Capítulo 3: Tentando sobreviver

Hilary Salk era uma fisioterapeuta estagiária, filha de um dos melhores medi-bruxos de Back Sunset, uma pequena cidade bruxa da Austrália. Com a guerra, teve de ajudar como enfermeira, portanto andava para muitos lugares onde haviam feridos, com um mini hospital móvel invisível. Lord Voldemort destruiu muitos deles, inclusive Padma Patil e Simas Finningan morreram num daqueles momentos de "diversão" do carrasco.

Encontrou alguém muito debilitado naquela tarde da batalha decisiva. Hilary e Cláudia foram verificar se a pessoa estava viva e para o desgosto de ambas, teriam de aparatar na Mansão Malfoy.

- Meu Deus... – disse Claúdia, olhando para o rosto ensangüentado.

- Vamos levá-lo daqui agora. Ele ainda está vivo, mas seus batimentos cardíacos estão fracos.

- Ok, vou abrir um portal, desaparatar com ele desacordado é loucura.

Hilary viu um vulto passar rapidamente em direção à parede.

- Não estamos sozinhas... proteja-o, eu me viro depois. Claúdia? Cláudia?

Ela olhou para trás e se assustou: Cláudia fora paralisada.

- Olá, querida.

- Sibila? O que você... ah, que pergunta idiota, está servindo a seu mestre...

- Deixe-o aqui, ele não é problema seu.

- Como assim? Eu salvo vidas, não posso deixá-lo como está! Suas vinganças...

- Minhas vinganças não são importantes para você, eu já sei disso. Mas você tem obrigação de me ajudar, Hilary...

- Não devo nada a você. E quer saber? Deveria entregá-la para o Ministério!

- Você nunca irá compreender. Só quando amar, perceberá que pode passar por cima de tudo e todos para ser feliz, mesmo que seja de uma maneira diferente.

- Chega, já dei corda demais pra você.

- Eu vou, mas não dirá que me viu, ok?

- Como sempre, né? Mas eu não quero ver você, desapareça da minha vida, e deixe minha família e os bruxos inocentes em paz!

- Estou velha demais para mudar, querida. Meu único consolo é que Harry Potter e aquela intrometida da Hermione Granger sofrerão como nunca...

Sibila desaparatou rapidamente, e Cláudia voltou ao normal. Levaram-no para o mini hospital e cuidaram atenciosamente dele e como utilizavam também um pouco de medicina trouxa e ele tinha um coágulo no cérebro, Cláudia fez cair todo o seu cabelo ruivo. Mas, não fazia diferença: ele estava em coma e não veria o estrago.

No dia seguinte, todos já sabiam da vitória de Harry Potter. Portanto, os pacientes terminais já poderiam ser transferidos para um hospital melhor. Rony não respondia às poções e Hilary achou conveniente levá-lo para seu pai, incomparavelmente mais experiente que ela.

- Dr. Salk, tenho duas notícias para lhe dar.

- Prossiga, Renata.

- Finalmente, Harry Potter venceu Aquele-que-não-deve-ser-nomeado.

- Ótimo! Temos que comemorar! O povo já deve estar nas ruas...

- Sim, o clima é festivo, mas ainda há muitos pacientes... Hilary, Dalila e Rômulo pediram que eu avisasse. Estão transferindo os trinta e dois pacientes para cá, chegarão daqui a pouco...

- Então incomode Ana e Martha, fora o resto do pessoal. Temos mais trabalho hoje! Mas o clima não será tão pesado quanto o de antes – disse, realmente animado.

Bruxos de todo o jeito chegavam ali. Aleijados, queimados, deformados. Os medi-bruxos eram rápidos e em pouco tempo cada paciente tinha o seu leito. O dr. Salk não parava, e observava três casos que lhe chamaram a atenção. Em um deles, não houve solução. Foi a primeira morte do dia.

Depois deu atenção a Rony, que estava com sua filha primogênita, Dayana.

- Coma. Provavelmente perdeu alguns movimentos, mesmo com a retirada do coágulo. Fora essa cicatriz, que seria melhor ser retirada caso ele se recupere.

- Filha, seja mais otimista. Não percamos a esperança... – olhou Rony e disse mais para si do que para Dayana – o rosto ficou muito deformado do lado esquerdo... ah, me dê os relatórios e os exames, e vá ajudar Rômulo.

- Tudo bem. Boa sorte. – disse ela, crente de que Rony morreria logo.

Ele acabara de perder um paciente, não queria repetir a experiência. Dias depois, quando Salk se dirigia ao quarto de Rony, encontrou Hilary. Ficou parado na porta em silêncio, observando a filha.

- Meu pai vai cuidar bem de você, e quando acordar vamos conversar, aí você me conta da sua vida... deve ser casado, e que anel lindo este seu... com esse "H" gravado... ou será que é a inicial do seu nome? Fico curiosa pensando qual é o seu nome, que deve ser bonito, forte, porque combina com você. Seus cabelos eram lindos, sabia? E se você suportou até aqui, sobreviverá, eu tenho esperança. – pegou na mão dele carinhosamente e continuou – Mesmo com essa cicatriz, te acho tão meigo... deve ser um bruxo poderoso, senão não estaria naquela maldita mansão... e pode estar certo que Sibila não fará mal nenhum a você enquanto eu estiver aqui. Preciso trabalhar, mas assim que puder eu volto para lhe fazer companhia, como sempre.

Quando ela levantou, deparou-se com um pai visivelmente preocupado.

- Hilary, o que pensa estar fazendo?

- É... eu... eu sempre tive pena dele, tão jovem para morrer, não é? – dizia, sem graça e corada – Eu me sensibilizei, pai! Só isso! É crime?

- Não, mas cuidado para não se envolver demais.

- Eu não vou acabar como o Silas!

- Espero... se envolver com um paciente que você não sabe quem é e depois ser abandonada por ele não é uma coisa coerente e é uma situação possível. Eu já lhe disse que não quero que você seja médica por minha causa...

- Isso é uma escolha minha.

- Mas precisa aprender a não se envolver demais com os pacientes, e notei isso várias vezes. Dayana havia me contado que ouviu Cláudia dizendo que você conversava com ele quando ninguém estava olhando. Eu não acreditei à princípio...

- Ela adora causar confusão pro meu lado! Sempre foi assim, ela me detesta!

- Você sabe que não, ela apenas é mais ajuizada que você.

- Tudo bem, dr. Salk, pode cuidar de seu paciente sozinho!

Ela foi embora, totalmente atordoada. Falava com Rony sempre que podia, coisas bobas, confissões... enfim, ela queria que ele acordasse e não parava de pensar nele. Desde que o viu, sentiu-se atraída. O motivo? Ela não conseguia explicar. E não queria que ninguém se intrometesse nisso, principalmente a sua irmã, de quem tinha ciúmes.

Guardou o sobretudo negro que ele usava, inclusive sua varinha. Secretamente, temia que ele fosse embora.

Passado a semana, Rony teve uma melhora e Hilary continuava entrando em seu quarto sigilosamente. Em uma madrugada, "contava" para ele que as escolas reabriram, as crianças voltaram a fazer feitiços e brincar na rua, corujas enfeitavam o céu... enfim, que a vida das pessoas voltava ao normal; quando de repente, Rony abriu os olhos, sonolento. Hilary se assustou, e jogou o anel dele no chão.

- O-olá, como você se sente? – perguntou, sem graça.

- Quem é você?

- Ah, sou Hilary Salk, uma enfermeira daqui, e você?

Ele a olhava atentamente. Aquela mulher de olhos tão azuis e cabelo loiro escuro, corada e perdida, não lhe dava a resposta que ele queria naquele momento...

- Eu... eu não sei quem sou... – disse, confuso.