A/N: Algumas partes da fic serão inspiradas pelo filme Até o Limite da Honra. E também por todos os filmes de guerra que eu já vi nessa vida, portanto não estranhem se acharem algumas passagens meio familiares.
Quanto aos reviews, nem preciso falar, né? Valeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeu mesmo! Os comentários me deram uma baita vontade de escrever, aí sentei e consegui montar o segundo capítulo em tempo recorde.
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Cap. 2 – O Projeto Batalhão Alfa
Embora fosse verão na Grécia, a noite era um tanto quanto fria. Um vento gelado cortava a pele de quem se atrevesse a andar despreocupadamente pelas ruas, aproveitando talvez a famosa vida noturna de Atenas. E, como bem se sabe, na caserna tudo é potencializado (propositadamente, diriam alguns): o frio é mais frio, o calor é mais quente, o vento é mais gelado e cheiro é sempre mais forte do que nos outros lugares. Ah, e claro, não nos esqueçamos do barulho, que é sempre mais ensurdecedor.
A Sargento Shina, acompanhada do Major Saga, não evitou um sorriso maroto segundos antes de tocar aquela corneta o mais alto que pôde. O Major, após sussurrar um "sádica" para a menina a seu lado, pegou o megafone e gritou com toda a força de seus pulmões.
– Seeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeentido! – megafone.
Corneta. Corneta. Corneta.
– De pé, toooooooooodos vocês! – megafone.
Corneta. Corneta. Corneta.
Cinco jovens assustados saltando de suas camas praticamente na velocidade da luz e prostrando-se em posição de sentido. Um jovem anglo-grego dormindo e constrangendo muito um francês que tentava lhe acordar ao dizer: "não vou pra escola hoje não, mamãe, me deixa dormir, sim?", e virando-se para o outro lado, cobrindo o rosto com o lençol.
– Ai, acorda, inglês insuportável! – disse Camus sacudindo o outro em meio ao toque da corneta e aos berros do megafone.
– Que saco, Brigitte, não se pode nem dormir sossegado e-- – disse Milo sentando-se em sua cama. Encarou o Major com olhos tão arregalados que pareciam que iam saltar das órbitas, pulando para o chão e colocando-se em posição de sentido logo em seguida.
– Muito bem, os Senhores têm exatos cinco minutos para se aprontarem: fardas, coturnos, mochila e camas arrumadas, todos vocês. Eu e a Sargento aguardamos lá fora! – ordenou o Major Saga, saindo do tosco alojamento acompanhado de sua fiel escudeira.
– Puta que o pariu! – exclamou Másquera Morte Cancerini, o italiano de nome mais horrível do mundo, assim que o comandante deixou o recinto. – Que horas são?
– Acredite ou não, Másquera, são duas e meia da manhã! – comentou um espantado Aiolia.
– Cacete! – berrou Aldebaran Taurus em bom português, esquecendo-se por um momento que o inglês era a língua usada entre seus companheiros.
Os seis jovens correram o mais rápido que puderam, parecendo verdadeiros prodígios desafiando Einstein ao quase romper a barreira do som. Milo alternava momentos em que se vestia com momentos em que xingava e esfregava os olhos, fazendo um esforço sobre humano para acordar. Camus, por sua vez, em três minutos estava impecavelmente fardado, com a mochila nas costas e a cama feita de maneira a não ficar a menor ruga no lençol.
– Impressionante! – admirou-se Shura com a rapidez do francês enquanto lutava contra si mesmo para calçar os coturnos.
– Humpf, tinha que ser o Yves Saint Laurent mesmo, nessa estica toda... – limitou-se a comentar Milo, finalmente colocando sua mochila nas costas.
Camus lançou aos dois aquele olhar de desdém que lhe era típico, murmurando qualquer coisa incompreensível em sua língua natal.
E assim, passados os cinco minutos dados pelo Major Saga, os seis jovens deixaram o alojamento devidamente fardados e carregando as pesadas mochilas. Lá fora encontraram o Major e a Sargento, esta portando o caderno do qual nunca se separava, sempre tomando notas.
– Sentido! – ordenou o Major olhando no relógio. – Muito bom, no horário. Vejo porque seus países depositaram toda sua confiança nos Senhores. – completou, olhando para os recrutas perfilados. – Acredito que agora o que mais queiram saber é do que se trata o Projeto Batalhão Alfa... eu vou lhes contar, mas somente quando chegarmos à praia. Vamos, todos, correndo, agooooooooora! – gritou e pôs-se a correr a passos rápidos, acompanhado por Shina.
– Um, dois, três, quatro! – cantava o Major.
– Quatro, três, dois, um! – respondiam os recrutas, cadenciando o ritmo da corrida.
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Correram por cerca de uma hora e meia, num esforço físico digno de um atleta de olimpíada. Subiram e desceram morros, caminhando sempre por lugares meio inóspitos que os faziam pensar se estavam mesmo em Atenas ou se tinham atravessado o espelho e ido parar no País das Maravilhas. Sentiam frio e ao mesmo tempo calor pelo exercício físico, os rostos corados pelo tremendo esforço. Finalmente chegaram numa pequena enseada meio deserta, uma faixa de praia de cerca de 2,5km cercada por dois altos morros. Lá, existia uma rústica estrutura de madeira, constituindo-se de uma cozinha rudimentar e uma varanda em que havia um sino pendurado. Junto ao mar, cujas ondas pareciam bater forte, estava um bote de borracha cinza.
– Alto! – ordenou Saga assim que chegaram à enseada. Surpreendentemente, nem ele nem a Sargento Shina aparentavam cansaço, ao passo que os seis recrutas respiravam ofegantes. Os recrutas pararam novamente perfilados naquela posição típica dos soldados à espera do pronunciamento de seu comandante. A Sargento encarava um a um, tomando notas, aparentemente sobre o estado físico deles.
– O Projeto Batalhão Alfa nasceu no alto comando da OTAN. O objetivo do Projeto, que está sendo aplicado pela primeira vez com os Senhores, é formar equipes multidisciplinares de oficiais, motivo pelo qual temos aqui dois componentes da Marinha, dois da Aeronáutica e dois do Exército. Além de multidisciplinares, as equipes têm de ser multinacionais. A finalidade de formação dessas equipes é desenvolver lideranças capazes de enfrentar em conjunto ameaças comuns, fortalecendo assim a Aliança entre os países-membro da Organização. – explanou o Major. – Alguma pergunta?
"Por que você não vai pra puta que o pariu e me deixa dormir?", pensou Milo. – Senhor, permissão para falar! – disse. Ao ter a permissão concedida, tornou a dizer. – E de que consiste o treinamento, Senhor?
– Isso os Senhores terão oportunidade de experimentar na pele, no dia a dia. Somente adianto que recebi autorização de seus países para fazer o que bem entender com os Senhores, e fiquem sabendo que meus métodos não são nada, eu disse nada, convencionais... – explicou Saga com um brilho nos olhos que assustou os recrutas, ainda mais quando perceberam o sorriso sarcástico que Shina lhe dirigiu. – Cada dia vocês enfrentarão uma ameaça diferente, uma missão nova. E garanto que não será nada fácil. Este é nosso local principal de treinamento. Vêem aquele sino? – falou, apontando para o dito cujo. – Três badaladas no sino significa desistência da missão. Minha função aqui é fazer com que até o final do programa todos os Senhores tenham badalado esse sino por três vezes. Fui claro? – perguntou.
– Sim Senhor! – responderam os soldados em uníssono.
– Sargento, por favor! – ordenou Saga.
– Recrutas, a primeira missão é, com aquele bote, percorrer 40km mar adentro e recuperar a bandeira verde que está numa bóia em alto mar. Vocês têm duas horas. Montem a estratégia e cumpram a missão. – disse Shina. Encarou um por um, percebendo os olhares meio assustados e descrentes que lhe lançavam. Limpou a garganta. – Vããããããoooo, estão esperando o quê? – gritou.
A Sargento e o Major calmamente se dirigiram para a mesa do pequeno alojamento da praia, deixando na beira do mar seis jovens entretidos com uma missão praticamente impossível.
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– Ah, mas isso só pode ser brincadeira de mau gosto! – comentou Shura assim que o Major e a Sargento estavam fora do alcance de sua voz. – Como é que a gente vai fazer 80km de mar nessa coisa? – disse apontando para o bote.
– Isso sem contar que são quatro horas da manhã. Está escuro e essa água deve estar um gelo. – constatou Milo.
Os seis jovens rodeavam o bote, ainda meio incrédulos. Afinal, tinham sido acordados às duas e meia da madrugada, obrigados a correr durante uma hora e meia, e presenteados com uma missão que, à primeira vista, era impossível de cumprir com êxito.
Camus apoiou o queixo na mão direita e observou o cenário, analisando todas as variáveis. Coçando a cabeça, rodeou o bote, para logo em seguida agachar-se em frente ao mar e atentamente bolar uma estratégia condizente à situação.
– Vejamos, temos lanternas e pilhas nas mochilas, certo? – disse o francês, levantando-se de supetão. Os outros responderam afirmativamente com as cabeças. – Dentro do bote há três remos... bem, o que devemos fazer é carregar o bote o máximo que pudermos, na cabeça, mar adentro, e só subirmos quando as ondas ficarem mais amenas, se é que vão ficar...
– Boa idéia, L'Aquaire! – concordou Aiolia. – Só temos de tomar cuidado para não perdermos os remos.
– Não tinha pensado nisso... – pontuou Camus.
– Ah, mas me corrijam se eu estiver errado, temos cordas também, não? – perguntou Milo. Novamente os acenos de cabeça dos companheiros confirmaram a pergunta. – Amarremos os remos um ao outro e ao bote. Acho que dará certo... somente temos de dar nós cuidadosos para não serem frouxos e arrebentar nem muito fortes para podermos desfazê-los e pegar os remos!
– Falou bonito, Uxo! – disse Aldebaran. – Ao trabalho, cambada!
Milo lançou um olhar indecifrável ao francês, que pela primeira vez desde que pisara naquela base militar esboçou um leve sorriso. Bateu de leve nas costas de Milo e correu para ajudar os outros. O inglês ficou alguns segundos estático, mas logo em seguida pegou as cordas de sua mochila e atou os remos um ao outro e os três ao bote.
–É um, é dois, é três! – contou Taurus e os seis soldados levantaram o pesado bote de uma só vez, carregando-o acima das cabeças. – Cadenciado, vamos, passos sincronizados. Um, dois, três, quatro! – continuou Aldebaran, e caminharam rumo ao mar.
– Quatro, três, dois, um! – respondiam os outros.
– Um, dois, três, qua-- – puta que o pariu, onda dos infeeeeeeernos! – berrou o bravo fuzileiro naval ao levar uma onda forte bem na cara.
– E que merda de água fria é essa? – perguntou Milo batendo o queixo.
– Eu gosto... – limitou-se a dizer Camus.
– Da onda forte? – perguntou o brasileiro, que ia à frente ao lado de Másquera, os dois tomando fortes pancadas das ondas.
– Não, do frio... – respondeu o francês.
– Q-q-q-que m-m-m-m-maluco! – comentou Aiolia tremando de frio.
– Liga não, Olia, a Brigitte é assim mesmo... – disse Milo.
– Patience, Camus, il faut avoir de la patience! (1) – resmungou o francês entre os dentes para si mesmo, controlando a vontade de esganar o inglês à sua frente.
Caminhavam mar adentro com o bote em cima da cabeça na seguinte disposição: Aldebaran e Másquera, que eram mais fortes, iam à frente, seguidos por Shura e Milo e logo atrás deles Camus e Aiolia. Chegaram a uma altura em que a água batia já no peito dos mais baixos, e a caminhada, que antes era penosa, tornou-se impossível.
– Alto! – ordenou Camus. – É momento de subirmos no bote!
– Posso saber quem te elegeu líder do grupo, Brigitte? – perguntou Milo meio sarcástico.
Camus bufou e preparou-se para xingar Milo de todos os nomes que conhecia, já cansando sua paciência.
– Descendo o bote, galera! – pontuou Aldebaran olhando feio para o velho companheiro de batalhas. – Oh, Uxo, não dá mais pra ir andando não... – comentou. Milo, a contragosto, concordou, e os seis conseguiram finalmente colocar o bote na água.
– Hã, Houston, we have a problem... (2) – disse Aiolia. – Como é que vamos subir nesse bote agora?
– O francês é o líder... responde aí, oh Houston! – sarcasticamente afirmou o grego, que estava do lado oposto de Camus, encarando os gélidos olhos azuis do francês.
– Ah, ça me bof! (3) Vê se cresce, lorde de meia pataca! – retrucou Camus.
Os seis jovens em volta do bote agarravam-se a ele enquanto as ondas fortes teimavam em tentar arrastá-los para qualquer lugar longe de sua missão. Os pesados coturnos e fardas, totalmente encharcados, tornavam os movimentos incrivelmente difíceis de serem executados. A água pelo peito dos recrutas impedia o apoio necessário para que subissem no bote. A situação definitivamente chegara a um impasse.
Milo de repente sorriu e seus belos olhos verdes se iluminaram numa expressão de alegria. Deixou sua posição no bote em meio a protestos, pois agora os outros cinco tinham de fazer mais força para segurar a pequena embarcação. Caminhou como pôde até Camus e, sorrindo, agarrou-se às costas do francês, apoiando um pé em sua cintura.
– Mas o que é isso? – perguntou Camus indignado ao sentir Milo atrás de si.
– Calaboca, Brigitte! Calaboca que eu vou conseguir subir no bote, peraí! – disse e, num impulso, o pé apoiado na cintura do francês fez uma alavanca e Milo, passando por cima da cabeça de Camus, conseguiu embarcar.
– Muito bem, Milo! Agora vê se você consegue me puxar! – pediu Shura lhe estendendo a mão. Milo, fazendo grande força, conseguiu puxar o espanhol para dentro do bote. Aos poucos, todos subiram; Aldebaran por último pois foi preciso o esforço conjunto dos outros cinco para erguê-lo.
– Com tanta gente pra você se apoiar, tinha que ser justo em mim? – perguntou Camus para o inglês, meio contrariado, enquanto acendia a lanterna. "Uma só para evitar desperdício!", dissera aos amigos.
– Ah, é que em qualquer outro não teria graça! – riu Milo jogando a cabeça para trás, num gesto que estranhamente Camus achou sensual.
Desamarraram os três remos, ficando um com Shura, outro com Aldebaran e o último com Másquera. Mas não começaram a remar logo de início.
– Bom, daqui eu consigo ver a bandeira... aproximadamente cinco graus a oeste, três graus e dois minutos a norte daqui. – disse Camus olhando pelo binóculo que havia no kit de sobrevivência das mochilas que lhes haviam sido entregues. – Aiolia, você é capaz de traçar uma rota a partir dessas coordenadas? – perguntou o francês tirando o binóculo dos olhos e encarando o grego que já tinha uma folha meio molhada e um lápis à mão, ambos também vindos na mochila.
– Uma rota aproximada, Camus. Consigo sim! – disse o grego após rabiscar alguns números naquela folha de papel. – Remem um pouco para a esquerda e depois à frente. Dois graus a norte e ponto setenta e cinco graus a leste!
Começaram a remar Shura, Aldebaran e Másquera, e o bote foi para todas as direções possíveis, menos para a esquerda e à frente. O pequeno barco andava em círculos, sendo sempre desviado pelas ondas que ainda arrebentavam fortemente.
– Falta leme! Eu faço o leme! – gritou Aldebaran e socou seu remo na água, fazendo um apoio com seu braço, direcionando o bote.
Assim, Taurus dava a direção que era ditada por Aiolia. Másquera e Shura eram a força motriz, e Camus e Milo ficaram encarregados da iluminação e de pegar a bandeira quando chegassem na bóia.
– Cazzo, por que não fiquei lá em Florença cuidando do açougue do babbo? Merda! – exclamou Másquera quando a décima-nona onda atingiu em cheio seu rosto.
– Seu pai era açougueiro? Não sei porque, mas combina com você... – disse Milo seriamente para o italiano. – O que definitivamente não combina contigo é Florença! – riu o inglês.
– Milo, garanto que você não vai rir assim quando essa sua linda cabeça loira enfeitar a sala da minha casa lá na Piazza Maior... – grunhiu o segundo-tenente da aeronáutica italiana arrancando risadas dos companheiros.
– Quietos, vocês! A bandeira está muito perto! – Camus disse, apontando a bóia e a bandeira. – Como vamos pegar esse troço? – perguntou coçando a cabeça, enquanto o bote se aproximava rapidamente do lugar indicado.
– Homens, corrijam o curso. Ponto meio grau a oeste. – ordenou Aiolia. O bote começou a virar devagar.
– Ai, cacete! – exclamou Milo. – E agora, Brigitte?
– Homens, mais um ponto setenta e cinco graus a oeste! – gritou novamente Aiolia. O bote virou um pouco mais.
– E eu que sei? – perguntou Camus coçando a cabeça.
– Dois ponto três oeste! – pontuou mais uma vez Aiolia. O bote aproximou-se ainda mais da bóia, descrevendo uma curva perfeita.
– Ai, faz alguma coisa, Brigitte! – pediu Milo com a voz um pouco alterada.
– Meio grau sul! – ordenou Lyons. O bote chegou perigosamente perto da bóia e da bandeira.
– Ah, eu não era o líder, o Houston... faz você! – exclamou Camus virando o rosto.
– Ponto dois graus sul! – continuou Aiolia e o bote ladeou a bandeira.
– Brigitteeeee, vamos lá vai! Pensa em alguma coisa! – pediu o inglês.
– Ponto meio grau sul! – ordenou Aiolia mais uma vez, e o bote continuou o curso perfeitamente, ladeando a bóia. – E dá pros dois pararem de brigar e pegarem logo a porra da bandeira? – berrou Lyons.
– Vem cá, Milo! – disse Camus pegando o inglês pela cintura e jogando o tronco do outro para frente, sendo que por sua vez apoiou os pés na borda do bote, fazendo uma espécie de alavanca. Milo, que era de longe o mais ágil dos seis, conseguiu esticar a mão e pegar a bandeira, deixando-se logo em seguida cair no colo do francês. Os dois corpos, molhados e pesados pelas fardas ensopadas, cansados pelo esforço, encontraram-se e Camus inconscientemente apertou mais forte a cintura de Milo que, ao invés de fugir, acolheu-se naquele quase abraço. O hálito quente de Camus na orelha de Milo fez o inglês arrepiar todos os pêlos do corpo, e a respiração dos dois tornou-se mais ofegante do que o normal mesmo para quem tinha feito todo aquele esforço. A cena toda foi rápida demais para que os outros percebessem, mas demorada o suficiente para causar certo incômodo em Camus e despertar velhas sensações em Milo. Rapidamente um se livrou do outro.
– Três ponto setenta e cinco graus sul e manter! – ordenou Aiolia e o bote tomou o caminho de volta.
– Olé! – exclamou Shura. – Muito bem, rapazes!
– Acho que vamos conseguir... – murmurou Aldebaran. – Falta quanto tempo?
– Ainda temos vinte e oito minutos... – respondeu Másquera olhando para o relógio. – É melhor aumentarmos o ritmo!
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– Acredite ou não, Major, eles estão vindo aí... e Milo está com a bandeira! – comentou Shina olhando pelo binóculo o bote aproximar-se rapidamente.
– Shina, tal seria se eles não conseguissem... são os melhores entre os melhores, afinal! – respondeu Saga sorrindo. – E então, Milo ou Camus? Qual sua opinião? – perguntou o Major.
– Eu tinha apostado em Milo, como o Senhor sabe. Mas acho que o inglês é muito impulsivo. E foi Camus quem traçou a estratégia, claro que com grande ajuda de Milo, em maior parte, e dos outros em menor escala. Dou-me por vencida, Major: Camus! – afirmou a menina.
– Exato. O francês tem perfil de líder. É calmo, frio, calculista e ponderado. É a escolha certa. – explicou Saga. – Entretanto, Milo será sempre seu braço direito nesse grupo, porque às vezes a paixão tem de falar mais alto do que a razão numa guerra... – continuou o comandante.
– Isso pode trazer problemas, Major. Pelo que eu pude perceber, Camus e Milo não se dão bem. – disse Shina.
– Engano seu, Sargento. Os dois se admiram de uma forma que não admitem nem pra si mesmo. Isso é bom pro grupo também: uma rivalidade, mesmo que disfarçada de admiração, é sempre importante! – completou o experiente oficial. – Mas vamos, que eles chegaram! E são cinco para as seis, conseguiram chegar cinco minutos adiantados, muito bom! – sorriu o comandante.
– O Senhor vai pegar pesado com eles, não é, Major? – perguntou Shina.
– É minha função. Tenho de treiná-los pois eles sairão daqui como meus superiores. Eles têm de estar preparados para tudo, Sargento! Para tudo! – explicou Saga. – Mas agora vamos de uma vez! E vejamos se Camus é eleito o líder como nós imaginamos... – continuou, e ambos caminharam até a praia de encontro aos seis jovens que comemoravam a primeira missão vencida com sucesso.
– Seeeeeeeeeeeeeentido! – ordenou Saga e os recrutas se perfilaram com as mãos à testa. – Muito bom, Senhores. Devo confessar que se saíram muito bem para a primeira missão. Traçaram uma estratégia eficiente e conseguiram atingir o objetivo. – continuou o comandante, observando os soldados baterem o queixo de frio. O único que parecia à vontade era Camus.
– Deeeeeescansaaaaaar! – ordenou o Major mais uma vez, e os recrutas tiraram as mãos da testa e colocaram os braços atrás do corpo, abrindo as pernas. – Todo e qualquer batalhão tem um líder. Quero saber quem é o líder do Primeiro Batalhão Alfa! – disse de supetão, encarando os seus comandados que esboçaram surpresa, menos Camus que não esboçou a menor reação como de costume. "Credo, o homem parece feito de gelo!", pensou Saga. Um minuto de silêncio. – Então, ninguém?
"Ai, cáspita, vai dar uma briga entre o Milo e o Camus... os dois são bons!", pensava Aiolia. "Coño, por mim é o Milo! O inglês é bom!", pensava Shura. "O Uxo que me perdoe, mas ele é impulsivo demais, pode perder a cabeça numa situação mais difícil, como na hora de pegar a bandeira... acho que o Camus seria um ótimo líder!", pensou Aldebaran. "Puta que o pariu, o Milo e o Camus se estouram de porrada os dois agora!", pensava Másquera.
– Senhor, se me permite... – disse Milo e Saga fez um aceno positivo com a cabeça. – Eu acredito que Camus deveria ser nosso líder, pois demonstrou grande capacidade tática e frieza para agir em situações extremas. Acho que falo por todos aqui. – afirmou o inglês, e Camus lançou-lhe um olhar de surpresa, esboçando uma reação fora de seus padrões de impassibilidade de sempre.
Saga não disfarçou um sorriso de canto de boca. – Todos concordam? – perguntou.
– Sim senhor! – responderam em uníssono.
– Pois bem, Sr L'Aquaire, o Senhor é o líder do Primeiro Batalhão Alfa! O grupo está sob sua responsabilidade! – disse Saga. – Os senhores têm meia hora para comer. Por ora, dispensados! – ordenou Saga.
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– Parabéns, Camus, você mandou bem! – cumprimentou Aldebaran mastigando um pedaço de pão bolorento que conseguiram na cozinha do pequeno galpão. Ao longe, o barulho do sino tocando ao vento os trazia de quando em quando de volta à realidade nova e duramente cruel que estavam começando a enfrentar.
– Obrigado, Aldebaran. – respondeu Camus. – Agradeço a confiança de vocês!
–Ora, ora, Brigitte, mas não se esqueça do Homem Aranha: grandes poderes trazem grandes responsabilidades! – comentou Milo rindo e cuspindo o caroço de alguma fruta que de tão velha não se podia identificar. Camus olhou-lhe de uma forma que era um misto de "vou te esganar" com "o que raios você quer de mim?".
– Mierda! Não entendo porque temos de ficar nessas condições horrorosas... será que a OTAN não tem dinheiro pra manter uma base militar decente, não, é? – indignou-se Shura ao arrancar três bichos de sua goiaba.
– Isso tudo faz parte do treinamento, pode ter certeza, Shura... – disse Aiolia.
–Concordo! E quer saber? Acho que vem mais chumbo grosso por aí! – murmurou Másquera apontando com o queixo para o Major e a Sargento, que vinham chegando devagar.
O Major Saga latiu mais algumas ordens e o pequeno pelotão foi obedecendo: subiram e desceram colinas, escalaram rochas, levantaram pesos, arrastaram-se no chão, nadaram em mar aberto. Durante o dia inteiro, com intervalos minúsculos em que engoliam alguma coisa, bateladas e bateladas de exercícios físicos os mais variados. Quando finalmente o sol se pôs os recrutas foram dispensados.
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– Puta que o pariu, eu tô todo estourado! – disse Másquera com uma mão nas costas assim que entraram no alojamento.
– E ainda tivemos que correr até aqui de volta, alguém merece? – comentou Aiolia se jogando na cama.
– Isso sem contar ter de ficar com a farda molhada o dia todo... meu pé tá cheio de bolha já, que merda! – completou Aldebaran.
– Buenas, não sei quanto a vocês, mas eu vou é tomar um banho e dormir! – disse Shura e soltou um suspiro. Foi andando pelo quarto jogando partes de sua farda pelo caminho até que chegou nu ao banheiro. Abriu a torneira do chuveiro improvisado (um cano que saía da parede) e entrou debaixo d'água. – Mierda! A água tá congelando! – berrou de lá de dentro.
– Ih, tá pra você, Brigitte! – riu Milo. Camus olhou para ele e não se dignou a sequer murmurar uma palavra.
Aos poucos foram todos tomar banho. Foi um tanto quanto constrangido que Camus tirou sua farda na frente dos amigos e notou o olhar de Milo para si, um olhar que não soube identificar. Foi ainda mais constrangido que se pegou olhando para o corpo do inglês, admirando as belas formas masculinas do outro e a tatuagem que de uma forma que ele não compreendia lhe dava vontade de tocar e quem sabe até morder de leve.
Antes das oito horas da noite estavam todos deitados, dormindo. Ou quase todos.
– Oh Milo? Você tá acordado? – perguntou o francês logo abaixo do outro.
– Tô, Brigitte, mas quero dormir, então fala logo... – respondeu o inglês meio enfadado.
– Por que você me indicou pra líder? – perguntou Camus. E fez um esforço tremendo para fazer essa pergunta, pois significava que se importava.
– Porque você era o mais indicado, ué! – tornou Milo.
– Pensei que você quisesse ser o líder... – completou Camus.
– Olha, ruivo, vou te dizer uma coisa... maior que o líder é aquele que o influencia... agora dorme e me deixa dormir, vai! – disse Milo mexendo-se na cama.
Camus se ajeitou pensando naquelas palavras. Em pouco tempo, aparentemente adormeceu.
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"Merda! Queria dormir mas não consigo...!", pensou Milo. Sentou-se na cama e, seguindo o mesmo ritual da noite anterior, dirigiu-se silenciosamente para a saída do alojamento. Percorreu os cinco quilômetros até a sede da base o mais rápido que pôde, encontrando-se com a Sargento Marin D'Aguias logo que entrou no prédio de concreto úmido.
– Sargento D'Aguias, que milagre você por aqui! – sorriu Milo. Marin sorriu encarando o soldado que vestia uma calça de moletom cinza e uma camiseta larga branca, calçando chinelos havainas.
– Que milagre você por aqui, Milo! – respondeu Marin rindo. – Quer usar a internet, né? Ai se o Major Saga pega, é demissão na certa... – completou a moça, tirando uma chave do bolso e abrindo a porta da sala dos computadores.
– Ih, tem coisa pior nessa vida do que demissão, Sargento D'Aguias! E eu fico te devendo uma! – completou o inglês, correndo para uma das máquinas.
"Ah, é só me dar o telefone daquele grego seu amigo que fica tudo certo...", pensou Marin para si mesma, e suspirou. – Oh, vou deixar você aqui. Quando terminar, tranca a sala e deixa a chave na minha gaveta, tá? – pediu a moça, virando as costas e indo embora.
– Valeu, Sargento! – respondeu Milo. "Valeu mesmo!", pensou.
Acessou rapidamente o webmail. Digitou o nome de usuário: Escorpião. Senha: Miluxo123. Você tem uma mensagem não lida.
"Que seja do Afrodite! Que seja do Afrodite! Que seja do Afrodite!", pensava enquanto a mensagem abria. "Yes, é do Dite!", comemorou internamente.
Uxo, meu irmão,
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh, você cortou o cabelo? Você deixou que cortassem essa porra de cabelo? Não creioooooooooooooooooooooo. Vai te danar! Onde já se viu? Milo, ainda não me conformo de você, uma pessoa tão livre, tão solta, ter se metido no exército. De verdade, a única razão que vejo pra essa sua loucura é ficar em meio a homens lindos e suados. Mas obscenamente heterossexuais. É, nada é perfeito... Falando sério agora, Uxo, sei que você gosta, mas eu ainda acho que se meter na vida militar foi a pior merda que você já fez. E olha que se eu quiser listo uma infinidade de merdas, hein? Cortar o cabelo, vê se pode... tsc! Quanto ao que você me contou, o francesinho (a Brigitte Bardot, hahahahhaha, adorei!), não vou te dizer o que eu acho, vou te dizer o que você quer ouvir, tá? Você está com inveja dele porque ele tem mais medalhas que você, só isso. Fica tranqüilo! Faz bastante gracinha, tira o cara do sério, faz ele desistir do treinamento e você fica com mais medalhas que ele e resolve a parada, beleza? É isso aí! Quanto a mim, estou bem. Agora você... já não sei não. Vê se consegue me ligar, teu email me deixou preocupado pra cacete, irmão. Ah, manda um abraço pro Deba! Como eu ia me esquecer daquele morenaço? Pedaço de mau caminhoooooo. Uxo, fica bem, tá? E me conta do treinamento... muito homem suado? Hahahahha
Saudades, sempre.
Dite.
"Puta que o pariu, Dite, impressionante como nas entrelinhas você me disse exatamente o que eu estava com medo de ouvir. E sem me jogar na cara. Você é fantástico, irmão!", pensou Milo com um olhar triste, encarando a tela do computador. Passou a mão pelo rosto, esfregando os olhos, tentando se manter acordado. Ia apertar o botão "responder" quando ouviu as vozes de Saga e Shina do lado de fora da sede. Mais que depressa desligou o computador, trancou a sala, guardou a chave na gaveta da Sargento D'Aguias e correu de volta para o alojamento. Se esgueirou e sem fazer barulho subiu em sua cama. Permaneceu pensativo durante alguns minutos, mas por fim o enorme cansaço o venceu e seus olhos se fecharam.
"De novo? Onde é que ele se mete de noite? E por que raios eu estou preocupado com isso?", pensou Camus para si mesmo, somente conseguindo adormecer depois da chegada de Milo.
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Paciência, Camus, é preciso ter paciência!
Houston, temos um problema! – a clássica frase da Apolo 11.
Ai que saco!
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A/N: Ai, ai, próximo capítulo vamos ver no que dá! Estou tentada a já começar a fazer os dois meio que se envolverem... será?
Bom, agradeço novamente aos reviews! Espero que gostem desse capítulo!
Até a próxima!
