Capítulo 16 - Paternidade Tardia
O dia não poderia ter tamanha perfeição. Cumprimentava a todos com alegria, um certo alívio que fechava o vazio de sua alma. Tantas coisas para ouvir, contar e sentir. Amigos considerados extraordinários à primeira vista, talvez pela empolgação. Molly não saíra de seu lado um minuto. Ninguém conseguira segurar uma lágrima. Carlinhos, Gui, Sirius, Lupin, Harry, Hermione, Fred, Jorge, Katie, Angelina e Arthur estavam estupefatos, e não queriam que o domingo acabasse tão cedo.
- A comida estava boa, filho?
- Ótima! A senhora cozinha muito bem... mãe - ainda era estranho chamá-la assim, porém, imensamente reconfortante.
- Obrigada, meu amor... Agora conte-nos sobre a sua vida, o que faz?
- Bem, sou advogado, mas ainda novato. Casei-me há 4 anos atrás com a enfermeira que cuidou de mim, Hilary. Aliás, nós vamos ter um filho...
- Mais um neto? Desse jeito eu vou realmente acreditar que estou velho! - disse Arthur, em tom de gozação.
- Então... não vai voltar a morar aqui? - perguntou Molly.
- Ainda não sei do meu futuro. Preciso resolver muitas coisas lá em Back Sunset...
- Como? Back Sunset? Você mora lá? - perguntava frustradamente um Sirius desesperado.
- Moro, por quê?
- Eu fui visitar um paciente que estava desmemoriado! Como não te encontrei?
- Naquele dia eu dei uma escapada do hospital - ele sentia-se um idiota.
- Com a enfermeira, né? Nem respeita o hospital, maninho?
Angelina pisou no pé de Fred, e o fez perceber o quão Hermione incomodou-se com a piadinha.
- Falta de sorte. Mas deixa pra lá, o que importa é que você voltou - disse Sirius.
- Também acho. Sua esposa não veio? - tentou consertar Carlinhos.
- Não, eu acabei sabendo do meu passado acidentalmente. Minha cunhada deu-me o endereço da Hermione, eu a procurei e lembrei-me dela. Contou-me as coisas que eu precisava saber, e por causa dela e de Gina estou aqui.
- Peraí, vocês esconderam isso de todos nós por quanto tempo?
- Harry, eu encontrei o Rony anteontem, ele era o advogado que cuidaria do meu caso... Michael Salk, lembra? Então depois de saber quem ele realmente era, fui ao apartamento dele conversar ontem à noite. Gina e Neville foram me procurar no apartamento de Dayana e bateram na porta errada...
- Tudo explicado, foi por isso que ela não quis sair comigo ontem, estava cheia de mistérios...
- Só ela? E o Neville, parecia um louco. Rony, você disse alguma coisa que o enfurecesse?
- Não, ele que se irritou por uma coisa boba. E, qual é o seu nome mesmo?
- Remo, mas pode me chamar de Lupin.
- Desculpe, é que estou meio confuso... Ah, esse Neville não devia estar aqui?
- Ele voltou para Hogwarts - disse Mione, secamente.
- Esse braço aí não se mexe ou eu estou tendo impressões demais?
- Eu não sinto ele muito bem, é difícil movê-lo.
- Resquícios do acidente. - disse Katie - E essa cicatriz? Não some mais?
- Não, mas está tão feio assim? - ele demonstrava preocupação.
- Você é lindo de qualquer maneira, meu Roniquinho...
Molly começou a paparicá-lo como antes, e a cara que ele fez quando ouviu aquela frase provocou risos nos presentes. Rony era o mesmo, detestava aquele apelido! E fazia suas inconfundíveis caretas. Quem menos parecia se divertir era Hermione, pois caíra em si do fato dele precisar voltar para Hilary. Isso a enciumava.
Hilary arrumava as suas coisas no armário e na mesinha de cabeceira. Encontrou por acaso, um antigo caderno de Rony. Nunca olhara o conteúdo das páginas por respeito à privacidade do marido. Portanto, largou o caderno onde estava.
Conseguia trabalhar ainda, e depois saiu para encontrar Luigi e Martha na clínica. O clima não era dos melhores, no entanto o ofício lhe fazia bem. Ao voltar, sentira a falta das reclamações de Rony, de sua presença. Guardou a bolsa e olhou para a gaveta onde estava o bendito caderno. Não podia lê-lo, não podia! Mas a vontade superou a sua razão. Abriu-o e começou a leitura. As angústias dele estavam ali. Algumas ela sabia, outras não. Um sentimento horrendo tomou conta dela a cada página que passava. Lia para si com horror e desespero:
"... Apesar deste vazio, sempre terei um porto seguro. Sei que Hilary jamais me abandonará, posso confiar nela a minha vida, mesmo que não sirva para coisa alguma. A melhor amiga que poderia surgir, além de mulher. Às vezes, não sei se correspondo ao seu amor como merecia, tenho medo de decepcioná-la. Como posso magoar alguém que é tão leal e amorosa? Me sinto um carrasco quando grito com ela. Hoje foi um desses dias..."
"Eu não a amo como deveria. Mas sei que irei compensá-la. Estarei com ela até o último dia de sua vida. Olho-me no espelho e não me vejo, o vazio é muito grande. Meu passado está esquecido, e não importa tanto já que não irei descobri-lo. Somente sei de meu futuro com minha querida e bravinha esposa... que pode ter qualquer defeito, mas não seria capaz de me ferir, me trair..."
Nem ela sabia quanto tempo ficou em sua cama chorando. Doía constatar o mal que por amor ela fez àquele homem! Achava que ela era uma santa! Mentira descaradamente... como pôde ser egoísta daquela forma? Deixar quem ela amava sofrer intensamente ao seu lado?
Guardou o caderno e soluçando, deitou-se para pensar. Foi aí que Cláudia chegou:
- O que aconteceu com você?
- Senta aqui, precisamos conversar.
- É sobre o bebê? Acha que ele continua em perigo?
- Não é isso, pelo menos agora. É sobre Michael.
- Ele mandou alguma coruja?
- Não, até agora nada... é que eu... li o caderno dele, lembra, o azul?
- Claro, e daí?
- Eu me toquei do mal que fiz a ele todos estes anos. Cláudia, eu não suporto mais! Aliás, faz tempo que não estou agüentando. Vendo ele passar um tempo absurdo no banheiro e constatar que ele se olha no espelho com uma expressão indefinida... não se reconhece! Já peguei ele sem piscar e chorando, fixo ao espelho! Sem contar o olhar triste quando minha mãe e eu estamos juntas ou ele ouvia alguém falar bem da família... você sabe, é de cortar o coração...
- Hilary, com todo o respeito, você tomou alguma coisa ou está febril? Não creio no que está a me dizer... finalmente vai contar a verdade para ele?
- Calma, não se empolgue tanto. Não vou contar agora. Esperarei nosso filho nascer. Se eu passar mais nervoso você sabe que pode afetá-lo.
- E o que a Martha disse?
- Que talvez ele nasça prematuro e com alguma má formação... não sei porque está acontecendo isto! Nunca lançaram nenhuma maldição sobre mim, não tenho inimigos tão eminentes... Dayana não teria coragem de fazer algo assim. Só meu pai me olha estranho quando ela diz sobre o bebê... é como se ele me escondesse alguma coisa.
- Acho que não.
- Seja o que for, irei descobrir logo. Mentira tem perna curta.
- Ah, você jura que conhece esse ditado? - perguntou, sarcasticamente.
- Diz que eu não fiz isso!
- Fez sim. Eu lembro, foi ridículo... o Snape até hoje fica irado quando a gente fala!
- É, da última vez ele expulsou a gente da masmorra, não foi, Fred?
- E nós fomos rebolando, ele queria se matar. Nunca ouvi ele gritar tanto...
- Do jeito que vocês falam eu era uma peste!
- Engano seu, Rony. Snape era a peste em forma de cal! - disse Harry, rindo com os gêmeos.
- Mais biscoitinhos? - perguntou Molly.
Molly tinha o costume de entupir os filhos de comida quando estavam lá. Eles reclamavam que ficariam gordos... mas acabavam comendo. Porém daquela vez não tiraram sarro da paparicação materna: a aceitaram alegremente, e continuaram a conversa sobre os tempos em Hogwarts. Rony fascinava-se com cada história, e algumas confirmavam o que Gina e Hermione falavam sobre ele e seus irmãos.
Aliás, Hermione estava quieta, lendo para variar. Molly, Angelina e Katie notaram isso...
- Hermione, o que acha de subirmos um pouco?
- Por quê? Curta o Rony, o dia é seu...
- Devia ser o seu também.
- Não é bem assim...
- É sobre isso que precisamos conversar. Acredite, ler isto não vai ajudar.
- Tudo bem, vamos.
Molly trancou a porta do quarto e Hermione mal sentou-se e estava chorando.
- Querida, chorar faz bem. Depois que colocar tudo para fora, me diga o que está lhe atormentando.
- Eu juro que estou feliz pela volta do Rony, você sabe que esse era o meu sonho, mesmo que fosse absurdo! Mas ele é casado, tem outra vida... é outra pessoa! E esta pessoa não me ama mais.
- Mas pode voltar a amar. Não o conquistou uma vez? Se forem verdadeiros os seus sentimentos, estou certa de que Rony amará você novamente... no início pode ser difícil, mas seja perseverante!
- Neville sempre me amou e eu nunca pude correspondê-lo.
- Acho que meu filho não se encantaria por uma mulher pessimista e fraca... vamos, confie no seu taco! Hermione, você não pode ficar assim.
- Molly, eu agora sou apenas a mãe da filha que ele ainda irá conhecer! Mais nada! Sinto que meus esforços foram vãos, aquele amor imenso totalmente esquecido, jogado fora...
- Ele não te reconheceu também?
- Vagamente... disse que às vezes sonhava comigo.
- E, mais nada?
Hermione intimidou-se um pouco, entretanto, resolvera se abrir...
- Ele me beijou.
- Viu? O Rony mesmo não lembrando direito, sente alguma atração por você. Isto não é um indício que seu pessimismo pode ser inútil?
- Não. Ele vai ter um filho com aquela tal de Hilary. Ela é simplesmente linda!
- E você não é linda também? Querida, não se auto-destrua! Eu já lhe disse isso. Achei que depois desta felicidade, você sairia daquela fossa e ao contrário, está mais desanimada do que antes!
- Não sei como vou competir... nunca disputei realmente o Rony. Algumas crises de ciúmes bobas, mas uma mulher que fosse melhor que eu, ah, com esta situação eu não sei lidar.
- E precisa? O amor não tem manual. Você nem sabe se ele a ama! Vá até ele, converse com todos normalmente. Curta a presença dele, se faça valer e notar. Se não se aproximar, como ele pode sentir algo? Ande! A felicidade está lá embaixo, esperando você conquistá-la novamente.
Molly a mirava com entusiasmo e determinação. Mione pareceu ter uma idéia e sorriu, beijando a mão da amiga com um toque maternal e descendo as escadas correndo. Harry foi o primeiro a ajudá-la:
- Mione, nós estávamos te procurando! Me ajude a confirmar aquela saída que demos de Hogwarts no meio da noite em que o Rony gritou como uma mulher por causa de uma aranha pequenininha...
- Como eu perdi uma coisa dessas! - dizia Jorge, inconformado.
- Harry, francamente! Humor negro não.
- Ele não está acreditando, ninguém melhor do que você, a namorada dele, para confirmar!
A idéia de que Rony e Mione eram um casal não sumiria subitamente. Harry percebera o clima constrangedor que se formou ali, mas ficou feliz ao notar a cor rubra do amigo ao olhar para sua ex-namorada depois do comentário.
- Desculpem...
De repente, surgiu uma aranha pequenina no campo de visão de Rony. Ele simplesmente ficara paralisado, antes de soltar um grito no mínimo comprometedor para um homem...
- Eu sabia que iria funcionar! - disse Fred, vitorioso.
- Pensei que tinha um irmão, ledo engano! - caçoou Carlinhos.
- E tem sim! Que brincadeira idiota, todo mundo sabe que eu tenho medo de aranhas!
- Resolveu virar macho, foi? Duvido muito que você consiga me alcançar!
Dizendo isto, Jorge saiu de casa correndo como uma criança. Katie balançava a cabeça negativamente e se perguntava como conseguira amá-lo.
Rony foi atrás dele, e surpreendera-se quando vira o irmão numa vassoura gritando "filhote de doninha!". Irritado e se sentindo desafiado, pegou a primeira que viu e velozmente tentara alcançar Jorge. Os outros faziam torcida, enquanto Molly pedia para que eles parassem. Jorge furou a árvore rodopiando. Por causa da má coordenação motora no braço esquerdo, Rony desequilibrou-se e caiu antes de chegar lá. Só não acontecera uma tragédia porque Harry e Gui conjuraram vários colchões e eles amorteceram a queda. Mais tarde...
- Eu não pretendia...
- Ah, não? Você sabe que seu irmão não está com o braço bom e não se lembra como se escapa desta árvore! Será possível que você nunca vai crescer?
- Mãe, me desculpe!
- É, você só sabe fazer idiotices. Quanto mais cresce, pior fica!
- Katie, espera aí! - ele foi atrás, mas ela desaparatou.
- Rony, eu não queria que você se machucasse, é sério! Sempre brigamos e tudo terminava nisso... não é fácil aceitar que você não se lembra dos esconderijos, das brigas! - quando percebeu a vontade de dizer besteiras - Ah, esquece, eu sou um idiota.
- Não, Fred...
- Jorge.
- Foi mal. Jorge, você é um idiota, mas acho que eu era mais ainda me metendo nestas brincadeiras infantis e... - olhou para o céu e completou para o desagrado parcial de sua mãe - perfeitas quando não está um sol tão forte assim. Na chuva certamente é excitante voar.
- Rony! Você poderia ter se machucado e diz um absurdo deste!
- Hermione, não gosta de adrenalina? Que eu saiba, brigas não acabam bem, mas podem ser divertidas depois que as analisamos melhor.
- Gosta mesmo de me contrariar!
- Pelo contrário. Só me defendo da sua superproteção materna! Um arranhão é sinônimo de semanas sem poder se mexer, e ao colocar os pés sobre o chão, preparem um caixão... você nunca relaxa?
- Óbvio que você não tem medo de se machucar, tem enfermeira particular!
Demorara, porém ela teve de tocar no assunto que a corroía, deixando-o atônito como o resto da família. Molly foi atrás dela e Harry resolveu conversar com Rony.
- Disse a ela que não seria um boa idéia vir aqui tão cedo.
- Arrepende-se?
- Um pouco. Já perdi o juízo, briguei com um dos meus irmãos, dei o maior fora dizendo como os lobisomens que conheci são chatos... troco o nome dos outros...
- Não há um modo de reverter esta situação?
- Pelo que meu ex-sogro disse, pode me ajudar falando com a irmã dele...
- Ex-sogro? Quantas vezes você casou?
- Uma. É que...
Harry não tinha cerimônias com Rony, a confiança e amizade que ele tinha para com o ruivo era explícita. Rômulo lhe fazia falta, pois confessava suas divergências matrimoniais... entretanto, precisava desabafar certas coisas entaladas e Harry lhe inspirou a segurança desejada.
- Prometo que depois eu te conto essa história de ex-sogro, mas voltando ao assunto, há um modo de eu recuperar a memória. Só estou aguardando uma carta.
- Quem fez isso com você? Que Comensal? O Ministério ainda quer encontrá-los...
- Ah, acho melhor falarmos sobre isso depois, Harry.
- Por quê não quer me dizer?
- Para que tanto interesse? Trabalha no Ministério?
- Custa tanto assim responder-me?
Rony controlou-se e disse por fim:
- Sibila Trelawney.
- Tinha de ser... ela foi a única que sobreviveu naquela tarde além de mim. E de você, claro... - concluiu um pouco aliviado.
- Vamos mudar de assunto? Luigi, o meu sogro, não concorda com as atitudes da irmã. Segundo ele, se odeiam mais do que tudo.
- Então a amnésia não foi provocada por feitiço.
- Foi sim!
- Não, não foi. Obliviate não tem contra-feitiço.
- Como? Você se enganou, Harry. Tem de ter algum, Luigi não me faria de bobo...
- Sinto dizer, mas quando Voldemort executava o contra-feitiço, não tinha um resultado muito bom. Vi uma das vítimas dele que perdeu a memória e ele quis consertar o errinho... perda total novamente. Se quiser mais crédito, pergunte à Hermione.
- Por quê? Ela já cuidou de casos assim?
- Não. Ela simplesmente sabe tudo o que você imaginar. Difícil é a pergunta que ela não saiba responder.
- Não pensei que ela fosse tão inteligente assim. Era cdf! Acertei?
- Sim, e este era o problema de vocês. Ela queria mais dedicação sua com os estudos, e enquanto isto você achava não ser homem suficiente para ela...
- E não sou mesmo! Creio que é uma mulher boa demais para alguém como eu.
- Deixe de ser burro. Mione te amava do jeito que você era. E continua amando...
- Eu percebi desde a primeira vez que a vi. Não queria magoá-la e até isto fiz hoje!
- Não foi sua culpa. Porém, o fato de você ser casado mexe com ela. Tente entender, mulher não aceita isso às vezes. Hermione não aceitaria ser a outra. Nem por você.
- E não passou pela minha cabeça trair Hilary. Quer dizer, passou... mas eu machucaria demais Hermione com tudo isso.
- Em uma coisa você mudou: finalmente pensa nos sentimentos dela antes de fazer uma completa burrada!
- Falando em burrada, como queimou estas mãos? Cozinhando?
- Brincou! Eu não chego perto da cozinha ou Gina me mata. Ontem, tive de sair porque...
A conversa só foi interrompida por Molly minutos depois, que anunciara a partida de Hermione. Rony parou imediatamente de rir do "novo" amigo. Sentiu-se culpado, mesmo não querendo. E quanto a Hilary, ela teria seu merecido troco. O ódio fundiu-se com a dor... e tornou-se uma legítima sede de vingança brutal.
Hermione deixara Kimberly dormindo em casa, pois a menina estava exausta do tão almejado passeio. Precisava ficar sozinha e reorganizar as idéias, e por este motivo, pediu à Gina que não ficassem conversando como era de costume.
Uma hora depois, achando que a filha não acordaria mais naquele dia, resolveu andar um pouco para espairecer. E quinze minutos depois, a campainha tocara...
- Espera aí! - gritava Kimberly, com um mau humor medonho - Mãe, precisava me acordar? Que coisa, tô cansada!
Ao constatar que não era sua mãe quem estava ali, calou-se e esfregou os olhos veementemente. Tocou na mão do estranho, igualmente incrédulo, e soltou vários gritos de pavor, correndo pela casa.
Somente naquele momento, ele percebera que o pedido de desculpas a Hermione fora um fracasso, como Harry o prevenira. Tratara de acalmar sua filha. Já que ela o tinha visto, não havia mais nada a esconder.
- Kimberly! Pare de gritar e me escute!
- Eu não quero ver fantasmas, não... por favor, vai embora! Eu não fiz nada pra você!
- Não sou um fantasma! Estou te segurando, vê?
- Eu morri?
- Não... eu voltei.
- Da onde? Isso é... isso não pode acontecer... meu pai tá morto!
- Não está. Eu perdi a memória, filha. E foi só por isso que ninguém teve notícias minhas essa tempo todo...
- Você não é meu pai! Ele não tinha essa coisa esquisita na cara.
Olhando com mais atenção, a garota não tivera dúvidas de que era o mesmo homem apenas conhecido por fotografias bruxas... e daí surgiu a revolta natural.
- Você pode ser meu pai, mas deixou eu e a mamãe sozinhas esse tempão todo. Você não é legal como o tio Harry diz.
- Eu sofri um acidente, não me lembro de nada antes de isto acontecer.
- Ah é? Como você sabe que sou sua filha, hein?
- Falei com sua mãe.
- Não, ela não ia esconder de mim que viu o meu pai, seu mentiroso! Sai daqui!
Literalmente, Rony não sabia lidar com crianças. A justificativa dada aos adultos não surtiria o mesmo efeito. Contudo, não queria deixá-la só, pois a pequena tremia.
Hermione desistira da caminhada depois de ouvir um dos que a processaram a xingar pela perda de elfos revoltados e incentivados por ela.
Quando ela aparatou em casa, nervosa, encontrou Rony pedindo que Kimberly o ouvisse... e isto foi o suficiente...
- O que você pensa estar fazendo, Ronald Weasley?
- Foi um acidente, eu juro...
- Acidente! Tudo agora é acidental! Sua incrível perca de memória, sua vida cheia de mentiras, seu casamento e a sua ausência!
- Hermione, eu não sou mentiroso! Me acuse do que quiser, menos disso!
- Mentiroso sim, me abandonou com uma filha no ventre para dar uma de valentão e enfrentar Voldemort! Nunca suportou a fama de Harry, queria estar ao lado, ser protagonista de grandes feitos para se mostrar! Conseguiu: todo ano fazem uma homenagem à você em Hogwarts!
- Nunca faria um absurdo deste!
- Parem os dois! - a menina já chorava, tal era a confusão em sua mente.
Kim seguiu para seu quarto. Hermione, antes de consolar a filha, fitou Rony com ódio e disse:
- Você não tinha o direito de quebrar a promessa que me fez... e juro, caso ela me odeie por isso, não te perdoarei para o resto de minha vida! E por favor, suma das nossas vidas, estávamos muito bem sem você aqui!
- Não perderei tudo novamente. Um dia vocês me entenderão, pode estar certa!
