Capítulo 29 - Profecia
Naquele dia, Kim quase teve um surto.
- Logo você vai pra lá também.
- Vai demorar muito! Mas você vai me escrever, né?
- Claro, não vou esquecer da minha prima invocada...
- Não sou invocada!
- Tá bom. - disse, com um risinho no canto da boca - Vou sentir tua falta.
- É por isso que está triste assim?
- Não só. Anna não veio para se despedir.
- Vai ver ela não quis.
- Ela não pôde, tenho certeza.
Frida trouxe a garota, que saiu correndo e quase derrubou Augustus no abraço.
- Pensei que você não vinha!
- Desculpa a demora! Eu vou sentir muito a sua falta, Gu.
- Eu sei. Também vou sentir a sua. - ele ficou vermelho ao dizer isso.
- Toma.
- O que é isso?
- É pra você se lembrar de mim. Mas não abre agora.
- Tudo bem. - ele notou que Kim não estava mais lá - Tia Mione, cadê a Kim?
- Voltou para o carro. Não quis chorar na sua frente, decerto.
- Eu vou atrás dela. Anna, eu vou te escrever e contar como é Hogwarts, tá?
- Vou ficar esperando.
Ele limpou uma solitária lágrima da menina e saiu correndo. Harry foi atrás dele, inutilmente. O garoto estava determinado a encontrar a prima. Entrou no carro e começou:
- Antes que você me diga que sou injusto e dou mais atenção para Anna, me ouça: adoro você, mas tem que aceitar minhas outras amizades! Vou escrever tanto para você quanto para ela. Gostei do presente que me deu...
- Nossa, e como! Vi a cara de bobo que fez quando pegou o presente dela. E ainda ela teve coragem de dizer pra você as mesmas coisas que eu! Pra abrir o presente depois, e que com ele você se lembraria dela! Aposto que quando chegar, vai jogá-lo fora!
- Kim, eu não preciso de presente pra me lembrar de você!
A menina limpou seu pranto e o observou perplexa. Augustus sentiu-se intimidado com aquele olhar confuso e indecifrável dela e se foi, acompanhado de Harry, que ouviu toda a discussão e pensou: "Eu acho que eu já vi esse filme..."
A despedida foi horrível: Gina chorava e não queria largar o filho. Harry também sofria, e mantinha o semblante carregado de preocupação. A esposa o mirou e compreendeu a aflição dele.
Kimberly conseguiu ver o trem sumindo, e sentiu seu coração bater num ritmo descompassado. Sua mãe e seu primo partiram. Anna aproximou-se e disse:
- Ele gosta de você, tanto quanto gosta de mim. Por favor, não fique com ódio porque somos amigos...
- E quem disse que me importo?
Ela se dava bem com Anna quando Gu não estava por perto. E isto fazia Hermione e Rony divertirem-se, observando como ela mudava de comportamento.
Gina carregava a pequena Lílian, de um ano e meio, no colo. Com os olhos verdíssimos do pai e os cabelos ruivos da mãe, parecia uma cópia de Gina quando bebê. Harry derretia-se todo, e lembrava-se com doçura o dia do nascimento dela. Declarava-se à Gina, que estava morrendo de medo da sua aparência depois do parto.
Hermione não engravidou, e ao menos não desejava isto tão cedo. Todas as expectativas dela em ter mais um filho de seu amado esvaíram-se com Logan... agitado tanto quanto o pai. Mesmo enxergando depois da morte da mãe, ele teve problemas com a visão, passou a usar óculos. As piadas eram tenebrosas sobre o assunto. Hilary era míope e por causa de um artifício do pai, conseguiu disfarçar a imperfeição, tinha horror aos óculos. Só que Dayana avisou Ron disso um tanto tarde.
Aliás, a médi-bruxa quis continuar o trabalho de Luigi de uma forma diferente: deixou que Martha, Renata e Rômulo ajudassem a cuidar de seu patrimônio. Melanie tomava as decisões no lugar dela, era agora a dona daquela renomada clínica bruxa. Não sentia um pingo de culpa pela morte de Luigi, entretanto ignorou a raiva que cultivara antes. Lupin e Dayana moravam juntos na casa que foi de Sirius.
A primeira coruja de Augustus criou um clima de expectativa em todos, que se reuniram n'A Toca para lerem.
"Pai e mãe,
Hogwarts é muito linda! Adoro ficar olhando para o teto de noite, e acho que os outros me acham tonto por isso, mas tudo bem. Fiquei com medo daquele chapéu, ele me julgou demais, falou muita coisa pra mim. E não sei se vocês ficarão chateados comigo, mas decepcionei a família. Sim, sei que não gostarão nada de saber: fui pra Sonserina. O raio daquele chapéu me disse que um dia eu entenderia o motivo de ir pra lá, mas juro que implorei pra ele não fazer isso!
No mais, até que tem gente legal aqui. O irritante é agüentar o Malfoy e o diretor da casa: o Snape. O cara é velho e chato demais! Ficou tirando sarro de "um Potter vir parar na sonserina". Queria matá-lo depois dessa!
Conheci o Sam, ele é muito legal apesar de ser sonserino. O meu único amigo que não é falso e não ri da minha cara. Fiz amizade com uns grifinórios também, eles não me rejeitam tanto. E adoro as comidas daqui! Não estou querendo dizer que a comida da mamãe não é boa! Mas os elfos capricham...
Dumbledore é o que me salva. Ele é muito divertido. Conta umas piadas muito boas. Minerva não gosta muito, mas ele nem liga.
A matéria que mais gosto é poções, e não importa que o professor seja um mala. Ainda bem que Snape não pode mais dar aulas! Só as histórias que vocês me contam sobre as aulas dele me desencorajavam de estudar...
Um tal de Creevey fica me perseguindo, isso é normal?
Com carinho,
Gu."
- Sonserino... - sussurrou Harry.
- Eu já esperava, mas mesmo assim estou surpreso.
- E decepcionado - completou Molly.
- Mãe, toda a família é grifinória. É normal estranharmos - disse Gina.
- Eu sei, mas não deixem que o menino perceba. Já está se sentindo excluído e envergonhado por não ser grifinório! Não piorem isto! O apóiem em tudo que ele necessitar, e não façam essas caras! Ele é sonserino, e daí?
- Ele não pode mudar de personalidade?
- Carlinhos, é lógico que não!
- Você conhece algum sonserino que presta, mãe?
- Meu neto é diferente. E eu não sou mais obrigada a ouvir estes absurdos!
Gina também acreditava na bondade do filho, e poderia perfeitamente matar seu irmão com o olhar. Rony, um tanto alheio à questão do caráter de sonserinos, não dava opiniões, mas sabia que precisava mandar uma coruja para Hermione sobre o assunto.
- Desculpe, Harry. É que fiquei receoso...
- Tudo bem, Carlinhos. Sua reação é normal. E eu sabia bem o que aconteceria se minha intuição estivesse correta.
- Tio! Eu queria falar com você...
Carlinhos já estava envergonhado o suficiente perto do cunhado, portanto Kimberly foi sua salvação. Deixou-os sós.
- O que foi?
- O Gu não vai ficar mau, né?
- Claro que não. Você não confia nele?
- Confio nele, mas nos outros...
- Hermione vive pra lhe dizer isso, não é? Posso te garantir que se ele perceber esta insegurança, ficará chateado. E tem mais: acha mesmo que aquele garoto preocupado com você ficaria ruim?
- Não, mas tenho medo! Aquele Snape é muito chato mesmo! E aquele filho do Malfoy deve ser nojento como o pai...
- Ele vai se sair bem - Harry tentava encorajar a menina, e a si também.
- Ok, eu não vou mais ficar encucada. Será que ele também me mandou coruja?
- Pergunte pro Rony, tenho certeza que ele já mandou alguma coisa.
Dizendo isto, Rony veio com uma carta na mão.
- O Gu mandou pra você.
- Eu não disse?
- Obrigada aos dois! - ela saiu correndo para ler sozinha.
- Sabe, a Kim sempre foi muito grudada com ele, nunca vi igual!
- Os dois se dão bem, ele vivia falando nela lá em casa. Parecem um certo casal que conheço...
- O que você está querendo dizer com isso? - Rony nunca deixou de ser lerdo.
- Não me interprete mal, só acho que daqui há alguns anos Kim e Gu podem...
- Harry, minha filha é muito nova e eles são só amigos!
- Eu dizia o mesmo de você e Mione na época de escola...
- Não venha com essa! - Rony ficou irritado.
- Ok... - ironizou - Onde está o Logan?
- Adivinha! Katie e Angelina tomam posse dele quando chegam.
- Não seja ciumento.
- Ciumento, eu?
- Neville que o diga...
Havia uma nova guerra se iniciando na Inglaterra, e toda ajuda que vinha para reprimir os seguidores de Voldemort que se uniram era bem-vinda. Harry não quis se meter à princípio, pois estava cheio de sofrer com batalhas; porém Gina e Lílian quase foram seqüestradas, e sua revolta foi grande.
Rony também cismou com aqueles vândalos e se apresentou para ajudar no que fosse necessário, e foi comunicar isto à Hermione pessoalmente, pois precisava falar com Dumbledore...
- Eu não acredito! - ela bufava de raiva.
- Mione, preciso fazer alguma coisa! Eles estão chegando em Londres!
- Você já teve experiências demais com guerras, chega!
- Não sou uma criança indefesa!
- E eu não quero te perder de novo! Escuta aqui: você agora tem dois filhos pra cuidar, infelizmente tenho que trabalhar e não posso me dedicar somente a eles!
- Tá jogando na minha cara que você ganha mais que eu?
- Francamente! Eu lá estou discutindo questões financeiras?
- Não, mas quer dominar a minha vida!
- Quero preservá-la!
- Só vim aqui te comunicar a minha decisão, não pedi sua aprovação.
Ela ficou boquiaberta com o que ouviu e disse:
- Faça o que quiser, se mate! Mas não vou deixar meus filhos abandonados para comprar uma briga perigosa dessas! E saia daqui!
Quando notou que ele estava longe, pôs-se a chorar desesperada. Uma hora depois, Dumbledore bateu na porta...
- Desculpe a ausência nas aulas, mas nem lembrei delas.
- Eu entendo. E acho que preciso lhe dizer algumas coisas.
- Tem que ser agora? – perguntou, secando o rosto.
- Tinha de ser há muitos anos atrás.
- Como assim?
- Lembra da profecia que ajudou-nos a destruir a maior parte dos Comensais?
- Perfeitamente. O que tem ela?
- Não a revelei de todo.
- Claro, me lembro quando disse que seria perigoso lê-la até o fim.
- Mas eu a li. E você sabe que faz parte dela, tanto quanto Harry, Rony...
- Não entendi onde o senhor quer chegar...
- Desde o início, eu sabia que Rony sumiria por algum tempo e voltaria.
- Por que não nos disse isto antes?
- Não sabia onde ele estava, e achei prudente não revelar nada mais que o necessário, perdão.
Mione ficou perplexa, pois sofrera aquele tempo todo para nada? Mas resolveu ser paciente com o diretor, e compreender suas razões: do que adiantaria saber que Rony estava vivo e não poder encontrá-lo? Nunca ela pensaria em Back Sunset. Portanto, ignorou o comentário depois de alguns minutos em silêncio.
- Dumbledore, agora ele quer entrar nesta guerra de novo, e francamente não sei o que fazer para impedir!
- Simplesmente não o impeça.
- Como é que é?
- Deixe o destino cuidar de tudo. E além do que, vocês nunca irão se separar.
- Como posso crer nisto!
- Vocês são o que chamam de amores eternos. Depois que se encontram...
- ... amam-se durante toda a vida e compartilham a morte como um doce destino de eternizarem seu sentimento...
- Tinha certeza que você leu algo a respeito - disse, com sua serenidade habitual.
- Isto é inconcebível, Dumbledore!
- Inconcebível? O amor que você sente por ele é imaginário?
- Claro que não! Eu o amo e por isso não quero que ele corra riscos...
- Portanto, avalie a dimensão de seus sentimentos e veja se eu estou errado.
- Mas eu não quero que ele morra!
- Se ele morrer, será ao seu lado - sentenciou.
Depois de dizer isto a ela, Dumbledore se foi calado. Detestava mentir, porém foi necessário deixar que Rony aparecesse sem que ele interferisse com a história da profecia, tão bem guardada em sua sala e protegida por Fawkes.
Ela ficou pensativa, pois fazia sentido de acordo com o que tinha lido sobre os bruxos pré-destinados a ficarem juntos. Lamentou o fato de não poder impedir o marido de entrar na guerra, mas resolveu conformar-se. Decidiu conversar com ele, não quis tocar no assunto da profecia. Contudo, Rony já sabia dela por Dumbledore. A única coisa que o sábio diretor não mencionou era se ele sobreviveria, o que fez ele ser mais cauteloso com suas ações. Só o fato de amar Hermione e saber que era correspondido à altura ou até de um jeito mais generoso, confortava a idéia da morte estar perto, especialmente se ela fosse consumada com sua amada...
