Capítulo 17 – Perda total de coerência
- Kim, eu acho que precisamos conversar melhor.
- Não quero conversar. Você e ele mentiram pra mim.
- Seu pai não estava mentindo, só não falou com você antes porque eu não deixei.
- Como é que é? Você sabia que eu sempre quis meu pai e disse pra ele não me ver?
- Fiquei chocada quando descobri que ele não estava morto e preferi esperar as coisas se ajeitarem para vocês conversarem, mas tudo deu errado...
- Não interessa, você mentiu pra mim! E aquele homem lá não é meu pai, meu pai é o Neville! E se você quer saber, eu preferia que você tivesse se casado com ele!
- Nada é simples assim. Seu pai...
- Eu já disse que ele não é meu pai! E me deixa sozinha, eu não quero mais falar com você. Sai daqui!
Era a primeira vez que Hermione acatava um ataque de histeria de Kimberly. Magoada e querendo esmurrar Rony, procurou Gina. Não pôde dizer que foi uma boa idéia...
- Mione, é melhor nós conversarmos na minha casa, não?
- Por quê?
- O Rony está aqui... Harry e ele estão conversando na sala. Sinceramente, você não quereria vê-lo nem ouvi-lo agora...
- Caso isso aconteça, é capaz de eu mesma completar o serviço de Voldemort!
Acostumar-se a ouvir aquele nome tornava-se impossível para certos bruxos...
- Não diga isso nem brincando, Hermione! Tem seus motivos para estar chateada, mas tudo tem limite. Vamos para casa antes que algum deles perceba que você está aqui.
- Não vai avisar Harry?
- Do jeito que a conversa anda, ele esquece que tem mulher...
Gina, de imediato, foi buscar um copo com água para a amiga, que mal sentou e começou a chorar.
- Mione, ela vai perdoá-lo com o tempo...
- O pior não é isso, Gina! Ela me odeia também, porque eu menti sobre o paradeiro do pai... nunca vi Kim tão infeliz...
- Vocês duas tem o mesmo gênio, logo a raiva passa e ela entende tudo. Não é fácil para uma criança compreender que o pai volta do nada dizendo que perdeu a memória. Foi difícil para nós aceitarmos isso de cara, até agora eu me confundo com esta situação. Saber que meu próprio irmão nem lembra-se de mim! Nós demoramos para nos entender e suportar... aquela guerra nos aproximou demais. E depois deste tempo de angústia, ele volta e diz que não se lembra.É complicado.
- Não estou certa disso. Kimberly disse preferir meu casamento com Neville e que ele é o verdadeiro pai dela. Apesar da convivência, ela nunca disse isso!
- Fez para te magoar.
- E conseguiu. Se soubesse como estou destruída... ver minha filha chorando, com aquele olhar de ódio em cima de mim, que a amo tanto... tenho medo de perdê-la.
- Medo? Hermione, você não é alguém que costuma ser medrosa. E Kim te ama muito. Pare de pensar bobagens!
- Eu não costumo mentir para ela, ensinei que isto é errado.E mevi tendo que concordar que sou uma mentirosa! Por que o Rony fez isto?
- O Harry deve saber, mas eu acho que queria lhe pedir desculpas por fazer você se sentir mal quanto à mulher dele...
- Eu quero agora que ele volte para aquela loira e finja que eu morri!
- Não, você não quer isso. E duvido que ele volte sem o teu perdão.
- Pois vai esperar sentado. Quando você for mãe, Gina, vai me entender: podem mexer comigo, mas com a minha filha, nunca! Ele a feriu, isto é nítido e inaceitável!
- E inevitável. Achava que ela não se revoltaria? Eles nunca conviveram, Hermione!
- Gi, não sei o que fazer...
- Agora não é hora de pensar nisso, está de cabeça quente e isso não ajuda. Deixou a Kim sozinha?
- Claro que não, antes de aparatar pedi para a vizinha cuidar dela, ao menos ficar lá em casa para que não acontecessem mais imprevistos.
- Ótimo. Então você vai descansar bem e depois pensa nos problemas, ok?
Quando Gina falava em descansar bem com um tom cauteloso, Mione já sabia do que se tratava...
- Não quero tomar aquilo.
- E acha que vai dormir sem algum auxílio? Vou preparar a poção e não quero reclamações.
- Sabe quanto tempo durmo quando a tomo? Não posso!
- Não seja teimosa. Dorme aqui mesmo, Harry sempre compreendeu.
- O problema não é Harry. Sou eu! Tenho tantas coisas para fazer...
- Esqueça Dumbledore, Rita, os processos, a audiência, Kim... tudo. Pense um pouquinho em você. Há quanto tempo que não faz isso, Mione? Só vivendo em função dos outros. Se fosse por sua vontade, estaria em Hogwarts lecionando e mandaria Rita para outro mundo, certo? Mas não é bem assim que as coisas vão.
- Talvez tenha razão. Francamente, nunca imaginei minha vida do jeito que é hoje. Planejei tanto lecionar ou trabalhar no Ministério, casar, ter meus filhos... e ser feliz, realizada. E quando eu achei que teria como reconstruir minha vida, tenho é que conviver com mais problemas.
- Não creio que Hogwarts seria um bom refúgio agora, Neville está lá e com um humor perigoso. Mas se não houver jeito e for melhor para você, te apoiarei. Se necessário, cuido de Kim para você, apesar de pressentir que mamãe irá protestar...
- Obrigada, Gina. Você é a melhor amiga que eu poderia ter.
- Não faço nada mais do que você merece. Quando eu precisei, me ajudou tanto... e a guerra nos aproximou também, foi inevitável não temer por nossos namorados!
- Aqueles loucos! Ficávamos desesperadas, lembra?
- E como! Não vou esquecer... o Harry tinha um arranhãozinho e eu já fazia um drama! Você não ficava atrás.
- Francamente, o que o medo não faz!
- Agora vou mesmo preparar a poção. Vamos? Posso errar alguma coisa, nunca fui boa nisso...
- Imagine, é fácil fazer, não tem mistério.
- Para você, qualquer coisa é fácil! É a eficiência em pessoa!
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- Que coruja é aquela?
- Dayana... - sussurrou ele.
"Não tive a ousadia de ler. Foi Luigi que lhe mandou."
Ele abriu o outro pergaminho protegido com um feitiço. Harry ficou curioso, entretanto retraiu-se. Rony notou aquilo e fez algo que deixou o bruxo radiante:
- Harry, você quer ler? Aproveito e te explico aquela história de ex-sogro...
- Tem certeza?
- Claro, a não ser que você não queira.
- Sente aqui.
Então, num momento de cumplicidade, sentaram-se e leram juntos:
"Michael,
Encontrei Sibila como lhe prometi. Ela disse-me que há uma chance de você recuperar a memória, mas não tem certeza se dará certo, já que o mestre dela não obteve sucesso em todas as tentativas. Obliviate não tem um contra-feitiço eficaz até hoje. Tem de se contar com a sorte. Antes que ela desista, é bom você voltar e me dar uma resposta.
Aproveitando a oportunidade, quero lhe dizer que temos outro assunto para tratar, mas não adiantarei nada para não lhe assustar. Prefiro conversar pessoalmente.
Luigi."
- Hilary aprontou alguma - concluiu, muito irritado.
- Você parece desapontado quando fala da sua mulher.
- Pareço? Ela foi a pior coisa que aconteceu na minha vida... Ah, acho melhor irmos para outro lugar, alguém pode nos ouvir e não seria bom.
- Vamos para o seu antigo quarto.
Então, Rony contou tudo sobre Hilary. Depois de desabafar, Harry perguntou:
- Apesar de tudo, você a ama?
- Eu... eu a odeio, já falei como ela foi egoísta!
- Sim, eu entendo a sua raiva... mas não é isso que quero saber.
Rony olhou ressentido para o nada, cerrou os dentes, fechou o punho... e finalmente disse:
- Hilary não era minha mulher, somente. Era sim, meu porto seguro, minha mãe que dava broncas, conselhos. Podia ser um tanto possessiva, mas sabia ser uma boa amiga. Eu gostava muito dela, muito mesmo, e acho que é por isso que dói tanto saber que ela me enganou. Posso não amá-la como deveria... mas mantenho um carinho grande por ela! Vamos ter um filho... como vai ser isso? Antes era tão previsível, agora tão confuso... não sei se devo me separar, deixá-la grávida. Não por ela, mas pela criança. Sabe-se lá o que ela pode fazer por pura raiva.
- Não vou lhe dar conselhos sobre a separação, quem decide isto é você. Porém, vale lembrar: não brigue com ela, não se esqueça do seu filho em momento algum. Isto irá te segurar, isto tem que te segurar.
- Você parece querer muito um filho, não? Quando falou na Kimberly para mim, tinha um tom diferente. Gina é estéril?
- Não, simplesmente ainda não aconteceu. Mas nós temos esperança. Sempre quis ter um filho desde que a guerra começou. Virou um dos meus maiores desejos.
- Você vai conseguir - foi um voto sincero, isto era notável.
- Pretende voltar quando?
- Quando Hermione me perdoar. Eu terei de dar um tempo para Kimberly, mas não conseguirei conquistar a minha filha se ela tem ódio e descrença para comigo. Somente Hermione pode me ajudar nisto, e eu não quero magoá-la.
- Por que sente tanta necessidade em não magoá-la?
- Foi ela quem abriu meus olhos quanto à minha mulher e, mais do que isso, me deu apoio e confiança. Eu não podia traí-la daquela forma. E... bem, como eu já disse, via-a em sonhos às vezes. Apenas os olhos, os cabelos... não conseguia ver seu rosto todo. Descobri do nada o nome dela, me veio na mente quando beijei Hilary pela primeira vez. Maluco, não?
- Ela ouviu?
- Não, e agradeço por isso! Eu não saberia lhe explicar na época...
- E... só?
- Como assim, só? Não quero que ela crie esperanças, aliás estou querendo distância de mulheres! Só me trouxeram problemas. Mas... eu a acho interessante.
"Já é um começo!", pensou Harry.
A conversa progredia e foi interrompida na hora do jantar, que continuou no mesmo clima animado. Molly estava absurdamente feliz! Isto deixava Arthur aliviado mais do que todos. Afinal, ele convivera com as angústias da mulher, que passava noites em claro.
Como nem tudo são flores, Rony resolveu partir depois que soube que Hermione tomara uma poção para adormecer por um tempo. Gina e Harry ficaram na casa de Hermione, que dormia tranqüilamente no quarto da filha. Sim, Kimberly dormia com o casal no quarto da mãe.
Rony estava com tudo pronto. Ao encontrar Kimberly, recebeu um olhar triste e decepcionado, portanto não teve coragem de falar nada, as palavras se esvaíram. Foi aí que viu Hermione deitada. Passou a mão, hesitante por certos momentos, em seus longos cabelos e em seu rosto cansado e ao mesmo tempo delicado. Sentia vontade de protegê-la, apagar aquelas marcas e fazer ela uma mulher mais feliz e sem problemas. O pior é que ele sabia como fazer isso, todavia não queria enganá-la e nem se enganar. Parecia tão simples transformar suas vidas... grande equívoco. Ou não... Afinal, a esperança alimenta os corações de todos...
Não teve coragem de beijá-la. Apenas acariciou-a mais um pouco, perdido em pensamentos e desejos e aparatou, pois já tinha se despedido de todos.
- Quem será a essa hora? - perguntava-se Hilary, que estava lendo.
Levantou-se com uma certa dificuldade e abriu a porta com a varinha. Ao ver seu marido, o abraçou como pôde...
- Michael! Que bom, eu estava morrendo de saudades! Como foi tudo por lá?
Ele a mirava inexpressivo.
- Tudo bem? Sente alguma coisa? Michael, o que aconteceu para você estar assim, perdeu o processo? Michael?
Rony a pegou pelos braços violentamente e disse entre dentes:
- Meu nome não é Michael!
Ela não sabia o que responder.
- A farsa acabou, meu amor. Agora você vai pagar por tudo o que eu sofri... sua egoísta, medíocre...
- Calma, eu posso te explicar se me der tempo - ela gaguejava.
- Verdade? Então pega aquela porcaria de mala que a sua irmã tanto falava, me prova que tudo o que estou pensando de você é mentira!
- Você está me machucando...
- Devia lhe matar, Hilary! Não vai falar? Eu procuro de novo...
Ele a largou e revirou o quarto. Desnorteado, quebrava o que havia na frente. Não encontrando o que desejava, arrastou Hilary até o armário e gritou:
- Tenha um restinho de vergonha nessa tua cara imunda e fala onde tá essa droga! Não adianta olhar para mim deste jeito, eu não quero saber das suas desculpas, só o que me pertence!
- Ronald... tente compreender-me... eu estou errada, mas fiz tudo isso por amor e medo de lhe perder... eu ia contar-lhe a verdade, juro...
- Medo de me perder? - riu-se ele, nervoso - Você nunca me perderia se tivesse me ajudado! Do que valeu me ter aqui nestes anos todos, hein? Eu nunca te amei, você era a válvula de escape. Melhor ter uma mulher do que nenhuma. Mas esqueci do ditado trouxa: antes só do que mal acompanhado!
- Foi a Dayana que te contou, não foi?
- Não envolva sua irmã nisto. Ela era a única pessoa que realmente queria me ajudar!
- Só pode ser ela, ninguém mais sabia disto!
- Cláudia deve saber, é uma tonta. Perfeita para você manipular. Mas não foi Dayana que me contou e não interessa como eu soube. O que importa é que descobri a tempo com o quê eu me casei. Fala logo onde tão as minhas coisas!
Ela, com um feitiço, delatou a famosa mala preta para Rony, com os olhos marejados. Ele praticamente arrombou-a e deparou-se com um sobretudo preto rasgado, que lhe trouxe uma fugaz lembrança de uma espada e de Voldemort. Então, viu os jornais com suas fotos e apelos da família por notícias. Hilary, por infeliz instinto, colocou a mão trêmula e fria no ombro de Rony a fim de consolá-lo, já que ele chorava discretamente a medida que lia. Ele jogou a página e atirou-a na cama, segurando seus pulsos:
- Hilary Salk, não se atreva a nem sonhar em me tocar novamente com estas mãos nojentas. Você me dá nojo, pena... mas começo a achar que não devia sentir nada, porque você não merece nenhum sentimento meu, seja ele qual for... desejo sinceramente que você apodreça num lugar escuro e fétido, onde eu não possa ver nem sua sombra, pois até dela tenho repugnância. Não entendo como conseguiu dormir durante estes 5 anos. Você é igual a Sibila...
- Não, não sou!
- É sim! Nem sei qual das duas é pior! Ela, ao menos, não tem vergonha de dizer que me odeia e confessa a injúria que me fez. Tem mais coragem que você.
- Admito que errei, mas eu ia te contar! Quando nosso filho nascesse eu ia!
- Agora é fácil dizer que ia me contar, que fez tudo num impulso e arranjar qualquer ladainha pra enganar o tonto aqui! Vai saber se este filho é meu mesmo...
Hilary começou a se debater furiosa e vociferou:
- Eu posso ser tudo, Ronald, menos vagabunda! Eu te amo, não trairia você com ninguém! Não sou obrigada a ouvir isso! Estou esperando um filho nosso, tente respeitar ao menos este fato!
- Ah, é? E você respeitou a minha filha? Eu já sou pai, Hilary. Mas graças a sua imensa bondade, eu soube disso um pouco tarde, sabe...
- Você encontrou aquela tal de Granger? - o ciúme dela era explícito.
- Para você é srta. Hermione Granger! A única mulher que me amou de verdade, tá bom? Encontrei-a sim, e daí? Isso não é mais da sua conta!
- Sou sua mulher!
- Não sabe como lamento por isso - disse, sarcástico.
- Você está nervoso. Quando der por si, me compreenderá. Pode até não ficar mais comigo, me abandonar. Mas agora não, por favor, lhe imploro! Preciso de você!
Ele novamente a soltou. Riu-se, olhou para a mala e reparou que havia uma coisinha brilhante dentro dela. Surpreendeu-se ao deparar-se com um lindo anel, onde estava gravado a letra "H". Lembrou-se de Hermione, e a imagem dela apareceu como uma miragem em sua frente. Hilary começou a chorar, entretanto sem escândalos ou grandes soluços... apenas sua respiração era descompassada. Não conseguia levantar-se.
- Eu te odeio com todas as minhas forças... e não conviverei mais com você, me recuso. Nosso filho é outro assunto, eu vou acabar ficando com ele, quer você queira ou não.
- Nem pense em tirá-lo de mim!
- Você não viverá para estragar esta criança. E chego a pensar que o destino é sábio, não permitindo um absurdo desses...
- Isso é uma ameaça? Você vai me matar? Ou são aqueles Weasleys que moram num brejo?
Ele a puxou e esbofeteou-a. Como poderia referir-se daquela maneira à sua família, que o recebeu com tanto amor? A perversidade e o individualismo eram infinitos naquela que se dizia bruxa? Tudo era confuso e principalmente inaceitável. Todavia, Rony não deu-se conta do erro que cometera. Seu temperamento forte e seus impulsos o traíram novamente. Não batia apenas naquela que o enganou... ela carregava seu filho, que antes de nascer já tinha problemas e uma vida predestinada pouco agradável e cômoda. E boa índole não se constrói ou muda-se com tapas e murros. Só o tempo a conserta da melhor (ou pior) maneira possível... e este tempo faltou à Hilary, condenada sem ao menos imaginar. Ela já estava pagando pelos seus erros, porém a vida ainda lançaria-lhe castigos fustigantes.
Cego pela dor e ódio, Rony não cedeu aos apelos da esposa, implorando para que ele parasse sem tentar defender-se.
- Cansei-me de você! Quero que morra, se dane! Vai chorar no colinho da sua mãe, que teve sorte em não ter somente você como filha, sua desgraçada!
Levou a mala com suas coisas consigo e foi-se. Ainda podia ouvir Hilary chamando-o desesperada, a voz falhava-lhe em certos momentos para completar a súplica. Trombou com Cláudia, que ao vê-lo, assustou-se:
- Você está bem, Michael? Ouvi gritos...
- Pode ser algum animal no cil, pura imaginação sua. Aliás, nunca havia reparado o quanto você é dissimulada, Cláudia.
- Do que está falando? - depois de pensar um pouco, perguntou mais espantada - O que você fez com a Hilary?
- Nada mais do que ela merece.
Ao dizer isto com raiva, desaparatou. Cláudia não ouviu ruído algum perto do apartamento, porém queria verificar o estado da amiga. Uma vizinha pediu que a ajudasse com uma poção... e isto demorou um bocado. As paredes eram fortes, no corredor ouvia-se barulhos excedentes que vinham dos apartamentos bruxos com aparência de trouxas. No entanto, nada era escutado dentro dos apartamentos a fim de não perturbar os moradores. Cláudia irritou-se por este fato e quando conseguiu, foi rápido em direção ao apartamento dos Salk.
Ficou em estado de choque ao ver a cena digna de apreciação por Comensais da Morte tradicionais. Seu peito reagiu à estupefatação, dando pontadas que lhe faziam ter uma sensação ruim e incontrolavelmente dolorosa.
Hilary, encostada na parede e deitada, mantinha as pernas ligeiramente abertas e cobertas por sangue. Gostas de suor ainda dançavam pelas maçãs de seu rosto e paravam geralmente em seu nariz, caindo no piso frio. A face apoiava-se desajeitadamente no ombro e no chão. As mãos delicadas repousavam sobre a barriga antes mais saliente... e a respiração não era notável e sim pouco audível. Apenas ouvia-se uma pequena reclamação de alguém que ao ver da medi-bruxaria era um ser. Fraco, mirrado, olhos fechados e quase inerte...
Cláudia saiu de seu transe angustiante e verificou se a amiga ainda vivia.
- Onde está a Sibila?
- Nossa, você foi rápido! Mas aconteceu algum acidente antes de chegar aqui?
- Nada, por quê?
- Sua blusa está manchada de sangue.
Rony somente dispôs-se a utilizar aquilo que nomeia-se cérebro depois do alerta de Luigi. Não poderia entregar-se, confessar seu ato. Então, conseguiu ser cínico o suficiente para disfarçar a preocupação (com seu filho, óbvio... nunca admitiria nem para si que ainda preocupava-se com Hilary).
- Besteira, me cortei. Vamos?
- Tomara que ela ainda esteja onde estou pensando. Teremos de andar meia hora mais ou menos, pois só é possível aparatar num local próximo e abandonado. Sabe como é, Sibila ainda caiu no esquecimento dos Ministérios, mas não do inglês. Seu pai declarou certa vez para os jornais que não descansaria enquanto não encontrasse todos os Comensais que restaram. Não conseguiu encontrar alguns, como pode constatar...
Chegaram em um beco escuro. Andaram por um atalho marcado por pedras que certamente foram postas pela Comensal. Reencontrar Sibila Trelawney foi traumático para Rony, que lembrou-se da mulher. Ela o mirava falsamente condoída.
- Para que abateu-se até aqui, meu jovem? Tomar meu tempo à toa? - sua voz continuava etérea e vertiginosa como o mar.
- Tem certeza que posso recuperar minha memória?
- Apressado... Posso, mas não lhe dou certeza. Meu amado Lord, que as trevas o envolvam para a eternidade, tentou inúmeras vezes recuperar memórias de inúteis que não conservavam bem suas vidas e sabiam demais. Contanto nem sempre isto dava certo. Quer mesmo tentar?
- Quero.
Sibila pegou sua varinha e mirou para a cabeça dele. Quando iria proferir o feitiço, Rony disse:
- Não! Não, eu não quero mais.
- Eu sabia. Desde que Luigi me falou de seu interesse, tive certeza da desistência.
- Sibila, cale-se - disse Luigi, cheio das baboseiras da irmã.
- Sempre grosso, não?
- Obrigado, - Rony não cria que disse aquilo! - mas não quero sua ajuda.
- Então, já que está aqui, poderíamos acertar algumas contas...
Cinco homens brutos e sem camisa surgiram. As marcas negras destacavam-se.
- A bondade de certos homens é considerada uma suprema virtude. Eu simplesmente não a tenho... - disse a mulher, sibilando como uma cobra.
Nota da autora:
É difícil eu colocar notas, mas achei propícia... queria apenas agradecer a todos que me mandaram e-mails comentando a fic (creiam, isto é de suprema importância) e me apóiam: Lisa, Satine, Hariane, Jorge, Lany, Nanda, Leka, Esmeralda, Karol, Patricia... muito obrigada mesmo!
Fui malvada neste capítulo, não? Mas o próximo não demora (eu espero). Rony e Mione ainda brigarão e sofrerão... afinal, a fic está na metade! E quem já está com vontade de estrangular a Hilary, calma! Ela vai morrer mesmo, para quê o rancor... rs
Bem, agora falando sério, obrigada por tudo leitores e se quiserem fazer uma autora feliz mande um e-mail, nem se estiver escrito apenas "eu li e gostei", ok?
Beijos a todos e até o próximo capítulo conturbadíssimo e certamente compridíssimo... rs
-> Não se esqueçam que escrevi a fic há muitos anos, e mesmo revisando-a agora (2006), resolvi não alterar o enredo e as notas de autor.
