Cap. 14 – Fomos Heróis

– Ai, caramba, Marin, que situação! – sussurrou Aiolia para a namorada. – Vai você lá!

– Olia, vai me dizer que você não sabia? – perguntou a menina baixinho, num tom firme, e o namorado fez que não com a cabeça. – Não tinha nem idéia?

– Não, Marin! Como é que eu ia adivinhar que esses dois, super machões, tinham um caso um com o outro? Se bem que isso explica a implicância e as indiretas... – pontuou Aiolia olhando para Milo e Camus, adormecidos nos braços um do outro sob a luz pálida do luar.

A menina fechou a cara e, emburrada, cruzou os braços. – Fala sério, Olia! Os dois não deixam de ser super fodões só porque dormem um com o outro! – murmurou irritada. – E tem mais... – começou novamente com o dedo em riste. – Se você mudar o jeito de tratá-los, pode me esquecer, hein? Não gosto de homem bobo, viu?

Aiolia fez um bico. – E quem te disse que vou mudar com eles? Só me surpreendi, só isso. Achei é que os dois se odiassem... mas enfim, você vai lá chamá-los que o Saga está puto. Está quase amanhecendo e o Major vai surtar já já se os belos adormecidos aí não forem se encontrar com a gente... e acho melhor você ir lá porque se eu for eles vão ficar constrangidos! – sussurrou o grego.

– É, acho que você tem razão... – concordou a moça, segurando o queixo com uma das mãos. – Mas eu acho que os dois vão morrer de vergonha se eu for lá.

– Ai, Marin, que sinuca de bico! Sei lá. Ainda acho melhor você ir do que eu... – afirmou Aiolia.

– Tá, também acho melhor... – tornou a moça. – Vai indo embora que pra todos os efeitos você não viu os dois juntos. E ai de você se abrir a boca sobre isso com alguém! – continuou Marin, aproximando-se do namorado e dando-lhe um beijo rápido. – Além do mais, vou poder ver o Milo e o Camus pelados! – disse e saiu correndo, mostrando a língua para o namorado.

– Ora sua... – reclamou Aiolia mordido de ciúmes. Mas saiu correndo dali, a fim de não constranger seus amigos. "Ah eles que façam o que quiserem... pra mim, serão sempre os melhores soldados que conheci. E, mais importante: serão meus amigos!", pensou.

Marin chegou perto de Milo e Camus sorrateiramente. Ficou ali parada, observando seu namorado distanciar-se ao longe. "Me surpreendi positivamente com o Olia agora. Ele reagiu melhor do que eu pensava...", pensou sorrindo. Logo que o grego desapareceu de sua vista, ela virou-se para Camus e Milo. "Pelos deuses, que desperdício!", disse para si mesma ao contemplar os dois corpos perfeitos, milimetricamente desenhados, abraçados com as pernas entrelaçadas, numa cena digna de um mestre renascentista. Sorriu.

A moça agachou-se ao lado do loiro, cujo peito subia e descia vagarosamente pela respiração tranqüila. "Não me admira que Camus o tenha chamado de anjo quando delirava...", pensou. – Milo... oh Milo... acorda, Milo! – disse baixinho no ouvido do moço. Preferia acordá-lo sem mexer com o francês, pois Milo sabia que ela conhecia a verdade sobre os dois, afinal fora ela quem o consolara quando do tiro levado por Camus.

– Hmmm – reclamou o inglês, remexendo-se por sobre o ruivo, que por sua vez se mexeu também.

"Ai merda! Milo preguiçoso. Daqui a pouco eu acordo é o Camus, disse a moça para si mesma. – Milo... acorda, filho da puta! – continuou baixinho, já sacudindo o amigo.

– Ai, mamãe, me deixa dormir só mais cinco minutinhos, por favor... – disse o loiro, virando-se novamente.

– Hmmm – foi a vez de Camus gemer baixinho. – Qu'est-ce que c'est ça, mon ange? Dormes-toi! – disse sem abrir os olhos.

– O quê, Camus? Eu não falo francês, esqueceu? – reclamou Milo.

Os dois ainda mantinham os olhos fechados. Espreguiçavam-se felinamente, ajeitando-se cada vez melhor nos braços um do outro.

– Disse pra você se acalmar e dormir, Milo, seu inquieto! – explicou o francês.

Milo esfregou os olhos, ainda sem abri-los. – Você reclama muito, Bri!

O ruivo deu um croque de leve no topo da cabeça do inglês. – E você deu pra me chamar de Bri quando não tem ninguém por perto, é?

– Desculpa, Camus, é a força do hábito... – explicou Milo, esticando os dois braços.

O francês riu. – Tá, Milo. Hoje não quero discutir com você.

– Ah, mas discutir com você é meu esporte favorito, Bri! – tornou Milo.

Naquele momento Marin, que vinha observando a tudo quieta, não agüentou e riu. Camus e Milo abriram os olhos, sobressaltados.

Mon Dieu! – exclamou Camus estapeando a própria testa ao dar de cara com Marin, e com as faces já ruborizando pela vergonha.

Milo, ainda espreguiçando-se, sentou-se, esfregando os olhos e os cabelos. – Bom dia, Marin. Ou melhor, boa noite... – disse, percebendo que ainda não amanhecera.

– É bom dia, Milo. Já está quase amanhecendo... – pontuou a moça.

O inglês se levantou, nu, e foi calmamente recolhendo as roupas do chão. – Oh Camus, essa camiseta é a sua ou a minha? – perguntou, atirando a peça de roupa para o namorado.

Mon Dieu, quelle vergogne! Milo, seu desaforado, não vê que a Marin está aí? Fica andando pelado, vai pegar uma pneumonia ainda por cima! – reclamou Camus. – E essa camiseta é a minha!

– Tá, tá, Camus, puta mal humor matinal dos infernos, não liga não, tá, Marin, ele é assim mesmo. A gente tava dormindo pelado, oh Bri, caso você não tenha percebido... se for pra pegar pneumonia, pegamos os dois. E nenhum de nós aqui é o Olia pra ficar dodóizinho não. Com todo respeito, tá, Marin? – foi dizendo Milo enquanto se vestia.

Marin deu uma risadinha. – Nenhum dos dois vai ficar doente. A saúde aqui é abundante... e bota abundante nisso! – disse a moça, mirando as nádegas de Camus.

Milo gargalhou. – Ai que eu conto isso pro Olia, Marin!

– Contar o quê? – perguntou Camus sem entender nada.

– Nem queira saber, francês, nem queira saber... – comentou Milo. – Mas diz aí, Marin, por que você veio aqui atrapalhar nosso soninho? Tava tão bom!

– Ai, desculpa, Milo, de verdade! Mas é que o Saga já trouxe a cambada toda pra esse lado do rio e está feito um louco atrás de vocês dois. Eu escapei pra chamar vocês antes que outra pessoa viesse! – explicou a moça.

– Brigado, Marin! – disse o inglês dando um beijo na testa da amiga.

– Oh Milo, me explica uma coisa? A Marin sabe da gente? – perguntou Camus abobado.

– Ih Bri, é uma longa história... mas sim, sabe sim. Realiza, Bri: por que você acha que ela te deu o telefone do Afrodite pra você saber de mim, hein? – tornou o inglês, com o dedo na própria têmpora, e só faltou dizer "helloooooo?".

– Faz sentido... – tornou o ruivo. – Ah, mas nem quero saber como você sabe, nem porque, Marin. Vamos logo atrás do Saga, porque do jeito que ele é, daqui a pouco é capaz de sair gritando por aqui e fazer a gente se ferrar...

– Às vezes eu acho ele meio maluco... – comentou o loiro.

– Não contem pra ninguém, mas a Shina me disse que acha que ele já sofreu de dupla personalidade... – murmurou Marin. – Mas eu acho que é lenda!

– Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece! – disse Milo.

Camus riu. – Af, Milo, só você mesmo... isso lá é coisa que se diga? – comentou o francês. – Ah, e antes que eu me esqueça, eu ainda sou o líder do Batalhão Alfa, vê se me respeita quando estivermos com os outros, hein?

– Marin, oh Brigitte poderooooooooooooosa... – riu Milo puxando a amiga pela mão, virando para trás e mostrando a língua para o amante.

– Ora seu... – murmurou Camus. – Eu realmente deveria ficar bravo com você, Milo! – disse para si mesmo, sorrindo. Correu também em direção aos amigos.

-X-X-X-

– Arre, que vocês chegaram! O Saga ia surtar logo logo! – comentou Shura assim que Milo, Marin e Camus chegaram ao local em que os amigos se reuniam.

Saga andava de um lado para o outro inquieto. Tinha os olhos tristes e a feição amargurada. A veia do pescoço pulsava, e parecia que o Major iria explodir a qualquer momento. A única pessoa que tinha coragem de ficar perto dele era Shina, que procurava consolá-lo como podia.

– Ai, credo, que gente estressada! – reclamou Milo, injuriado.

– Major, queira nos desculpar pelo atraso! – pediu Camus, visivelmente encabulado.

Saga levantou os olhos e encarou o francês. – Já não era sem tempo! – murmurou entre dentes. "É hoje, Kanon. É hoje que finalmente acertamos nossas diferenças...", prometeu para si mesmo. – Vamos logo, então!

Shaka levantou-se de onde estava e se dirigiu a Saga, apertando seu braço. – Se controla, Saga. Se controla que esse plano depende de você.

O Major suspirou profundamente. – Eu sei, loirão. Eu sei. Desculpa, vou me controlar.

– Confiamos em você, Saga! Não se esqueça disso! – respondeu Shaka. – Mu, querido, poderia por gentileza explicar a situação? – pediu o indiano, trocando um olhar significativo com o outro.

– Claro, Shaka. – respondeu Mu, que era sempre o escolhido para passar esse tipo de instrução, uma vez que seu ar calmo transmitia tranqüilidade até mesmo nas piores situações. – Bom, rapazes, como sabem, hoje daremos início ao nosso plano. E pra isso vamos precisar de um avião ou de um helicóptero para irmos para Londres. Alguém tem alguma idéia de como conseguir um?

Másquera sorriu. – Mas isso é muito fácil! É só pegar o meu avião! – disse o Segundo-Tenente da Aeronáutica italiana, estufando o peito.

"Por Buda, quanta ingenuidade!", pensou Shaka de olhos fechados. – Não, isso não é possível. Vamos adentrar espaço aéreo inglês, não podemos fazê-lo com uma aeronave italiana ou francesa. Precisamos de uma inglesa ou americana!

Todos se voltaram automaticamente para Milo. – Epa, epa, opa! Nem olhem pra mim. Eu sou do Exército, E-xér-ci-to. Infantaria, sabem? Aquele povo que marcha um dois três quatro quatro três dois um? Não tenho prerrogativa pra conseguir avião ou helicóptero não, minha gente, podem ir esquecendo...

Naturalmente, os olhares se voltaram de Milo para Aldebaran. – Ih, eu sou fuzileiro naval, pessoal. Se vocês querem navio, eu posso até conseguir. Mas avião não rola também não.

– Boa, vamos pra Inglaterra num porta aviões dos Estados Unidos, acho que não vamos chamar a menor atenção assim... – debochou Aiolos.

– Não sei qual o drama! Por que a gente simplesmente não rouba um helicóptero? Tem um CA-King lá no pátio que eu vi... – perguntou Marin com uma expressão marota.

– Por isso que eu senti sua falta, sua desgraçada! – comentou Shina sorrindo. – A distância daqui até Londres é relativamente curta e o CA-King tem autonomia de vôo até lá. Eu e a Marin podemos pilotá-lo sem problemas.

Aiolia coçou a cabeça. – Você está sugerindo que roubemos um helicóptero, é isso?

– Ué, e por que não? Já estamos todos ferrados, mesmo, uma coisa a mais uma a menos não vai fazer a menor diferença... – afirmou Milo.

Camus suspirou, dando de ombros. – E lá vamos nós outra vez!

Caminhavam todos por entre as tropas da coalizão espano-anglo-americana, que dormiam tranqüilas. De quando em quando um ou outro soldado acordava sobressaltado e assustava-se ao ver o estranho grupo caminhando sorrateiro por entre ele, mas viam Shura, Aldebaran e Milo, os comandantes, que lhes acenavam com as cabeças, e voltavam a dormir tranqüilos. Chegaram por fim ao aeroporto de Rouen, que havia sido confiscado pelas tropas para fins militares. Ao longe, reluziam aviões e helicópteros de guerra, brilhando aos olhos dos amigos.

Aiolia coçou a cabeça. – Que merda, isso parece bem vigiado!

– E é mesmo! Não sei como vamos conseguir invadir e ainda por cima roubar o helicóptero! – pontuou Aldebaran.

– Deba, quem é que está encarregado da vigia hoje? – perguntou Milo matreiro.

– Ah, é aquela mocinha, loirinha, bonitinha, meiguinha, toda inha, que eu não lembro o nome... – respondeu o brasileiro.

– A June! A soldado June! Maravilha, Deba, a menina arrasta um caminhão por mim. Deixa comigo! – afirmou Milo, todo cheio de si, estufando o peito cheio de orgulho.

– Ah, lá vai o Don Juan da caserna! – exclamou Camus bufando.

– Gente, pára tudo. Pára tuuuudo. A Bri fez uma piada! – brincou Milo. – Cuidado, gente, é o Armagedon, sinal do fim dos tempos! – disse o inglês já se dirigindo ao portão do aeroporto, arrancando sorrisos de seus companheiros e uma bufada do francês.

Foi com raiva que Camus assistiu Milo conversar com June. Foi com mais raiva ainda, uma raiva que ele jamais imaginou sentir, que percebeu que os olhos azuis da menina brilhavam, e que ela encarava o inglês como se ele fosse um objeto de adoração. Seus olhos se anuviaram quando viu Milo sussurrar qualquer coisa no ouvido da soldado June, e quase perdeu a compostura quando percebeu que a menina se arrepiara todinha. Entretanto, segundos depois estavam todos embarcados no CA-King, com o pretexto ridículo de que Milo queria mostrar as belezas militares da Inglaterra a seus amigos. De tudo aquilo, Camus só gostou quando a aeronave pôs-se a funcionar e da cara de ódio de June quando Milo lhe atirou um beijinho lá de cima.

– Cancerini? – chamou Saga. – Antes que eu me esqueça, tenho algo pra você! – disse, pegando uma pesada mochila com Shaka e entregando-a para Másquera.

O italiano abriu a mochila e seus olhos brilharam de emoção. – Grazie, Major! – agradeceu o italiano. – Que saudade de você, meu lança-chaminhas! – disse, abraçando a arma, e rodopiou com ela como se estivesse valsando, arrancando gargalhadas de seus amigos.

– Credo, aqui só tem doido! – comentou Aiolos num canto, mas não conteve uma risada.

-X-X-X-

O helicóptero atravessava o espaço aéreo francês. A apreensão era visível nos olhos de seus tripulantes, afinal, para uma aeronave inglesa aquele era espaço aéreo inimigo. Marin e Shina pilotavam o mais rápido que podiam e, enquanto isso, a tripulação encontrava qualquer distração, qualquer que fosse, para não pensarem no perigo que estavam correndo. Aldebaran contava histórias sobre o Brasil, onde seus avós ainda moravam, para Shura, Aiolia e Másquera, sendo que este último aproveitava para polir seu lança-chamas querido com zelo; Shaka e Mu estavam de olhos fechados num canto e pareciam meditar; Aiolos, sentado num outro canto, parecia meio perturbado, como se carregasse um segredo pesado demais para si mesmo; e Saga, por sua vez, balançava o corpo para frente e para trás, remoendo antigas lembranças: coração e mente do Major totalmente mergulhados num turbilhão de sentimentos desconexos e difíceis demais de lidar. "Se eu não tiver um enfarte hoje nunca mais tenho problema cardíaco...", murmurou Saga para si mesmo, tentando fazer graça do fato de seu coração estar quase saltando pela boca.

Milo apoiou a mão no ombro do namorado. – Camus, você está bravo comigo?

– Humpf – grunhiu o francês, virando para o outro lado a fim de não encarar o loiro nos olhos. – Estou sim.

– Mas querido, eu precisei fazer aquilo! Foi necessário! – explicou-se Milo. – Foi um teatro e nada mais.

– E precisava ter atuado tão bem? Eu que sou a Brigitte Bardot e você que merece o Oscar de melhor atriz! – exclamou Camus.

Milo riu. – A Bri fez outra piada! E tá morrendo de ciúme! Que lindo! Que cuti! – murmurou baixinho, não conseguindo disfarçar o quanto estava gostando daquilo.

– Bah, e você ainda por cima está achando isso lindo! Que falta de respeito comigo! – bufou o francês.

O loiro apoiou o queixo no ombro do namorado. – Me perdoa? – perguntou num sussurro.

– Pelo menos você admite que precisa ser perdoado, é um começo. – afirmou Camus.

Milo sorriu. – Admito nada. É só um jeito mais fácil de fazer você parar de me torturar desse jeito. Pensa que não te conheço, francês?

Camus esforçou-se ao máximo para não sorrir. – Você pareceu à vontade demais naquele papel de Casanova de quinta!

– Não inverta os papéis, querido. O ciumento da relação sou eu! – murmurou Milo fazendo biquinho. – E se você não parar logo com esse joguinho juro que te agarro e te beijo aqui mesmo. Aí quero ver só você manter essa pose de gelo, de "eu sou o líder aqui e vocês me devem respeito"! – disse o inglês imitando o jeito sério de Camus.

O ruivo não agüentou mais e sorriu, virando-se para encarar o namorado. – Seu pervertido! Tá bom, tá bom, eu sei que você não teve culpa. Mas se eu pego aquela loira aguada daquela soldado juro que esgano ela com minhas próprias mãos!

– Te ver assim com ciúme me faz tão feliz, Camus! – murmurou Milo.

Camus suspirou. – Se te trouxer um terço da felicidade que você me traz, mon ange, juro que vou ter crises de ciúmes diariamente!

"Tá, agora é fato, é oficial: você está completamente bobo e rendido por esse francês dos infernos, Milo!", pensou o loiro. – Bobo! – sussurrou, derretendo-se todo.

– Atenção, aeronave, estão em espaço aéreo inglês. Identifiquem-se ou serão abatidos! – gritou uma voz metálica dentro do helicóptero.

– Ai que merda! Batedores! – reclamou Marin.

– Mas era só essa que faltava... – pontuou Shaka, abrindo os olhos.

– Aeronave, identifiquem-se ou serão abatidos! Desçam vinte pés e identifiquem-se! – gritou novamente a mesma voz metálica, e nesse momento os tripulantes do CA-King conseguiram ver dois caças que ladeavam o helicóptero. O piloto à direita de Marin fazia um sinal com os dedos para baixo, indicando que a aeronave deveria baixar.

– Por que as coisas nunca podem ser fáceis para nós? – perguntou Aiolia incrédulo.

– Porque senão não ia ter graça, Olia! – respondeu Milo. – Me dá aqui esse comunicador! – tornou o inglês, pegando o rádio. – Aqui é o Subtenente Milo Scorpio, Exército de Sua Majestade. Aeronave CA-King PT 103246, com destino a Londres, câmbio!

– Entendido, Subtenente Scorpio. A aeronave CA-King PT 103246 não tem autorização para entrar em espaço aéreo londrino. Repito, não tem autorização para entrar em espaço aéreo londrino. Arremetam e desçam ou serão abatidos. Entendido? Câmbio! – ordenou a voz metálica.

– Caralho, Uxo, você não serve pra nada mesmo, hein? – reclamou Shura.

– Oh, oh o respeito! Aquela filha da puta daquela June deve ter denunciado o roubo do helicóptero! – tornou Camus dando um peteleco em Shura.

– Calma! Eu vou resolver a situação! – disse Másquera aprontando o lança-chamas. – Vou mandar esses merdas pros quintos dos infernos!

– Não, seu maluco! – gritou Aiolos. – Isso aí é que nem pardal: mata um vem dez!

Franchement, Monsieur! Que ditado horroroso! Eu podia ter passado sem essa... – recriminou Camus. – Perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado!

– Ahn, pardon, mon enfant... a guerra me deixa assim meio que nervoso, sabe? – tentou consertar Aiolos, ainda recebendo um olhar de reprovação de seu antigo pupilo.

– Este é o último aviso! Arremetam e desçam ou serão alvejados. A aeronave CA-King PT 103246 não tem autorização para entrar em espaço aéreo londrino! – repetiu a voz metálica, parecendo impaciente.

– Caceta, e agora? Alguém quer por favor ter uma idéia? Camus, Saga...? – disse Milo nervosamente.

Saga levantou-se de onde tinha ficado até então. – Marin, Shina, fiquem atentas às instruções do Olia. Deba, você que é fuzileiro naval, artilharia de elite, assume a metralhadora principal; Shura, assuma a secundária. Másquera, prepare o lança-chamas!

– Ah, ma no precisa falar duas vezes! – exclamou o italiano com os olhos brilhando.

– Sim, e o Olia, quando for dada a ordem, orienta as meninas para posicionarem o helicóptero a ponto 32 sudoeste! – concluiu Camus.

– Isso mesmo! Muito bom, L'Aquaire! O resto de vocês, reze! Vamos precisar! Com um pouco de sorte, tudo dará certo! – pontuou o Major. – Milo, mande esses caras pra onde eles merecem ir!

Milo sorriu. – Atenção, aqui é o CA-King PT 103246. Vão pra puta que o pariu! – gritou o inglês.

Naquele momento, os dois caças fizeram uma manobra e se posicionaram atrás do helicóptero. Dentro do CA-King, aqueles segundos pareceram uma eternidade. A tripulação não ousava nem respirar, tamanho o medo que sentiam. Um míssel naquela situação seria fatal. – Olia, agora! – ordenou Saga.

– Meninas, virem à direita e mantenham o curso em 47 graus! – gritou Aiolia.

O helicóptero descreveu uma curva perfeita e surpreendeu seus algozes ao ficar de frente para eles. – Meninos, chumbo neles! – berrou Aldebaran.

O que se seguiu foi uma saraivada de balas certeiras. O golpe final veio quando a porta do compartimento da tripulação do CA-King se abriu e Másquera atingiu o tanque de gasolina de um dos caças inimigos. Houve tempo somente para os pilotos adversários ejetarem seus acentos. Uma explosão rouca tingiu o ar de vermelho e espalhou destroços por um raio de mais de cinco quilômetros.

– Não quero ser convencido, mas a gente é foda pra caralho! – comemorou Másquera em meio aos apupos de toda a tripulação.

-X-X-X-

O vôo continuou tranqüilo. Com todo o esforço militar britânico destinado aos combates na França e na Bélgica, não havia sobrado muito para proteger a ilha, o que talvez se provasse um erro de estratégia crucial. A verdade é que ingleses e americanos confiavam tanto na vitória que não se preocuparam em se guarnecer internamente. Naquele momento, Camus lembrou-se da lição de Marin: "nunca menospreze seu adversário". O CA-King pousou no subúrbio de Londres por volta das sete horas da manhã. O foggy londrino dava ao local um ar surreal de mistério, quase lúgubre. Fazia frio, mas nada disso incomodava aqueles bravos homens e mulheres.

– Tá, e agora? – perguntou Aiolos se espreguiçando assim que desceu do helicóptero.

– O discurso do Kanon vai ser ao meio dia, segundo minhas informações. Agora a gente espera aqui! – explicou Shaka.

– Fácil pra você falar, né, Shaka? Como é que a gente vai simplesmente esperar? Ficar sentado? Quer jogar cartas? Seu pequeno Buda, você vai meditar e eu vou ficar aqui me remoendo! E ainda por cima, tenho fome! – gritou Saga meio descontrolado.

Aiolos colocou-se entre Shaka e Saga. – Calaboca e se controla, Saga. Também tô com fome, também não quero esperar, mas fica na sua! Não me vai surtar agora! Era só o que faltava, você resolver pirar justo agora!

– Ora seu... – grunhiu o Major Gemini entre dentes, atirando-se contra o amigo. Saga e Aiolos engalfinharam-se.

Mais ça c'est assez! Suffit! Fermez la bouche! Calem a boca! – exasperou-se Camus.

– Camus tem razão, fiquem quietos. Saga, se controla por favor! – pediu Shina, aproximando-se do Major e dando-lhe um beijo terno na face.

Saga suspirou, abraçando sua namorada. – Desculpem, eu me exaltei.

– Tudo bem, Saga. Shura, você se lembra da menina que tirou foto de vocês na festa de premiação? – perguntou Shaka.

– E como me esquecer? – pontuou Shura sorridente.

Shaka não conseguiu disfarçar um sorriso. – Pois bem, vista isso e vá encontrá-la neste endereço! – ordenou o indiano, atirando roupas civis e um papel para o espanhol.

Aldebaran coçou a cabeça. – Não é melhor que vá o Milo? Afinal, ele conhece a cidade, não?

– Shura também! Ele viveu aqui por três anos... – explicou Mu.

O espanhol franziu o cenho. – Como você sabe disso?

– Nós sabemos mais coisas sobre vocês do que vocês possam imaginar... – murmurou Mu. – Agora vá, não perca tempo, obedeça ao Shaka. E traga qualquer coisa para comermos! – ordenou o tibetano.

– Taquipariu, quanto mistério... – murmurou Másquera para Milo, que concordou com a cabeça, os dois observando Shura sumir ao longe. – Milo, me diz uma coisa: sabe do Afrodite? – perguntou o italiano como quem não quer nada.

O inglês comemorou internamente. – O último que teve notícias dele foi Camus, e ele mandou o Dite voltar pra Suécia enquanto tudo isso não tivesse se resolvido. Eu espero que ele tenha obedecido, Mask!

– Eu também, Milo. Eu também... – sussurrou o italiano, maldizendo-se a si mesmo por não ser ele a proteger Afrodite de todo o perigo da guerra.

-X-X-X-

Pandora aguardava nervosamente no Picadilly Circus. O ar soturno de Londres ali era combatido pelos letreiros luminosos que bombardeavam aos transeuntes os nomes das marcas mais famosas do globo. "Os verdadeiros donos do mundo...", pensou a menina olhando para o relógio. "Onde estão Mu e Shaka?", perguntou para si mesma, impaciente. À sua frente, uma loja da GAP exibia uma vitrine vistosa. "O mundo se acabando e as grandes corporações somente querendo o dinheiro das pessoas...e o inacreditável é que as pessoas não vêem isso!", comentou para si.

Shura despontou ao longe e observou a moça olhar para o relógio mais uma vez. Pandora vestia um corpete preto tomara que caia que marcava bem sua cintura fina e uma saia larga e comprida da mesma cor. O colo, nu, despontava pálido, e os seios subiam e desciam no ritmo da respiração agitada da moça. No pescoço, um fio de seda negra prendia uma delicada cruz celta, que caía mimosa como uma gargantilha. Trazia os cabelos escuros presos num alto rabo de cavalo, e tinha luvas de meia arrastão nas mãos de unhas vermelhas e compridas. Carregava uma bolsa envelope a tira colo. Usava uma maquiagem forte nos olhos, ressaltando ainda mais aquelas órbitas misteriosas, que pareciam duas pedras de ônix a encarar o mundo agitadamente. "Guapísima!", pensou o espanhol, hipnotizado pela menina.

Hola señorita! Lembra-se de mim? – perguntou Shura sedutoramente.

– Claro que me lembro! – respondeu Pandora com brilho nos olhos.

– Me pediram para levá-la comigo. Me permite? – tornou o espanhol oferecendo o braço para a moça.

– E como negar? – respondeu Pandora, corando um pouco as bochechas claras. – Shura...

– Vamos então... Pandora! – exclamou o espanhol sorrindo. Parecia estar nas nuvens.

Caminharam de braços dados pelas ruas de Londres, conversando animadamente. Sobre todos os assuntos possíveis, procurando conhecer-se melhor. O tempo passou e quase que Shura se esqueceu de levar comida para os amigos. Mas lembrou-se a tempo e comprou alguns pães, frios e suco. Chegaram ao ponto de encontro cerca de duas horas depois do espanhol ter saído dali, motivo pelo qual foram recebidos com olhares de reprovação de Mu e Shaka.

– Bom dia, Senhores! – disse Pandora fazendo cara de coitada.

Mu riu. – Você sabe como me desarmar, Pandora! Bem vinda, querida! – disse, abraçando a menina, no que foi acompanhado por Shaka. – Trouxe o que lhe pedimos?

– E alguma vez sequer eu os decepcionei? – perguntou a moça tirando uma chave de sua bolsa.

– Muito bem, loirinho e loirão! Querem por favor se explicar? – pediu Saga.

– Kanon e Julian contrataram uma moça para tirar fotos dos rapazes, a fim de que se eles aparecessem para impedi-los os dois tivessem como saber quem eram. Pandora neutralizou a tal menina e tomou o lugar dela. – resumiu Shaka.

– Neutralizou? – perguntou Milo arqueando a sobrancelha.

– Mandei a moça para bater um papo com Hades... – respondeu Pandora rindo.

– Gostei da regazza! – exclamou Másquera.

– Credo, Mask, às vezes você me dá medo... – comentou Milo. – Mas enfim, prossigam...

– Aí a Pandora, quando foi entregar as fotos, duplicou a chave da sala de Kanon! – finalizou Mu. – E é com isso que vamos invadir.

– Nossa, que burrice! Se ela deu as fotos pros dois nossas caras devem estar penduradas na Torre de Londres! – exclamou Aiolia.

– Por Buda, Aiolia! É lógico que ela não entregou as fotos verdadeira, né? Faça-me o favor! – reclamou Shaka.

Saga aproximou-se do grego. – Olia, quando tudo isso terminar, quero você trabalhando comigo. Tirar o Shaka do sério é uma qualidade que poucos têm e que eu admiro!

Aiolia riu. – Pó dexá, Major!

Milo revirou os olhos. – Vamos parar com os entretantos e partir pros finalmentes? São dez e meia já!

– Cacete! Vamos, gente! É agora ou nunca! – exclamou Saga. "Me aguarde, Kanon. É hoje que resolvemos nossas diferenças! Por bem ou por mal!", pensou o Major.

-X-X-X-

O sol estava a pino, eram quase onze horas da manhã. Faltava pouco tempo para que o novo Primeiro Ministro empossado, Kanon Gemini, fizesse seu primeiro discurso para a Nação. Os amigos, enquanto isso, caminhavam como quem não quer nada pelo lado de fora do Palácio. Vestiam suas fardas mesmo, já que na profusão de militares que caminhavam pelo local eles foram praticamente absorvidos. Nem mesmo os inimigos foram reconhecidos. Entraram tranqüilamente no Palácio, o qual Milo conhecia muito bem, e os guiou sem dificuldade até a ante-sala do Primeiro Ministro, acenando para um ou outro de vez em quando no caminho.

– Eu tendo a desconfiar naturalmente de quando as coisas são fácies demais... – murmurou Shina. – E isso aqui está definitivamente fácil demais!

– Rendam-se ou morram! – gritou um soldado que surgiu sabe-se lá de onde acompanhado de uma série de outros.

– Odeio quando tenho razão! – exclamou Shina batendo o pé.

Um dos soldados, o que parecia ser o líder, colou o cano de seu revólver na cabeça de Aiolia. – Sem gracinha! Rendam-se ou morram!

O grego revirou os olhos. – Por que as coisas nunca podem ser fáceis pra gente? Nunca?

– Calaboca! – ordenou o soldado, dando um bofetão em Aiolia.

– Ah, agora eu fiquei nervoso! Quem é você pra bater no meu irmão? – berrou Aiolos indo pra cima do soldado com tudo.

– Irmão? Aiolos, me explica isso! – gritou Aiolia, esmurrando outro soldado.

Aiolos finalizou com aquele e partiu pra outro. – Olia, meu pai...

– Calem a boca vocês que ninguém aqui está interessado em separados no nascimento! Moooooorte! – gritou Másquera batendo as cabeças de dois soldados inimigos uma contra a outra, desacordando os dois. – Urrááááááá!

– Proteger a Itália é seu dever, matar é sua diversão! Esse é Másquera, também conhecido como Máscara da Morte por seus inimigos! – disse Milo gargalhando.

– Me lembra de te decapitar mais tarde, Uxo! – grunhiu o italiano, no fundo se divertindo com a brincadeira.

Em pouco tempo, os soldados inimigos tombaram todos, derrotados. Saga suspirou profundamente. – Aconteça o que acontecer, fomos heróis! – afirmou, virando a chave.

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Invadiram a sala de Kanon em formação: Camus e Milo na frente, ajoelhados, seguidos por Aiolia e Shura, mais abertos, e Aldebaran e Másquera nas pontas. Atrás dos homens, Shina, Pandora e Marin formavam um semicírculo, e todos apontavam suas armas aos dois homens que se arrumavam despreocupadamente.

– Rendam-se ou pereçam! – gritou Milo. – Sempre quis falar isso... – sussurrou para Camus.

– Calaboca, Milo! – repreendeu o francês baixinho.

Kanon riu alto e alucinadamente. Era idêntico a Saga, até mesmo na risada assustadora. A única diferença entre os dois era que Kanon tinha longos cabelos, e os de Saga, devido à carreira militar, eram curtos. – Ora ora, advinha quem vem para almoçar, Julian?

– Humpf – bufou Julian. – Mandaram a corja, não tiveram nem coragem de vir eles mesmos... Típico! – disse desdenhoso.

Saga furou a formação de seus comandados, sendo seguido de perto por Shaka, Mu e Aiolos. – Eu não diria isso se fosse vocês!

– E eis que o filho pródigo à casa retorna! – exclamou Kanon sorrindo. Surpreendeu a todos saltando por cima deles e trancando a porta atrás de si. – Agora somos só nós! Os traídos, os traidores e os enganados! – continuou, abrindo os braços.

– Cale a boca, Kanon! Você não tem o direito de causar uma guerra mundial por causa de sua vingança contra a gente! – argumentou Shaka.

– Pequeno Buda, eu estava com saudade de você! – riu Julian. – A guerra não tem nada a ver com vingança, meu caro, mas sim com poder. E glória. Nossa vingança será outra...

Saga abaixou os olhos e suspirou. – Por favor, meu irmão!

– Irmão? Ora essa! É meu sangue e minha carne que está aqui, em minha frente, no entanto meu irmão está a meu lado! – disse Kanon apontando para Julian. – Pois um irmão que trai o outro não é irmão!

– O que você fez com ele, meu amor? – perguntou Shina, balbuciando.

– Por favor, Shina, não deixe de me amar por causa disso! Por favor! – implorou Saga para a menina com os olhos marejados.

– Meu amor? Ora, Saga, você tem tudo: a carreira perfeita, uma mulher linda que te ama, amigos leais. Mas esses amigos eu vou tirar de você, Saga, pois ninguém lhe será leal depois de ouvir o que eu tenho a dizer... – pontuou Kanon.

– Kanon, por favor! Isso é passado, é ferida cicatrizada! – tentou argumentar Mu.

Julian gargalhou. – Ora faça-me rir!

– Ferida cicatrizada, Mu? Por acaso foi você que cresceu à sombra do irmão perfeito? Por acaso foi você quem sempre quis seguir carreira na aeronáutica e teve de dividi-la com um irmão que nunca tinha dado a mínima pra isso só porque ele queria estar perto pra te azucrinar? Acaso foi você, Mu, quem perdeu a patente e passou cinco longos anos na prisão imunda do Cabo Sunion, sendo alimentado a pão e água, porque seu. maldito. irmão. te denunciou por tráfico de drogas no quartel? Foi você, Mu? – gritou Kanon fora de si. – Claro que não! Então não me venha falar em ferida cicatrizada! Você também nos traiu, Mu!

– O Saga fez isso? – murmurou Milo incrédulo, baixando sua arma.

Saga caiu sobre os joelhos. – Me perdoa, Kanon.

– Perdoar, Saga? Você também me ferrou, só porque eu era amigo de seu irmão. Ouçam, Batalhão Alfa, a história do sublime comandante de vocês! Fomos nós seis chamados para um treinamento importante, assim como vocês há pouco. Coisa fina: inteligência da OTAN. Kanon, eu, Saga, Mu, Shaka e Aiolos. Kanon e eu sempre fomos mais furtivos, dados a pequenas escapadelas... – começou Julian, e trocou um olhar significativo com o amigo.

– E sim, distribuíamos drogas aos soldados, comportamento inadequado, eu sei. – continuou Kanon. – Mas no entanto quando Saga nos pegou aos dois, denunciou a mim como traficante e ao Julian como usuário. A punição para meu amigo foi a expulsão, o fim do sonho de uma vida! A minha, ah a minha, foi ser trancafiado naquela prisão infernal onde eu passei cinco longos anos remoendo minha raiva, amadurecendo minha vingança. Saga e sua corja, vocês vão nos pagar! – exclamou o moço com os olhos crispados de raiva.

Saga chorava. – Me perdoa, Kanon. Eu deveria ter conversado com você, deveria ter te entendido. Mas não era eu, você sabe.

– Ah sim, claro, dupla personalidade, como não pensei nisso antes? – perguntou Julian cinicamente.

– Olhem para o comandante de vocês, rapazes! O herói que vocês tanto prezam! O traidor do próprio irmão! Caim em pessoa! – disse Kanon apontando para Saga.

– Passei cinco anos até herdar o império petrolífero de meu pai e assim conseguir com muita influência tirar Kanon daquela imundície... – comentou Julian. – E pensar que vocês, Aiolos, Shaka e Mu, aconselharam o Saga a nos denunciar!

Shaka respirou fundo, baixando os olhos. – Na época não achamos que a punição fosse ser tão rigorosa, Kanon. Só soubemos o que aconteceu depois que você foi solto!

– Me perdoa, irmão, por favor! – soluçava Saga.

– Perdoar? Como se você se importasse com meu perdão... ainda me lembro das últimas palavras que você me dirigiu, Saga. "Vá, escória, vergonha da família", você disse enquanto eu era arrastado do tribunal militar, condenado e humilhado, e você era condecorado. Ainda traz aquela medalha no peito? A medalha ganha por denunciar seu próprio sangue, sua própria carne? – dizia Kanon caminhando alucinado.

Saga olhou para o próprio peito. – Olhe pra mim, Kanon, acha mesmo que eu ostentaria o símbolo da minha vergonha?

– Isso pouco importa agora! Kanon, veja a dúvida nos olhos deles! Veja a dúvida nos olhos dela, Kanon! – afirmou Julian apontando para Shina. – É quase hora do discurso, e Saga jaz derrotado. Nós vencemos, meu amigo, nós vencemos! – prosseguiu Julian.

– A gente vai deixar o Pink e o Cérebro aí ganharem a parada? – perguntou Aiolia atônito com a falta de atitude de seus amigos. Mas a dúvida, a hesitação, pairavam no ar.

Shina pousou a mão no ombro de Aiolia e fez que não com a cabeça. Foi caminhando lentamente até Saga, que jazia soluçando ajoelhado no chão. – Meu amor... aconteça o que acontecer, fomos heróis, lembra-se? – perguntou a moça no ouvido de seu amado.

Saga levantou os olhos, vermelhos pelas lágrimas, e encarou a menina. Abraçou-a. – Aconteça o que acontecer, fomos heróis. Lembro-me, Shina! Lembro-me! – disse com vida nos olhos.

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A/N: Ufa! Depois do meu PC ter sumido com o capítulo inteirinho, passei o domingão inteiro reescrevendo. Taqui o fruto do meu esforço! Ainda mato meu computador!

Algumas erratas sobre o capítulo anterior:

Eu sei que é Aiolos e não Ailos, rs. Culpem meu sono!

Usei a mesma cor pra melancolia e liberdade (valeu Bia por me dizer) – foi mals. Mas ah, vocês entenderam o sentido da coisa. Aliás, A Liberdade é Azul é um filme maravilhoso, que faz parte de uma trilogia (A Igualdade é Vermelha e a Fraternidade é Branca).

A frase Toujours, Milo, pour toujours do final faz menção à fic Forever and One, da Enfermeira-chan.

Agora sobre esse capítulo imeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeenso. Amei escrevê-lo, de verdade. Odiei ter de reescrevÊ-lo por causa do erro do meu PC desgracento, mas acho que saiu mais ou menos igual o outro. A fic está na reta final, gente! Eeeeeeeeehhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! Falta poucooooo.

Ah, o casal Shura e Pandora peguei emprestado também da Enfermeira-chan, da fic À Francesa! Gracias por me cedê-los, chica!

Próximo capítulo: O Grande Ditador.

Como diria o Milo, vamos parar com os entretantos e partir pros finalmentes. Eis as respostas aos reviews anônimos!

Allkiedis: Fazer o Camus passivo foi um teste pra mim mesma, que também não consigo vê-lo nessa situação. Foi como superar limites. E achei que seria uma bela prova de amor pro Milo! Mas acho que pelo menos em Caserna não rola mais a inversão de papéis! Quem sabe numa próxima? Valeu pelo review! Bjoks!

Nine66: Valeu pelos elogios! Sim, o Camus foi fofíssimo! E o Milo sempre provoca mesmo, esse Don Juan da caserna! E aí, gostou desse capítulo? Teve mais ação que o outro, né? Bjoks!

Uotani: Brigadão pelo comentário! Taí a relação Kanon/Saga/Julian. O que você achou? Foi um jeito de trazer tudo pro "mundo real", rs. Espero que você tenha gostado! Bjoks!

Bia: Valeeeeeeeeeeeeu por me mostrar meu erro. Cara, tava com tanto sono quando postei que nem revi, foi do jeito que tava, haha. Mas o discurso, bem, obrigada por ter gostado. Falei pela boca do Milo ali, é algo em que eu acredito! Valeuzão pelo review e pelos elogios! Bjoks!