Capítulo 21 – Partida
- Você ainda precisa ralar muito pra chegar aos meus pés!
- Não... seja... metido... – disse, ofegante.
- Nem consegue falar direito!
- Hermione! Rony! A comida já está na mesa!
- Vai ter revanche, ouviu?
- Adorarei ganhar de você novamente – ele piscou para ela, irônico.
- Pare de se gabar! - disse, dando tapinhas nele.
Ela correu e ele além de a alcançar, a pegou no colo. Logo a pôs no chão por causa do braço esquerdo, contudo ficara satisfeito quando constatara que a quase ex-mulher os vira juntos.
- Muito prazer, Granger.
- Me chame apenas de Hermione, Hilary.
- Ótimo. Como sabe quem sou?
- Além de ser a única estranha por aqui, Rony mostrou-me fotos suas.
- É bom saber que você tem ciência de que sou a esposa dele.
- De ilusão também se vive, não é?
Depois desta resposta, Hermione foi em direção a Jorge, que igual a todos os presentes, prestara atenção na breve conversa das duas. Rony pediu para Harry, disfarçadamente, alguma poção, pois estava um pouco enjoado e tinha receio de passar mal com o jantar.
O clima na mesa estava ótimo, principalmente porque Hilary manteve-se quieta. Arthur e Gina chegaram quase ao final do jantar, e aquele disse com orgulho:
- Agora você está vivo para toda a comunidade mágica, meu filho! Será feita uma homenagem a você em Hogwarts amanhã.
- Mamãe, eu posso ir? - perguntou Kimberly, animada.
- Não sei...
- Por que vocês duas não vão? - perguntou Rony, o que aborreceu Hilary.
- Tenho algumas coisas para resolver amanhã.
- Hermione, deixe de ser estraga-prazeres! Você está morrendo de vontade de ir. E nós também, afinal não vemos a escola faz tempo! - disse Fred.
- Snape deve sentir uma falta imensa da gente, devemos isso a ele! - ironizou Jorge.
- Vocês dois se comportem! - disseram Molly, Katie e Angelina em uníssono.
- Mione, você precisava falar com Dumbledore mesmo, aproveite! - disse Gina, o que fez Harry lançar aquele olhar "eu estou por fora do assunto" para a mulher.
- Oba! Eu vou ver o padrinho!
Hermione constrangera-se por este motivo. Neville e ela não encontravam-se há um tempo, nem fazia idéia dos sentimentos dele...
- Querida, não pode deixar de ir! - insistiu Molly.
- Tudo bem, vocês venceram...
- Hilary, onde você vai? - perguntou Arthur.
- Amamentar Logan.
- Mas você nem terminou de comer.
- Molly, obrigada, mas eu não tenho fome.
- Não é bom você ficar sem comer - disse Harry, pois Rony mantinha-se indiferente.
- Agradeço a preocupação, Harry, mas prefiro subir e cuidar dele. Com licença.
Todos na mesa olharam para Rony.
- Você não devia deixá-la fazer essas coisas, meu filho.
- Mãe, pouco me importa o que ela faz ou deixa de fazer.
- Caso ela não se alimentar bem, Logan sentirá falta de nutrientes. Você sabe disso.
- Gina, vocês insistiram e não adiantou.
- Mas se você tivesse falado alguma coisa, tenho certeza que ela voltaria atrás - disse Arthur.
- Querem a verdade? Nós brigamos e eu não me sinto bem com ela.
- Nossa, que novidade! Mas ela parece chateada, não dará nenhuma chance?
- Eu já vou te falar o que ela pode fazer com essa porcaria de chateação, Jorge...
- É tão séria assim a briga de vocês?
- Mesmo se nosso casamento não ficasse inválido, eu me separaria dela.
- E Logan? - perguntou Gina.
- Decidirei isso depois - e voltou a comer.
Quando todos já dirigiam-se para suas casas, Hermione ainda perguntou:
- Você não está assim com ela por minha causa, não é?
- Não, já queria distância dela faz tempo. Aliás, eu nem devia ter casado sem amá-la. Como diz meu amigo Rômulo, entrei numa furada.
- Vá com calma, isso tudo pode afetar Logan.
- Eu sei, tentarei me controlar. Não baterei nela de maneira alguma.
- Rony, você agrediu a Hilary? - perguntou Hermione, chocada.
- Nós discutimos, ela me irritou, foi inevitável...
- Ela ainda estava grávida, não é?
- Para quê tocar neste...
- Estava ou não?
O silêncio dele respondera.
- Belo pai, você!
- Hermione, me escuta...
- Eu te disse tanto para se controlar! É por causa disso que seu filho está cego!
- Não! É por causa dela!
Ele explicou-lhe tudo o que aconteceu, até a conversa que tivera com Rômulo.
- Você permitiu que ela fizesse aquela transferência... não acredito!
- Por que o espanto? Ela não me deu tempo!
- Isso diminui os anos de vida da pessoa, sabia?
- Ela quase nem tem vida, Hermione!
- Você pode ter raiva, mas ela é um ser humano! Parece que você deseja a morte dela a cada instante!
- Isso! Defenda-a! Não foi você quem ela enganou e fez sofrer todos estes anos! E pensa o quê, Hermione? Que eu ainda não me sinto vazio? Pensa que não dói saber tudo o que eu perdi por causa desta praga de mulher? Eu tenho motivos demais para não ligar para o destino dela!
- Eu também sofri pela sua ausência, mas nunca faria mal a ela.
- Duvido que você não esteja esperando que ela morra!
- Não adiantaria nada a morte dela, para mim não faria diferença. Continuo achando horrível a sua atitude.
- Ela quis ajudar Logan, eu não tenho culpa nisso.
- Nem pensa em dizer sobre a maldição a ela?
- Luigi pediu-me para não fazê-lo. E eu não seria a melhor pessoa para dar uma notícia dessas.
- No fundo, você gosta dela. A raiva te cega demais.
- O ódio. Raiva é pouco.
- Detesta gostar dela, não é?
- É. Satisfeita?
- Não tenha medo de gostar dela, dê-lhe uma chance. Trate-a bem, como gente ao menos. Ela é a mãe de seu filho e você vai perdê-lo se continuar assim.
Rony percebeu que Hermione estava certa e rendeu-se:
- Você tem razão. Eu sou um ignorante! - abraçou-a e disse - Obrigado.
- Er... já passou da hora de Kim dormir e amanhã terá de acordar cedo...
- Como é Hogwarts? – perguntou, para mantê-la junto dele.
- Só vendo para saber. É tão magnífica que qualquer descrição minha seria insuficiente! É o lugar mágico e trouxa mais lindo que já vi! - dizia, com ares de sonhadora. Separou-se dele, olhou-o atentamente e perguntou: - Por que sorri assim?
- Quê?
- Francamente, em que mundo você está?
- Desculpe, me distraí. Deve ser o sono. Nos vemos amanhã, então?
- E vocês me deram outra alternativa?
- Eu gosto de ver minha família reunida.
- Então não há necessidade da minha presença, oras! Kim vai adorar ir com Gina...
- Você é a responsável pela minha felicidade, Mione.
- Não precisa demonstrar sua gratidão com bajulações.
- Disseram-me que sou teimoso, mas acho que você é muito pior! Preciso de um motivo pra querer você do meu lado, Hermione?
- Boa noite, Rony - disse apressadamente, retirando-se febril de vergonha e paixão.
Ele mantinha uma atração por ela, e isto justificava sua distração: contemplava o sorriso de Hermione, que julgava ser encantador; e realmente apreciava sua companhia, apesar da teimosia e autoritariedade dela às vezes. Surpreendia-se com a bondade dela em relação à Hilary. Nem por amor desrespeitava a moralidade! Hermione não tinha ciência de que conseguira a confiança de Rony. Talvez, plantara nele a semente de seu imenso e indissolúvel amor. Bastava esperar a germinação com paciência e ternura, como diria Madame Sprout...
Hermione não continha-se de tanta alegria, estava a pegar fogo! Quase beijara Rony e ouvir as coisas boas que ele dizia sobre ela era uma dádiva, pois suas esperanças de reconquistá-lo não eram muitas. Kimberly também demonstrara sua aprovação com o comportamento do pai, portanto nada podia dar errado. Contudo, nada mudaria a decisão que ela tomara há meses...
No dia seguinte, o clima era festivo. Entretanto, sempre há alguma picuinha para estragar: quando Dumbledore fazia seu discurso sobre Rony, Hermione estava ao lado de Neville com Kim. Hilary então resolveu provocar o marido:
- Parece que você não canta mais de galo. O gordinho ali tomou posse da sua enferrujadinha e da sua noivinha... - sussurrou.
- Ele é o padrinho da Kim, e da próxima vez que você chamá-la de enferrujadinha...
- Você vai fazer o quê? Comprar um espelho ou uns óculos?
- Não me faça perder a paciência aqui, Hilary.
- E se você a perder, o que eu tenho com isso? Só porque não se conforma com sua condição...
- E que condição seria essa?
- A mulher vive declarando um amor enorme por você trocou-lhe por um professor gordo e sonso, e transformou-o em padrinho da sua filha. Não duvido, ainda que a menina o chama de pai. Deplorável a sua sorte...
- Nisto eu concordo. Sibila desejou tanto mal a mim que eu acabei casando com você.
Sorriu vitorioso e ainda lançou um olhar a Hermione. Porém, quem o retribuiu fora Neville, nada amistoso. Percebeu a presença de Hilary e sorriu para ela, que fez o mesmo gesto de aprovação.
As atenções voltaram-se para Rony, que fizera um discurso um tanto confuso por não querer demonstrar sua emoção. Mirava Hogwarts enquanto falava e sentia-se feliz por estar ali, contemplando aquela maravilha que Hermione não quisera descrever. "Como sempre, ela tinha razão", pensou ele.
Visitou o castelo inteiro. Mais fascinado do que ele estava Kimberly, que sempre desejou visitar o lugar. Dumbledore e os outros professores receberam Rony chorosos. Minerva não continha-se. Exceto Snape, óbvio. Ele apenas apertou a mão do rapaz perguntando-se internamente porque voltara. Rony entendera o recado, pois não gostara de Snape nem um pouco.
- Isto é perfeitamente normal, Severo não aprecia muito os grifinórios.
- Aquele não deve gostar nem da sombra.
- Alegra-nos imensamente a sua volta, Rony! A lástima é que não recorde-se dos momentos em que vivera aqui.
- Algumas coisas vagas passam pala minha mente, mas nada de concreto.
- Eu sei, não é o primeiro aluno desmemoriado que encontramos. Porém, sempre algo resta em nosso subconsciente. Por atos de coragem como o seu, de Harry e todos que participaram da guerra é que o nosso mundo está sem inimigos tão eminentes, afinal, o mal existirá a partir do momento em que há uma boa alma na Terra.
- Acho que sei do que está falando - disse, desgostoso, pensando em Hilary.
- Percebo que está aflito.
- Sinto-me mal por não conseguir lembrar das coisas que vivi aqui, das pessoas...
- Isto é notável desde quando o vi, e não posso dizer que este vazio acabará com o tempo. Mas pode-se esquecê-lo se conseguir ser feliz com o que restou de bom em sua vida. E há outra coisa nítida para mim: você está insatisfeito com algo, sentindo ódio. Isso destrói muita gente, Rony. Não deixe-se corromper por ele.
- Nada escapa aos seus olhos, diretor?
- Quase nada. - disse, risonho - Mas você não sabe mentir, como dizia Hermione... - agora ficara pensativo.
- Ela sempre tem razão.
- E coitado de você se disser o contrário a ela! Vocês eram muito amigos, só não digo irmãos porque seria uma mentira.
- Hermione é uma pessoa boa.
- Tinha certeza que perceberia logo. A profecia nunca falha.
- Do que está falando?
- Um dia você descobrirá - seu sorriso e olhar enigmático escondido nos óculos de meia-lua iluminaram-se.
Harry parou em frente ao lago da lula gigante e lembrara de alguns episódios. O torneio tribruxo, o primeiro beijo dele e de Gina, a morte de Hagrid, a aparição de sua mãe numa fria noite de inverno... tudo ocorreu perto daquele lago, o qual ele evitava por talvez temer as lembranças que ele lhe trazia. Sentiu falta de Lílian e Tiago. Desejava internamente que ela aparecesse flutuando no lago outra vez para ele contemplá-la, matar um pouco da sua adimensional saudade. Sem contar Tiago, que apareceu-lhe outras vezes de maneira igualmente memorável. Perdido em tristezas e amarguras, não pôde notar o calor da mão de Sirius.
- Tenho muitas lembranças daqui, mas creio que sejam mais agradáveis que as suas...
- Sinto falta deles.
- Eu também, Harry. Eu também - suspirou.
- Não queria voltar a ficar perto deste lago, mas não consegui desta vez.
- Fugir da dor não a alivia. Não tenha vergonha de chorar, solte tudo mesmo.
Sirius abraçou paternalmente o afilhado e disse mais para si:
- Chore, pois minhas lágrimas já secaram há tempos. Somente a ferida ainda sangra, e acho que não vai cicatrizar.
- Onde você vai?
- Onde mais, Neville?
- Não acho saudável este seu ritual.
- Ponderar-me não diminuirá minha dor.
- Você vai ficar depois?
- Vou.
- Saiba que não serei rude contigo. E perdoe-me pelo comportamento infantil daquela noite.
- Tudo bem, quem sou eu para lhe julgar! Vamos ter um bom relacionamento como antigamente, você verá.
- Eu realmente espero. Não gostei de aborrecer-me justamente com você. A Kim está inclusa no pacote, não é?
- Prefiro que ela passe um tempo com Harry e Gina.
- Por quê?
- Eles insistiram, e não deixarei-a com Molly.
- Ela é a avó! É natural que queira cuidar da neta na sua ausência! O que há? A esposa de Rony parece ser boa gente.
- Temo, ainda assim temo muito. No lugar dela, não sentiria-me bem morando com a enteada.
- Não achei que fosse tão dura.
- Ela não gosta de Kim, eu sinto!
- Você sente é ciúmes dela.
- Neville! Não é por isso! E tem mais: você simpatizou com ela porque é a esposa de Rony, não?
- Que bobagem!
- Quer mentir para mim? Desculpe, mas você não tem capacidade pra tanto! Não deixo e está acabado. Começamos bem a nossa convivência!
Hermione ainda conversou com Minerva e Dumbledore. Gina quis tomar conta de Kimberly e assim ela foi embora, sem despedir-se de Rony.
Quando todos juntaram-se, ele deu por falta dela. Hilary estava feliz por isso, e continuou a ninar o filho.
- Onde Hermione foi?
- A um compromisso muito importante que não é da sua conta. - disse Neville.
- Ela foi fazer uma visita - disse Gina, olhando feio para Neville.
- Você vai na casa da madrinha comigo, Rony?
- Com um convite assim, por que eu iria recusar?
- Padrinho, o senhor não fica bravo? É que a mamãe disse que eu não podia ficar aqui com você.
- Claro que não. Vá com... o Rony e Gina. Prometo que este fim de semana visitarei você - disse, afagando os longos cabelos dela.
- Michael, estou exausta. Vamos pra casa da sua mãe?
- Hilary, vá sozinha. Eu tenho um compromisso com a Kim.
- Tudo bem - disse, despeitada.
- Hilary!
Kim a chamou e ela mirou a garotinha espantada.
- Por que você chama ele de Michael?
- Porque eu o conheci com este nome.
- Tá... mas, esse nome é muito feio. Chama ele de Rony que fica mais bonito!
- Vou tentar.
Hilary queria matar a menina, afinal fora ela quem escolhera o nome Michael. Porém, Kim ainda deu-lhe uma espetada sem notar: disse-lhe um tchau bem amistoso.
Neville e Kimberly tiveram uma conversa franca, ele a incentivou a conhecer e dar mesmo uma chance a Rony, mesmo que isso lhe doesse e amedrontasse.
Harry não foi para casa com Gina, e sim fora atrás de Hermione. Rony estranhou a saída do amigo, mas a irmã disse-lhe que logo ele voltaria. Desconfiado, acreditava que o sumiço dele e de Hermione tinha alguma ligação, porém calou-se e começou a brincar com filha, incansável e alegre.
Apesar da insistência, Rony não arrancou nada de Harry sobre o paradeiro de Hermione, contudo não desistiria fácil.
E nisso, ficara perplexo quando recebeu outra notícia no dia seguinte:
- Mãe, por que está triste?
- Nada de importante, filho.
- Não minta...
- Hermione deixou Kim com Gina - desabafou.
- E o que há de mal nisso?
- Ela não lhe contou nada, não é?
- Não - disse, curioso.
- Ela estudou Feitiços, e já tinha licença para lecionar. Só não o fez por causa das confusões da Rita Skeeter. Agora, com tudo em ordem, ela foi dar aulas em Hogwarts. Só voltará nos fins de semana e deixou a Kim com a Gina e o Harry. Não é que eu ache ruim, mas eu queria cuidar da minha neta...
- Por que ela não deixou? Não entendo! Sabe que estou tentando me aproximar da minha filha! Que motivo mais esdrúxulo é esse?
Hilary desceu e Molly olhou para ela e depois para Rony.
- Consegue compreender? Porém, não a culpe: Mione não achou conveniente justamente porque vocês ainda estão se conhecendo. Tudo tem a sua hora, meu filho.
- Rony, eu acho que precisamos conversar.
- Sobe que eu já vou - disse, rispidamente. - Essa mulher é o carma da minha vida!
Arthur aparatou surpreendentemente n'A Toca.
- Rony, eu consegui! Agora pode dizer que é novamente um Weasley!
- Isso quer dizer que Logan já pode ter o Weasley no nome?
- Cuidei disso, já está tudo acertado. Mas não conseguiria esperar a noite!
Os três abraçaram-se felizes. Hilary observava a cena, e não sabia se alegrava-se também por Rony, ou entristecia-se por tê-lo perdido definitivamente.
