Capítulo 1: Luta onde não há vencedores

Em um dia frio de inverno, discretos flocos de neve adornavam a grama que já não exibia mais sua vivaz cor, como aquele casal...

- Eu prometo que logo tudo isso vai acabar.

- Não adianta prometer, é imprevisível o destino deste horror que já dura cinco anos!

- Mas é certo: mesmo que não termine, nos casaremos daqui a duas semanas, não adiarei mais, tenho certeza que desta vez vai dar tudo certo.

- Não seja teimoso! É arriscado, mesmo que aquele verme esteja enfraquecido!

- Não quer mais casar comigo?

- Lógico que quero! Mas quando tivermos paz...

- Gina falou isso para Harry também, mas acabou concordando depois. Mione... não podemos esperar tanto! E se acontecer algo a mim...

- Rony! Nunca mais repita isso, ouviu? Nunca mais...

- Estou sendo realista.

- Tudo bem. Nos casamos daqui a duas semanas. Este seu braço esquerdo me preocupa...

- Já está tudo ok, não vou parar de lutar por causa disto.

- Eu sei que se eu pedisse isso, seria inútil.

- Aconteça o que for, nunca se esqueça que eu te amo.

- Eu detesto quando você me diz essas coisas! É como se fosse uma despedida!

Neville aparatou um pouco longe e fez um sinal para Rony, que olhou para sua amada e disse:

- Se cuide, e quando puder eu volto.

- Volte vivo, é apenas o que peço.

Ela beijou-o com ternura, sentiu uma pontada no coração e afastou-se.

- O que foi? – perguntou, preocupado.

- Nada, apenas um mal estar, já passa.

- Não é a primeira vez que acontece isso, acha que está...

- Não Rony, não pode ser isso... é só uma falta de ar.

- Tomara, não que eu não queira que aconteça, mas é muito cedo e o momento é impróprio demais...

- Eu entendo. Tire essas caraminholas da cabeça e vá sossegado. Eu te amo.

Ele a beijou rápido e finalmente desaparatou.

A guerra parecia não ter fim. Mortos, desaparecidos, desmemoriados, pessoas sofrendo pela perda dos parentes... ninguém sairia daquela experiência sem marcas profundas.

Havia poucos lugares seguros. Hogwarts se tornou um refúgio para muitos, especialmente para as crianças e os feridos. Contudo, Dumbledore fez com que algumas aulas continuassem, e assim, todos os anos alunos se formavam, não com o mesmo entusiasmo de antigamente, mas os professores faziam de tudo para tornar as aulas o mais agradável possível.

Hermione dava aulas de feitiços no lugar de Flitwick, morto no ano anterior. Gina ajudava Madame Pomfrey com os feridos. Os alunos e ex-alunos em sua maioria ajudavam no que podiam, mas nada deixava de ser difícil. A esperança era a única coisa que os mantinham vivos. Aproveitavam cada dia como se fosse o último.

Molly e Arthur não saíram d'A Toca, apesar da insistência dos filhos. Hermione foi visitá-los junto com Gina, dois dias depois do seu encontro com Rony.

- Queridas... – disse Arthur, abraçando a filha e a "futura nora".

- Papai, estava com saudades! Por que não vai connosco desta vez?

- Não quero deixar esta casa, e além do mais, está protegida.

- Nem tanto... quero você e a mamãe perto de mim e seguros, não sozinhos aqui.

- Ah, esta casa já teve dias tão alegres... – disse Molly, melancólica e distraída.

- Um dia tudo vai melhorar, a senhora verá. – disse Hermione.

- É, um dia vai ter que acabar essa calmaria! E não fique assim, meu amor. Fred e Jorge quando voltarem farão uma revolução aqui...

Arthur tentava alegrar a mulher, que a cada dia desanimava mais. Hermione sentou pesadamente numa poltrona e notou que sentou na jaqueta de Rony.

- Molly, Rony veio aqui hoje?

- Sim, querida. Mas logo Neville o chamou.

Neville, por incrível que pareça, se tornou um homem muito corajoso. Ajudava Harry e Rony a lutarem contra Comensais e descobrir onde eles atuavam. Só restavam agora Sibila e Rabicho para fazer companhia a Lord Voldemort.

Daquela vez, ele tinha descoberto algo muito importante...

- Eu sei que Você-sabe-quem está na casa dos Malfoy.

- Acha que se formos rápido, ainda os surpreenderemos?

- Claro Rony, é a nossa chance! Já chamei o Harry...

- Por que não posso ir? Vocês podem precisar de mim!

- Lino, alguém precisa ficar, lembra? E você é animago, fica mais fácil para o Sirius.

- Desculpem o atraso. – disse Harry, que aparatou ali - Vamos?

- Sim, não podemos demorar ou os perderemos novamente.

- Preferia o Neville quando era mosca-morta... – resmungou Lino, contrariado.

Chegando na casa dos Malfoy, que era considerada assombrada pelo abandono, os três sentiram um cheiro muito desagradável.

- Peraí, nós estamos na sala, não é?

- É, e daí Neville? – perguntou Rony.

- Lúcio... – murmurou Harry, olhando para uma das paredes.

Eles se aproximaram e viram o corpo deteriorado de Lúcio Malfoy, assassinado por Sibila e pregado na parede por uma espada enferrujada, enfiada por seu amado mestre Voldemort. Harry estava presente naquela noite.

- Que bom gosto para decoração... – disse Rony, tampando o nariz.

- Vamos subir para o quarto de Lúcio, esquece o cadáver fétido dele. – disse Neville.

- Harry? – e vendo que ele não respondeu, quase gritou - Harry?

- Ah, o que é, Neville?

- Não é hora para recordações...

Subiram e ao abrirem a porta do imenso quarto, ouviram passos. Estavam juntos, com suas espadas e varinhas. De repente, Neville foi puxado até a parede e transpassou-a. A cicatriz de Harry começou a doer e Rony foi empurrado por Rabicho, que surgiu do nada. Não demorou para Lord Voldemort aparecer com seu sorriso esquisito e deduz-se que sarcástico, pois seu rosto era um mistério...

- Desta vez, só um de nós vai sair daqui...

- Quanto a isso, esteja certo. Quem sabe eu não te empalho em uma das paredes?

- Veremos quem terá este prazer...

Iniciou-se uma luta de espadas. Voldemort tinha vantagem, pois adquiriu muita força quando Nagini lhe deu todo o seu poder, resultado de sua servidão a um dos antigos herdeiros de Slytherin, que era muito poderoso.

Em um momento, a espada de Harry voou longe e Voldemort quase cortou seu pescoço. Rapidamente, ele pegou sua varinha e jogou Voldemort na parede em cima de Rabicho, que lutava com Rony, com um Expelliarmus. Nunca Harry se arrependeu tanto de um ato.

Parecia que ele estava desmaiado, e Rabicho tinha um ferimento medonho na cabeça, seu sangue tingia o negro e empoeirado carpete do quarto. Estava morto.

Voldemort levantou-se de súbito e começou uma luta corporal com Harry. Eles rolavam no chão, tentavam se enforcar e diversas vezes Harry conseguia reagir pela raiva, pois seus óculos já tinham ido longe.

Enquanto aquilo acontecia, Neville, por instinto de sobrevivência, desaparatou em sua casa, muito ferido. Sibila o destroçou. Lino não estava mais lá.

Como a desvantagem era grande, Harry, que tinha a visão totalmente distorcida, foi ferido pela espada de Voldemort no abdómen. Rony não interviu aquele tempo todo pelo seu braço esquerdo, que tremia incessantemente. Porém ao ver seu amigo quase morto, atacou Voldemort com ódio e desespero. Trincaram suas espadas e ficaram praticamente imóveis e empatados, mas o braço de Rony "o traiu" e ele cravou a espada em Voldemort, que o feriu no rosto e jogou-o da janela. Harry, se apoiando na parede, disse, com as forças que lhe restavam, um Avada Kedavra. Cambaleando, tentou ir até a janela, chamando Rony com uma voz fraca, todavia não suportou a dor e desmaiou. Lá fora, o crepúsculo anunciava o surgimento de um novo destino para todos os bruxos. E n'A Toca, Hermione sentiu uma dor tão grande que desfaleceu.