Capítulo 27 – Correspondência
- Mãe, eu não agüento mais!
- Gu, só mais um pouquinho... O médico já vai chegar...
O garoto gritava a plenos pulmões, a Marca Negra exibia sua cobra verde florescente dançando animada. Gina entrava em total desespero. Harry viajara um dia antes e voltaria na semana seguinte, conseqüências do campeonato.
Teve de chamar quem Dumbledore lhe indicou: um homem chamado Fabian Creeland, ex-Comensal da primeira guerra.
- Gina, acho melhor você sair.
- Deixe-me ficar, por favor...
- Chame algum familiar para lhe fazer companhia, prefiro analisá-lo sozinho.
- Tudo bem... - ela tinha medo, mas teve de confiar.
Mal chegou na sala e encontrou uma carta. Pelo aspecto, sabia que era do pai de Augustus. E a resposta a animou um bocado naquele instante: ele conseguiria livrar o menino daquele sofrimento. Porém, ela tinha de aguardar quatro dias para a Marca sumir. Afinal, Voldemort apenas estabeleceu uma relação entre ele e os demais Comensais, só podendo ser realmente um deles se matasse alguém com uma Maldição Imperdoável.
Contudo, ela ainda ouvia os gritos do pobre garoto e chorou compulsivamente, temendo que ele não suportasse a dor. Desejava estar no lugar dele, queria arrombar a porta e ficar ao seu lado. Entretanto, adormeceu entre angústias.
Acordou ainda transtornada, em virtude da noite conturbada.
- Mãe? Cadê o Gu? O que aconteceu? Onde eu estou? - ela tentou levantar-se, mas não conseguiu.
- Não fique agitada, querida... ele está bem.
- E que raio de lugar é esse?
- Você sabe bem. - Molly parecia decepcionada - Por que não nos contou?
- Pensei que nada iria dar certo como da outra vez! Mãe, eu...?
- Não. Mas precisa ficar em repouso absoluto.
- Quantos dias eu fiquei aqui? Nem lembro de sentir alguma dor...
- Sim, você dormiu e o Fabian viu o sangramento. Te trouxe para cá e nos avisou.
- Harry sabe de algo?
- De tudo.
- Está muito decepcionado?
- Foi inevitável. Mas agora ele está mais compreensivo. Posso deixar ele entrar?
- Não... eu quero ver o Gu primeiro...
A reação de Harry era temida por Gina, mesmo que Molly tentasse acalmá-la. A presença do filho talvez lhe desse mais força. Contrariando as ordens da mãe, abraçou o menino e cansou-se de tanto fazer perguntas sobre sua saúde e os dias que passou sem ela, coisas de praxe num diálogo de uma verdadeira coruja. Somente depois disso, Harry entrou.
- Como se sente?
- Bem.
- Eu não vou brigar com você. Só queria uma explicação.
Os olhos dele não a enganavam: dissera a verdade. Portanto, ela tinha de fazer o mesmo para quitar...
- Em uma das suas primeiras viagens longas, descobri que estava grávida. Fiquei empolgada, mas queria contar quando você voltasse. Só mamãe sabia... e eu abortei. Não houve motivo específico, estresse, nada. Como disse Madame Pomfrey, simplesmente "não segurei" a criança. Não faz muito tempo que descobri esta gravidez, mas temia que tudo se repetisse e resolvi esperar até o quarto mês. Você começou a desconfiar, perguntar porque eu rejeitava seus carinhos. Então resolvi me afastar, fiquei nervosa. Desculpe, foi por medo, mas eu iria lhe contar logo.
- Você podia ter compartilhado isto comigo, não lhe condenaria de modo algum. Mas, deixe para lá, o importante é cuidar da sua saúde e da dele... ou dela, vamos demorar pra saber ainda, não? - ele sorriu ao dizer aquilo.
- E se eu não conseguir?
- Continuarei te amando na mesma intensidade, e te apoiarei muito. É o seu destino, Gina: me aturar em qualquer situação!
- Se meus problemas se resumissem na tua presença, seria alguém feliz!
- E não é?
- Estou brincando... - riu-se - quando saio daqui?
- Estava demorando para você me fazer esta pergunta! Não sei. Mas uma coisa é certa: da cama você não sai enquanto não estiver forte.
- E seus treinos?
- Ficarei fora até os jogos finais.
- Não quero que se prejudique por minha causa.
- Se você é teimosa, sou pior ainda.
Olharam-se e começaram a rir de suas expressões e diálogos. Harry beijou-a antes da enfermeira lhe expulsar pelas risadas, que eram ouvidas no corredor.
Augustus ficou um pouco inseguro com a vinda do bebê, porém era uma coisa normal. Desde que ele demonstrasse isso, claro. Guardava o ciúme para si, e descontava principalmente em Kimberly, que às vezes se assustava com as ações dele.
- Desculpe, eu estava nervoso...
- Deu pra perceber.
- É sério, eu não gosto de brigar com você.
- Mas quase me jogou na escada porque te ofereci um doce! O que tá acontecendo?
- Nada.
- E você acha que ajuda quem escondendo isso?
- Kim, eu não quero falar sobre isso.
- Mas eu quero. Você tá ficando insuportável e é só comigo. O que eu fiz?
- Nada.
- Augustus Weasley Potter... - ela pegou uma das manias da mãe.
- Tá! Eu falo! Estou com ciúmes do bebê! Satisfeita?
- Gu, você acha que a madrinha e o tio Harry não vão mais gostar de você por causa dele? Que bobagem! Eu nem tenho ciúmes do Logan, sei que o papai gosta de nós dois do mesmo jeitinho.
- Mas você é filha do Rony.
- Vou fingir que não ouvi isso, ok? - disse, muito irritada.
- Mas é a verdade!
- Você está sendo egoísta! Por acaso lembra porque a madrinha tava no hospital? Por sua causa! Porque tava muito preocupada! Já vi ela conversando com minha mãe e ela só sabe te elogiar, e isso é desprezo? Sinceramente!
Ela saiu bufando e deixou-o a ver navios.
- Como uma garota de seis anos pode ter um gênio desse? Mas o pior de tudo é que ela tem razão, sou um idiota!
Lupin, aos poucos, voltou ao normal. A luta de sua namorada e de seus amigos não foi vã, e ele voltou a lecionar em Hogwarts. Hermione e Rony, noivos, estavam tão felizes ao ponto de começarem em reformar o apartamento meses depois. O aniversário de Kim, como ela afirmava, foi o melhor dentre os outros que recordava-se.
Com a reforma maluca (o casal vivia discordando quanto a cores e detalhes), Rony ficava de olho na casa... e ficou surpreso com a carta que recebeu.
"Rony,
Por favor, leia esta carta até o final... é importante.
Cumprirei nosso acordo: você cuidará de Logan quando eu me for, só peço que seja um tanto sutil nas coisas que contará sobre mim a ele, pois apesar do escândalo que fiz naquele dia no hospital, descobri que o amo, não importando como ele é. Logan é meu maior e único tesouro, que protegerei ocultamente.
Foi uma pena lhe magoar, mas não me arrependo de ter mentido para você. Tenho a convicção de que dei-lhe uma prova do meu amor, sendo ela louca ou egoísta. Porém, tenho amor próprio e somente desisti de você porque, na verdade, eu tenho medo. Medo até de entregar Logan. No entanto, não tenho escolha.
Aquelas surras que me deu fizeram-me te odiar e temer. Este é o forte motivo para eu, em vez de chegar na sua cara e falar tudo o que está engasgado, escrever. Pode rir, considerar-se vitorioso por me humilhar e conseguir que eu largasse do seu pé. Só espero que não esqueça de quem lhe deu a vida novamente. Sibila aconselhou-me a deixar-te lá, mas não quis. Agora não sei se foi uma boa escolha.
Poupei Hermione por um motivo óbvio que talvez você nunca entenda e muito menos acredite: somos mães, e este é nosso único ponto em comum. A enferrujadinha é uma chatinha, mas eu imagino o quanto sofreria sem a mãe. Sibila nunca prestou, e eu devia isto para muita gente. Inclusive, era uma questão de honra da família: papai sempre foi frouxo o suficiente para não enfrentá-la, apesar de ter potencial para tal.
No mais, tivemos bons momentos e prefiro lembrar deles às vezes. Creio que não nos veremos, pois tenho uma longa e importante viagem a fazer.
Que você seja feliz com o destino e mulher que escolheu, pois nada posso fazer a este respeito, a vida é sua agora.
Você sempre será o meu Michael. Meu e de mais ninguém, e você entende bem do que falo e sinto ao concluir isto.
Hilary."
Rony não entendera bem o real significado daquela carta, nem estava perto do aniversário dela para falar-se em morte! Dobrou a carta, soltou um muxoxo e decidiu não mostrar a carta para Mione por enquanto.
- Recebendo cartas, maninho?
- Carlinhos?
- É, mamãe disse que você tava enfurnado aqui. Por que o espanto?
- Nada, pensei que fosse outra pessoa.
- Escondendo algo da Mione?
- Não escondo nada dela!
- Ok... - respondeu, irônico - E o baixinho, como vai?
- Graças a Merlin, muito saudável e alegre! Continua vivendo para rir.
- Fico feliz por você, e orgulhoso também. É um bom pai.
- Faço o possível para estar junto dele e de Kim. Nunca pensei que fosse tão bom!
- Um dia respondo se você está certo. - disse, sorrindo - Mas eu preciso ir, passei aqui só pra te dar um oi, amanhã tem o almoço de família e noto que você está meio ocupado... - ele olhava desanimado para os bruxos que decoravam as paredes de amarelo claro.
- É, um pouco. - Rony tomou coragem e pediu - Carlinhos, não diga que recebi esta carta, ok?
- Sabia que neste mato tem gnomo! O que é isso aí?
- Minha ex-mulher falando besteiras confusas.
- Confusas? Deixa eu ver.
Carlos o mirou apreensivo e disse:
- Acho melhor você voltar para a Austrália rápido.
- Ficou com dó? Ora, por favor!
- Não. Estou querendo dizer que esta longa viagem dela é uma sem volta. Pode ainda ter ressentimentos, mas acho importante estar ao lado dela e principalmente de Logan nesta hora.
- Carlinhos, ela não vai morrer. O aniversário dela já passou!
- Esqueceu da transferência?
- Mesmo assim, acho loucura. Ela só quis me atiçar, como sempre.
- Tudo bem, se é essa a sua conclusão, não tenho mais nada a te dizer...
Naquele instante, Rony mudou de idéia: contaria para Hermione. Um dia ela descobriria e poderia ser pior. Ele realmente achou a imaginação do irmão fértil deveras. Recusava-se a crer nas afirmações dele, pois se Hilary sentisse que a morte chegara, faria um dramalhão para ele voltar para lá e despedir-se dela, e não pediria distância como fizera. Nada tinha nexo e por isso redirecionou sua atenção às paredes amarelas.
Kimberly contou à madrinha as preocupações de Augustus, e a solução que Gina e Harry encontrou foi conversar muito com ele...
- Nós somos seus pais, os únicos que lhe amam de verdade, Gu. Você ganhará um irmão, e não um rival - disse Gina.
- Sei que me adotaram por não conseguirem ter filhos.
- Pensamos na adoção por este motivo sim, mas não escolhemos você por falta de opção ou desespero. Sentimos que você tinha de ser nosso, encantamo-nos por você. Agora, sei que te amo, você é meu filho e ninguém pode me dizer o contrário, é como se tivesse saído de mim. Só de pensar em lhe perder eu quase me sacrifiquei! Não podia suportar a idéia de vê-lo sofrer daquela maneira cruel e injusta e não transferir este sofrimento para mim...
- Temos orgulho de ser seus pais, e nada irá mudar nosso amor. Sempre terá nosso carinho e apoio, mas terá que dividir-nos um pouquinho com alguém que aprenderá muito com você. Um amigo presente e que não irá partir, como pode acontecer com os outros. Aquele que você terá vontade de proteger, esconder os podres...
- Dá para ver que seu pai não entende nada de relação entre irmãos, não é? Harry, a graça de ter um irmão é justamente dedurá-lo!
- Grande exemplo você está dando para ele!
- E para você também! Estou sendo verdadeira. Adoramos os irmãos, Gu. Eles são companheiros e tal, mas às vezes são chatos e pegam no nosso pé com aquela conversinha mole: eu vou contar pra mãe! - ela fingiu uma vozinha infantil e lembrou-se das brigas com os gêmeos e Rony.
- É assim mesmo? - perguntou, sorrindo pela reação de Harry ao ouvir Gina.
- Sua mãe está exagerando.
- Tive seis irmãos homens! Minha experiência nisto é vasta, Harry. Você era testemunha das minhas desavenças com Rony.
- Por exemplo, quando ele proibiu você de chegar perto do Colin e na verdade estava se encontrando comigo? – riu-se.
- Por que o tio não gostava que você tivesse namorados, mãe?
- Possessividade pura e simples. Ele não suportava ver garoto nenhum me olhando.
- Ele queria te proteger, de certa forma.
- Homem só protege homem, é impressionante!
O garoto riu muito ao ver a ironia dos pais. Era bom ver as briguinhas tolas deles. Cada vez mais, convencia-se que os amava e este amor era recíproco.
Hermione estava praticamente nas nuvens naquele dia: Dumbledore a deixara ir em uma sexta-feira. Faria um jantar romântico na casa que fora de Sirius, pois queria ficar só com Rony e fazer-lhe uma surpresa.
- Angelina, para que você me tirou do trabalho mais cedo e me trouxe aqui?
- Pare de reclamar e entre, Rony!
- E você? Não vai entrar?
- Não... vá sozinho.
- Isso não está me cheirando bem...
- Entra logo! - Ela o empurrou, impaciente.
- Sacanagem sua! Está tudo escuro e não há ninguém!
Ela trancou a porta. Quando ele pensou em arrombá-la...
- Lumus!
- Hermione? Só pode ser ilusão. Quando eu encontrar a Angelina, ela me paga!
- Não é ilusão, Ron. A noite é somente nossa.
- Se demitiu?
- Muito engraçadinho! Simplesmente fui liberada um dia antes. Gostou da surpresa?
- Adorei...
Ele espantou-se com a sensualidade dela: um vestido vinho delatando todas as suas formas por ele julgadas perfeitas, cabelos alisados, lábios parecendo molhados, pernas à mostra somente por uma fenda que alargava-se com os passos lentos dela.
O perfume que ele sentiu ao chegar mansamente na nuca dela provocou nele sensações incrivelmente prazerosas. Beijou-a com intenções além das que ela queria naquele instante...
- Rony, agora não! Vamos jantar e conversar um pouco. - riu ela.
- Você só pode estar brincando - ele agora ocupava-se em apalpá-la e beijar seu pescoço.
- Quem deve estar brincando é você! Não me arrisquei nesta comida à toa. Já chega!
- Então da próxima vez não coloque este perfume! Aliás, você nunca usou este tipo...
- Claro, eu o fiz com Neville...
- Como é? A namorada dele permite que vocês fiquem sozinhos?
- Deixe de pensar bobagens, nós somos amigos e ele me ajudou a fazer um perfume novo, todos que tenho fomos nós que criamos.
- Acho que não estou gostando disso...
- Nem eu! Esqueça o Neville e sente.
Depois de um tempo jantando, ele disse:
- Até que você não está tão mal na cozinha, sabia?
- Também acho, mas você podia me falar isso de uma maneira mais sutil, né?
- Queria que eu dissesse: Mione, tá melhor que a mamãe!
- Você sabe realmente ser gentil – concluiu, seca.
- Não vai ficar brava agora, vai?
- Não. - ela tentou se controlar - Rony, Colin ou outra pessoa me escreveu?
- Nesses dias, nenhuma coruja chegou - ele gaguejou um pouco ao dizer.
- Tem certeza?
- Absoluta.
- Você está me escondendo alguma coisa.
- Desconfiança agora não! - disse, revirando os olhos - Me livrei de uma e arranjei outra desconfiada...
- Hilary te mandou alguma coisa?
Ele desviou o olhar e tomou coragem para pegar a carta e entregar a ela.
- Quando você vai para lá?
- Por Merlin! Eu não vou ver aquela criatura! Ela vai fazer uma viagem, e espero que seja pra bem longe de mim.
- O termo longa viagem é uma dica! Não foi usado no sentido literal! Ela sente que vai morrer mas ficou com medo de dizer, é óbvio!
- Você quer decidir isto por mim?
- Só estou dizendo que seria importante a sua presença.
- Importante pra ela fazer o drama e pedir o último beijo? Hermione, me poupe!
- Não quer ir, não vá. Só deixo bem claro que se quiser, não vou restringir.
Eles calaram-se e não se olharam. Hermione pensava que ele queria ver Hilary pela última vez e não admitia a si a ela. Depois de um incômodo silêncio, ele começou:
- Você está mais linda do que nunca.
- Não exagere.
- Estou falando sério. E só de pensar que tudo isso é meu...
- Isso é chantagem!
- Eu adoro te beijar, o que posso fazer?
- Rony, mais um pouco e vou cair dessa cadeira!
- Essa é a idéia...
Hermione acordou com uma horrível dor nas costas, mas ao lembrar-se do motivo da dor, sorriu maliciosamente. Levantou-se com dificuldade, pois estava debaixo da mesa e podre de cansada. Procurou Rony e chorou ao ver o simples bilhete: "Segui seu conselho. Pode estar certa que logo voltarei. A noite foi maravilhosa, mas minhas costas estão acabadas! Beijos, Rony."
- Luigi?
- Renata, me deixe sozinho.
- Está aí desde ontem à noite, acho melhor ir para casa.
- Onde está Hilary? - perguntou, ignorando a preocupação dela.
- Com Melanie, suponho.
- Perfeito. Martha está aí?
- Não, por quê?
- Nada. Vá descansar você também, Rômulo já disse que cuidará de tudo e Cláudia está ajudando. Tem gente suficiente aqui.
- Tudo bem, mas não faça nenhuma besteira, por favor.
- Não farei.
Ela ainda desconfiou da promessa dele, porém não o contrariou. Luigi andava apreensivo: o filho de Sibila o avisou que a maldição se cumpriria antes do esperado por causa da transferência de energia que Hilary fez a Logan. A partir daí, ele abria a caixa negra todos os dias. Em uma dessas vezes, surpreendeu sua filha observando o objeto. Pouco tempo depois disso, o número se revelara a Luigi junto com uma data, que acabara de chegar impiedosamente. Ele tinha um plano, e o colocaria em prática quando tivesse certeza de que não havia ninguém no corredor.
Deparando-se com a calmaria do local, pegou sua varinha e tentou explodir a caixa, como fez há anos. Nada. Abriu-a e chegou a pronunciar magia negra. Nada. Tentou sumir com aquela nuvem cinza com vários feitiços. E como sempre, nada.
A nuvem desenhando números no ar tornou-se uma só. Estava pronta para ir ao encontro de Hilary, numa velocidade inatingível. Foi aí que Luigi fez uma loucura: pôs-se na frente dela. Como um ácido, ela o corroeu lentamente...
Rony, exausto, porém determinado, aparatou na casa de Melanie.
- Michael? Ah, desculpe... Ronald. O que faz aqui?
- Vim ver Hilary.
- Está brincando?
- Não. Chame-a, por favor.
- Está no quarto com Logan.
Ele abriu a porta cuidadosamente para não assustá-la. Hilary ninava Logan cantando uma bonita melodia, e sua voz o acalmava também. Não podia negar que a voz da ex-mulher era encantadora, e sua aparência de mãe zelosa a deixava com um ar diferente, maduro e acalentador. Ela virou-se, mas não o viu: olhava o bebê com os olhos marejados e fixos. Quando notou Rony, seu coração disparou.
- Você não avisou que vinha buscá-lo - sussurrou.
- Não estou aqui somente por causa dele...
- Acho que não entendi.
- Aquela sua longa viagem era um jeito de disfarçar...?
Hilary suspirou decepcionada e colocou Logan no berço.
- Você não tem mais nada a ver com isso.
- Por mais mal que tenha me feito, eu gostei de você.
- Sua mulher não vai gostar disso.
- Ela me incentivou a vir.
- Fale a verdade: veio para se certificar que a safada da sua ex-mulher vai mesmo morrer.
- Não, eu juro.
Ele tentou se aproximar, contudo ela recuou com um pavor incrível.
- Por favor, não chegue perto de mim - estava realmente receosa com ele.
- Não vou te machucar, pare de fazer drama. Você não tem medo de mim.
- Detesto admitir, mas tenho. E espero que me respeite um pouco.
- Tudo bem, eu não chegarei perto... - ele começou a crer no medo dela.
- Preciso ficar sozinha com ele.
- Estarei na sala, ok?
- Ok.
Nunca a viu chorar daquela forma silenciosa e tão dorida. Lágrimas grossas adornavam seu belo rosto. Os olhos estavam mais azuis, os sentimentos sinceros. Ela passava as mãos trêmulas e geladas no filho, que adormecia profundamente. Sussurrava coisas inaudíveis para Rony, que assistia a cena igualmente emocionado e segurando o choro. Uma nuvem negra surgiu na janela e a atravessou. Pairou sobre Hilary, todavia ela não a notou.
De repente, a neblina a envolveu. As mãos dela e de Logan separaram-se. Olhou para o ex-marido e sussurrou:
- Diga para Logan que eu o amei até o último instante, e não esqueça que também te amo, meu querido Michael...
Ele virou-se para não assitir Hilary sendo transformada em pó aos poucos, com cada parte de seu corpo sendo "devorada" pela fumaça cinza que enegrecia a cada segundo. A maldição se cumprira. E Rony ficou aos prantos quando não ouviu mais os ruídos cruéis que invadiram o quarto. Logan dormia como um anjo.
