Capítulo 15 - Família
- Por Merlin! Esqueci da hora! Harry deve estar desesperado...
- E Kim teimando para dormir...
- Desculpem por prenderem vocês aqui, também não percebi que já são dez e meia.
- Não se importe com isso, adoramos colocar a conversa em dia, não é Mione?
- Claro. Agora se sente mais seguro?
- Sim, e mesmo que não estivesse, iria encontrá-los amanhã.
- Ótimo, então se quiser eu levo a Kim para dar um passeio, sei lá, invento alguma coisa com o Samir e a Sofia e fica mais fácil.
- Eu queria tanto conhecer Kimberly...
- Vai conhecê-la na hora certa. E tenho certeza que será bem recebido, ela te adora!
Dava um frio na espinha de Rony só de pensar em encontrar a filha, mesmo desejando tanto. Se ela o rejeitasse, seria o fim! E nunca teve experiência com crianças, não sabia como contar e se conter ao mesmo tempo, pois haviam coisas que não poderiam ser explicadas de imediato. Porém, imaginar o encontro trazia felicidade a ele.
- Que bom, Hermione. Mas acho melhor vocês irem. Gina, eu espero ser um irmão melhor para você a partir de hoje...
- Imagine! Já disse que você foi ciumento, mas era uma forma de demonstrar amor. Pare de se torturar! Que teimosia, não?
- Eu, teimoso?
- Sempre - riu Hermione.
- Bem, até amanhã, maninho... ou melhor, Roniquinho...
- Roniquinho?
- Molly, sua mãe, lhe chamava assim. E pelo jeito você continua não gostando.
- Pois é, tão... brega.
A careta que ele fez ao dizer brega induziu as duas a gargalharem tanto que ficaram quase sem ar. Ele ficou desconcertado e se perguntando qual era a graça: ele ou o apelido, mas limitou-se a se emburrar discretamente. Gina, ainda rindo, deu-lhe um beijo e o abraçou forte:
- É bom ter você de volta, Rony. Muito bom.
- Adorei te conhecer, Gina. Até amanhã - ele quase sussurrava, tal era a emoção.
Ela aparatou e Hermione lembrou-lhe:
- Vá até onde lhe falei, não há erro. Desça o...
- Não precisa dizer de novo, eu já entendi.
- Mas não custa dizer novamente, você é tão esquecido!
- Nem tanto.
- Por que essa cara?
- Do que vocês riam?
- Que infantilidade! Está com essa cara porque ríamos! Não acredito!
- É tão engraçado assim tirar sarro de mim? Até agora não achei graça em nada!
- Você está agindo como uma criança, parece que não cresceu.
- Assim você me ofende.
- Não era a intenção. Então, já que você não quer que eu repita onde é a Toca, eu vou embora...
- Tudo bem. Hermione...
- O quê?
- Esquece.
- Como assim? Diz!
- Não quero mais, era besteira.
- Se fosse uma besteira você não tinha tirado a minha concentração pra aparatar.
- Por que você sempre acha que tem razão no que diz e me enfrenta, hein?
- Porque você não me dá opção. Vá, diga o que queria.
- Pode ir, eu já esqueci o que ia te falar mesmo!
- Mentiroso.
- Eu não estou mentindo!
- Você é um cínico, queria dizer alguma coisa, então agora diga! Não minta e nem se faça de indiferente!
- Você sabe ser chata, sabia?
- E você sabe ser teimoso!
Eles se olharam por um momento e ela começou a rir.
- O que é agora? - perguntou, irritado.
- Estamos brigando de novo por coisas tolas... sempre fizemos isso...
- Ah, é? Também, do jeito que você é, não há homem que suporte sem discutir.
- Você sabe me irritar também. E não suporto quando você mente, justamente porque nunca soube fazê-lo. E vou definitivamente embora, antes que amanheçamos brigando!
Ela mirou-o como se esperasse ela falar alguma coisa. Então, Rony se rendera:
- Boa noite, Hermione. E... dê um beijo na Kim por mim...
- Era isso? - disse, surpreendida e carinhosa.
- Era. E não me olha assim, me sinto um bobo. Mas me deu vontade de falar o que eu pensava.
- Francamente, não esperava que mesmo sem conhecer Kim você tivesse carinho por ela...
- É estranho para mim também, mas ao olhar a foto dela, ouvir você, a Dayana e a Gina falarem do jeitinho dela eu acabo sentindo que a conheço, mesmo que pareça ridículo. E de certa forma é.
- Acredite, ridículo não é a palavra certa.
- E qual é?
- Inusitado.
Ela finalmente aparatou. Rony saberia que dormiria melhor àquela noite. E adorou ver Gina, que demonstrou amá-lo tanto, mesmo ele percebendo o modo chato com que a tratava às vezes. E sobre a filha, seguiu seus impulsos e desejos.
Hermione soubera por Lupin que Harry já levara Kimberly em casa, e a advertiu sobre o estado de Neville. Chegou um tanto desesperada, e encontrou sua filha sentada no sofá a esperando.
- Por que não está deitada, meu anjo?
- Onde você tava?
- Na casa da Dayana, mas ainda não respondeu a minha pergunta.
- O padrinho foi embora - ela já estava chorando quando disse.
- Como? Quando?
- Eu levantei e ele não tava mais no quarto... ele tava muito bravo hoje, gritando com todo mundo... o que você fez pra ele? Por que ele falou que a madrinha não tem vergonha na cara? - ela se atrapalhava com a rapidez em que dizia as coisas.
- Diga tudo devagar, senão eu não consigo entender. Mas antes, se acalma...
Hermione sentou-se ao lado da filha e a pôs em seu colo. Kimberly começou a chorar e Mione afagou seus cabelos, se perguntando o que Neville fizera, pois por mais nervoso que estivesse (e isso era difícil) nunca faria mal à menina.
- Meu amor, eu não gosto de te ver assim...
- O padrinho não vai voltar! Eu sei que não vai!
- Lógico que volta, o trabalho lá em Hogwarts é complexo, Dumbledore pode ter chamado ele com urgência.
- Não chamou não! Ele foi porque tava bravo. E eu sei que ele não volta mais!
Kimberly estava com muito sono, e depois de chorar um pouco no colo da mãe, adormeceu. Mione a levou para seu quarto, não queria que a filha dormisse só naquela noite. Olhou o quarto improvisado de Neville a procura de algum bilhete. E encontrou:
"Pode comemorar, agora finalmente você viverá em paz. Tenho algumas coisas aí, mas buscarei outro dia. Não sei quando e se voltarei, mas escreverei para Kim."
- Neville, como você pôde? Sempre soube que eu amava Rony. – deixou o bilhete em cima da cama de Neville, e pensou alto – E agora não sei mais se posso tê-lo outra vez...
Sim, isto agoniava Mione. Não tinha certeza que Rony voltaria para seus braços, a amando como antigamente. Porém, estar ao lado dele, nem se fosse apenas como a mãe da filha dele, já a contentava. A dor da perda diminuíra.
Harry e Gina, entretanto, não se entenderam naquela noite...
- Por que não pode me dizer onde estava?
- Amanhã você vai saber.
- Gina, não me faça de idiota. Você e Neville foram encontrar Hermione, e ele voltou dizendo que se você tivesse vergonha na cara, voltava para casa. O que significa isto?
- Que ele está descontrolado e eu morta de sono. Será que não posso ficar com Hermione e uma amiga sem que você desconfie? Esquece isso e vamos dormir. O jantar fica pra amanhã à noite, ok?
- Peraí, nós combinamos isso e você não venha com essa de que está com sono, eu te conheço. Está muito estranha. E quero me desligar um pouco daquele maldito processo, esquecer que logo terá outro julgamento... nada disso conta?
- Harry, sem drama. Prometo que vamos jantar, ficar mais à vontade, tá bom? Mas não hoje.
- Você está muito animada pra quem diz ter sono.
- E você muito chato! Se não quer dormir, tudo bem, mas deixe eu fazer isso porque estou cansada. - ela já tinha se estressado com a insistência dele.
- Gina...
- Boa noite, Harry.
Ele ficou com raiva, mas o que contestar? Quando um não quer, dois não brigam e muito menos...
Notas da autora:
Vocês entenderam o resto da frase, certo?
Na condição de enxotado, saiu sozinho para espairecer. Mesmo com seu advogado sendo otimista, ele ainda temia aquele segundo julgamento. Haviam muitas coisas à favor de Cho: a maldita fita de Rita Skeeter, as pessoas que viram o barraco no parque, o fato de não ter testemunhas naquela noite...
Sabia a sua parcela de culpa, mas deixaria ela lhe jogar dali para dar uma de santo? Não, ele tinha sangue nas veias. E às vezes se amaldiçoava por ter lembrado deste fato incontestável na hora que julgava errada.
Vagando pela rua cheia de trouxas, perdera-se em seus pensamentos. Contudo, pôde sentir a pedra que lhe acertou em cheio na cabeça e praticamente "o acordou". Pegou-a e viu que ela era verde com as inscrições PRF. Ah, Harry conhecia muito bem a sigla...
- Nunca esperava te dizer isso, mas Malfoy tinha razão...
- Olívio? Até você?
- Eu sempre soube que Chang era uma fresca, apesar de jogar bem. Mas que você tinha coragem de tentar assassinar sua ex-namorada, foi uma descoberta inédita.
- Eu não tentei matá-la.
- Ah, sim. Ela se jogou sozinha. Corta essa, Potter!
- Agora é assim que você me chama, não é? Eu tenho minha consciência limpa de que ela é uma mentirosa, esperando que eu me ferre para finalmente se vingar.
- Tanto está tranqüilo que precisa vagar numa rua trouxa para não ser apedrejado.
- E já não fui? Viagem perdida. E você já conseguiu piorar meu humor, satisfeito?
- Não, o veredito de Lilá Brown ainda não saiu para eu ficar alegre, aliás, para a comunidade mágica de respeito ficar aliviada.
- Vai esperando por isso.
Harry desaparatou em casa. Sua noite estava uma maravilha: Kim não conversou com ele direito, Gina o expulsou e escondia alguma coisa, Olívio lhe atirou uma pedra... não estava faltando mais nada. Quer dizer, estava sim.
- Mas que raio de coruja é essa?
Bem, era mais uma ameaça, como tantas outras. O típico: "Você e sua amiga defensora dos elfos vão pagar caro...". Porém, o pergaminho era especial: depois de Harry o tocar por alguns segundos, ele começou a queimar sua mão com chamas intensas.
- Merda! O que falta acontecer agora? Mais nada, porque senão eu vou morrer... nem que seja só de ódio!
Teve que desaparatar num hospital perto dali. Um dos mais caros, onde sempre ia. Enquanto uma enfermeira cuidaria de suas queimaduras, encontrou ninguém menos que...
- A Weasley teve um ataque de raiva e te expulsou da cama, Potter?
- Só você para completar a desgraça desta noite, Malfoy. E você? Sua mulher ficou com nojo e o fez rolar escada abaixo?
- Claro que não, ela é normal. Não compare-a com sua mulherzinha baixa.
- Hoje eu não estou para brincadeira...
- E vai fazer o quê contra mim? Nem pode segurar uma varinha! Cale a boca e aceite a verdade. E como vai a amante aleijada? Saiba que aquela taxa do "Potter Realmente Fede" ainda vai me enriquecer mais. Se soubesse que seria tão brilhante na adolescência, tinha feito uma divulgação melhor.
A pouca compostura que restou em Harry esvaiu-se: pegou a varinha e lançou um feitiço silenciador em Draco.
- Você fica melhor assim, quietinho... - disse, com sarcasmo.
Bom, após a enfermeira dar-lhe uma bronca pelo comportamento infantil e curar suas queimaduras parcialmente, ele voltou para casa, porém desta vez foi dormir.
- Mamãe?
- Está melhor, meu amor?
- Eu acho que sim...
- O padrinho deixou um bilhete dizendo que precisava trabalhar e por isso foi embora. Acredita em mim agora?
- Tudo bem, eu acredito. Vamos pra casa da vovó?
- Sim, mas você, Samir e Sofia vão sair com sua madrinha.
- Por quê?
- Você não quer? Ela vai te levar para Hogsmeade.
- Sério? - perguntou a menina, muito empolgada.
- Sério. Ela prometeu, não?
- Puxa, eu adorei! Não tem problema a gente ficar lá? A vovó não vai ficar chateada?
- Não, querida. Mas não pense que vai ficar o dia todo. E por favor...
- Se comporte - disse, imitando Hermione.
- Muito engraçadinha você...
Ela começou a fazer cócegas na filha. Bagunçaram a cama com uma guerra de travesseiros e brincando de pega-pega, coisa que Hermione não costumava fazer nem quando era menor, detestava correr, achava infantil. Agora isso parecia tão importante! Divertir-se com Kimberly, fazê-la sorrir, mesmo que fosse desajeitada e pouco ágil.
Gina acordou e, como de costume, foi abraçar Harry, ainda sonolenta. Quando tocou nas mãos dele...
- Caramba! Tira a mão daí!
- Harry... o que aconteceu?
- Nada, você só tocou nas minhas mãos que estão ardendo!
- Está muito nervosinho, hein? Só porque eu não estava disposta ontem vai gritar comigo o dia todo?
- Esquece, eu estou nervoso mesmo... ontem aconteceu uma série de coisas desagradáveis. Não quero falar sobre isso.
- Mais vai.
- E você me conta onde foi?
- Harry Potter, não comece!
Ele não queria contar, mas ela era demasiado teimosa e insistente. Ela até pensou em quão hilário fora a sorte que ele tivera, porém não seria ético rir e magoá-lo. Depois, ela foi buscar Kim e deixou o marido desconfiado novamente. Ele começou a ser mais brusco com ela, mas quem disse que isto resultou em algo?
Molly estava elétrica, parecia muito animada. Arthur estranhou, mas ela não sabia explicar motivo além de ver a família reunida de novo. Era bom ter Gui um pouco em casa. Carlinhos prometera vir, mas não ficaria muito. Porém já era o suficiente para a matriarca alegrar-se. Seus netos, filhos, cunhadas... a Toca ficava muito cheia.
Hermione esperou pacientemente todos chegarem. Atentada, disse:
- Bem, já que estão todos aqui, eu gostaria de falar uma coisa.
- Pronunciamento! Que bonito, Mione. Mas não esquece que eu estou com fome!
- Fred, sua fome vai sumir daqui a pouco... mas escutem-me. Há uma pessoa que queria almoçar conosco, mas por favor, não achem que eu estou brincando com vocês.
- Aqui tem muita gente, mas sempre cabe mais um! Quem é, querida? - perguntou Molly.
- Espere um pouco.
Rony esperava invisível a muito custo perto da casa por um sinal de Hermione. Ela aparatou lá e lhe disse:
- Chegou a hora. Vamos.
- Será que...
- Não pense no depois, venha comigo. Ou não confia em mim?
- Confio, mas...
A cara de irritada dela o fez aparatar, e assim desfez-se o feitiço de invisibilidade. Todos pararam abruptamente de falar. Olhavam estáticos para Rony e Mione. Ninguém conseguira durante dois minutos balbuciar qualquer coisa. A primeira a se manifestar foi Molly, indo de encontro ao filho, encantado com as pessoas que o miravam tão assustadas.
- Roniquinho... é o meu Roniquinho, Hermione?
- É sim, Molly. - a essa altura, ela já chorava.
- Mãe?
Somente Molly ouvira a palavra dita por Rony, que parecia ter a língua presa. Ela o abraçou chorando e o beijando, dizendo coisas um tanto confusas. Então, os presentes compreenderam que não enxergaram demais, a situação era real. Arthur levantou-se e foi até os dois. Quando foram ver, Fred, Jorge, Carlinhos e Gui fizeram o que costumavam quando eram menores: se abraçaram formando um grande bolo. Só faltava Gina para completar a família de ruivos.
Harry foi amparado por Mione, pois estava um pouco fora do ar, emocionado e sentindo um grande alívio: a morte do amigo lhe trazia uma culpa enorme, ele sentia falta das reclamações, das briguinhas bobas. Do seu melhor amigo, que lhe ensinou o significado da palavra família, coisa que ele só teve por intermédio dos Weasleys.
Afastaram-se e finalmente encararam-se. Depois da alegria vieram as dúvidas inevitáveis.
- Que família grande eu tenho... é, bem, peço a compreensão de vocês, é que eu... perdi a memória.
- Não se lembra de nada, filho? - perguntou Arthur.
- Pouca coisa... mas quando descobri minhas origens, quis encontrar vocês.
Harry, ainda pasmo, reparou na cicatriz de Rony, lembrando-se do fatídico dia da luta final. Sem dúvida, era o seu amigo. Rony retribuiu o olhar curioso e reconheceu melhor quem Mione dizia ser seu melhor amigo.
- Harry Potter?
- Não me chame assim. Apenas de Harry já é o suficiente - ele sorrira, mas algo ainda doía em seu peito: saber que nada do que viveram naqueles anos era lembrado.
Um aperto de mão. Lágrimas. Sorrisos nervosos, outros aliviados. Olhares assustados e incrédulos. Porém, um sentimento em comum: o amor, fluindo abundante em cada um dos corações carentes de esperança. Molly era o exemplo mais contundente. Vivera o suficiente para ter seu filho mais uma vez debaixo de suas asas maternas.
