Capítulo 6: Caminhos
Nota da autora: A partir deste capítulo, contarei a vida de Rony e Mione paralelamente, e não separadamente em capítulos. Espero não confundir ninguém...
Depois que Rony voltou ao hospital e Sirius já tinha ido embora, se sentiu mal, suas pernas voltaram a formigar e adormecer.
- O que esse cara tá fazendo aqui?
- Cláudia colocou ele pra te substituir... senta, pelo menos.
- Porcaria de pernas, tava tudo tão bem!
- Eu que não devia ter te tirado daqui, perdão...
Minutos depois de Cláudia ter retirado o paciente dali...
- Cláudia, algum problema? Você está com uma cara de arrependida incrível!
- Bom, se eu não contar vocês vão saber mesmo... veio um homem aqui, que pensava conhecer você. – disse, olhando para Rony penosamente.
- Ele ainda tá aqui? Eu preciso falar com ele!
- Acho que não, depois que ele viu o paciente errado saiu correndo.
- Espere! Pode ser um engano, e você está se aborrecendo com bobagens. – disse Hilary, afobada.
- Eu vou falar com seu pai, não quero mais continuar nesse mar de dúvidas!
Ele tentou levantar, mas foi inútil já que não se aguentava em pé.
- Não seja teimoso!
- Desde que me conheço por gente, todos da minha família são ruivos e teimosos, por que eu seria diferente?
As duas se olharam assustadas. Pela primeira vez, ele deu indícios que se lembrava de algo. Porém, ele mesmo não reparou muito no que falou.
- Por que vocês estão olhando pra mim deste jeito?
- Nada. – adiantou-se Hilary.
A partir daquele dia, ele ficou mais desconfiado de Hilary, que sutilmente punha empecilhos quando o assunto era ele recuperar sua memória. Protestou com Luigi, queria que o tal homem voltasse, mas Sirius se recusou. Logicamente, ele ocultou o fato de ter saído com Hilary naquele dia.
E, para a felicidade dela, Martha convenceu Luigi a deixar que ela fosse a fisioterapeuta do paciente, que tão cedo não sairia de lá...
Dayana tinha a mania de arrumar as coisas do pai, sempre fora de ordem. Até que encontrou jornais um tanto antigos. Ao olhar o rapaz da página principal de um exemplar do Profeta Diário, o coração da médica disparou. Era o tal "paciente número 3", como chamavam Rony. Um tanto perdida, saiu para mostrar aquilo ao pai, que certamente nem havia lido aquele jornal. No caminho, trombou com Hilary.
- Nossa, o que aconteceu pra você ficar vesga desse jeito?
- Acho que finalmente o 3 vai descobrir suas origens.
- O que? Pára de dar falsas esperanças pro coitado...
- Isso aqui não te inspira nada, maninha? – e enfatizou a última palavra com ironia.
- Não pode ser... – repetia Hilary, lendo a notícia.
- Parece que seu amiguinho é o melhor amigo de Harry Potter, um dos mais consagrados bruxos da história. Além de ter uma família e uma noiva...
- Dayana, como está certa de que ele é Ronald Weasley? Pode ser um engano!
- Ouça, eu não nasci ontem. Posso não ter visto nem vestígio dos cabelos dele, mas pela sobrancelhas e as sardas, deve ser ruivo. Está um pouco deformado, mas o sorriso é idêntico ao da foto, fora os olhos... por que você quer estragar a vida dele?
- Eu não quero estragar a vida de ninguém! Olha, suponhamos que ele seja Ronald. E se mesmo assim, não lembrar de nenhum familiar? Não será doloroso? E a essa altura, já devem pensar que ele morreu!
- Cresça, Hilary! Ou melhor, deixe de ser egoísta! Eu já percebi tudo, você pensa que é dona do rapaz. Ele virou sua obcessão, seu capricho novo.
- Amor não é um capricho!
O corredor estava cheio, mas eram poucos que prestavam atenção na discussão, aliás, os enfermeiros mais antigos já se acostumaram com os barracos das duas, ninguém ligava mais.
- Ok, você continua com seu capricho e eu vou falar a verdade.
- Ótimo, fale pra ele. Mas não reclame depois que ficar sem o amor de sua mãe, do seu amado e venerado pai...
- Você não seria capaz... – murmurou ela, entre dentes.
- A escolha é sua, maninha.
Hilary saiu muito segura dali, deixando uma Dayana arrasada. Sim, elas tinham um segredo em comum, que poderia acabar com a estabilidade da família Salk. Porém, a primogênita não imaginou que sua mimada irmã conseguisse ser tão cruel daquela forma, a ameaçando... agora, ela não tinha saída: caso o rapaz descobrisse que era Ronald Weasley, não seria pela boca dela, pelo menos por enquanto...
Com os ânimos revigorados, Harry e Gina resolveram se casar. Dumbledore fez questão que a cerimônia e festa fossem em Hogwarts. Uma festa como há anos não acontecia...
A cerimônia bruxa, não muito diferente da trouxa, emocionou a grande maioria. Molly se acabava de chorar: ora pela felicidade da filha, ora por lembrar que Rony queria se casar com Mione junto com a irmã e o melhor amigo, que também ficaram melancólicos ao lembrarem disso...
Snape estava lá, com a cara mais fechada do mundo. E ainda tinha que suportar as gracinhas de Sirius, que vira e mexe escrevia "virgem e encalhado tá sempre mal humorado" no ar de um modo bem visível...
Hermione estava no sexto mês de gestação, mas ninguém acreditava. Sua barriga crescera demais em pouco tempo. Todos diziam que ela teria gêmeos, mas ela não queria saber se eram gêmeos ou o sexo da criança antes do parto.
Neville veio, e costumeiramente foi conversar com sua amada durante a festa...
- Caramba, está mais gorda do que da última vez...
- É, tem alguém aqui que tem mania de grandeza desde pequeno... E aí, como está se saindo? Logo será o professor Longbottom?
- Ah, já que você tocou no assunto... eu vou ter que viajar, pra estudar uma nova erva, sabe? E, bom, queria te falar umas coisas que venho adiando há tempos...
Ele ficava cada vez mais vermelho, e Hermione resolveu "ajudar":
- Acho que já sei do que se trata. Não conversamos bem sobre aquela noite, não é?
- Olha, eu nunca quis trair a confiança de ninguém e não quero me aproveitar da sua fragilidade e o fato de estar solteira...
- Calma, não fale tão rápido, eu não estou te julgando. Você tem sido um dos amigos mais presentes na minha vida, sou muito grata por toda a atenção que me dedica, mesmo se comunicando por corujas na maioria das vezes. Não posso mentir pra você, aliás, é nítido que eu ainda amo muito o Rony, e...
- Pode parar, por favor. Claro que eu gostaria de ter um relacionamento com você, mas sei que é praticamente impossível. Minha proposta é um tanto diferente. Você vai precisar de ajuda para cuidar de seu filho, e sem querer ofender, não pode ficar sozinha, certo?
- Quer morar comigo?
- É, quer dizer, se você não achar ruim.
- Tenho que pensar...
- Eu vou ficar duas semanas fora, quando eu voltar você me dá uma resposta.
- Ok. Mas, não será incômodo pra você morar comigo e saber que não pode acontecer nada entre nós? – perguntou, enrubrecendo.
- Mione, eu só quero te ajudar, e se você estar perto de mim, já estou satisfeito. Se isso me fizesse mal, eu não tinha proposto!
- Só não quero te magoar.
- Eu também não pretendo fazer isso. Você tá uma elefantinha azul bonitinha, sabia?
- Que maneira sutil de dizer que estou enormemente...
- Linda, a mulher mais linda que eu já vi. – acrescentou ele.
A única coisa que não estava prevista naquele casamento era a presença de Cho Chang. Ela parecia não ter interesse algum em Harry, mas como convencer Gina e o resto dos convidados? Por este motivo justo, ela não se demorou por lá.
- Espero que você seja feliz, Harry. – disse Cho, com aquele olhar penetrante que deixava o pobre bruxo se sentindo em brasa.
- Obrigado. – respondeu, muito sem graça.
Depois que se virou para ir embora, acrescentou para si baixinho:
- Feliz enquanto eu permitir...
Hermione e Gina chegaram ali e notaram que ele estava estranho, e ambas conheciam a cara de bobo dele quando Cho falava alguma coisa...
- O que ela veio falar com você?
- Ah, desejou felicidades... mas por que vocês me olham com essa desconfiança?
- Vai se olhar no espelho e você descobre, Harry Potter.
- Gina! Gina! Droga! Hermione, nem você acredita em mim?
- Acredito que você não fez nada, e nem pretende. Mas não queira me convencer que ela não mexe um pouquinho com você.
- Mexe sim, mas o que importa? Eu nem sei porque isso acontece, e se tivesse interessado por ela ainda, não me casava hoje! Vou atrás daquela teimosa...
- Boa sorte... ah, não esqueça de voltar para sua cor normal!
- Era pra rir, senhorita Granger elefantinha?
- Você não ouviu uma palavra do que falei, né?
- Desculpe... eu estava pensando...
- No quê?
- Eu preciso de um nome, mas, e se eu encontrar minha família? Isso é tão confuso...
- Acho que você deveria adotar um nome, mesmo que seja temporariamente. As chances de encontrar uma família são tão remotas...
- Você é muito pessimista quanto a isso, né?
- Não é pessimismo, é realismo! Quantos pacientes estão até hoje como você, acreditando nisso. Foi uma carnificina. Talvez não tenha restado ninguém da sua família.
- Desculpe, mas você nunca vai tirar minha esperança.
- Vamos continuar os exercícios com este braço, vai...
Os sapatos estavam incomodando Hilary, que ao tentar tirá-los sentada e mexendo no braço de Rony simultaneamente, caiu pesadamente em cima dele, seus lábios se tocaram. Ela o olhava receosa e respirava ofegante, já ele não enxergava Hilary e seus olhos azuis, e sim uma mulher de olhos castanhos quase ocultados por uma franja...
- Mione...
Hilary não distinguiu o que ele quis dizer com o simples movimento dos lábios, somente se entregou ao terno beijo que ele lhe deu. O beijo foi longo, tomado por carícias de ambos. Quando ela percebeu que eles estavam indo longe demais, saiu correndo e tropeçando. Rony, depois de alguns minutos "fora do ar" se arrependeu do beijo e pensou que Hilary nunca mais quereria vê-lo, além de tentar lembrar quem era Mione. Sim, ele conhecia aquele nome, aqueles olhos castanhos que não deveria ter enxergado naquele momento e que lhe causaram um desejo enorme e uma saudade na mesma proporção voluptuosa. Não demorou muito para adormecer depois daqueles pensamentos.
Ele estava colocando um colar numa mulher, que levantava delicadamente os cabelos cacheados. Logo após, ele beijou seu pescoço. Ela respirava cada vez mais rápido, e pediu que ele parasse, num sussurro. "Eu não vou fazer nada que você não queira", disse ele, tão nervoso quanto ela. Quando a mulher iria se virar, Rony despertou.
Gina perdoou Harry depois de muita insistência, mas também não tinha lógica deixar aquela meretriz atrapalhar seu casamento.
Neville, quando se despediu de Mione, fez questão de lembrar:
- Já estou ansioso pra voltar. Pense bem no que te propus e cuide-se. Não... – acrescentou, acariciando a barriga dela – cuidem-se, seja lá quanta gente tem aí!
- Neville, pelo amor de Deus... não começa! Eu já estou me achando gorda demais, não precisa me lembrar disto...
Os dois ficavam fazendo piadinhas, e foi difícil ele ir embora, pois queria ficar com ela por um longo tempo. Harry, por palhaçada, levou Gina carregada da festa. Quando ela jogou o buquê, Katie o pegou, o que rendeu um olhar de cobrança de Jorge.
A proposta de Neville deixou Hermione inquieta. Seria incômodo, mas precisava continuar estudando, queria continuar lecionando, mas tudo que conseguira no momento foi escrever artigos no Profeta Diário, que não era pouca coisa, porém não era o que ela desejava. Sua única satisfação era a esperança de desbancar Rita Skeeter.
Se olhava no espelho e acariciava a enorme barriga. Era impossível conter as lágrimas diárias de saudade e emoção. Pensava que poderia ter gêmeos, e que se Rony estivesse ali, ficaria todo bobo pois desejava ter muitos filhos. Antigamente, ela tinha se arrenpendido das quatro noites que transou com ele. Contudo, esqueceu-se dos seus remorsos inúteis quando ele sumiu, e principalmente na descoberta incrível da inesperada mas bem vinda gravidez.
Teria que lutar não só por ela, e baseado nisto, pensava muito na proposta do amigo... e não tentou mais nenhum suicídio, apesar de querer. Seu amor maternal já era forte o suficiente para mantê-la viva e ter uma expectativa na vida.
Sonhou com a sua primeira vez naquela noite. Rony colocou o colar que lhe deu de aniversário, beijou carinhosamente o seu pescoço, o que despertou nela sensações que desconhecia. Pediu que ele parasse, porém obteve a resposta tentadora de que ele não faria nada que ela não quisesse. Trancados numa sala esquecida, fizeram tudo o que desejavam e o que não desejavam. Ela acordou agitada, não pelo sonho, mas pelo seu bebê que parecia fazer uma revolução.
Não tinha forças para se levantar. Começou a sentir contrações, que vieram fortes, mas foram diminuindo até sumirem com a mesma velocidade com que chegaram. Suada e assustada, foi beber água para tentar se acalmar. E além de tudo, acabara de tomar uma decisão.
Constrangido. Essa era a palavra para definir como Rony se sentia naquela manhã. Não sabia o que dizer para Hilary, que chegaria de tardezinha, depois da aula.
Avoada. Essa era a exata palavra que definia como Hilary estava em relação a tudo e a todos naquela manhã...
- Você já pensou no que te disse ontem sobre seu nome?
Ele impressionou-se por ela não ter tocado no assunto do beijo.
- É... não sei ainda... mas ter um nome não é má idéia, você às vezes nem sabe do que me chamar, não é? Vou pensar em um.
- Martha me disse que vai retirar sua cicatriz semana que vem, sabia?
- Ah, é bom... assim eu não mato a Claúdia de susto todo dia.
Ela estava nervosa, mas não queria demonstrar...
- O que você pretende fazer quando tiver alta? Sim, você está se recuperando, já consegue mover bastante o braço, anda sozinho...
- Não faço idéia. – ele já presumia o que ela falaria depois, por isso estava sem graça.
- Você pode ir pra minha casa se quiser... minha mãe já voltou de viagem, mas ela não liga... o quarto da Dayana tá vago faz tanto tempo...
- Não quero te incomodar.
- Então por que me beijou?
Agora sim ele estava perdido. Responder a verdade para ela não era uma boa idéia...
- Me desculpe, Hilary, eu prometo que nunca mais vou tocar em você. Eu não sei o que me deu... mas estou muito arrependido, saiba disso. Não quero perder a sua amizade, mas se não quiser ser mais minha fisioterapeuta e minha amiga eu entenderei.
Não era a resposta que ela esperava, definitivamente. E por isso, revoltou-se...
- Você me beija daquela forma apaixonada e ainda diz que não sabe o motivo disso? Vem dar uma de desentendido? Falar que está arrependido?
- Eu não estou entendendo...
- Não, você não está querendo entender! Acha que eu sou uma mulher tão fácil assim? E que ficaria cuidando de você esses meses se não sentisse algo? Enfrentei meu pai, minha irmã, minha mãe, pra ficar aqui com você mais tempo. Saio de casa escondida e faço o possível para que você se sinta bem e deixe de ser solitário! Não deu ainda pra você perceber que eu não vivo mais sem você?
Ela já estava com os olhos marejados, e por vergonha, saiu correndo. Rony tentou ir atrás dela e foi até a porta, mas nos trajes que estava, seria loucura...
- O que aconteceu?
- Nada, Dayana.
- Então vá se deitar, não é bom você ficar muito tempo de pé nesses trajes.
- Perdão. – disse, encabulado e percebendo que algumas pessoas o olhavam maliciosamente.
Hilary foi para casa e nem quis falar com a mãe, que ficou muito preocupada.
- Querida, o que aconteceu?
- Me deixe sozinha, mãe!
- Não vai me dizer que brigou com a Dayana de novo...
- Já disse pra me deixar sozinha!
- Ok, não vou mais insistir. Mas só vou te lembrar uma coisa: Silas se matou semana passada.
- Não me torra!
Todos já tinham percebido a atenção ímpar que Hilary dedicava ao tal paciente 3, e como a mesma cena se repetia na clínica. Silas Brond, um médi-bruxo de confiança de Luigi, cuidou de uma paciente com amnésia e se apaixonou por ela, porém não contava que ela recuperaria a memória e o abandonasse. Ele entrou em depressão profunda, parou de trabalhar... e depois de um ano de sofrimento, suicidou-se, e foi um baque para o pessoal que o conhecia. Hilary temia ter o mesmo destino que ele.
- Por que não me avisou?
- Gina, você está na sua lua-de-mel, eu não iria te incomodar!
- Devia ter chamado minha mãe... sei lá! Não ter suportado isso sozinha...
- Logo isso acaba.
- Isso o quê?
- Minha solidão aqui em casa.
- Vai aceitar a proposta do Neville?
- Acho que eu não tenho escolha, não é?
- Gina, o que você tá fazendo...? – Harry estava sonolento, acordou com a conversa.
- Ah, ele acordou, ou pelo menos tá tentando... diz pra mamãe que eu falo com vocês amanhã, tá? E se cuida, elefantinha!
- Aproveita, Gina. E não conta pro Harry nada disso. Ele tem que esquecer dos outros um pouquinho.
- Pode deixar... agora esse é meu ofício... fazer ele esquecer que existe mundo...
- Essa minha irmã tá cada dia mais parecida comigo!
- Na parte de ser safada? É, um pouco, Fred!
- E você vai ficar aqui, né?
- Vou... não quero voltar pra casa hoje e também não tenho o que escrever...
- Quer ficar na loja com a gente hoje? Você precisa sair!
- Obrigada, Fred... mas eu...
- Você vai, nem que precise ser levada a força... e já que o Carlinhos vai vir hoje pra cá... ele sim te agüenta!
- Tá bom, eu vou por livre e espontânea pressão...
A loja deles ficava extraordináriamente cheia. Os Weasleys não eram mais tão pobres como antigamente, e isso eles deviam àqueles dois também. Hermione deu uma de vendedora e se surpreendia com cada absurdo que encontrava...
Seus amigos eram dádivas, e ela se certificava disso a cada dia mais.
