Capítulo 6 – Caldeirão Furado

Alex ainda digeria os sinistros acontecimentos recentes, quando seu estômago soltou um grande ronco.

-Eu estou morrendo de fome.

-Percebi – disse Fred rindo – Eu também estou. Só comemos uma maçã.

-Não pensei em trazer algo para comer. A fuga não foi bem planejada.

-Nem a minha. Vamos achar algum lugar para comer.

-Mas não temos dinheiro. Roubar uma maçã é fácil, mas como roubaremos o nosso almoço?

Os dois estavam sentados num banco de uma praça, quatro quarteirões de distância em relação ao pensionato.

Após alguns instantes silenciosos, Alex disse:

-Eu conheço um lugar. Não sei se já foram muitos trouxas lá, mas ninguém precisa saber que você é.

-Legal. É longe daqui?

-É. Indo a pé, chegaríamos tarde da noite.

Alex abriu sua mala e começou a procurar alguma coisa.

-Tem que estar aqui...eu guardei um saquinho...eu tenho certeza...ACHEI!

Alex segurava um saquinho marrom amarrado com uma fita dourada.

-Ah, esse é o nosso meio de transporte?

-Sim. OK, precisamos de uma lareira.

-Toda casa por aqui tem uma lareira. Lá na pensão tinha uma!

-Não voltaremos lá! É muito perigoso.

-Você já cuidou de todos os perigos de lá. Podemos usar a lareira da sala. De qualquer jeito, o velho Dunchark foi legal com a gente...pelo menos fingiu ser. Você não pretende invadir alguma residência, pretende?

-Não, não pretendo invadir nenhuma casa. Mas a idéia de voltar para aquela pensão me dá arrepios. Não tem outro jeito, não é?

-Não, não vejo outro jeito.

Os garotos só se levantaram após outro o estômago de Alex soltar outro ronco.

-Ora, ora. Voltaram, eh? Vão ficar? – disse o velho Dunchark, quando Alex e Fred

apareceram novamente à sua frente.

-Não, senhor. Só queremos lhe pedir um favor. Precisamos usar a sua lareira. – disse Alex, constrangido.

-Ah...usem.

Dunchark levantou e abriu espaço para os garotos passarem.

Entraram na sala e correram até a lareira.

-Fred, você vai primeiro. – disse Alex tirando o saquinho marrom do bolso e abrindo-o – entre na lareira...

-Entrar? Entrar na lareira? É sério? Mas é pequena!

-Fred, calma! Isso é muito simples.

Alex empurrou Fred para dentro da lareira.

-Agora você vai pegar um pouco do Pó de Flu, vai dizer, claramente, "Caldeirão Furado" e jogar o Pó de Flu na lareira.

-E como, diabos, isso vai me ajudar a almoçar?

-Cala a boca – disse Alex estendendo o braço para Fred, que encheu a mão com o pó que havia dentro do saquinho – Diga bem claramente "Caldeirão Furado" e jogue o Pó no chão.

Fred, ainda confuso, disse:

-Caldeirão Furado!

Quando jogou o Pó de Flu, a lareira irrompeu em chamas verde-esmeralda, e Fred desapareceu entre as chamas.

-Espero que ele tenha ido para o lugar certo. – sussurrou Alex após as chamas sumirem.

Alex copiou Fred, desaparecendo em meio às chamas verde-esmeralda.

Alex saiu engatinhando da lareira do pub e levantou tirando a poeira das vestes.

Fred estava sentado à uma mesa, falando com o dono do pub.

-Mas eu nunca ouvi falar nessas moedas! Nuques? Que diabos é isso?

-Tom! Oi, lembra de mim?

Fred deu um sorriso aliviado ao ver Alex conversando com o dono do pub.

-Ele vai trazer nosso almoço – disse Alex animado, sentando de frente para Fred – Mandei ele colocar na conta dos meus pais.

-Legal. Alex, eu já te falei que adoro magia? Se não, fique sabendo que eu adoro magia!

O pub não estava cheio.

Havia um homem no bar, bebendo algo semelhante a suco de abóbora, mas que borbulhava e soltava uma fumaça azul.

Numa mesa próxima da de Alex e Fred, havia um casal de velhinhos almoçando.

Fred ficou imaginado se não haveria um lugar mais agradável e convidativo para dois velhinhos almoçarem.

Quando Tom chegou à mesa dos garotos com pratos de frango e batatas, Fred arregalou os olhos e disse:

-Uau! Bruxos comem comidas normais!

-Fala baixo, Fred! Você achou que os bruxos comessem o que? Ensopado de morcego?

O homem no bar agora olhava para os garotos de esguelha e desviou o olhar quando Alex percebeu que ele os observava.

-Amanhã à tarde vamos indo para perto da estação de King's Cross. Tenho que partir cedo na estação. – disse Alex, ignorando o homem no bar.

-E hoje? Vamos para algum lugar?

-Atrás do pub fica a entrada para o Beco Diagonal. Não vamos comprar nada, mas podemos passear.

-Beco Diagonal. OK.

Alex terminou antes de Fred e ficou admirando-o comer as batatas.

-Está sujo.

-O gue? – perguntou Fred, de boca cheia.

-Seu rosto. Está sujo de molho.

-Ah...- disse Fred, após engolir uma batata assada – você pode limpar?

-Eh...c-claro. – sussurrou Alex desconcertado.

Alex pegou o guardanapo e passou no rosto de Fred, por cima da mancha de molho. Os dois coraram.

-S-saiu? – perguntou Fred.

Indeciso se devia ou não dizer a verdade, assentiu com a cabeça, tristonho.

-Ah...err... – gaguejou Fred, desapontado – Não tem mais nenhuma sujeira?

Alex sentiu seu rosto esquentar.

-A-acho que não.

-Hum...ah...valeu.

Os dois permaneceram calados até Fred terminar o almoço.

Levantaram e , ainda calados, seguiram até o fundo do pub.

-OK, você vai gostar do Beco Diagonal.

Fred sorriu.

Os dois se entreolharam por alguns instantes.

-É, eu sei que eu vou gostar.