Alex ainda digeria os sinistros acontecimentos recentes, quando seu estômago soltou um grande ronco.
-Eu estou morrendo de fome.
-Percebi – disse Fred rindo – Eu também estou. Só comemos uma maçã.
-Não pensei em trazer algo para comer. A fuga não foi bem planejada.
-Nem a minha. Vamos achar algum lugar para comer.
-Mas não temos dinheiro. Roubar uma maçã é fácil, mas como roubaremos o nosso almoço?
Os dois estavam sentados num banco de uma praça, quatro quarteirões de distância em relação ao pensionato.
Após alguns instantes silenciosos, Alex disse:
-Eu conheço um lugar. Não sei se já foram muitos trouxas lá, mas ninguém precisa saber que você é.
-Legal. É longe daqui?
-É. Indo a pé, chegaríamos tarde da noite.
Alex abriu sua mala e começou a procurar alguma coisa.
-Tem que estar aqui...eu guardei um saquinho...eu tenho certeza...ACHEI!
Alex segurava um saquinho marrom amarrado com uma fita dourada.
-Ah, esse é o nosso meio de transporte?
-Sim. OK, precisamos de uma lareira.
-Toda casa por aqui tem uma lareira. Lá na pensão tinha uma!
-Não voltaremos lá! É muito perigoso.
-Você já cuidou de todos os perigos de lá. Podemos usar a lareira da sala. De qualquer jeito, o velho Dunchark foi legal com a gente...pelo menos fingiu ser. Você não pretende invadir alguma residência, pretende?
-Não, não pretendo invadir nenhuma casa. Mas a idéia de voltar para aquela pensão me dá arrepios. Não tem outro jeito, não é?
-Não, não vejo outro jeito.
Os garotos só se levantaram após outro o estômago de Alex soltar outro ronco.
-Ora, ora. Voltaram, eh? Vão ficar? – disse o velho Dunchark, quando Alex e Fred
apareceram novamente à sua frente.
-Não, senhor. Só queremos lhe pedir um favor. Precisamos usar a sua lareira. – disse Alex, constrangido.
-Ah...usem.
Dunchark levantou e abriu espaço para os garotos passarem.
Entraram na sala e correram até a lareira.
-Fred, você vai primeiro. – disse Alex tirando o saquinho marrom do bolso e abrindo-o – entre na lareira...
-Entrar? Entrar na lareira? É sério? Mas é pequena!
-Fred, calma! Isso é muito simples.
Alex empurrou Fred para dentro da lareira.
-Agora você vai pegar um pouco do Pó de Flu, vai dizer, claramente, "Caldeirão Furado" e jogar o Pó de Flu na lareira.
-E como, diabos, isso vai me ajudar a almoçar?
-Cala a boca – disse Alex estendendo o braço para Fred, que encheu a mão com o pó que havia dentro do saquinho – Diga bem claramente "Caldeirão Furado" e jogue o Pó no chão.
Fred, ainda confuso, disse:
-Caldeirão Furado!
Quando jogou o Pó de Flu, a lareira irrompeu em chamas verde-esmeralda, e Fred desapareceu entre as chamas.
-Espero que ele tenha ido para o lugar certo. – sussurrou Alex após as chamas sumirem.
Alex copiou Fred, desaparecendo em meio às chamas verde-esmeralda.
Alex saiu engatinhando da lareira do pub e levantou tirando a poeira das vestes.
Fred estava sentado à uma mesa, falando com o dono do pub.
-Mas eu nunca ouvi falar nessas moedas! Nuques? Que diabos é isso?
-Tom! Oi, lembra de mim?
Fred deu um sorriso aliviado ao ver Alex conversando com o dono do pub.
-Ele vai trazer nosso almoço – disse Alex animado, sentando de frente para Fred – Mandei ele colocar na conta dos meus pais.
-Legal. Alex, eu já te falei que adoro magia? Se não, fique sabendo que eu adoro magia!
O pub não estava cheio.
Havia um homem no bar, bebendo algo semelhante a suco de abóbora, mas que borbulhava e soltava uma fumaça azul.
Numa mesa próxima da de Alex e Fred, havia um casal de velhinhos almoçando.
Fred ficou imaginado se não haveria um lugar mais agradável e convidativo para dois velhinhos almoçarem.
Quando Tom chegou à mesa dos garotos com pratos de frango e batatas, Fred arregalou os olhos e disse:
-Uau! Bruxos comem comidas normais!
-Fala baixo, Fred! Você achou que os bruxos comessem o que? Ensopado de morcego?
O homem no bar agora olhava para os garotos de esguelha e desviou o olhar quando Alex percebeu que ele os observava.
-Amanhã à tarde vamos indo para perto da estação de King's Cross. Tenho que partir cedo na estação. – disse Alex, ignorando o homem no bar.
-E hoje? Vamos para algum lugar?
-Atrás do pub fica a entrada para o Beco Diagonal. Não vamos comprar nada, mas podemos passear.
-Beco Diagonal. OK.
Alex terminou antes de Fred e ficou admirando-o comer as batatas.
-Está sujo.
-O gue? – perguntou Fred, de boca cheia.
-Seu rosto. Está sujo de molho.
-Ah...- disse Fred, após engolir uma batata assada – você pode limpar?
-Eh...c-claro. – sussurrou Alex desconcertado.
Alex pegou o guardanapo e passou no rosto de Fred, por cima da mancha de molho. Os dois coraram.
-S-saiu? – perguntou Fred.
Indeciso se devia ou não dizer a verdade, assentiu com a cabeça, tristonho.
-Ah...err... – gaguejou Fred, desapontado – Não tem mais nenhuma sujeira?
Alex sentiu seu rosto esquentar.
-A-acho que não.
-Hum...ah...valeu.
Os dois permaneceram calados até Fred terminar o almoço.
Levantaram e , ainda calados, seguiram até o fundo do pub.
-OK, você vai gostar do Beco Diagonal.
Fred sorriu.
Os dois se entreolharam por alguns instantes.
-É, eu sei que eu vou gostar.
