Capítulo XIII – Noite de Caos
Agnès saíra da Ala Hospitalar no final daquele dia. Ainda não falava, mas Madame Ponfrey nada mais poderia fazer por ela.
Levemente atordoada, deambulou pelo castelo, sem rumo. Não queria pensar em nada nem em ninguém. A recordação daquele dia terrível ainda a feria, sem cessar.
– Agnès! – exclamou um rapaz alto e moreno. – Espera!
Blaise Zabini alcançou-a e agarrou-lhe o braço, para que ela lhe desse atenção. Quando esta o observou, com os seus olhos agora vazios e sem expressão, ralhou-lhe, apesar da sua voz demonstrar o contrário:
– Não devias ter fugido! Eu fui à Ala Hospitalar à tua procura. Podia ter te acontecido alguma coisa.
A Ravenclaw continuou a olhá-lo, como se ele não tivesse dito nada. Por seu lado, o Slytherin começava a desesperar. Parecia que estava a lidar com uma criança autista.
– Oh, Agnès! Vês o que ele te fez? O que ele nos fez?
Como ela continuou a não reagir, o rapaz abanou-a, tentando que ela despertasse daquele transe. Nada feito: a loira continuava tão vazia como uma concha abandonada.
O desespero de todos aqueles dias angustiantes abalou-o, finalmente. Fez algo que nunca tinha feito: começou a chorar. Como era muito mais alto que a rapariga, banhou-a com algumas lágrimas, sem se aperceber.
De rompante, sentiu que alguém lhe secava as lágrimas da face. Abriu os olhos, muito lentamente. E viu o que mais queria.
– Agnès! Estás bem? Consegues ouvir-me? – perguntou, num tom muito esperançoso.
Ela olhou para cima. Estava diferente. A sua face estava muito corada e os seus olhos já não aparentavam estarem vazios. Brilhavam, não só devido às lágrimas que ela também derramava. Sorria, ainda que tenuemente.
– Sim. – foi a simples resposta.
Blaise gritou de alegria. Pegou na rapariga pela cintura e, juntos, rodopiaram no meio do corredor.
– O que… Mas como? – conseguiu ele articular.
Ela sorriu, agora com mais convicção.
– É uma magia antiga, que poucos conhecem. Eu própria só a conheço, porque o Professor Flitwick falou-me dela. – afirmou, num tom sabedor. – É o encantamento Lacriminious e é um dos mais poderosos antídotos e estimulantes que existem. Ocorre quando o feiticeiro coloca os seus sentimentos nas suas lágrimas.
Zabini sorriu e abraçou-a. Minutos depois, sentiu o seu ombro molhado; a rapariga devia estar outra vez a chorar. Encarou-a e ela justificou-se:
– É só que eu ainda não assimilei aquilo que aconteceu. Num momento, pensava que era amada, no outro, descobri que tinha sido enganada.
– Mas tu és amada! Tu não estavas consciente do que se passava. Caso contrário, poderias ver que a Granger, os Weasleys, o Potter e alguns Ravenclaws foram visitar-te mais do que uma vez. – contou-lhe ele, ligeiramente preocupado.
– E tu, Blaise? – perguntou ela, olhando-o directamente nos olhos.
Ele sentiu-se corar, ao ouvir o seu nome próprio dito por ela, naquela voz doce que ele tão bem conhecia.
– Tu estiveste sempre ao meu lado. Sempre que eu tinha um lampejo de consciência, via-te ao meu lado, ou debruçado sobre mim. – continuou a jovem, sem reparar na torrente de emoções que o tinha invadido.
Ele abraçou-a, novamente. Não poderia estar mais feliz. Agora, nada poderia acontecer…
---
Um grande tumulto, muitos gritos…Jactos de luz verde e vermelha, devastação e caos.
Foi tudo o que os alunos de Hogwarts viram nessa noite. Alguns, como Hermione Granger, os dois Weasleys, Neville Longbotton e Luna Lovegood ajudaram os membros da Ordem a lutar contra os Devoradores da Morte. Os outros estavam escondidos, assistindo horrorizados.
A Ravenclaw tentou juntar-se à resistência, porém, Zabini não a deixou. Ainda estava fraca e, caso fizesse muitos esforços, poderia piorar.
– Mas, Blaise, eles precisam de ajuda! – insistiu ela, debatendo-se para ele a soltar.
– Eles ficam bem. Ouvi a Granger dizer que tinham tomado Felix Felicis. Estão protegidos.
– Porque não me deixas ir? Eu poderia ajudar!
– E poderias ser ferida, ou pior! – contrariou o rapaz, sem esconder a sua apreensão.
Agnès abanou a cabeça, derrotada. Ficaram juntos e impunes, a olhar para aquela luta desesperada, sem poder fazer nada.
