A/N: Gente, peço a paciência de vocês para lerem esse capítulo. Ele não é feito majoritariamente por diálogos e talvez a leitura seja bem cansativa. Mas esse capítulo é minha homenagem a todos aqueles que lutam pela paz.

Espero que gostem!

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Cap. 15 – O Grande Ditador

Nada se ouvia na sala a não ser a respiração entrecortada dos que nela estavam. Ali, era como se o tempo tivesse parado. Era como se nada mais houvesse no mundo a não aquelas pessoas. Principalmente aqueles que tinham uma conta a acertar. Dizem que nesta terra tudo o que se faz, se paga. Naquela sala, naquele momento, diante do testemunho daqueles que lhes eram mais caros, a dívida entre irmãos seria paga. E, muito provavelmente, a moeda de troca seria o sangue.

Sangue de irmãos. Amaldiçoados pelos erros cometidos um contra o outro. Amaldiçoados desde o ventre que dividiram. Nada era somente de um: eram na verdade metade de um único ser que jamais seria uno. Odiaram-se desde o primeiro momento. Competiram por tudo: pelo amor dos pais, pela atenção dos professores, pelas melhores garotas, pelo status. Competiram eternamente sem saber que entre os dois nunca haveria ganhador: o jogo terminaria sempre empatado. Erros – ah, os erros! – foram cometidos por ambos. Crueldade, raiva, desamor, ambição: era disso que os irmãos eram feitos.

Entretanto, em algum momento da vida dos dois que os outros presentes ali desconheciam, algo mudou. Uma única atitude, tomada como a única traição entre aqueles dois que haviam se traído desde o nascimento. A denúncia. Verdade seja dita: embora iguais em aparência, eram diferentes. Completavam-se: um era justo e nobre, apesar de não sê-lo nunca com o próprio irmão; o outro, era rebelde e destemido. Juntos, os dois talvez fossem o ser perfeito: duas metades mas jamais unos. Triste história a dos irmãos que ali se entreolhavam, com lágrimas nos olhos e ódio no coração.

Hesitação. Podia-se ouvir o coração batendo acelerado. Hesitação. Teriam coragem de fazer o que tinham planejado? Hesitação. Ambos os irmãos esperaram por aquele momento durante toda uma vida. Hesitação. O momento sublime em que, finalmente, poderiam deixar de ser amaldiçoados, varrendo seus próprios pecados ao exigir o sangue que era seu, seu por direito. Hesitação. Nos olhos, lágrimas de ódio e fúria. Hesitação. Ou, no fundo, bem no fundo, de compreensão? Entendiam-se os irmãos? Entendiam-se? Hesitação. O amor poderia nascer do entendimento? Haveria reconciliação possível entre Caim e Abel? Hesitação. Pulsação. Lágrimas. Silêncio. Ódio. Esperança. Raiva. Compreensão. Morte. Amor. Uma dívida a ser paga. O destino do mundo na mão daqueles irmãos. E nada mais.

Saga levantou-se e havia brilho de vida em seus olhos. Sempre fora um homem atormentado, o Major. Atormentado por não conseguir amar o irmão. Por saber que seu irmão não conseguiria amá-lo. Atormentado pelo comportamento tão contraditório que chegava a se assemelhar a dupla personalidade. E não era dupla personalidade? Como podia um homem ser doce e gentil num minuto e no segundo seguinte transformar-se num monstro de ódio? Nem mesmo Saga se compreendia, e jamais poderia exigir isso dos outros.

Compreensão. Kanon jamais o amara, mas teria chegado a compreendê-lo? Soube que nunca teria essa resposta no dia em que, num ato que tristemente fora pensado e planejado, condenou o irmão à morte. Se não fosse morte do corpo, seria da alma: poucos sobrevivem ao Cabo Sunion e os que sobrevivem são fadados à loucura. Saga sabia muito bem para onde eram levados os acusados de traição. O que nem Shaka, nem Mu, nem Aiolos e nem Julian sabiam era que Saga denunciara Julian por uso de drogas e Kanon, além de traficante, fora denunciado como traidor. Saga contou a seus superiores que Kanon pretendia trair a corporação. A OTAN, que todos ali tratavam como uma deusa, como senhora de seus destinos, como um ser incorpóreo e divino ao qual deviam proteger com as próprias vidas. Trair a corporação ainda jovem e frágil como um recém-nascido: isso era punido com o Cabo Sunion. Disso Saga sabia. Não era à toa que se corroía em remorso.

Entretanto, os anos passaram. Saga soube que Kanon havia deixado a prisão por influência de Julian, mas não mais procurara o irmão. E parecia que Kanon estava disposto a esquecê-lo também. Os anos passaram e trouxeram surpresas: amizades que jamais pensaria ter, lealdade, respeito e admiração. E, mais que isso: amor. Uma certa recruta que um dia amoleceu seu coração. Os anos passaram e trouxeram a alegria ao Major, alegria esta personificada por aquelas pessoas presentes ali. Naquela sala. Naquele momento. Não, Saga não era um homem ruim. Mas também nunca tinha sido um homem bom. Era a contradição em pessoa, justiça e injustiça como as duas faces de uma mesma moeda. Entretanto, os anos passaram. E modificaram. Talvez os anos tenham transformado. Ou talvez tenham sido as pessoas, aquelas pessoas, os verdadeiros mestres daquela metamorfose. Saga agora era bom e queria ser bom. Acima de tudo, precisava ser bom. Não, os que mais amava não se decepcionariam com ele. Saga deu dois passos à frente e encarou Kanon nos olhos, com os punhos cerrados e feição resoluta.

– Curve-se perante mim, criatura maldita! – ordenou Kanon com um sorriso nos lábios.

– Não! – respondeu Saga.

– Você vai me obedecer, irmão, simplesmente porque está fraco demais para lutar! Fraco demais para me enfrentar. E, principalmente, atormentado e culpado demais para me deter! – pontuou Kanon e, com movimentos lentos, foi alcançando uma adaga que trazia na cintura.

Saga sorriu e limpou a última lágrima. "Atormentado e culpado demais para te deter, Kanon? Atormentado e culpado sim, sempre; mas não tanto que não possa te impedir!", pensou e, com movimentos lentos, procurou a arma que trazia na cintura. Suspirou. "Coragem, Saga!", pediu para si mesmo. – Você se acha tão assustador que pode corromper todo mundo. Pensa que minha mente e minha alma estão tão divididas que não vou ter de onde tirar forças pra te enfrentar. – disse e foi caminhando, chegando mais perto do irmão. – Você esqueceu uma coisa. A gente pode ter coisas em comum, Kanon, mas não é igual. Você achou que eu era um alvo fácil. Presumiu que o mal automaticamente corrompe o bem. Na sua cegueira e arrogância, nem mesmo pensou na possibilidade de que o bem pode redimir o mal!

– Paladino dos justo, dos fracos e oprimidos, Saga? Quem é você para falar em redenção? – questionou Kanon.

Saga balançou a cabeça em negação. – Você se aproveita do medo, da dúvida e da fraqueza, de todas as coisas que deixam a gente menor. Assim, todo mundo fica igual a você. Mas essas fraquezas também podem ser usadas para moldar as pessoas. É preciso força e coragem para encarar as coisas de frente, mas não é nada impossível. Você se considera um rio, meu irmão, eterno e invencível. É bom lembrar que os rios podem mudar de curso e serem represados. Mas, acima de tudo, dá pra sobreviver aos rios. Eu resolvi resistir, Kanon, resolvi lutar! – disse Saga, pegou sua arma e apontou para o peito do irmão. – Você não manda em mim! Eu tenho muita luz na alma e muito amor no coração pra me assustar com gente do seu tipo. Não preciso da Shina por perto pra me dizer isso, mas admito que essa presença facilita muito! – completou, olhando de soslaio para a cara preocupada e assustada da namorada, ao mesmo tempo em que destravava o gatilho. – Você fez tudo pra me dominar, mas não foi suficiente. Agora, Kanon, tua graça acabou! (1)

– Não... – balbuciou Julian e tentou atirar-se entre os irmãos, mas foi segurado pelas mãos firmes de Aldebaran.

– Não... – balbuciou Shina, também tentando se atirar entre os dois, no que foi impedida por Milo.

Kanon tinha os olhos arregalados de medo e ódio. Segurava o punhal colado à barriga de Saga. Matar um ao outro? Seria esse o destino daqueles irmãos? Hesitação. Os corações batiam acelerados pelo medo, pelo ódio e pela culpa. Hesitação.

– Me mata, Saga. Acaba logo com isso! – pediu Kanon segurando o braço do irmão.

– Não posso! Sei do seu punhal, me mata você! – tornou Saga.

Kanon derramou uma lágrima. Ele podia, não podia? Afastou-se do irmão. Se Saga era um homem atormentado, Kanon não era diferente. Crescera à sombra do irmão, ao qual julgava perfeito, uma perfeição que jamais atingiria. Sentia ciúmes do outro: ciúmes da beleza, da inteligência, da eloqüência e da competência. Ao invés de aprender com Saga, preferiu fazer da vida do irmão um inferno. Talvez seu infortúnio fosse somente o sofrimento exigido por não enxergar as coisas. Talvez o Cabo Sunion fosse um bom castigo para quem, no fundo, sempre quisera matar o próprio irmão simplesmente por um ciúme besta e infantil. Bateu três palmas secas e cínicas, sorrindo sarcástico.

– Belo discurso, irmão. Mas as palavras foram pra mim ou pra você? – perguntou Kanon. Suspirou profundamente e sua feição mudou: parecia introspectivo e resignado. – Sabe, Saga, estou muito tranqüilo. Que venham os meses e os anos, não conseguirão tirar mais nada de mim, não podem me tirar mais nada. Estou tão só e sem esperança que posso enfrentá-los sem medo. A vida, que me arrastou por todos esses anos, eu ainda a tenho nas mãos e nos olhos. Se a venci, não sei. Mas enquanto existir dentro de mim, queira ou não esta força que em mim reside e se chama eu, ela procurará seu próprio caminho! (2) – disse Kanon em tom de súplica e com lágrimas nos olhos. – Agora, não há mais nada a ser feito. Em meu discurso, declararei guerra não só à França e a seus aliados, mas ao mundo. Serei ditador, Saga, um grande ditador, e terei o mundo nas mãos.

– E isso te fará feliz? – indagou Saga atirando sua arma para longe.

Kanon riu. – Feliz? Esse sempre foi um vocábulo desconhecido pra mim, irmão! – disse Kanon, visivelmente abalado. – Vamos Julian, abra a sacada e me dê o mundo! – ordenou.

Foi então que todos perceberam o barulho da multidão que se acotovelava do lado de fora do Palácio. Num rompante de arrogância e megalomania, Kanon iria discursar da sacada para o povo londrino. Ali, diria palavras que seriam transmitidas ao mundo inteiro. O gênio e a habilidade de Kanon eram na verdade iguais às de Saga, embora ele nunca tivesse percebido isso, cego pelo ciúme, e o homem era capaz de manipular e muito bem quem ele quisesse. Talvez se os irmãos soubessem desde o início que na verdade tinham as mesmas virtudes e defeitos, mas travestidas em diferentes atitudes, a história teria sido contada de outra maneira.

Julian sorriu e estava prestes a fazer o que Kanon lhe ordenara, quando alguém lhe agarrou forte pela cintura e lhe atirou contra a parede. – Eu não quero ser chato nem nada, achei isso tudo muito tocante, mas que tal colocarmos o plano em ação? Ainda temos uma guerra para acabar, não? – perguntou Camus esfregando as mãos.

Saíram todos do transe em que estiveram naqueles instantes. Piscavam os olhos repetidas vezes, como que para voltar à realidade. Alguns tinham lágrimas nos olhos e estavam visivelmente emocionados com a cena que presenciaram. "A vida, às vezes, pode ser muito injusta e cruel...", foi o pensamento que povoou a mente dos que ali estavam.

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Másquera foi até Kanon e apontou-lhe a arma contra a cabeça. – Tire a roupa! – ordenou secamente.

– O quê? – perguntou Julian sem entender muito bem, mas Kanon chorava feito criança e parecia desolado.

–Você ouviu, Kanon, tire essa roupa agora! – dessa vez foi Shura quem ordenou, ignorando Julian e aproximando-se do homem.

– Não faça isso, Kanon! – pediu Julian ao ver que o amigo começara a se despir. – Seus sádicos! – gritou, apontando para os outros.

– Isso não tem nada a ver com sadismo, Julian. Caso você não tenha percebido, o Saga é exatamente igual ao Kanon. Vamos vesti-lo com as roupas dele e Saga discursará. É esse o plano, simples assim, Julian. As coisas às vezes não precisam ser tão elaboradas para darem certo. Uma vingança não vale uma guerra. – pontuou Mu calmamente.

Julian nada disse, somente amparou o amigo seminu, que tremia de vergonha. – Calma, Kanon. Talvez tenhamos sido ingênuos demais. Talvez tenhamos sido confiantes demais. Talvez tenhamos perdido essa batalha, mas não a guerra. Ainda teremos nossa vingança!

Saga começou a vestir as roupas do irmão lentamente. Primeiro, as calças pretas e largas, logo após a camisa da mesma cor. Por fim, o sobretudo negro e as botas, não se esquecendo da faixa no braço que denotava nobreza. Completou com o quepe. Parecia um soldado da SS (3), as vestes do irmão tinham sido concebidas mesmo com essa finalidade. Saga sentiu-se enojado por usá-las, mas sabia que não tinha outro jeito.

Kanon, num canto, vestia a farda de seu irmão. Sua cabeça era um turbilhão de sentimentos e emoções contraditórias. Uma palavra definiria Kanon naquele momento com muita propriedade: barroco. Pois no fundo agradecia seu irmão por lhe ter impedido ao mesmo que lhe amaldiçoava. Talvez não fosse de todo mal. Ainda chorava. – Sabe, Julian, será que nem você entendeu minha verdadeira motivação? A guerra não tinha nada a ver com minha vingança. Ou talvez até tivesse: eu queria simplesmente me encontrar com Saga, numa posição superior, para fazer o que sempre sonhei, aquilo que planejei incessantemente durante anos. Mas não consegui. Não consegui matar meu próprio irmão!

– Se isso te consola, Kanon, eu também não consegui. Também não tive coragem de te matar, embora tenha desejado com todas as minhas forças te ver morto! – disse Saga com os olhos baixos.

Shaka pousou uma mão no ombro de Saga. – Escuta, irmãozinho, agora esquece o Kanon e se concentra, tá? Lembre-se que esse seu discurso vai acabar com a guerra! Eu vou abrir essa sacada! Dê tudo de si, Saga! – pediu.

Shina aproximou-se do namorado e abraçou-o por trás, levando conforto e fazendo o homem esquecer-se por alguns momentos de suas perturbações. – Não fomos heróis, Saga. Somos heróis! Você é um herói! E eu te amo!

– Também te amo, pequena rebelde! – disse o Major e acariciou a mão da menina em sua cintura.

Nesse momento, Aiolos abriu a sacada. A multidão aplaudiu em polvorosa, animada e completamente seduzida por seu novo Primeiro-Ministro. Na sala de Kanon estavam todos amedrontados e com a respiração presa. Era como se estivessem suspensos no ar, era como se assistissem à História sendo escrita bem em frente a eles. E realmente a História se descortinava ali, tendo aquela sala e seus ocupantes como protagonistas de uma de suas páginas. Saga deu dois passos à frente e se posicionou junto ao microfone. Os flashs e as luzes das câmeras de TV lhe ofuscaram um pouco a visão. Embora fosse meio dia, o tempo havia nublado de repente. O sol se escondera, talvez ele mesmo com medo. A falta de sol fez Saga ver em preto e branco. Sorriu e ordenou à multidão que se calasse com um único gesto, no que foi prontamente obedecido. Conseguiu enxergar entre a multidão uma faixa que dizia "Deus salve Kanon, nosso imperador". Achou aquilo de extremo mal gosto e totalmente inadequado para a época em que viviam. Suspirou.

– Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é este o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar, se possível, judeus, o gentio, negros e brancos. Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo, não para o seu infortúnio – começou Saga e lembrou-se de Kanon, de como tinha trabalhado em prol do infortúnio do outro. Sentiu a garganta secar. Não soube que, dentro da sala, seu irmão escutava atentamente, e pensou exatamente o mesmo. – Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.

Dentro da sala, escondidos das câmeras e da multidão, todos ouviam atentos ao discurso de Saga. E Camus e Milo, estes simplesmente se esqueceram da presença de todos e deram-se as mãos, compartilhando aquele momento único.

– O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passos rápidos para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos nos fizeram céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo estará perdido! – prosseguiu Saga como que tomado por uma força maior que lhe impulsionava a dizer aquelas palavras.

Camus sentiu-se profundamente tocado pelo discurso do Major. Repassou sua vida e notou o tempo que tinha perdido pensando e não sentindo, sendo inteligente e não doce. Abraçou Milo por trás e apoiou o queixo em seu ombro. – Merci, mon ange! – murmurou baixinho. Milo não entendeu porque o outro lhe agradecia, mas sorriu. Esquecidos de tudo e de todos, aninharam-se mais para ouvir o que Saga dizia.

– A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes! – disse Saga. "Encarcera inocentes...Kanon, me perdoa!", pensou para si mesmo.

Dentro da sala, Kanon era consolado por Julian. Nutriam uma amizade verdadeira um pelo o outro, o que era bem estranho em se tratando de dois homens de caráter corrompido. "Encarcera inocentes...será que eu era realmente inocente?", pensou Kanon completamente largado no ombro do outro. Até mesmo os loucos eram capazes de sentir, a amizade daqueles dois estava ali para provar isso. Seria a redenção?

– Aos que podem me ouvir, eu digo: não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de voltar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá. – prosseguiu Saga com os olhos úmidos.

Aiolos aproximou-se de Aiolia, que abraçava Marin com doçura. Num rompante, durante a luta, Aiolos tinha deixado escapar que Aiolia era seu irmão. O grego não sabia porque, mas sentiu-se feliz pela revelação. A presença do outro era reconfortante, e Aiolos juntou-se ao abraço, entre o irmão e a cunhada. Aiolos tinha uma nova família agora, e seu coração aqueceu-se por isso.

– Soldados! Não vos entregueis a esses brutais que vos desprezam, que vos escravizam, que arregimentam as suas vidas, que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquinas! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos! – continuou Saga exaltado.

Másquera apoiou-se em seu lança-chamas e seu pensamento foi conduzido a um anjo andrógino que lhe roubara o coração. Pensou em Afrodite e desejou com todas as suas forças que o sueco estivesse lá. Dentro de quatro paredes o italiano era todo carinho com o amante, mas em público, embora o tratasse bem, sentia um medo enorme de que os outros descobrissem seu romance secreto com outro homem. Mas agora estava decidido a assumir Afrodite. E, se isso fosse motivo para que fosse expulso da Aeronáutica, que fosse. "Só odeiam os que não se fazem amar... É, Saga, vai ver é por isso que antes de Afrodite eu odiava tanto!", pensou Másquera. Olhou de soslaio para Milo e Camus e sorriu, feliz.

– Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! Vós, o povo, tendes o poder. O poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar essa vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa! Portanto, em nome da democracia, usemos esse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice! – discursou Saga inflamado.

Aldebaran sorriu ao ver Camus e Milo abraçados. O brasileiro sabia que seu grande amigo, tanto em batalhas quanto fora delas, estava apaixonado pelo líder do grupo. Aldebaran estava feliz. Ouviu as palavras de Saga conclamando os soldados para lutar pela liberdade e se sentiu confortado, pois aquela era uma missão digna. Daquele momento em diante, Aldebaran dedicaria toda sua vida a ensinar e à paz e a liberdade, como uma promessa feita para si mesmo.

– É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão. Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos! – conclamou Saga.

Shura aproximou-se de Pandora e olhou para a moça languidamente. Enlaçou sua cintura e deu-lhe um beijo doce e suave, em seguida ficando abraçados e atentos às palavras do Major. Mu e Shaka também estavam abraçados num canto. Murmuravam baixinho palavras de incentivo a Saga. Eles mesmos eram soldados, agentes secretos em nome da paz e da justiça. Atuavam mundo afora com o único objetivo de evitar que grandes desgraças acontecessem. Como não puderam evitar que Kanon subisse ao poder, culpavam-se a cada dia. Mas agora, só havia a redenção. Olharam para Kanon e Julian que consolavam um ao outro fraternalmente, bem como para Camus e Milo cujo abraço aprofundava-se em carícias. Talvez fosse mesmo um momento de redenção.

– Meu irmão, estás me ouvindo? Levanta os olhos! O sol vai rompendo as nuvens que se disperçam! – disse Saga sentindo um raio de sol furar o bloqueio das nuvens e aquecer-lhe a face. – Estamos saindo da treva para a luz. Vamos entrando num mundo novo, um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, meu irmão! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, meu irmão! Ergue os olhos! (4) – completou Saga emocionado.

Kanon chorou e apertou-se ainda mais contra Julian. Mas ergueu os olhos. Agradeceu internamente pela presença daquele amigo que sempre lhe seria fiel. Pediu perdão internamente por todo o mal que tinha cometido. E perdoou todo o sofrimento que seu irmão tinha lhe impingido. Redenção.

Saga também ergueu os olhos e encarou a multidão. – Essa guerra é uma insensatez! Tudo isso é uma grande insensatez! Meu primeiro e último ato como Primeiro-Ministro é declarar o fim da guerra! Que as tropas anglo-americanas deixem a França e a Bélgica! Que a paz volte a reinar na Europa! Que o mundo possa cada vez mais caminhar para a união e a tolerância! Estão livres, estamos todos livres! Renuncio a meu cargo agora, com o coração leve e cheio de esperança! – concluiu Saga e caminhou para dentro da sala. Fechou a porta da sacada sob aplausos e vaias, a sandice tomando conta da população. Exausto, deixou-se cair sentado.

Olharam-se todos. Não precisaram dizer nada, os abraços, as carícias e os olharem falavam por si só. Foi um momento de revelação para todos. Camus e Milo assumiram-se sem dizer uma única palavra, e foram compreendidos por todos, que nada questionaram, tratando tudo com muita naturalidade. Shura e Pandora estavam felizes como dois colegiais que descobrem o amor. Mu e Shaka estavam mais apaixonados do que nunca. Másquera estava com os olhos longe e decidido a assumir seu grande amor. Shina mal cabia em si de orgulho. Marin e Aiolia sentiam-se tão bem que pareciam que iam explodir de felicidade. Aldebaran tomara para si a missão de lutar por paz e justiça. Aiolos olhava para Aiolia com amor e ternura, e sabia que os dois tinham muito a conversar. Quanto a Julian, Kanon e Saga, estes estavam redimidos.

Saga levantou-se com dificuldade e se dirigiu até onde estava seu irmão. Encarou-o nos olhos e sorriu. – Sei que você jamais conseguirá me amar, Kanon, mas será que pode me perdoar?

Kanon sorriu também. – Realmente, Saga, não espere que eu te ame. Mas sim, eu te perdôo. E espero que você me perdoe também.

– Perdôo, irmão! Vamos tirar o peso do mundo das costas... quem sabe um dia possamos nos amar como irmãos! – concluiu Saga sorrindo.

– Quem sabe um dia... – murmurou Kanon. – Julian, vamos embora. Vamos fugir daqui! Acho que nem o Saga nem os outros tentarão nos impedir!

Julian e Kanon levantaram-se e já tinham atingido a porta quando foram barrados. – Vocês não vão fugir impunes! – disse Aiolia entre os dentes. – Não me importa que Saga os tenha perdoado, eu não perdôo. Vocês fizeram o mundo sofrer e precisam pagar por isso.

Julian suspirou e revirou os olhos. – Estou tão cansado... – murmurou. Deu um empurrão em Aiolia, que caiu sentado, e puxou Kanon com uma das mãos. Os dois sumiram pela saída. Másquera e Shura ainda fizeram menção de sair correndo atrás dos dois, mas foram impedidos por Aiolos, Mu e Shaka.

– Deixem, rapazes... hoje foi um dia estranho. De grande ditador para redimido. Deixem os dois. Algo me diz que essa história não termina aqui e nossos caminhos se cruzarão novamente... – disse Shaka de olhos fechados, transmitindo tamanha paz e tranqüilidade que ninguém se atreveu a impedir a fuga de Julian e Kanon.

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Ainda na sala de Kanon, aguardavam a chegada do antigo Primeiro Ministro a fim de restabelecê-lo ao antigo cargo.

– Sabe, Shaka? Algo ainda me intriga... onde estará o satélite? Aquele que o Kanon roubou do velho Kido? – perguntou Mu, pensativo, apoiando o queixo com uma das mãos.

– Que satélite? – perguntou Shina sem entender nada.

Shaka suspirou. – Está mais do que na hora de nós confiarmos em vocês! – disse olhando para Mu. – Pois bem, como o Kanon disse, o Mu, eu, o Aiolos, o Julian e ele fizemos parte do primeiro grupo de treinamento para a elite da inteligência da OTAN. De todos, somente eu e o Mu seguimos a carreira, o Aiolos e o Saga preferiram continuar no palco, não tinham vocação nem discrição o suficiente para os bastidores... – começou a explicar o indiano.

– Ah, isso explica porque vocês podem ter esses cabelões e eu não... – afirmou Milo.

Shaka riu. – Exatamente, Milo! Os cabelos longos fazem parte do disfarce. Ninguém nunca desconfia de um casal gay delicado e de cabelos compridos!

Todos os presentes riram daquela afirmação, e a tensão dos momentos passados finalmente começou a atenuar. – Ai, gente, é verdade! – disse Mu envergonhado.

– Ah, mas não se deixem enganar pelo ar angelical desses dois. Eles são mortais! – afirmou Saga sorrindo.

– Como se você também não fosse, Saga... – replicou Shaka. – Mas isso não vem ao caso. O fato é que o Kanon conseguiu poder rapidamente porque estava em posse de um satélite, o Satélite Omega, construído pelo Sr. Kido, avô da patricinha que vocês foram libertar na Líbia. O satélite funciona como um escudo defletor. Uma vez em órbita, é capaz de isolar completamente determinada área geográfica. Uma semana condenaria um país à morte. – continuou o indiano.

Mamma mia! Então foi por isso que a organização terrorista na Líbia seqüestrou a patricinha metida a besta? – perguntou Másquera.

– Na verdade, não. O seqüestro foi uma armação de Julian e Kanon para nos distrair, e nós caímos direitinho. Sabíamos que Saori seria seqüestrada e não impedimos, pois queríamos estourar a célula na Líbia e ao mesmo tempo impedir que Julian conseguisse o satélite. Fomos bem ingênuos, não, Shaka? – pontuou Mu.

– Fomos sim, pois enquanto nossos esforços estavam totalmente direcionados para o seqüestro da neta do Kido, o satélite foi roubado sem maiores problemas! – explicou Shaka.

– Isso explica muita coisa. Mas algo ainda me intriga, além do paradeiro do tal satélite. Por que nós? Por que chamar o Batalhão Alfa? Agora, não me parece que nossa escolha tenha sido alheatória, non? – perguntou Camus.

Saga suspirou. – E não foi mesmo. Você, Camus, foi escolhido a dedo pelo próprio Aiolos, pois era racional e tático. Milo, por sua sagacidade e bom humor, além do fato de ser inglês, já que desconfiávamos e muito das constantes ligações de Julian para Londres. Aldebaran era amigo de Milo de longa data, competente, forte e justo, e não é americano de nascença, o que facilitava muito as coisas, os americanos costumam ser muito difíceis nessas horas... Aiolia, além de ser um excelente navegador (5), foi observado por mim durante muito tempo a mando do Aiolos, e eu quis chamá-lo para quem sabe assim aproximar os dois; pelo visto deu certo. O Másquera foi escolhido por ser intempestivo e violento, a pessoa certa para dar um ponto final em situações de perigo sem hesitar, como foi o caso dos caças. O Shura foi chamado pela lealdade que demonstra sempre para tudo e para todos, como bem vimos quando ele cuidou de Aiolia. – explicou o Major. – Mas, mais do que isso, vocês seis foram escolhidos por um motivo, rapazes: são os melhores dentre os melhores! – gritou Saga abraçando seus recrutas.

– Hum, mas afinal, onde está o tal satélite? – perguntou Pandora.

– Boa pergunta, Pandorita! – exclamou Shura agarrado à cintura da menina.

– Ahá! EURECA! – gritou Milo e Camus pulou para o lado.

– Ai que susto, inglês dos infernos... – murmurou o francês. – Vai me dizer que esse seu cabeção dedutivo descobriu onde o Pink e o Cérebro esconderam o tal satélite? – perguntou fazendo troça.

– Gente, olha como está espirituoso esse Camus... Criei um monstro! – sorriu Milo arrancando gargalhadas dos outros. Finalmente o ambiente era de paz. – Elementar, minha cara Bri! Você mesmo disse que o Kanon e o Julian agiam como o Pink e o Cérebro, sempre dispostos a dominar o mundo, não? – foi dizendo o inglês caminhando de um lado para o outro. – Lembra da ceninha do Kanon dizendo "abra a sacada e me dê o mundo", ou qualquer coisa assim? Os dois sempre batiam na mesma tecla, mundo, mundo, mundo...

– Era só o que me faltava o Milo dar uma de Sherlock Holmes agora! Eu mereço! – murmurou Camus fingindo-se de aborrecido.

– Mas sim, cara Bri, meu método dedutivo diz que o satélite só pode estar... ali! – disse apontando para o enorme globo de madeira que jazia num canto da sala.

– Nossa, eu lembro desse globo quando estive aqui para fazer a cópia da chave... ele realmente destoa do lugar, mas os dois me pareceram tão soberbos e megalomaníacos que achei normal! – afirmou Pandora com brilho nos olhos.

Mais que depressa Másquera, Aldebaran e Shura correram para o enorme mapa mundi. O espanhol tirou uma faca do bolso e cuidadosamente abriu a peça de madeira. Não se surpreenderam ao se depararem com o satélite reluzente.

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– Anda, Mask, ou você vai chegar atrasado! Precisamos ir! Me solta! – ordenou Afrodite.

– Só mais um beijinho, amore mio! Só mais um! – pediu o italiano fazendo bico.

Afrodite suspirou. – Assim eu não resisto. Vestido assim todo elegante nessa farda de gala, Mask, eu não resisto! – disse, dando um beijo no amante. – Mas agora vamos que estamos atrasados!

– Ah, um dos formandos é o Milo, Dite. Você acha mesmo que a cerimônia vai começar na hora? – perguntou o moreno, rindo.

O sueco riu. – Coitado do Camus... o cunhadinho hoje vai sofrer! – disse, puxando o namorado pela manga do jaleco e empurrando o homem para dentro do carro.

Pouco tempo depois chegaram à base da OTAN em Atenas. Fazia já três meses que a guerra terminara, e a organização fora reativada. O Batalhão Alfa completara a última missão-treino com sucesso, e finalmente teriam seus diplomas. Isso sem contar que, um mês antes, Saga, Mu, Shaka, Aiolos e os meninos tinham recebido altas condecorações por terem recuperado o satélite Kido. Entretanto, o que se passou ali naquela sala nunca foi comentado com ninguém. Para todos os efeitos, Kanon tinha realmente feito aquele discurso e fora embora. Caso contassem a verdade, tanto Kanon quanto Julian seriam enviados para o Cabo Sunion.

– Arre que você chegou! Estava ficando nervoso já! – gritou Shura.

– Ah, você está muito estressado! A Pandora não está dando conta do recado não, é? – disse o italiano dando um pedala no amigo e acenando para Afrodite, que já estava na tribuna de honra da platéia.

– Ih, Mask, quem não dá conta da Pandorita sou eu. A mulher tem um fogo que madre de diós! – respondeu se abanando e acenando para a morena que estava ao lado de Afrodite.

– Olha a estica! Gente chique! – comentou Aldebaran cumprimentando os amigos.

– Tudo para a grande noite! – tornou Aiolia.

– E aí, rapazes? Prontos? – perguntou Saga olhando para os lados. – Cadê o Camus e o Milo?

Másquera apontou para a direita. – Ah, eles estão vindo lá...

Merde, Milo, seu atrasão! – resmungouCamus entre os dentes, caminhando a passos rápidos.

– Credo, Camus, quer correr a marcha atlética? Só porque eu me atrasei um pouquinho... – tornou o inglês fazendo bico.

– Sem bico, Milo! Não vou me render ao seu charme! – gritou impaciente. – Pelo menos não agora... – sorriu e piscou para o inglês.

– Ai, Bri, assim você me assusta! Pronto, chegamos! E aí, Saga, beleza? – foi dizendo o loiro.

O Major bufou. – Só não te expulso porque agora não tem mais jeito! – disse e dirigiu-se ao palco.

– Também te amo, Major! – gritou Milo dando tchauzinho.

Saga subiu no palco, onde já aguardavam Mu, Shaka e Aiolos. O auditório estava lotado, e na tribuna de honra da platéia estavam Afrodite, Pandora, Shina e Marin. Todos sorriam contentes, muito contentes. Nem notaram ao longe, misturados à multidão, a presença de dois homens que observavam a tudo atentos.

– Esta é uma noite de alegria! Muita alegria! Depois de uma guerra que colocou amigo contra amigo, irmão contra irmão... – disse Saga, lutando contra a emoção. – ... eu posso dizer que estou realmente feliz. Os seis homens aqui não são simplesmente formandos. São meus amigos. Na guerra, fomos irmãos. Desafiamos tudo e todos por um objetivo comum. Não falo aqui como superior, não falo como Major. Falo como Saga Gemini, um homem que deve sua vida a esses seis rapazes valiosos que estão aqui! – completou sorrindo. Entregou o diploma e a medalha a cada um, promovendo-os todos a uma patente superior à que possuíam.

A cerimônia foi bonita e rápida. Emocionaram-se todos. Finalmente compreendiam que, apesar de serem soldados, eram homens. Tinham emoções: alegrias e tristezas. Como dissera Saga a Kanon, era preciso que cada um se moldasse segundo suas próprias fraquezas. Amar e odiar não era defeito, era apenas humano. Abraçaram-se a todos, jogando os quepes para o alto, beijando-se e comemorando alegremente.

– Parabéns, Saga, meu irmão! – disse um homem ao fundo, distante de todos. – Vamos?

O outro suspirou. – Vamos, amigo. Vamos sim! Como você se sente?

– Melhor. Menos pesado. Mais livre. E você? – perguntou o primeiro homem.

– Me sinto feliz por você! Agora, vamos antes que alguém nos veja! – tornou o segundo.

Julian e Kanon desapareceram nas sombras sem deixar vestígios.

– E agora? Vamos comemorar? – perguntou Milo rindo.

– Com certeza! Não é todo dia que a gente se vê livre do Saga! – gargalhou Aldebaran.

– Major, me responde uma coisa: o que será da gente agora? Quer dizer, o que vamos fazer? – indagou Shura.

– Agora, Shura, o treinamento de vocês na OTAN acabou. Após um período de férias, cada um volta pro seu país... – respondeu Saga. – Vamos, estamos esperando o quê pra irmos encher a cara? – tornou, rindo.

Todos os amigos foram seguindo o Major a fim de tomar os carros da corporação e irem comemorar em algum lugar. Todos menos dois.

– Camus, entendi bem? Requisitados por seus países? Isso quer dizer que eu vou pra Inglaterra e você pra França, é isso? – comentou Milo desolado.

O francês suspirou. – Parece que sim, mon ange. Parece que sim...

O inglês aproximou-se do namorado e encostou a cabeça em seu ombro. – Não quero me separar de você...

– Nem eu! Mas Londres não é assim tão longe de Paris... – disse o ruivo acariciando a face de Milo. Nem mesmo ele acreditou no que dissera, e entender que deveria viver longe de seu anjo salvador pesava em seu peito.

Com os corações pesados e cheios de medo e angústia, acompanharam os amigos. O mundo estava em paz: isso era motivo de comemoração. De mãos dadas, sorriram tristemente, e correram para alcançar os outros. "Ah, mon ange, eu deixo a Marinha por você, não se preocupe!", pensou Camus. "Bri, não esquenta a cabeça: eu mando a Inglaterra pra puta que o pariu mas não me separo de você!", pensou Milo. Sorriram os dois, mais aliviados com as decisões que ambos tomaram para si.

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1 – Não, infelizmente não fui eu quem escreveu essa fala. Não sei se vocês sabem, mas eu sou fanática por X-Men. Esse trecho foi retirado da revista X-Men Widescreen 2, e Vampira diz isso para o Rei das Sombras. Claro que eu adaptei alguns trechos, mas sempre achei essa citação muito boa. E fica aqui minha homenagem aos X-Men, que sim, lutam por um mundo mais justo e sem preconceitos.

2 – Esse trecho foi retirado do livro Nada de Novo no Front, de Erich Maria Remarque. Trata-se de um clássico sobre a paz, a história de um garoto que lutou na I Guerra. É um livro excelente e quase auto-biográfico, uma vez que o autor também foi soldado na I Guerra. Acho o trecho que coloquei aqui simplesmente maravilhoso, e triste, muito triste.

3 – SS era a polícia de Hitler, aqueles que usavam aqueles uniformes pretos.

4 – Todo o discurso de Saga se passando por Kanon foi retirado do discurso escrito e proferido por Chaplin em seu filme "O Grande Ditador". O filme foi feito durante o início da II Guerra e conta a história de um ditador maluco que quer dominar o mundo (qualquer semelhança com Hitler não é mera coincidência). Chaplin faz o papel do ditador e de um barbeiro judeu, que no fim acaba por tomar o lugar do ditador e faz esse discurso. O capítulo é totalmente inspirado por esse filme. Pra quem não viu, recomendo. É aquele da clássica cena em que Chaplin, de ditador, brinca com o globo.

5 – Navegador aqui é usado no sentido daquele que aponta direções.

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A/N: Eu avisei que esse capítulo seria cansativo. Ficou maior do que o normal por conta do discurso, mas achei interessante colocá-lo aqui. Faz parte de minha homenagem a todos os grande gênios pacifistas, grupo no qual Chaplin com certeza ocupa uma posição de destaque. Espero de coração que vocês tenham conseguido ler e que tenham gostado. Sei que ficou maçante e tal, mas é a mensagem que eu quis passar.

O capítulo que vem pretende ser o último, portanto não vou adiantar nada sobre ele, certo?

Ah, quero uma opinião. Estou dividida entre fazer um "Caserna II" ou um novo UA (viciei nisso, gente!). O que vocês acham?

Antes que eu me esqueça: Enfermeira-chan, que o Milo dando uma de Sherlock aqui sirva de incentivo para que a Srta não deixe mais a fic abandonada, tá? Haha!

Bom, vamos aos reviews anônimos.

Allkiedis: Ah, o Milo não tem jeito mesmo. O cara tem que fazer piada até nas horas mais sérias! Esse capítulo nem foi centrado neles, né? Mas espero que você tenha gostado! E sim, a fic está acabando... mas tenho planos sim, vamos ver no que dá! Muito obrigada mesmo pela review! Bjoks!

Nine66: Valeuuu pelo review. Ah, que bom que você gostou da ação! Eu amo o Mask, e adoro colocar ele pra dar porrada, haha. Julian / Kanon / Saga: pra mim nenhum deles está certo e nenhum deles está errado. Mas eles se redimiram e é isso que importa, não é mesmo? Ah sim, sempre que possível procuro fazer referências ao anime/manga. Não é porque é UA que devemos esquecer a fonte! É, Caserna está no fim... mas vem mais coisa por aí! Valeu de novo! Bjoks!

Uotani: Obrigadaaaaa pelo review! Sim, sempre termina nas melhores partes: isso é golpe de marketing, haahahha. Espero que você tenha gostado desse capítulo! Bjoks!

Bia: Muuuuito obrigada pelo review! Ah, cada review desses que eu recebo fico mais convencida! (ah, brincadeira!). Obrigada mesmo! Espero que goste deste! Bjoks!

Tsuki-chan: Ola! Bem vinda de volta! Obrigada pelo review! E você se atrasou por causa da fic? Ai, ai... fico lisonjeada, se bem que você não deve ter gostado, né? Rsrsrs. Ah, o Camus precisava se entregar pro Milo, pra demonstrar que o loiro tinha conseguido quebrar aquela barreira de gelo toda. O Mask tem razão: eles são foda mesmo, rs. E a Marin, parece que todo mundo ficou com ciúme dela naquela cena! Quanto a Aiolia / Aiolos: vai ficar subentendida a conversa que os dois tiveram, mas os dois nesse universo são irmãos por parte de pai e o Aiolia não sabia. Os casais se assumiram, você viu? Bom, espero que tenha gostado! Bjoks e até a próxima: sim, está acabandoooo!

Sayuri: Querida, valeu por nossas conversas no msn e pela fic que você está aprontando! Vai ser ótima! Bjoks

Fran: Faz um tempão que a gente não se fala, né? Bom, espero que tenha gostado! Precisamos falar sobre aquela fic, fiquei curiosa! Bjoks!

E a todo mundo que lê, um beijão! Ufa, por hoje é só, pessoal!