Capítulo 30 - O castanho dos seus olhos

- Você poderia ter morrido!

- Mas não morri!

- E ainda por cima deixou um garotinho de 3 anos sozinho! Acha mesmo que Kimberly e Augustus poderiam protegê-lo?

- Não aconteceu nada, Hermione! E eu estou cheio de você! Cheio!

Geralmente, este era o tipo de diálogo mantido por Rony e Mione. Se ofendiam, diziam coisas que não queriam, machucavam-se. Ela passava noites aflita, ele ficava atento a qualquer som estranho: seu sono começou a ficar leve, a carga de preocupação com Kim e Logan o sufocava, não suportaria se algo acontecesse a eles.

Justo no dia em que teve de deixá-los sozinhos, Rony quase morreu em uma emboscada e um dos loucos vingadores de Voldemort tentou entrar na casa, porém o feitiço de proteção foi mais forte. Hermione, ao saber de tudo isto por causa de Gina, teve ímpetos de matar o marido. "Como ele pode ser tão egoísta? Sofro tanto com tudo isso, vendo pessoas inocentes mortas novamente, agoniando-me porque meu amor sempre está correndo perigo e nunca me ouve! Até quando não conseguirei dormir em paz? Até quando terei de brigar com Rony? Sinto tanta falta do início do nosso casamento, dos beijos, das carícias, das conversas. Nada mais é como antes. Não sei se fico feliz lembrando do que Dumbledore me disse, ou me desespero por começar a achar que perderei Rony novamente e ele está falando isto só para me acalmar, apesar de ser um bruxo tão correto..."

Escrevia rapidamente em seu diário, desenterrado do armário de lembranças mantido em perfeita ordem. Precisava de alguém para desabafar, e nem sempre os amigos estavam dispostos a ouvi-la. Fazia quase um ano que aquele inferno começara e Dumbledore garantia o fim daquele alvoroço. Contudo, as notícias do Profeta Diário lhe confirmavam o contrário.


Rony estava com uma dor no corpo suficiente incômoda para ele gemer um bocado, antes de realmente despertar e constatar que nada fazia parte de um pesadelo: fora seqüestrado. O lugar não tinha nenhum atrativo, a não ser os ratos. Debatia-se e gritava ameaças, e ninguém parecia lhe ouvir. Até que uma baixinha apareceu...

- Kim?

- Oi, pai. Vim trazer comida pra você.

- Como? Mas o que tá...?

- Não posso te contar, apenas come o que eu te der, ok?

- Você está enfeitiçada, minha filha?

- Não! - ela começou a se irritar, mas não tinha escolha.

- Onde estão Logan e Hermione?

- Seguros, muito bem mesmo. O que importa é o senhor agora. Come, vai...

Ele observava os olhos castanhos da menina, que ilustravam sua tristeza em mentir para o pai. Contrariado, porém lembrando-se do fato da filha ser teimosa, comeu o que ela lhe ofereceu. Percebeu que havia um tipo de portal por ali, devia ser uma entrada secreta, a qual ele jamais poderia alcançar sem varinha e amarrado daquele jeito.

- Por favor, me conta o que está havendo. Não posso deixar você e seu irmão desprotegidos...

- Nós estamos bem, e não precisamos mais de proteção.

- Onde estamos?

- Não posso dizer. E prometo que volto à noite para dar seu jantar, ok?

- Kimberly, você não pode fazer isso comigo, eu preciso sair daqui! Não importa o que lhe mandaram fazer, você tem de me obedecer!

- Desculpe...

- Kimberly, volte aqui!

A menina sumiu pela parede, como se a tivesse atravessado. Inicialmente, ele desesperou-se, e não conseguia pensar em nada além de como os filhos estavam, o motivo de Kim mentir para ele, quem a forçou a fazer aquilo, se houve tortura. Sentia-se impotente diante de tudo. No silêncio do lugar, começou a lembrar de Hermione, o quanto ela afligia-se desde que ele entrou naquela confusão, passou a lutar. Refletiu finalmente a intensidade dos sentimentos dela, pois como não podia fazer nada em prol das crianças e dele mesmo, ela possivelmente sentia-se só e amedrontada, não importando sua aparência de forte perto dos outros.

Culpou-se pelas brigas, arrependeu-se, admitiu a falta que tinha da esposa. Murmurou seu nome, os momentos com ela lhe vinham à mente. Chamou-a mais alto, a vida no início do casamento lhe ocorreu. Bradou com veemência o nome dela, quando as palavras ofensivas ditas durante tantos meses lhe aturdiu. E percebeu o real motivo de a contrariar: queria mostrar-lhe que poderia protegê-la, não aceitaria se ela envolvesse-se numa batalha, necessitava provar seu valor e seu amor à sua família. Levava cada súplica de Hermione como um desafio, como se ela sempre insistisse em reprimir suas vontades e decisões e imprimir a dela, única e exclusivamente.

Alguns dias depois, disse à Kim:

- Você pode falar com sua mãe?

- Não. E nem gostaria que você falasse.

- Por quê? - ele espantou-se.

- Todas as vezes que vocês se encontram, acabam brigando. Não é fácil ouvir as coisas que saem dessas brigas. Vivia a tampar os ouvidos de Logan, ele chorava muito quando isto acontecia.

- Eu só queria proteger vocês.

- Nós queríamos que você se protegesse também. Como acha que eu me sentia ficando sozinha em casa? Às vezes, passava noites preocupada. Não era toda vez que a madrinha podia ficar comigo. Não suportava mais ver a mamãe chorando também.

- Sei que não vai me contar o motivo de eu estar aqui ou se você pode falar com sua mãe ou não. Mas saiba que a amo muito, e queria me desculpar por tudo isso.

- Desculpar e voltar a dar uma de valentão?

- Não, eu prometo. Esqueço a guerra, esqueço tudo. Faço até o que Dayana e Lupin sugeriram.

- Sério?

- Sério.

- Termina de comer - disfarçou ela, por não acreditar na promessa.

- Eu não queria fazer você sofrer também, minha filha.

Ela encarou-o com os olhos marejados.

- Eu sei. Mas você fez tudo errado...

- Deixa eu acertar então: me tira daqui.

- Você não tá dizendo isso pra eu te libertar, tá?

- Não, mas foi você que planejou isso?

- Não interessa.

Saiu rápido e chorando, deixando Rony chamá-la em vão. "Disse o que não devia de novo! Será que eu nunca vou acertar?"


- Oi, Harry! - Neville animou-se por vê-lo, mas surpreendeu-se com a resposta.

- Não diga a ninguém que me viu, ok? Tenha um bom dia.

Estava igual à aquele dia em que agrediu Cho Chang no campo de quadribol: possesso. Poderia matar alguém como olhar. Sua voz engrossara absurdamente, sua têmporas em tempos de explodir, não olhava para os lados e andava a passos largos. As pessoas em quem esbarrava estranhavam e comentavam. Chegando no único lugar que lhe interessava, ignorara as recomendações que Gina lhe dera e fez o que o instinto ordenou...

- Nunca ensinaram-te a bater antes de entrar na sala dos outros, Potter?

- Não se tem consideração com um homem sem palavra válida.

- Do que está falando?

- Que história é essa de você dar uma de bonzinho pra cima do meu filho!

- O que você teme tanto, Potter? Que seu filho goste mais de mim?

Harry deu-lhe um murro. O homem aborreceu-se e eles começaram a duelar. Remoíam antigas mágoas junto com o ódio momentâneo. Prateleiras caíam e vários vidrinhos voavam a cada tombo que eles levavam (não quebravam por causa do feitiço anti-quebra). Depois de muito azararem-se e até lutarem corpo a corpo, Harry já tinha uma perna machucada e não conseguia levantar-se: apenas mirou o outro, esperando uma reação. Tinha uma varinha apontada para si, e nos pensamentos do homem que ainda conseguia manter-se de pé, a vontade era lançar a Maldição Imperius.

Ofegantes e inertes, não deram muita atenção para a repreensão de Minerva, totalmente abismada como estado da sala. Foi chamar Dumbledore, enquanto eles tentavam dialogar.

- Faça o que ela disse, Potter. Suma daqui.

- Não antes de você me dizer o que quer de Augustus.

- Nada. Eu apenas o defendi, afinal, sou o diretor da Sonserina e o professor dele. Se um grifinório vem caçoar de um sonserino na minha frente, não fica impune e você sabe bem disso. Não é nada pessoal. Manti minha palavra e não me arrependo do que fiz no passado - disse, num tom baixo, porém austero.

- Acho bom mesmo. Contudo, se eu ouvir ele dizer "nunca pensei que o Snape poderia ser tão legal e compreensivo comigo" ou se você der um conselho pessoal que seja a ele, eu te mato. Você ouviu?

- Você se dá importância demais. Não tenho medo de ninguém, que dirá de você. Se está inseguro deste jeito, é porque sente-se fracassado com o garoto. E disto, eu não tenho culpa. Se vire, mas não venha me agredir na minha sala por um motivo tão idiota deste.

- Pode até ser idiota pra você. Mas trata-se de alguém que eu amo e não quero perder para quem o abandonou!

- Eu somente espero que você mantenha a boca fechada. Não quero que ele saiba o nome do progenitor.

- Se depender de mim, esta informação infeliz morre comigo.

- Agora vá embora daqui, antes que eu lhe leve arrastado.

Mancando, Harry saiu da sala. Encontrou Dumbledore e Minerva no corredor. O diretor o levou para a ala hospitalar e ela encarregou-se de ajudar Snape no que fosse necessário. No fim das contas, os dois tiveram de ser atendidos por Madame Pomfrey, entretanto, não se viram.

- Não podia deixar isto barato. Ele estava se aproximando do Augustus!

- Severo me garantiu que não quer nada, e você sabe como ele é em relação aos sonserinos. Pela frente, os trata como filhos. Pelas costas, faz jus a seu nome. Este seu ciúme não levará a nada.

- Você acha que se dissesse para ele que seus pais eram sonserinos, ele sofreria menos com as piadas?

- Acho que ele desconfia que os pais foram da mesma casa que ele. Mas não chega a saber realmente quem eles eram. Harry, ele tem orgulho de você e de Gina. Apenas se sente mal pelas brincadeiras sem graça.

- Sou um idiota mesmo! Mas no fundo, não quero perdê-lo. É esta idéia me amedronta.

- Eu sei. Mas ele te ama demais. Não se deixe abater pelo ciúmes, porque amor é algo tão puro e louvável que não deve ter egoísmos. Quer que eu o chame?

- Quero - Harry finalmente sorrira para o diretor.

Augustus, quando viu-se só com o pai, correu para abraçá-lo. Não importava o fato de há uns dias estar em casa, sentia falta dos pais da mesma forma.

- O que você veio fazer aqui?

- Resolver uns problemas com Dumbledore. Como anda o braço?

- Pai, a marca já sumiu.

- Eu sei, mas mesmo assim...

- ...fica preocupado com a minha saúde. Mamãe e eu já decoramos este discurso...

- Sou tão chato assim?

- Não chega a ser chato, mas é preocupado demais. Às vezes pareço ser de vidro. Quando Lílian crescer, coitada...

- Coitada por quê?

- Dizem que os pais são mais rígidos com as filhas. Então, se algum garoto olhar pra ela você estará encomendando o caixão do infeliz! - ele ria.

- Quando você for pai, vai entender de onde vem todas estas preocupações tolas. Aliás, eu achava graça no jeito que Molly tratava-me. Agora eu a entendo. Gina também fala isso.

- Queria que ela estivesse aqui.

- Nem tudo sai como a gente quer, né? Bem, hoje será apresentado o novo capitão do time e eu não posso me atrasar.

- Obrigado.

Harry não entendeu, e o menino explicou:

- Estou te agradecendo porque você me escolheu, e agora sou feliz. Amo demais o senhor. Não importa que o Malfoy me chame de Potter falsificado, eu sei a cada dia que você me ama mesmo e que sou realmente seu filho, um Potter, apesar de tudo.

Estão se perguntando o que Harry fez diante daquilo? Primeiro, espantou-se. Depois, chorando como uma criança, abraçou o filho. Fawkes observava a cena alegre, e Dumbledore abriu a porta devagar só para ver o que estava acontecendo.

Severo, um tanto longe dali, aliviava-se intimamente por Augustus estar nas mãos de alguém que nunca o abandonaria, não importando as circunstâncias.


- Mione? - Rony parecia ter visto um fantasma.

- Kimberly me deu o recado.

- Aceita minhas desculpas?

- Apenas se você desistir daquela idéia maluca de se arriscar. Já chegaram umas cinco ameaças pra mim, tudo mencionando o seu nome. Basta, não é?

- Ok, não vou mais me envolver em nada.

- Então vamos fazer o que Lupin sugeriu?

- Como assim, "vamos"? Pensei que você não quisesse...

- Se é para a nossa segurança, aceito qualquer sacrifício.

Ela parecia surpresa com aquela atitude. Sentou-se ao lado dele e afastou os fios ruivos que cobriam seus olhos. Sorria e balançava a cabeça negativamente de leve.

- Por que você está rindo de mim?

- Francamente, eu não consigo te entender.

- Também não entendo o porque de você me prender aqui. Não adianta me olhar com essa cara de ofendida, sei que isto foi idéia sua.

- Não mesmo.

- De quem poderia ser então?

- Kim e Gu planejaram isto tudo e me contaram. Você não nos deu outra opção, resolvi compactuar.

- Você poderia ter conversado comigo direito, né? Não precisava disto tudo!

- E por acaso você me ouviria calado, Rony?

Ele olhou para os próprios sapatos, inconformado com o fato de, mais uma vez, ela ter razão.

- Mas você me deixou quase louco aqui! Pensei que tinham enfeitiçado Kim!

- Imagino o choque causado pela situação, mas não tivemos escolha. Era isso, ou te perder de vez!

- Por que sempre acham que alguma coisa de ruim vai acontecer? Isto não é uma guerra! É um tipo de revolução!

- Rony, se você se lembrasse do passado, duvido que se envolveria com qualquer coisa relacionada a luta.

- Ah, é? Harry está fazendo o quê?

- Você sabe que a animação dele foi-se quando voltou a ter pesadelos e premonições horrendas! Apenas protege a família e ainda assim joga quadribol!

- Como sabe que ele desistiu por isso?

- Ele me contou.

- Anda fazendo serão na casa dele, é?

- Ora, francamente! Quantas vezes terei de repetir que Harry é meu amigo, hein?

- Você também era minha amiga, Hermione.

- Mas eu não queria ser somente a sua amiga, e essa é a diferença!

- Esquece - caíra em si da bobagem que disse, mas não se desculparia de novo.

- Difícil.

Ficaram sem se encarar e falar por um tempo, carrancudos. Rony lentamente direcionou seu olhar à coxa de Hermione, pois ela não reparou que uma das pernas estava à mostra, visto que mantinha-as juntas e encolhidas. Ela deu um profundo suspiro e rendeu-se a sua curiosidade: olhou para Rony. Ele tinha vontade de abraçá-la, porém estava preso. Ela compadeceu-se e jogou um contra-feitiço nas cordas. Sentindo-se livre, ele fez o que desejava e foi correspondido com um beijo. Lembrou-se portanto, como era bom beijar Hermione e achar que não havia mais nada ao seu redor. Fazia meses que ele não tinha aquela sensação.

Permaneceram horas matando as saudades, e ninguém se ocupou em ver se eles estavam bem ou não.

Naquele mesmo dia, Gina e Harry combinaram de sair e deixar Lílian com Dayana, que não saiu de Londres. Ele iria do treino direto para o restaurante...

- E então, como foi?

- Tivemos uma pequena discussão.

Gina ergueu uma das sobrancelhas e lançou-lhe um olhar perigoso.

- Ok, eu quase deixei o seboso sem uma poção nas prateleiras!

- Harry, quando você vai me ouvir?

- Perdão, mas eu tive meus motivos. O importante é que está tudo bem agora.

- Falou com Gu?

- Sim. Você nem acreditaria nas coisas que ele me disse! Ele nos ama, Gina. Nosso esforço não foi em vão, a escolha foi certa - ele pegou na mão da ruivinha ternamente.

- Creio nisso a cada carinho dele! E Lílian se dá tão bem com o irmão, não é?

- Espero que isto se mantenha. Porque já bastam as briguinhas desnecessárias entre Gu e Kim...

- Aqueles dois! Posso jurar que são a réplica fiel de um casal que conhecemos bem...

- Não me surpreenderia se quando ele crescer, se interessar por ela!

- Eu também não! - os dois riram, e Harry lembrou-se da vez que insinuou aquilo a Rony, que não gostou nada da idéia.

- Como foi o treino?

- Bom - era quase um sussurro.

- O que você está me escondendo agora?

- Gina, que necessidade é essa de não deixar eu explicar as coisas, fazendo conclusões rápidas deste jeito?

- Preciso te lembrar há quanto tempo nos conhecemos?

- Não beba o resto do vinho, então.

- Por quê?

- O que eu tenho pra te falar é chato, mas espero que você não venha com desconfianças pra cima de mim.

- Não estou entendendo... - e nem estava gostando.

- Bem, os pais do Ralph foram assassinados.

- E?

- Ele deixou um capitão de substituto, assim não precisaríamos mexer tanto no time.

- E?

- Você por acaso esqueceu quem é a mulher dele, atualmente?

- Harry Potter, se você ousar dar uma de bonzinho pra cima dela, eu juro que...

- O que combinamos, Virgínia?

- Não importa! Agora aquela maldita da Chang vai te encontrar toda semana e eu não poderei fazer nada!

- E nem vai mesmo. Ela já nos deu dor de cabeça suficiente! Claro que não gostei, mas tenho de admitir que ela sabe administrar bem um time, o Ralph sabe o que está fazendo, por incrível que pareça.

- Não passarei nem mais um minuto ouvindo o meu marido elogiar aquela galinha!

- Sente aí e me ouça!

Ele tentava ser discreto enquanto Gina bufava e sentava-se pesadamente de novo.

- É só por algumas semanas, o Ralph vai superar logo.

- Sim - disse, ironicamente.

- Gina, não quero brigar com você.

- Então saia daquele time!

- É isto mesmo que você quer?

Contrariada, mirou-o e resmungou:

- Não. Só queria não me sentir insegura como estou agora.

- Eu te amo, e não importa mais nada, muito menos a Cho.

- Tá chamando ela pelo nome, que lindo!

- Você não acredita mais no motivo que fez eu me casar contigo?

- Adianta mentir dizendo que não? - disse, mostrando-se falsamente inconformada.

Na casa de Lupin, o clima não era tão animado...

- Acho que essa fofa vai dormir conosco hoje!

- Você ainda acha? São 2 horas da manhã! - riu-se ele.

- Você deve estar exausto...

- Sim, mas isso não importa. Estou é acostumado.

- Pois não devia acostumar-se às coisas ruins.

- Se não fizer isso, quando me conformarei? É melhor assim. E além do que, acabou a tortura, né?

- Ainda bem. Detesto ver como você fica nestes dias...

- Esquece um pouco de mim, lembre-se um tanto de você.

- Como assim?

- Pensa que sou bobo? É "aniversário" da morte de seu pai e de Hilary.

- Você deveria ter esquecido isso!

- Qualquer coisa ligada a você me interessa. E minha memória é muito boa, ouviu? O que está te incomodando, fora a saudade de querer arrancar os cabelos da tua irmã?

- Nós brigávamos, mas eu gostava dela. Do meu jeito, óbvio. Foi muito mimada... e quer saber? Logan a redimiu.

- Sim, concordo. Lembro-me bem que ela não largava o menino por nada.

- Ela não mudou, mas sentiu necessidade de dar amor verdadeiro a alguém. Como mãe, ao menos depois de um certo tempo, não posso julgá-la.

- E Luigi?

- Ele me perdoou, você sabe o quanto foi importante pra mim isto.

- Acabou o seu remorso?

- Não sei, mas peço perdão a Jacob todos os dias em pensamento... - ela deu indícios que queria chorar.

- Não fique assim, por favor. Detesto ver mulher chorar, quanto mais a minha!

- Só você pra me fazer sorrir mesmo!

- Sorria, porque se Lílian acordar mais tarde, lembre-se que estou no mais profundo sono!

- Você não presta, Remo Lupin! - afirmou, jogando almofadas nele.


- Logan, você é louco!

- Imagine se eu darei atenção para a sua falsidade!

- Eu não gosto do Gu, ok?

- Ok, e meus cabelos são castanhos...

- Vai te catar!

- Kim, você já está pior que um pimentão. Se não se apressar, Anna certamente levará a melhor. E olha que ela não é nem um pouco feia...

- Olha aqui, seu oxigenado metido! Eu sou amiga dele e mais nada! Se ele quiser a Anna, que fique com ela, oras!

- Eu desisto. Mas se você conversasse com a Mione, certamente ela lhe diria o que fazer. Ela e papai teriam muitos exemplos legais...

- Eu te odeio, sabia?

- Diga isto agora pra ele.

Augustus estava atrás dela, perplexo com a briga. Kim virou-se e encarou os olhos negros do amigo. Ficou mais vermelha do que antes, se é que isto era possível.

- Meu irmão é um idiota, não?

- Eu não acho.

- Co-como assim?

- Kimberly, você já tem 20 anos e às vezes age como se tivesse 15 anos.

- Por quê?

- Há algum motivo convincente pra você deixar a Anna pendurada no telhado lá de casa só porque eu a convidei para viajar comigo nas férias?

- Quem disse que eu fiz aquilo? Se foi o Logan, eu...

- Eu vi - ele estava calmo.

- Não há provas!

- Ela nega, pois é boa demais pra te acusar.

- Sim, Anna é sempre a boazinha, a recatada, a tudo!

Ele a mirou com um olhar de desconfiança. Logo, ficou rubro.

- Talvez se você não fosse tão explosiva, eu poderia dizer o que vim fazer aqui...

- Além de me acusar tem outro motivo?

- Vou viajar mais cedo. Hoje à noite, pra ser mais preciso.

- Hoje? - sussurrou ela, completamente abismada.

- É. Volto daqui a quatro meses.

- Quatro? Mas não era apenas um?

- Preciso fazer uma coisa muito importante neste período.

- O quê?

- Ficar longe de você.

Kim não entendeu de imediato a insinuação e perguntou:

- Sou tão ruim assim? Por que não confessou não me suportar? Por mais que doesse, eu faria isso por você... - ela tentava controlar as lágrimas.

- Preciso me afastar, porque... eu... eu amo você, Kim. E sei que nunca seria correspondido, pois a cada insinuação do outros de que poderíamos ser um casal, você se apavora! Briga comigo e com todos! E não quero mais sofrer por isso.

Simplesmente, ela perdeu a fala. Implicava tanto com ele e com os outros por causa das brincadeiras familiares que nem notou o quanto ele se importava com aquilo, seus sentimentos reais. Percebendo que ele queria aparatar, abraçou-o e disse:

- Gu, me perdoe! Não queria te machucar deste jeito, fui rude demais este tempo todo, mas também tive um motivo. Não podia confessar que te amava desde que era pequena, quando você foi pra Hogwarts e senti tua falta, tinha medo de perdê-lo para a Anna, porque ela é mais bonita, inteligente e meiga do que eu! Nunca achei que tivesse chance, mesmo porque você é mais velho e merecia alguém melhor...

- Para mim, a melhor sempre foi você.

Ela tremeu de leve, sentiu um arrepio na espinha um tanto inusitado. Augustus, ainda um pouco reprimido, porém determinado, deu um longo e apaixonado beijo em Kimberly. Logan estava em cima do telhado da loja abandonada onde eles antes discutiam, e resolveu burlar as regras de Hogwarts: fez cair pétalas de rosa em cima do casal com sua varinha. Achava que aquele momento demorara para acontecer e que todos ficariam satisfeitos o bastante para ele não receber bronca alguma.

Passou a lembrar de Hermione. Não, ele não a chamava de mãe, mas tinha um carinho especial, pois ela o criou. A chamava apenas de Mione, o que a própria aprovara...

Tornara-se um rapaz que o próprio pai definia como espertinho. No auge de seus quinze anos, tinha os cabelos muito louros e olhos castanhos claros, esbelto, no entanto não era tão forte, pois não gostava muito de quadribol. Queria ser medi-bruxo, como a mãe. Ah, Hilary representava muito para ele, e Rony não teve coragem de podar esta admiração por parte do garoto. Costumava afirmar que "Ela sempre está ao meu lado, nunca me deixou. Eu simplesmente sinto isso a cada dia mais forte."

Depois de distrair-se com o beijo da irmã, recordou-se do pedido que o pai lhe fizera.

Hermione saiu com Kim e Logan para fazer compras, e no caminho, ela parou em um lugar onde tinha uma espécie de portal para a Londres trouxa. O garoto estava esperando ela entrar naquele portal para segui-la e contar ao pai onde a esposa se refugiava em todo dia 23...

Rony chegara finalmente no local. Logan, por precaução, combinou de se encontrar com ele um pouco longe de onde estava coma irmã: havia praticamente forçado Gu a se declarar para ela naquele dia. E Rony ainda tinha aquela mania de achar a filha de 20 anos a sua menininha. Escândalos poderiam ser adiados, pois havia coisas mais importantes a fazer.

- E então?

- É aquela porta ali. Na verdade, é um portal.

- Hum... Cadê sua irmã?

- Entretida com bolsas, mas deixa ela pra lá.

- Ok. Vou ver finalmente o que Mione esconde de mim...

- Por favor, não vá brigar com ela, hein?

- Logan, se ela estiver me traindo, farei o que minha consciência manda.

- Esta sua consciência é perigosa. Tem certeza que pode ir sozinho?

- Deixe de fazer piada comigo, Logan! Eu vou e está acabado! Oras, meu próprio filho me dando sermão! E é um pirralho ainda!

- Sem o pirralho aqui você nunca descobriria onde ela vai.

- Tá me chamando de incompetente?

- Mais ou menos...

Rony saiu de lá rindo, pois essas briguinhas com o filho nunca eram para ser levadas a sério. Concentrou-se em entrar naquele portal...

Tocou a porta. Suas mãos pareciam ser sugadas para dentro da madeira roída. Sem medo, deixou-se ser sugado por aquela coisa estranha e deparou-se com um lugar nada harmônico para Mione estar: um cemitério trouxa.

Andava desnorteado pelos cantos, procurando-a incessantemente. Até que ouviu uma voz...

- ...Kimberly tem os cabelos muito lindos, e tenho certeza que os seus seriam iguais. Às vezes, ela me lembra mamãe, com aquele jeito áustero... apesar de ter puxado mais para o Rony. Impulsiva. Fiz uma promessa, e agora cá estou eu, como todos os meses, renovar estas flores, por exemplo. - virou-se para o outro túmulo e continuou - Ainda visito a nossa casa, está em pedaços... mas permanece intocada. Seus retratos estão lá, e eu não ouso mexer neles. Aquela sua caixa de recordações só peguei para mostrar à Molly como eu era quando bebê. Mas já está no lugar onde deveria. Papai, você ficaria um bocado orgulhoso do meu marido: atencioso, carinhoso, bom pai, trabalhador e honesto. Era isso que vocês queriam, não? Eu consegui achar este homem, e o amor dele também.

Ela sorria, estava serena. Rony entendia agora o motivo das saídas dela. Quando virou-se para ir, bateu numa lápide e foi inevitável gemer.

- Rony!

- Ah, oi...

- O que você está fazendo aqui? Como me encontrou?

- Logan ficou de olho em você.

- Vocês dois quando se juntam é fogo...

- Por que não me contou antes?

- Isso era algo muito pessoal e doloroso, não quis envolvê-lo, entende?

Ele sentou-se ao lado dela, junto a um túmulo onde estava gravado em letras prateadas os nomes dos pais de Hermione.

- Eles morreram juntos.

- Harry tinha me contado...

- No dia 23 de outubro.

- É por isso o dia 23?

- Não só - ela desviou o olhar para o túmulo do lado direito deles.

- Quem é essa Lynn?

- Nossa filha.

Rony não tinha palavras. Não conseguia entender, nem falar nada.

- Lembra das fotos em que eu estava grávida? Era de gêmeas. Lynn nasceu primeiro, mas estava morta dentro de mim, porque eu sofri e me estressei muito na época. Também foi na manhã do dia 23, só que de maio.

As lágrimas apenas rolavam silenciosas nos rostos de ambos. Hermione repousou sua cabeça no peito de Rony, não havia mais segredos entre eles. Ele compreendeu finalmente a dor dela, porque não quis tocar no assunto. Doeu saber da perda da filha, concluir que nada daquilo teria acontecido se ele estivesse ao lado de Mione, porém estava consciente do fato de não poder voltar atrás.

Ela sentia-se amparada pelo calor do corpo dele, tinha a nítida sensação de ser compreendida e tirar aquele peso de suas costas para dividi-lo, mesmo que fosse um fardo do qual Rony não conseguiria medir por mais que tentasse... ele apenas podia lamentar, porém sofrer por aquela vidinha que ela carregara em seu ventre naqueles oito meses, impossível.


- O que você tanto escreve, Mione?

- Nada que você já não saiba! Quer dizer, tem algumas coisas que você nem faz idéia, mas eu já as escrevi há anos!

- Ah, é? Então deixe eu ler.

- Não. Preciso terminar e não gosto de espectadores.

- É tão importante assim?

- Indubitavelmente.

- Eu vou fingir que entendi este advérbio e vou dormir.

- Ron, você está indo bem, já sabe o que significa advérbio! - ela não parava de rir.

- Ótimo! Já não basta minha própria bisneta me dizer que sou tapado e pareço uma jujuba de laranja e você me vem com essa!

Hermione não agüentava mais de tanto rir, a cena foi incrivelmente hilária. E Rony não se conformava com o título de "jujuba".

- Deste jeito você vai ficar com falta de ar e eu com impaciência!

- Ok... - ela respirava fundo - Esquece...

O silêncio tornou-se tão grande que era possível escutar o atrito do lápis com o livro onde Hermione escrevia calmamente. Rony quebrou-o de um jeito triste:

- Sabe, eu tava lembrando do Harry. Morreu feliz esse nosso amigo...

- Nem me lembre. Dói só de lembrar o momento que o encontrei naquela roda de magia negra, morto e com um ar tão sereno!

- Sim, ele conseguiu o que mais queria, afinal: livrar Augustus daquela maldita raça de seguidores de Você-sabe-quem, acabar com a guerra, tanto tempo que ela durou.

- Você poderia estar morto também se não tivesse desistido. - afirmou, séria.

- Não desisti, você não me deu opção! Esqueceu que me raptou, hein?

- Quem manda ser o bruxo mais teimoso da Terra?

- Olha quem fala! A pessoa menos cabeça-dura que conheço...

- Estamos velhos demais pra brigar, você não acha?

- Acho que não estamos velhos, só um pouco pelancudos. Pára de escrever neste livro e vem deitar, vai! Está tarde, mais de meia-noite!

- Além de velho é chato, por Merlin!

- Estas suas contradições me deixam louco.

- Ok, eu já terminei mesmo. E estou muito cansada.

- Eu também. Já ajudamos elfos demais hoje, né?

- Ajudamos uma vírgula. Você ficou é jogando xadrez com eles!

- Vai dizer que não é trabalhoso? - ele estava com aquele ar maroto.

- Vai comer mandrágora, Rony.

- Não pode ser algo mais gostosinho, não?

Ela mirou-o brava, e ele pôs-se a admirar os olhos castanhos dela...

- Por que tá me olhando deste jeito?

- O castanho dos seus olhos fazem de você uma mulher muito interessante, sabia?

- Ron, que diferença isto faz! Teus olhos também são da mesma cor...

- Mas eu não quero ficar me vendo no espelho, pois nem se eu tivesse a imaginação mais fértil do mundo eu conseguiria ver este brilho que tem no seu olhar cada vez que estamos perto um do outro. É este olhar que me faz ter certeza do nosso amor, Mione. O que não me deixa livre para pensar em outra mulher, em outra amiga, aquele que me faz sentir-me importante e único.

- Você dificilmente fala essas coisas pra mim, mas eu adoro quando ouço.

- Deu vontade de me entregar, dizer o motivo de eu estar aqui contemplando a tua face, que pra mim não mudou nada.

- Ainda não cansou de me ver?

- Deixe de ser boba: se eu tivesse cansado, já tinha te largado.

Eles olharam-se profundamente e ficaram rubros.

- Por que mesmo com todo este tempo ainda conseguimos ficar vermelhos com estes tipos de declarações? Não entendo, é sério...

- Isto se chama paixão, Ron. Ficamos envergonhados de certa forma por expormos nossos sentimentos íntimos, é normal!

- Normal... Se ficar vermelho fosse a única reação que eu tenho ao ficar assim com você, estava ótimo!

Hermione riu e balançou a cabeça negativamente. Pegou o livro que Ron tanto atormentava-a para largar e o abriu.

- Você acha que alguém leria?

- Com o mesmo sentimento, duvido. Porém, é uma forma de saberem que o amor pode ser verdadeiro.

- Você terminou o livro?

- Sim. Quer ler?

- Não.

- Como não? Me atormentou esse tempo todo pra nada!

- Acho que sei o final. E sendo assim, não tem graça nenhuma.

- Ok, mas vou deitar com ele.

- Como é? Tá me trocando? - ele estava brincando para disfarçar.

- Bobo...

Ela pegou a varinha e fez a luz apagar-se: apenas a lua os iluminava naquele instante. Deitou-se em sua cama e Ron a envolveu nos braços delicadamente, aninhando a cabeça de Hermione em seu peito, como o de costume. A bruxa pôde ouvir o coração de seu amado, batendo num ritmo lento. O dela não estava melhor que aquilo também, sentia-se mole e com o corpo pesado. Estava assim o dia inteiro, porém não quis transparecer.

Levantou a face de modo que encontrou os lábios dele. Beijaram-se leve e demoradamente. Até eles gravarem na memória o que diziam entre olhares... e ela finalmente repousou, fechando os olhos e afirmando:

- O pior de tudo isso é que eu te amo, Ron.

- O pior é que eu também, mais que a vida que me deste.

- Eu lhe dei a vida? Portanto posso dizer que você me deu o amor...

- E nós acabamos cultivando ele, para que chegássemos até aqui vivos.

- Não posso te garantir que a morte é o limite.

- Então ultrapassemos este limite, mas juntos.

Eles sorriram, continuaram abraçados e sentindo-se amados durante a noite que passava por eles sem interferir em nada. O que Hermione sabia, era o que Dumbledore lhe afirmou e seu coração confirmou. E ela apenas transmitiu no último dos vários livros que contavam a história de amor deles, o que aconteceu a seguir...

"E então, a profecia se cumpriu, tão linda e certa quanto o nosso amor infinito."

Nota enorme da autora: Pessoal, não sei se ficou muito bom o capítulo, mas eu fiz o que pude! Dedico a fic para: Satine, Lisa, Lain, Caileach, Ina, Lú, Beth, Aninhaanne, Leka, Drica, Nick, Mione, Maíra, Aninha, Hariane, Tamara, Carol, Paty, Lany, Julie, Amanda, Gabi Granger, Nanda, Esmeralda, Damaris, Jorge e Junior! Eu espero não ter esquecido ninguém, pois eu listava as pessoas que me mandavam comentários. Até a data presente, foram estes que fizeram uma autora feliz e tiveram a bondade de dizer "eu li e gostei" e mais outras coisinhas fofas e empolgadoras! rs (2002)

Outra parte da nota (2006): Bem, não esqueçam, por favor, de comentar o término da fic! É muito importante! Muito obrigada mesmo pelos comentários e pelo carinho! Não teria postado tão rápido se não fossem vocês... Luis, Thati, Lis, dentre outros que me animavam e nem tinham idéia!

Memso a fic sendo antiga, fico impressionada com a paciência e encanto de vocês em relação ao enredo. Obrigada a todos que já leram, estão lendo de novo ou pela primeira vez! Beijos, Nikari. )