Foi certeiro. E que força, eh?
Agora foi a vez de Fred corar.
-Tá, onde estamos? – perguntou Alex, tentando se lembrar o caminho que fizeram para chegar ali.
Alex notou que a rua era extremamente suja.
-É melhor sairmos daqui. – disse Fred, tirando a gaiola do chão. Alex assentiu com a cabeça e pegou a mala.
Os garotos foram andando pela rua suja, até que chegaram perto da garotinha agachada.
De perto conseguiram ver o que ela fazia.
Estava cutucando o cadáver de um rato com um graveto sujo, estranhamente reto.
A garota vestia trapos, estava descalça e seus cabelos desgrenhados. Tinha a pele acinzentada e, com um medonho sorriso de prazer, mantinha os olhos vidrados no rato, enquanto o cutucava insistentemente, como se estivesse feliz por ver que o animal realmente estava morto.
Assombrados por aquela bizarra visão, os garotos pararam boquiabertos.
-A-ande. – disse Alex, cutucando Fred, que concordou com a cabeça.
Os dois continuaram andando, ainda tentando absorver aquela visão medonha.
-Sua coruja é muito bonita. Vocês tem para onde ir? – bradou uma voz grave, fazendo os corações dos garotos dispararem.
Eles viraram assustados, procurando a origem daquele grito inesperado.
O velho sentado à entrada da casa branca os encarava.
-São surdos? – bradou ele, com a mesma voz grave que os garotos ouviram.
-A-ah, desculpe. O que o senhor disse? – perguntou Alex, receoso.
-Se vocês tem para onde ir. Eh? Tem para onde ir?
-O senhor não precisa gritar. Estamos bem na sua frente. – ralhou Fred, irritado, para o velho, que retribuiu com um olhar de desprezo.
-Bom, vão me responder, ou não? – perguntou o velho se contendo. – Aqui é uma pensão, caso vocês não tenham notado.
O velho apontou para acima da porta, onde havia uma placa, pendurada por barbantes, em que estava escrito aos garranchos: "Pensionato Dunchark".
-Ah, nós não temos...!
-Não importa! Eu não me interesso por dinheiro. Passem a tarde aqui. Se gostarem, podem passar a noite.
Os garotos se entreolharam.
-Andem! Pelo menos dêem uma olhada. Tales! Venha aqui, seu demente! – insistiu o velho, tornando a gritar.
-Bem, vamos só olhar. – disse Fred ao velho; se dirigindo a Alex, Fred cochichou. – Não temos nada a perder.
Os dois espiaram para dentro da porta; um longo corredor, cheio de portas, que terminava numa escada.
O velho se levantou para abrir passagem e disse:
-Aquele Sangue-Ruim deve estar lá em cima. Vão entrando. Escolham o quarto que quiserem, não há nenhum hóspede.
Passando pelo velho os dois adentraram a pensão.
A casa tinha um forte cheiro de mofo e, passando por algumas portas, Alex e Fred viram muitas teias de aranha.
-Definitivamente, não vou ficar em nenhum desses quartos. – disse Fred ao chegarem na escada.
-Quem sabe lá em cima há quartos menos sujos?
-Não custa tentar.
Os dois subiram a escada e encontraram outro corredor, igualmente sujo.
Havia barulho vindo de algum quarto ali perto.
-Seria realmente bom conseguir um lugar para deixar a mala e a gaiola, enquanto nós saímos. Teríamos mais liberdade, não? – falou Alex.
-Concordo. Mas tem que ser um lugar confiável, não? São as suas coisas...hum...são coisas importantes, não?
-Eh, são. São importantes.
Chegando à frente de uma porta, aparentemente podre, Alex e Fred viram um garoto magricela sentado no chão, por trás de um grande livro preto, o qual ele lia em voz alta.
Sua pele era tão branca que se fundia perfeitamente com a parede.
O quarto estava praticamente vazio, a não ser por um armário e dois colchões no chão.
Em cima do armário havia uma grande gaiola quadrada cheia de ratos.
Alex tinha a impressão que, há qualquer momento, a gaiola explodiria, espalhando dezenas de ratos por todos os lados.
-V-vamos sair daqui. – sussurrou Alex.
O garoto magricela calou-se. Espiou por cima do livro e, quando viu Alex e Fred, se levantou.
O garoto encarava Alex, sem piscar.
-Você é o Tales, não é? – perguntou Fred.
O garoto não respondeu.
-Aquele velho lá na entrada nos mandou entrar e escolher um quarto. Hum, desculpe incomodar. Vamos, Alex.
Os dois saíram daquele quarto e continuaram andando pelo corredor.
-Cada assombração que aparece na nossa frente, eh? – sussurrou Fred, ao chegar na porta do último quarto.
Os dois ouviram barulhos vindo quarto e entraram receosos.
Varrendo o quarto, estava uma criatura de um pouco mais que um metro de altura, tão magro que era possível ver alguns ossos, orelhas pontudas, narigudo e vestindo trapos.
-O que é isso? – exclamou Fred, fazendo o elfo doméstico pular de susto.
-É um elfo doméstico. Fred, seja educado!
-Tá, desculpe. Acho que já vimos o bastante. Vamos embora.
Os garotos avançaram pelo corredor, mas pararam quase se chocando com uma menina.
A mesma menina que estava, há pouco, no meio da rua cutucando um rato morto.
-Com licença. – pediu Alex.
-Eu quero brincar com vocês.
-Desculpa, não temos tempo. – respondeu Fred confuso.
-Brinquem com a minha irmã.
O garoto magricela vinha saindo do quarto, segurando o graveto reto que estivera com a menina.
-Olha, nós temos que ir embora. Com licença. – disse Fred, irritado.
Alex olhava o graveto na mão do garoto. Após alguns instantes, sussurrou:
-É uma varinha!
Agora Fred também olhava para varinha incrivelmente reta.
-O mestre quer ajuda?
O elfo doméstico vinha em direção à eles, apontando o dedo indicador ameaçadoramente para Fred.
-Fred, estamos em perigo. – sussurrou Alex ao pé do ouvido de Fred, enquanto jogava a mala no chão e tirava a varinha do bolso.
Rápido como o vento, Alex murmurou:
-Petrificus Totalus!
O elfo doméstico caiu paralisado no chão.
O garoto magricela empurrou sua irmã para o lado e começou a murmurar um encantamento, mas antes de completar, Fred lhe deu um soco no estômago, derrubando-o.
A menina avançou em Fred e mordeu seu braço.
Fred soltou um urro de dor e empurrou a menina contra a parede.
Alex pegou a mala e a gaiola e pulou por cima do garoto magricela.
-Vamos, Fred! Vamos!
Fred pulou por cima do garoto no chão e se juntou a Alex.
Fred pegou a gaiola e avançou para a escada.
O garoto magricela, ainda deitado no chão, apontou a varinha para Fred e, com um movimento rápido da varinha, murmurou:
-Serpensortia!
Um feixe de luz saiu da ponta da varinha e se transformou numa cobra, que sibilou ameaçadoramente para Fred.
Alex se virou para o garoto no chão e murmurou:
-Petrificus Totalus!
A garotinha tirou a varinha da mão do irmão e a apontou para Alex. Os dois, ao mesmo tempo, murmuraram:
-Expelliarmus!
-Avada Kedavra!
Os dois feitiços ricochetearam. O de Alex atingiu a parede e o da menina atingiu a gaiola de ratos, matando vários deles.
Imediatamente a menina tornou a murmurar:
-Avada Kedavra!
Alex pulou para o quarto mais próximo. A maldição atingiu em cheio a serpente que sibilava para Fred, caindo morta.
Alex correu de volta para o corredor e, apontando a varinha para a menina, murmurou:
-Expelliarmus!
A varinha da menina voou para longe.
Quando a menina tentou recuperar a varinha, Alex murmurou:
-Locomotor Mortis!
As pernas da menina se colaram e ela caiu em cima do irmão.
Recuperando o fôlego, Alex deu as costas à menina que esperneava e se juntou a Fred para descer a escada.
O velho estava novamente sentado na entrada da pensão. Quando viu os garotos correndo, levantou e disse:
-Já vão? Estão cansados, eh? Conheceram meus netos?
-Seus netos? S-sim acho que conhecemos. – respondeu Fred recuperando o fôlego.
-Obrigado pela hospitalidade, senhor Dunchark. – disse Alex em tom de deboche. – Mas acho que já vamos indo.
Os garotos saíram da pensão, ainda atordoados.
-Lugarzinho bem convidativo, não é Alex?
-Realmente. Aquela menina...ela usou a Maldição da Morte...uma Maldição Imperdoável...
-Uau. Perigosa. Agora sim, eu acho que posso dizer que já vi de tudo.
Os dois garotos andavam em passos largos, com um desejo profundo de sair daquela rua sinistra.
