Capítulo 13: Brigas

Dayana, por precaução, não ficou muito tempo com Kimberly no hotel. Levou-a para ver algumas lojas, e não correr o risco de encontrar Rony.

Quando ele chegou no hotel, louco para falar com a cunhada, encontrou a sogra...

- Melanie, onde a Dayana foi?

- Está passeando, Michael. Aconteceu alguma coisa?

- Nada de muito importante, mas eu queria falar com ela.

- Ok, quando ela chegar eu peço para ir ao seu quarto.

- Obrigado.

Estranhou o comportamento dele, que não falava tão friamente daquela maneira com ninguém. Todavia, interrogaria a filha depois.

Rony acostumou-se a escrever em um livro tudo o que se passava de importante. Certos pensamentos confusos, desejos, sonhos... e agora tinha muito o que relatar. Foi uma maneira útil de esperar Dayana chegar...

- Atrapalho?

- Não, muito pelo contrário. Estava ansioso para que você chegasse.

- Eu entendo a sua raiva, mas não desconte em mim.

- Ah, vai tirar o corpo fora? Impossível querer se livrar agora! Eu exijo uma explicação!

- Eu não podia falar nada, tente me entender! Hilary sabe um segredo meu, e me chantageou quando eu soube quem você era!

- E por conta de um segredo idiota você deixou eu casar com ela e me achar um pobre coitado e órfão durante 5 anos? Que tipo de ajuda você me deu este tempo todo, hein?

- Olha, você está nervoso, eu entendo. Mas não me julgue! O segredinho idiota pode me comprometer muito e é importante para mim que ninguém saiba. Eu falei para colocá-la contra a parede e você não quis! E se não fosse por mim não teria encontrado Hermione! Eu errei, mas não seja ingrato!

- Ingrato? Você não faz idéia o que é se olhar no espelho e não se reconhecer, se achar um estranho, se sentir vazio! Esperava que eu lhe agradecesse por ter escondido meu passado?

- Não, mas ao menos poderia me entender! Eu fiz o que eu pude. Tentei impedir seu casamento, não adiantou. Tentei fazer você enxergar que Hilary é uma dissimulada, não adiantou. Te disse que se tivesse uma conversa séria ela lhe contaria, e o que você fez? Se rendeu aos caprichos dela como todos! Se você está sofrendo com aquele casamento bomba, terá um filho e foi enganado, a culpa é exclusivamente sua!

Com aquela gritaria de ambos, Melanie foi até o quarto de Rony.

- O que deu em vocês?

- Melanie, por favor nos deixe. Estamos nos entendendo aos poucos.

- Nunca vi vocês brigando assim e não permitirei que você maltrate minha filha, Michael.

- Mãe, eu estou bem. Prometo que nada vai acontecer, mas deixe-nos.

- Eu só vou porque você está pedindo, minha filha. Controlem-se.

Depois que Melanie fechou a porta, Dayana encarou Rony séria e disse:

- O que eu disse agora há pouco é a mais pura verdade, quando estiver calmo me dará razão. Não desperdice esta raiva, mas segure-a para falar com Hilary. Eu não te enganei, tentei lhe avisar. Grite e tire satisfações com a pessoa certa. Eu já lhe dei a minha explicação, agora não me envolva neste problema. Não tenho nada a ver com isso.

- Como não tem? Foi cúmplice daquela infeliz! Deixou-se corromper!

- Você também entrou no jogo dela. Não me culpe, eu tive meus motivos para não ter falado tudo o que eu sabia. Mais cúmplice e fraco do que eu foi você.

Ela saiu rápido dali, saberia que a discussão iria longe e que ele necessitava de tempo para refletir. Porém, Melanie a interpelou antes que pudesse entrar em seus aposentos...

- Agora sou eu quem quero saber o motivo de Michael se alterar daquela maneira.

- Caso não se importe, eu preciso descansar. Depois conversamos.

- Dayana, eu sou sua mãe e tenho direito de saber o que há de errado!

- Será possível que eu não posso ter minha privacidade? Estávamos discutindo por conta de Hilary. Satisfeita?

- Não. O que ela fez?

- Escondeu algumas coisas dele...

- Coisas que você sabia, não é?

- Mãe, eu realmente estou exausta. Preciso relaxar um pouco, aliás, foi para isso que eu vim com a senhora para cá também.

- Ok, mas você vai me contar essa história direitinho. Ou eu perguntarei para Michael.

- Não pergunte nada a ele. Certamente ele quer ficar sozinho, assim como eu.

A mulher a mirava com desconfiança, contudo, deixou-a só. Dayana estava aliviada de certa forma, pois guardar aquele segredo a atormentava. Finalmente, Hilary pagaria por seu egoísmo. O que ela não sabia era que sua irmã não viveria tanto para pagar todos os equívocos...


Neville chegaria à noite, mas Hermione não pensava nisto. Toda a sua atenção estava voltada a Rony. Tirava do armário as lembranças que guardava sob feitiço: presentes, bilhetes, cartas, fotos, o vestido de noiva... o pedaço do sobretudo preto dele onde havia a letra "R". Olhava cada coisa como se fosse a primeira vez, já que tudo estava organizado por anos e até horas (se não estivesse assim, não seria possível que fora Hermione Granger quem organizara!). Ela também tinha diários, mas fazia tempo que não escrevia nada neles.

Esquecendo do fato de que Rony não voltara com a memória restabelecida e não continuava a amá-la da mesma maneira, ela deleitava-se com pensamentos amorosos... bruscamente interrompidos pela campainha, que era tocada pela nona vez.

- Filha? Voltou tão cedo e sozinha?

- Mamãe, tem certeza que tá olhando bem?

Dayana estava do lado de Kimberly.

- Ah, me desculpe Dayana. Acho que precisamos conversar, não?

- Agora sou eu quem lhe peço desculpas, Hermione. Preciso voltar antes que aconteça algum desastre, se é que me entende.

- Claro, conversamos outro dia. Mas, ele não viu... – disse, olhando para Kimberly.

- Não, eu não faria isso sem sua permissão.

- Então não toque no assunto com ele hoje. É melhor assim.

- Acho que ele nem me dará tempo. Bem, como está se sentindo?

- Ótima.

- Que bom... mando uma coruja para nos encontrarmos e colocarmos a conversa em dia.

- Tudo bem. E você, mocinha? Que cara de sono é essa?

- Não dormi direito com o ronco do tio Fadinha... – disse, entre bocejos.

- Até breve, Dayana.

- Até. E você baixinha, tome juízo.

- Eu tenho muito disso aí que você falou... – disse Kim, tentando se lembrar o que era juízo e como se falava "ajuizada".

Kimberly reclamou que queria comer antes de dormir e esperar Neville chegar. Hermione fazia o possível, mas não era muito boa na cozinha e a varinha era a sua salvação naquelas horas. E estava tão atrapalhada que nem um sanduíche conseguiria fazer da maneira certa...

- Mamãe, onde você colocou a minha foto?

- Acho que caiu, sei lá, não lembro.

- Você tá muito voada hoje!

- Avoada, Kim.

- É, isso aí. – disse, um tanto irritada. Não gostava de errar palavras. – O que aconteceu pra você ficar assim? Resolveu o problema com aquela baranga?

- Não, filha. Ainda não. E não chame Rita de baranga, eu já lhe disse que é incorreto.

- E porque tá sorrindo assim? Faz tempo que você não fica assim.

- Isso é felicidade, Kim. – disse, colocando um sanduíche natural de frango e um copo de suco de abóbora na mesa da sala de jantar.

- Felicidade por quê? – perguntava, ansiosa por uma resposta.

- Justamente por aquele advogado ter me dado uma solução eu estou feliz, meu amor.

- Por que eu acho que você tá mentindo pra mim...?

- Não fale de boca cheia.

- Tá bom. – disse, ainda com a boca cheia.

Kimberly foi dormir desconfiada da mãe. Quando Neville chegou, já passavam das onze da noite. Pelo silêncio da casa, foi direto no quarto de Kimberly. Constatando que a menina dormia tranqüilamente, foi até o quarto de Hermione...

- Mas o que está acontecendo aqui?

- Neville? Perdão, eu nem ouvi você chegar.

- Eu não toquei a campainha, tenho a chave, e não quis fazer muito alarde à esta hora. Você está bem?

- Preciso te contar uma coisa, mas eu acho que você tem que comer alguma coisa primeiro...

O estômago de Neville roncou e Hermione sabia que sem comida ele não raciocinava muito bem. Preparou uma comida trouxa que ele adorava: lasanha.

- Vou arrumar sua cama.

- Não precisa, eu durmo na sala. Para quê desarrumar a sua biblioteca?

- Não, desculpa, a última coisa que eu faria com você era permitir que depois de trabalhar a semana inteira ficasse dormindo num sofá, francamente...

Diminuiu os seus livros, aumentou a cama de Neville, que ele não gostava de usar para ficar mais perto de Mione, porém este desejo ocasionou tantas situações desconfortáveis que ele contentou-se (e acostumou-se) a dormir com Kimberly. Somente assim, Hermione se sentia segura, pois não queria magoá-lo mesmo não sendo uma coisa fácil. E como a menina já adormeceu, era melhor ele ficar lá.

Depois de comer quase toda a travessa de lasanha, foi atrás de Hermione.

- Acho que precisa me dar uma explicação mesmo. Nunca mais vi você revirando as coisas do Rony.

- Vamos para o meu quarto, Kim pode acordar e eu não quero que ela ouça nada.

Ela ajeitou as coisas que estavam em cima da cama para que Neville e ela sentassem, todavia ela manteve-se em pé.

- Eu não sou de fazer rodeios... bem, espero que você lembre-se da minha lucidez. O Rony voltou. – disse, convicta.

- Hermione, eu pensei que você tinha superado isto.

- Não acredita em mim, tudo bem. Você quer que eu use uma penseira... o que você precisa? Posso trazê-lo aqui, se necessário.

- Contou para alguém que ele voltou?

- Não... olha aqui, Neville, se você está pensando em chamar o Dumbledore de novo...

- Tudo bem, eu sou um péssimo mentiroso mesmo! Eu não acredito que o Rony tenha voltado porque ele está morto, Mione!

- Você viu o corpo dele, por um acaso? Alguém foi enterrado há cinco anos atrás?

- E foi preciso? Ninguém encontrou ele, publicamos em todos os jornais, Sirius foi até a Austrália para ver um paciente desmemoriado e não era ele! Fora os outros que ele visitou. Não acha que todos nós sofremos o suficiente? O Harry demorou para começar a jogar quadribol, não se achou capaz de entrar na seleção inglesa quando teve oportunidade. Sem contar o que Molly sofre até hoje, as inúmeras quedas de pressão. Nada disso conta para você?

- Um momento! Que história é essa de que o Sirius foi visitar um paciente na Austrália? A única coisa que me disseram foi que ele visitou alguém, mas não que foi num lugar tão longe e... – parou um instante e estranhou - por Merlin... como ele se enganou?

- Não falamos nada por conveniência, você quereria ir para lá e seria desgastante. E Sirius não se enganou, o paciente não era o Rony.

- Claro que era! Ele perdeu a memória... deve ter sido alguma armação da mulher dele.

- Memória, mulher? Mione, eu estou exausto como você mesma percebeu e queria dormir... acho que fará bem para você também e amanhã conversamos, certo?

- Neville! Você precisa acreditar em mim! Sempre confiamos um no outro, não? Eu te dei uma confiança extrema: mesmo sabendo das suas intenções comigo eu deixei várias vezes você dormir na minha cama! E não ache que era fácil para mim. Quantos beijos seus eu perdoei?

- Hermione, isso é outro assunto...

- Quantos, Neville? – berrou ela.

Kimberly acordou com o grito da mãe e foi correndo até o quarto, sem sucesso. A porta estava trancada. Porém, ficou ouvindo a conversa.

- Se eu te incomodava tanto bastava me pôr para fora! Não precisava fingir todos esses anos que me suportava! E não queira colocar isso como motivo para eu acreditar que o Rony está vivo porque isso é um absurdo sem tamanho!

- Não é absurdo! E eu vou lhe provar amanhã mesmo, nem que você tenha um ataque cardíaco, ouviu?

- Eu não vou compactuar com a sua loucura!

- Eu não sou louca!

- Mãe!

- Está vendo? Acordamos a Kim! – sussurrou ela – Está tudo bem, querida. Pode ir dormir...

- Eu vou chamar a madrinha!

- Não vá incomodar sua madrinha com bobagens! Vá dormir, meu amor.

- Então parem de gritar! Não quero que vocês brigem!

- Querida, está tudo bem, eu e sua mãe não vamos mais brigar.

- Padrinho, dorme comigo? – Kim não confiava que eles parariam.

- Já estou indo, querida. Hermione, amanhã com calma a gente conversa.

Ele iria dar um beijo de boa-noite como sempre fazia, porém lembrou-se das palavras dela a seu respeito e apenas lhe lançou um olhar de decepção e saiu rápido do quarto. Quando deitou-se com Kimberly ela queria saber como era Hogwarts e depois comentou a briga...

- É verdade que o papai tá vivo, padrinho?

- Não, querida. Seu pai morreu antes de você nascer, acho que falamos sobre isso, não? Esqueça o que ouviu, aliás, ouvir atrás das portas é muito feio...

- Mais feio ainda é ficar brigando desse jeito. Vocês são adultos ou não?

- Às vezes os adultos também erram, brigam...

- Eu sei. Mas vocês nem são casados pra brigar assim e eu fiquei com medo de que você fosse embora. Eu não quero que você vá.

- E isso não vai acontecer. Já está tarde e amanhã você não vai querer acordar tarde.

- Por quê? Nós vamos passear?

- O que você acha? Passo a semana inteira longe da minha afilhada e não levo ela para passear num sábado? – disse, fazendo cócegas nela.

- Padrinho, pára! Eu durmo, vai! Mas pára de fazer cosquinha...

- Boa noite, abelhinha.

- Boa noite, seu chantagita.

- Chantagista...

- Hoje eu tô falando tudo errado...

- Um dia você vai falar como a sua mãe, como tanto quer. Tenha paciência. – disse, sorrindo.

Afagava os longos cabelos da menina, desejando ser o pai dela. E na verdade ele se sentia um tanto pai, afinal, ele ajudou a criá-la. Passando noites sem dormir, trocando fraldas, acalmando e tal... amava Kimberly e doía ficar longe dela. Poderia até sair daquele apartamento, já que ficara muito chateado com o que Hermione dissera. Porém, nunca abandonaria a pequena Kim, a quem chamava também de abelhinha, pois ela queria sempre saber de tudo. Saindo de seus pensamentos, observou que ela adormecera e não havia barulho algum. "Mione certamente dormiu".

Ela retirou as coisas da cama, guardou tudo silenciosamente. Estava determinada a contar a verdade para todos, mas não podia fazer isso sem Rony ou achariam que ela enlouquecera. Dumbledore conversava muito com ela durante um tempo sobre ele se acalmar e aceitar a situação. Não foi diferente com Harry. E agora mais do que nunca, precisava estar forte para ser interpretada por alguns instantes como louca, mesmo que fosse difícil, antes que eles chamassem o diretor novamente.


Cláudia conversava com Hilary, que nos últimos dias tem mostrado que era realmente sua amiga...

- Posso dormir aqui? Não suporto ficar em casa sozinha.

- Você vai superar, eu tenho certeza. Mas não deve ser fácil perder a mãe assim, tão de repente... repito o que sempre disse: pode contar comigo.

- Eu sei, mas você me provou isso de um jeito que até me surpreendeu... deixou Michael viajar sozinho! Você nunca deixava...

- O que adiantou prendê-lo? Um dia isso ia acontecer mesmo... chega de ser encarada como megera. Dayana tinha um pouco de razão.

- Sua irmã está coberta de razão, Hilary. E você deveria fazer tudo o que ela lhe disse.

- Cláudia, você quer que eu o perca de vez?

- Melhor que ele saiba o passado dele vindo de você do que pelos outros.

- Só você e a Dayana sabem. E eu confio em você. Dayana nunca vai abrir a boca.

- Mais cedo ou mais tarde ele vai descobrir. E não quero te desanimar, mas quando isso acontecer ele não vai pensar duas vezes em te largar.

- E deixar o filho? Conheço o caráter dele, nunca faria isso.

- É, ele não abandonaria o filho. Você já é outra história...

- Eu te respeito porque é minha amiga, mas não dê uma de Dayana pra cima de mim. Sabe que fiz tudo isso por amor.

- Me permite falar uma coisa? Aí a gente não fala mais nisso.

- Fala...

- Se você o amasse de verdade não esconderia nada dele, que sempre te respeitou e apesar de todas as coisas que sua irmã falou ele preferiu acreditar na sua palavra. Acho que deveria retribuir esta confiança. Seria a maior prova de amor que você poderia dar.

- Ah, sim. Só que você esqueceu um detalhe: ele não me perdoaria se eu contasse e me deixaria. Isso eu não permitiria. Prefiro morrer ao perder Michael.

- Pense no seu filho. Ele não tem culpa de nada. Não ter uma mãe não é um destino agradável.

- Vamos mudar de assunto? Você sabe que não vou mudar minha opinião.

- Ok... vamos ver aquela revista com nomes para você escolher alguns para o bebê...

Cláudia sabia que Hilary estava amolecendo. Antigamente, era mais descontrolada quando ela tocava no assunto. Ao menos ouviu a irmã um pouco... mas temia que a amiga fizesse uma loucura quando Rony soubesse de tudo. Torcia que isto acontecesse depois que Hilary tivesse o filho. Assim, ela sofreria só e a criança não seria tão afetada. E ela nem sonhava que Rony estava a ponto de matar sua esposa...


A conversa (ou melhor, a falta dela) entre Neville e Hermione não estava progredindo. Ele era monossílabo. Ela, percebendo que havia sido injusta com ele, esperou Kimberly se desgrudar do padrinho para pedir-lhe as devidas desculpas.

- Neville, eu fui muito severa com você ontem.

- Apenas disse o que pensava e tem sua razão. Eu vim morar aqui com você, mesmo sabendo que não tinha chance alguma e não resisti o quanto deveria. Por que você teria que suportar isso?

- Me perdoe... você sabe a consideração que tenho por você. Só fiquei chateada por você duvidar de mim.

- Hermione, se você quiser eu saio da sua casa e só venho aqui buscar Kim para ir a outro lugar. Não quero te incomodar mais.

- Neville! – chamou ela, num tom mais alarmante – Me ouça, por favor! Eu não quero que vá, apenas me descontrolei e disse coisas que não devia e também não queria. Fui muito injusta. Estou lhe pedindo perdão e por favor, fique conosco... se não for mais por mim, que seja pela sua afilhada...

- Tudo bem, Hermione. Mas não me venha com aquela história maluca novamente.

- Ok, eu não falo mais nada. – mentiu ela.

- Vou dar uma volta com a Kim... quer ir junto?

- Acho bom, senão ela se entope de porcaria.

- Mãe é fogo... e tudo igual...

- Pode apostar. – disse, sorrindo.

Harry levou Gina ao trabalho e estava todo carinhoso. Passando na loja dos gêmeos, viu Cho na rua junto com os seus seguranças. Ela o viu e desviou o olhar com raiva.

- Olha lá, a choitadinha...

- Fred, eu vou falar com ela, tá?

- Harry, você não comeu nenhum dos nossos caramelos azuis com bolinha verde, né? Você ficou maluco? Ela é capaz de dizer que você tentou estuprá-la no meio da rua, mesmo que isso seja frustrante...

- Depois eu te explico e não fale nada para a Gina.

- Isso não vai prestar. – disse, encaminhando-se a um cliente indeciso.

Harry se aproximou de Cho, que arregalou os olhos e disse com pavor:

- O que você quer comigo ainda?

- Fazer uma pergunta.

- Quer que nós o expulsemos? – perguntou um dos "armários" que estava com ela.

- Não, podem deixar. Faz a bendita pergunta e vá embora.

- Eu sei muito bem que nada que você fez tinha a ver com sentimento. Quero saber o motivo de tanta perseguição antes de acontecer o acidente.

- Acidente? Você tentou me matar, isso sim! E de certa forma, conseguiu. – ela não parecia fraudar a dor que sentia ao ter dito a última frase – Você não quer que eu... explique isso no meio da rua, quer?

- Não consigo confiar na sua palavra. Prefiro que estejamos em público e assim você não tem chance de contar nenhuma mentira. Acho que dá para você entender.

- Tudo bem, – suspirou, inconformada – é o seguinte: desde que percebi seus olhos sedentos em cima de mim, pensei nas vantagens, afinal você era inexperiente, famoso, rico e até bonitinho. O garoto que eu precisava. E eu, por ser mais velha, não pensava na chance de você me abandonar, sempre foi submisso. De repente, você veio me falar no dia do meu aniversário que amava Virgínia Weasley e não queria me enganar... veio com aquela lenga-lenga do homem inocente e puro. O que acha que senti?

- É isso que vim saber.

- Eu nunca te amei, eu apenas me divertia. Apesar disto, não queria te perder. Você me completava, tinha responsabilidade e tudo o que eu queria. Agüentei as piadas dos outros e interrogatórios enquanto você sorria tímido de mãos dadas com uma Weasley. Ainda hoje não sei o que ela tem que eu não tenho. Você foi o único que me deu um fora. O homem que eu sempre sonhei. Achava que eu não correria atrás novamente? Sua mulher nem te deu aquilo que você desejou tanto: um filho. Na época, eu poderia te dar. Você não aceitou, resolveu fugir e se fingir de santo dizendo que não me desejava. Eu não tinha nada pra fazer na vida além de me dedicar ao quadribol. Você foi quem me deu importância, me viu além da beleza. Será que é tão difícil entender?

- Nada pra fazer, aí tem que arranjar uma ocupação diferente... eu já entendi, Cho. Mas, agora que está tudo esclarecido, lhe peço desculpas por tudo o que você passou e você interrompe o processo?

- Eu só te respondi uma pergunta, não acho que você seja inocentinho. Para defesa ou não, você me destruiu. Não vou retirar o processo.

- Cho, o que você ganha com isso? A Gina não vai me abandonar mesmo que eu seja preso.

- Não quero mais saber de você, apenas quero que pague por tudo.

- Se o assunto é dinheiro...

- Não me suborne. Nada que me dê vai fazer eu voltar a ser uma pessoa normal.

- Dou o quanto você quiser, de verdade. Só quero viver em paz.

- Não. Eu não estou à venda, esqueça. Dinheiro eu tenho.

- Tudo bem, eu desisto. Faça o que achar melhor, mas se sair perdendo não me culpe.

Harry não se sentia um carrasco, na época ele fora sincero com ela, não havia como continuar a namorá-la amando Gina. E na verdade, ele lutara muito contra este sentimento, porém, chegou um momento que não houve como negar seu coração...

- Já sabe, nem uma palavra. – disse para Fred, que olhou para ele com desaprovação.


Dayana havia tomado banho, e inocentemente sentando-se em sua cama apenas de toalha, encontrou Rony.

- Será possível que você só chega na hora que estou nua? – disse, rubra.

- Desculpe, não é proposital... eu queria conversar.

- E permite que eu me troque? – perguntou, com certa arrogância.

- Vá no meu quarto, estarei te esperando.

Ela não respondeu, apenas o mirou com aquele olhar quando-é-que-você-vai-embora e ele finalmente saiu. Depois...

- O que ainda quer conversar comigo?

- Eu nem dormi direito de tanto que pensei na minha vida, que está uma bagunça. Não queria te ofender ontem, você tinha razão. Se eu entrei naquela roubada com a Hilary, a culpa é minha já que ninguém me amarrou para que eu dissesse sim pra ela.

- Você finalmente acordou. Mas, até hoje, você não me explicou o motivo pelo qual se casou com ela. Não me diga que era para refazer sua vida, não irá me convencer.

Conhecendo o jeito de Dayana, tinha certeza que um dia ela falaria para Hilary o motivo, então...

- Infelizmente eu não posso te contar ainda.

- Michael...

- Rony.

Ela deu um sorriso sarcástico e continuou:

- Rony, tudo será jogado no ventilador. Um dia, eu vou saber. Isso é um tipo de vingança?

- Se quiser considerar assim... eu tenho as minhas razões.

- Tudo bem, não vou insistir mais. Contudo, quero te pedir uma coisa: não diga que eu armei isto tudo, fala que você descobriu sozinho... não me meta nisto porque eu tenho muito a perder.

- Dayana, você não consegue confiar nem um pouco em mim? Este segredo parece te atormentar muito...

- Acredite, ele acaba comigo. Mas... nunca contei a ninguém.

- E como Hilary sabe?

- Ela viu o que eu fiz.

- Não há nada que eu possa fazer para te ajudar?

- Você, nada. Já meus pais...

- Nem Luigi sabe? Vocês pareciam ser tão unidos...

- Ele é a última pessoa que pode saber. Me defenda perto da Hilary. Não insinue nada, finja que nunca falamos sobre isso, tá bom? Me prometa...

Rony se assustou. Nunca viu Dayana desesperada daquela forma. A primeira coisa que veio na sua cabeça era consolá-la. A abraçou e pediu que se acalmasse. Ela começou a chorar repetindo "me prometa que não vai contar..." e retribuiu o abraço com intensidade. A raiva que ele sentia de Hilary crescia a cada lágrima que a mulher derramava em sua blusa. Às vezes os joelhos dela queriam ceder, mas ele era forte o suficiente para carregá-la. E nem imaginava no que ela pensava naquele momento... das lembranças que a importunavam...

- Nada vai acontecer. Um dia Hilary vai pagar por tudo isso. Eu lhe prometo.

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Hermione, Neville e Kimberly aproveitaram bem a saída. E a bruxa autoritária teve que se render aos apelos dos dois arteiros para aprontarem um pouco... e houve um certo momento em que ela ficou sem ação...

- Gosta desta aqui?

- Claro que sim... orquídeas são encantadoras, Neville. E um tanto caras...

- Isto não é empecilho. Sei que está querendo mudar a flor da mesa de jantar e nunca tem tempo...

- Nem longe você deixa de reparar nos pormenores!

- Tudo o que vem de você é...

Alguma criança desastrada fez passar pela saia de Hermione uma bombinha voadora... ela se assustou e se aproximou demais de Neville...

- Francamente, há mães que não se preocupam com os filhos... – disse, sem olhar para ele.

- Por que não me olha? – ele nem soube como teve coragem de perguntar!

- Você sabe. – ela mordeu o lábio inferior e esperou que ele se afastasse, sem o olhar.

Ele foi atrás de Kimberly, que finalmente havia escolhido uma flor para mandar à sua madrinha.

- São lindas, ela vai gostar muito! – fingiu entusiasmo...

- Me leva pra ver o tio Jorge e o tio Fred?

- Só se prometer se comportar desta vez...

- Eu sempre me comportei!

- Sei... Hermione! O que acha de visitarmos os gêmeos?

- Espera só um instante...

Não dava para encará-lo como se nada estivesse acontecendo. Às vezes ela pensava em pedir para que ele fosse embora para não se ferir com as atitudes dela, mas não adiantaria... ele somente desistiria quando visse Rony.

Lupin comprava roupas na loja de Madame Malkin e Kim aproveitou para entregar as flores para Gina, e Lupin resolveu convidar Neville e Hermione para ir na casa de Sirius. Kim gostou da idéia porque sabia que os filhos de Gui estavam lá. Hermione disse que tinha um compromisso, contudo liberou a filha para ir. Neville ficou desconfiado, mas quem era ele para interrogá-la?

- Eu preciso conversar com você. – disse ela a Rony, que surpreendeu-se por ela vir lhe procurar no hotel, ou melhor... em seu quarto...