Capítulo 9: Cho, Hilary e Rita: trio parada dura

No dia em que se encontraram num treino por mero acaso há meses, Cho pegou um cinto de Harry que estava no vestiário. Como se fosse um acontecimento normal, ela foi devolver o cinto para Gina, na loja onde ela trabalhava...

- Olá, Virgínia.

- O que você quer?

- Preciso devolver uma coisa que o Harry esqueceu lá em casa.

- Não adianta me apavorar, eu acredito no meu marido. E se não quer comprar nada, a porta da rua é a serventia da casa.

- Ok, eu vou embora. Mas eu vou deixar o cinto com você.

- Cinto?

- Ele é tão esquecido... faz isso com você também? Depois que faz amor sempre esquece de pôr alguma coisa!

- E depois que você constatou isso, acordou? Eu não acredito em uma palavra.

- Ah, só mais um detalhe: eu tive o trabalho de vir aqui porque ele me disse que você deu para ele, e que era o preferido. Portanto me senti na obrigação, entende?

- Muito obrigada, Cho. Agora será que pode sair da minha frente?

- Como quiser.

Gina queria pular no pescoço dela, mas tinha que acreditar em Harry...

- Não ligue para ela, ouviu?

- Nunca, nunca mais vou brigar com o Harry por causa dela.

- Ótimo, agora tente relaxar e vá atender aquelas duas.

E o que fazer com a sacola que Cho deixou? A curiosidade a dominava e tentava sem piedade. Chegou em casa, sabia que Harry não estava. Então por medo, chamou Hermione.

- Gina, você está trêmula...

- Mione, eu não tive coragem de abrir sozinha. Vê o que tem aí.

Ela tirou o cinto e um cartão de dentro da sacola...

- Eu mato aquela nojenta! E o Harry também!

- O que foi?

- Gina, é aquele cinto que você deu pro Harry no Natal passado, lembra?

- Não pode ser, ela pode ter comprado outro parecido...

- Ora, francamente! Olha pra isso! A marca da dentada do Canino. Quer mais provas?

- Mione... ele não pode ter me traído... não pode!

- Eu nunca esperava isso dele, é meu amigo mas não deixa de ser homem, né?

- Pensei que ele era diferente.

- Eu também, mas sempre soubemos da atração dele por aquela prepotente! E o pior você ainda não viu.

- Tem mais?

- A piranha deixou um cartão lindinho para você. O endereço de uma bruxa que usa magia negra para ajudar mulheres para engravidar. E ainda um recadinho: do jeito que você é inútil, não tenho certeza se isso irá resolver seu problema!

- Hermione, eu não suporto mais isso, não mesmo!

- Gina, você não é estéril! Não se estresse com a demora para engravidar. Harry não é tão canalha ao ponto de te cobrar.

- Amanhã eu converso com ele, e desta vez Kimberly não vai me comover.

- Francamente, cuidar dela não é fácil, ela é elétrica e não pára um minuto! Vive aprontando, adora pegar meus livros para chegar em Hogwarts desbancando todos os sonserinos para me dar orgulho, vê se pode? – disse, visando mudar de assunto.

- Você tem sorte, Kim é uma menina ativa, de bom coração e ainda bem que não ficou triste, desanimada como deveria. Neville está sendo um pai pra ela, não?

- É, tenho que admitir... desde que Kim nasceu ele se comporta como pai dela, e eu não o pondero, seria uma maldade.

- Mione, você nunca pensou em dar uma chance pra ele? Poxa, ele vive no mesmo teto com você há mais de 5 anos! E claro, aconteceram umas coisas chatas, mas não deve ser fácil para ele resistir dormindo na mesma cama que você às vezes!

- Eu já falei que ele podia transformar meu escritório em um quarto, mas ele sempre diz que eu preciso trabalhar em casa também... Kim me cobra, diz que queria o padrinho como pai... não sei o que fazer, então me calo. Eu não posso me enganar! Como beijar, abraçar e dizer que ama alguém por gratidão? Eu não seria tão falsa.

- Você ainda ama o Rony... não perdeu a esperança, não é?

- Infelizmente, não.


Rony voltou tarde naquela noite, e encontrou Dayana sentada confortávelmente em sua cama.

- Onde está a Hilary?

- No hospital. Ela passou mal, teve um sangramento e foi para lá. Um escândalo. Só faltou dizer que você a espancou.

- Achei que você iria me contar alguma novidade.

- A vida com ela é um inferno, não?

- Você me avisou, Luigi tentou discretamente, assim como Melanie. Eu tive pena dela.

- Nem precisava me dizer, é óbvio e só ela não percebe ou não quer perceber. Ela realmente vai acabar perdendo este filho.

- Dayana, o que eu faço?

- Converse com ela, seja franco. Ela vai armar um barraco, mas se contar tudo que sabe, ela vai entender. Hilary é mimada e possessiva mas não suporta ver você sofrer.

- Não será uma conversa fácil.

- E quem disse que será? Ela também tem muito a te dizer.

- O que você sabe sobre mim, hein? Vive dando indiretas que Hilary mente pra mim desde que eu comecei a namorá-la.

- É, ela esconde algo de você na mala preta.

- Eu já revirei este armário procurando essa tal mala preta que você tanto fala! Que acha de contar a verdade pra mim em vez de enrolar?

- Tente entender, eu não posso! Você precisa descobrir sozinho, e tenho certeza que vai.

- Estou me lembrando me algumas coisas, mas isso não me serve para nada! Dayana, nunca vou recuperar minha memória?

- Isto depende de você e da pessoa que lançou o feitiço em você. Não acho que pode encontrá-la facilmente. Eu não te encontrei, não sei se havia mais alguém lá...

- Ah, se Hilary não estivesse grávida! Como fui tão burro?

- Você não foi burro, foi é bom demais e às vezes a bondade não nos traz recompensas imediatas. Um dia você se livra dela e vive em paz.

- É engraçado como vocês duas se odeiam...

- Se eu realmente a odiasse, Michael, você não estaria aqui. Preciso ir, mas pense no que te falei sobre a conversa franca. E se resolver fazer isso, não tenha piedade em perguntar nada. Ela sabe o suficiente.

Rony revirou o armário de novo. Não encontrou nada. Debaixo da cama, na sala, na cozinha e até no banheiro. E nada de mala preta. Às vezes achava que Dayana mentia. Mas diante das atitudes de sua esposa, poderia tranqüilamente constatar que as duas não só se detestavam como realmente escondiam algo dele.

Ele não queria que Hilary morresse, mas não resistiu a curiosidade de abrir a caixa novamente antes do aniversário dela. Entrou sorrateiramente na sala de Luigi e encontrou o sogro...

- Aqui não! Luigi, pára! Vamos sair daqui, vai... e se a Renata chega?

- Você pensa que ela não desconfia? – dizia, entre beijos.

- A Hilary está aqui... ela faz um escândalo... ai, desse jeito eu não agüento seu safado... vamos embora...

- Agora vai ter que ser aqui mesmo, não dá pra ir a lugar algum, Martha...

Rony tentou sair sem fazer barulho, mas tropeçou no bebedouro que tinha ao lado da porta. O casal de amantes parou se enroscar e Luigi, totalmente descomposto, foi lá fora e encontrou o genro, com uma expressão de quem quer uma explicação.

- Acho que não preciso explicar muito, Michael... – disse, muito envergonhado, minutos depois.

- Não tenho o direito de me meter na sua vida, mas acho que Melanie não merecia isso.

- Bom, por que veio até aqui? – perguntou, desconcertado.

- Queria ver a caixa.

- Você pretende se separar de Hilary, não é?

- Eu não sei, agora tenho que pensar no meu filho. Mas, o casamento está desgastado, ela está a cada dia mais insuportável.

- Se eu ajudasse você a recuperar a sua memória, prometeria ficar com minha filha até o último dia da vida dela?

- Como posso prometer algo que acho que não sei se vou cumprir? Já está um horror agora, imagine mais um ou dois anos... é sua filha, mas preciso dizer isso ao menos para você!

- Se você a abandonar, tenho certeza que ela não suportará.

- Tudo bem, eu fico com ela até a maldição terminar. Mas você tem que me garantir que vou lembrar de tudo.

- Provavelmente isto foi causado por um feitiço, e Hilary me contou quem poderia tê-lo feito. Se mesmo assim não recuperar-se totalmente, faremos um tratamento.

- Ótimo, como posso encontrar esta pessoa?

- Você quer morrer, Michael? Esta pessoa não quer o seu bem, mas tenho meios de convencê-la a te ajudar. Quando eu tiver uma resposta concreta, conversaremos novamente. Ainda quer abrir a caixa?

- Sim... mas se não quiser olhar, eu respeito.

- É, eu não quero. Alorromora!

Luigi, depois de revelar a parte da parede que escondia a caixa enferrujada, virou as costas para Rony. Não era fácil para ele ouvir que sua filha era um tormento, que destruía a vida de um homem com suas chantagens; tinha pena dela pois sabia do amor imenso que ela tinha por Rony, mas deixava-se dominar pelo medo da partida dele.

Rony abriu a caixa, a fumaça negra desenhou no ar lentamente o número dois e outro que ainda não se revelava nitidamente, ora parecia o número oito, ora o nove. Fechou-a e guardou-a. Foi para casa sabendo o que o aguardava e resolveu ir a pé para pensar melhor. Ah, Mione... a misteriosa mulher de olhos castanhos... ria sozinho lembrando da primeira noite dele com Hilary. Parecia que ela não estava ali, ele só via Mione, aqueles olhos, os cabelos cheios e castanhos... seria engraçado se não fosse trágico...


Harry voltou do jogo feliz, pois a sua estréia no Chuddley Cannons foi marcada por uma histórica vitória. Sabia que aquela hora Gina estava trabalhando, mas passou na loja de Madame Malkin para lhe visitar na hora do almoço.

- Olá, Harry.

- Oi, Madame Malkin... onde a Gina está?

- Lá dentro pegando a bolsa para almoçar... se eu fosse você iria com calma, rapaz.

Mesmo não entendendo a ironia, Harry entrou na saleta e beijou Gina, que ficou sem reação alguma.

- Aconteceu alguma coisa? Por que não me correspondeu?

- Vai lá em casa. Tem uma coisinha que Cho veio me entregar ontem.

- Não, de novo, não! O que ela tentou desta vez?

- Ela não precisou fazer esforço, nem inventou nada. Vai lá e descobre.

- Gina, acredita em mim... eu nunca toquei nela... das raras vezes que nos encontramos a única em que conversamos direito foi quando tomamos um suco, nada demais...

- Eu não sei se posso acreditar em você. Só vou te pedir uma coisa: vamos dar um tempo.

- Eu conheço essa história de dar um tempo. Não, não vou te dar tempo algum. Estou falando a verdade e não sinto que nosso casamento está tão ruim para repensarmos nele.

- Se você não quer, tudo bem. Quem sai de casa sou eu.

- Gina...

- Da próxima vez que transar com ela não esqueça de colocar tudo, Potter!

Ele foi atrás dela, mas não adiantou. Resolveu então ir em casa e conferir o que ela estava dizendo...

- Ah, se Cho não fosse mulher eu a matava... mas quem disse que isso seria um crime?

Harry tentou manter a calma e procurar Cho no campo de quabribol que ela treinava com seu time, onde era a capitã. Entretanto, nada saiu como o planejado...

- Queria falar comigo?

- O que você acha?

- Nossa, está tão tenso... aconteceu alguma coisa?

- Ah, quem sabe? Cho, você lembra como eu matei Voldemort?

- Fiquei sabendo que foi com um Avada Kedavra.

- Hum... quer ser a próxima?

- Que brincadeira mais sem graça!

Ele a pegou pelos longos cabelos e a puxou para perto de si.

- Escute bem, Cho Chang. Eu sou uma pessoa calma, paciente e generosa de vez em quando. Faça o que quiser comigo, que posso te perdoar um dia. Mas nem pense em mexer com a minha mulher, entendeu? Se você chegar perto, passar na mesma rua que ela, falar alguma coisa... EU TE MATO, VOCÊ ME OUVIU? ACABO COM VOCÊ!

Todos que estavam no campo pararam para olhar. E escutaram a ameaça de morte. Ele a soltou bruscamente, e ela caiu de boca no gramado. Ele saiu dali calado. E nem percebeu que Rita Skeeter gravava tudo.

Voltou em casa e arrumou as malas, quer dizer, socou as roupas lá dentro. Sentou e esperou a tarde toda, até Gina chegar. A ruivinha tinha certeza que ele não se demorou por lá, porém não se surpreendeu por Harry estar lá ainda, e sim porque o homem que a olhava naquele breu não era nem sombra do Harry Potter que ela conhecia...


Hilary não estava em casa quando Rony chegou. Já eram duas da manhã e nada dela. Se preocupou, contudo a sensação de alívio era considerável...

Acordou e ela ainda não havia voltado, e nessas condições, resolveu procurá-la antes de ir ao fórum.

- Melanie, ela não está aqui?

- Não, eu pensei que ela tinha ido para casa... ah, meu Deus... Hilary sozinha é um perigo, ainda mais no estado em que está! Michael, vai na casa da Cláudia que eu vou falar com a Dayana...

- Com todo o respeito, não acha melhor fazermos o contrário?

- Ok, mas não esqueça de me avisar quando souber de algo!

Dayana estava no quarto, e naquela afobação, Rony percebeu que a porta estava entreaberta e entrou. Se arrependimento matasse...

- Michael!

- Ah, me desculpe... eu não pensei que...

Sua cunhada estava se trocando, ele conseguiu pegá-la nua. Ela imediatamente jogou-se na cama e cobriu-se desajeitadamente. Mais rubra não poderia estar.

- Eu queria saber onde Hilary foi... mas acho melhor eu perguntar para outra pessoa...

- Nunca lhe ensinaram a bater antes de entrar no quarto dos outros, principalmente no da sua cunhada? – disse, com uma raiva medonha.

- Desculpe, eu não sei o que me deu, estava preocupado e vi que a porta estava um tanto aberta... eu já vou, e não te atormentarei...

- Ela está no cemitério.

- O quê? Mas o que ela foi fazer lá?

- Eu fiquei com ela quase a noite toda, espero ter te ajudado.

- É, não posso negar que há dias eu não dormia tão bem. Obrigado e perdão mais uma vez...

- Ok, finja que você não viu nada porque meu pai não achará tanta graça nessa sua afobação, como eu não achei. – disse, muito irritada.

Ele avisou Melanie e foi atrás da mulher, que estava sentada na grama acariciando uma das inscrições.

- Hilary, o que aconteceu pra você não voltar pra casa ontem?

- Michael, você me perdoa? Eu só tive medo de te perder... e não soube como administrar isso... se quiser a separação, eu compreendo, nem eu estou me suportando.

- Eu não vou me separar de você, mas gostaria que voltasse a ser como no início, minha tão carinhosa amiga que me ouvia e ajudava.

- Eu sei que você me ama, não do jeito que eu gostaria, mas ama. Posso te fazer uma pergunta?

- Claro.

- Quem é Mione?

- Não sei, mas porque me pergunta isso?

- Em alguns dos nossos momentos mais íntimos, você sussurrava algo que eu não entendia, daí eu resolvi prestar mais atenção e vi que você me chamava de Mione.

- Deve fazer parte do meu passado, eu nem percebi que isso acontecia. Desculpe.

- Promete que não vai me deixar?

- Prometo.

- Eu vou parar com essa insegurança boba e tudo será harmonioso como antes, eu juro.

Eles se abraçaram e Rony olhou para a mármore lapidada onde estava escrito em ouro o nome do falecido irmão de Hilary e disse em pensamento: "Espero que você tenha colocado um pouco de juízo na sua irmã..."

Por mais incrível que aquilo parecesse, Hilary havia falado sério. Dayana tinha feito quase um milagre tendo uma dura e longa conversa com a irmã. Convenceu-a a lutar pelo amor dele como fez há anos atrás, e não a perdê-lo de uma vez. A única coisa que ela não conseguiu foi fazê-la entender que Rony poderia ser mais feliz se reencontrasse a sua família...

Portanto, ela voltou a ser a mesma de antes, como Rony a conheceu. Porém, nada do que ela fizesse remeteria no esquecimento de Mione... e ele mantinha a esperança de saber quem ela era. Lembrava de várias pessoas vagamente, mas a recordação dela era muito forte e vivaz...