Capítulo 9 – Decisões

Draco olhava os retratos da Família Weasley que estavam expostos em cima da lareira. Logicamente, ele fitava apenas aqueles que o interessava: fotos de Gina e de sua filha. Não demorou muito e a ruiva desceu as escadas, dessa vez já vestida.

Ele sorriu pra ela. Ela não retribuiu.

O que foi? - perguntou, demonstrando preocupação.

Ela suspirou.

Sabe... Essa situação toda pra mim não é nada conveniente. Eu não vou me sentir bem estando com você e sabendo que tem uma mulher te esperando em casa... Que ela é a oficial.

Ele se adiantou e parou na frente dela. Depois, passou a mão de leve pelo cabelo dela.

Eu sei disso. Mas não há outro jeito.

Gina levantou o olhar.

Não há outro jeito? - ela perguntou com o olhar desconfiado. - Você já ouviu falar em separação? - ela se afastou, sorrindo fracamente. - Já sei... Você quer se divertir com a Weasley idiota aqui algumas vezes, mas quer continuar casado com a escovada-Montserrat, não é?

Ele bufou.

Óbvio que não, Virgínia. Céus... Como você consegue pensar tanta besteira num espaço tão curto de tempo?

Besteira? - ela cruzou os braços. - Então me dê uma explicação plausível pra você não querer se separar...

Ele deu um sorriso fraco e não respondeu de cara. Ela cruzou os braços e demonstrou toda a sua insatisfação. Draco resolveu então, começar a falar:

Virgínia... Eu sou um Malfoy, se lembra?

Isso é impossível de se esquecer, Malfoy. Enfim, o que isso tem a ver com a sua separação?

Ele pareceu ponderar por alguns instantes o que ia dizer, depois iniciou:

Você se lembra de quando nós estávamos juntos e queríamos nos casar...? - ela concordou com a cabeça e ele continuou. - Você se lembra qual era o maior empecilho?

Nossas famílias...

Sim, nossas famílias... A sua, por não me suportar... E a minha mãe, por não admitir que eu me casasse com uma Weasley, correto?

A ruiva afirmou com a cabeça, mas começou a mudar de cor. Estava começando a perceber onde ele ia chegar.

E, quando eles viram que nós estávamos realmente dispostos a nos casar e que ninguém ia impedir isso, minha mãe pediu apenas uma coisa...

Gina se sentou em um baque no sofá, com a boca ligeiramente aberta. Depois murmurou:

Contrato Pré-Nupcial...

Ele se sentou na mesinha de centro, ficando de frente pra ela.

Sim... Contrato Pré-Nupcial. Que é tradição na minha família sabe-se lá desde quando. E não foi diferente comigo.

Ela engoliu em seco e assentiu com a cabeça.

E em quais condições vocês se casaram?

Bem... Em várias. Mas as que importam pra gente nesse momento são as mais complicadas. - ele juntou as mãos, esfregando-as. - Quer que eu te explique?

Óbvio. - ela respondeu, seca. Ele ignorou.

As condições são as seguintes: eu poderia anular o casamento, caso ele não fosse consumado, o que não é mais possível. Eu apenas posso exigir o divórcio mediante duas situações: Caso a Sophie não cumpra seus deveres de esposa, que é zelar pelo bom nome Malfoy, manter a casa sempre apresentável e todas essas futilidades que são regras na minha família há séculos, ou se ela me trair e eu puder provar isso.

Gina mostrou espanto.

Apenas com essas duas condições?

Sim.

Caso contrário, você não pode entrar com o pedido de divórcio?

Não.

Então vai ser mais difícil do que eu pensava. - ela se recostou no sofá.

Ainda não cheguei na pior parte... - ela arregalou os olhos e fez um movimento pra que ele continuasse a falar. - Bem... Piora se formos ver como ela pode querer o divórcio...

Gina o interrompeu.

A Sophie nunca vai querer o divórcio, Draco!

Vai se ela souber que eu estou com você.

Ela ficou sem entender.

Como assim? - perguntou, confusa.

Vou explicar desde o começo... De acordo com as regras familiares de um Malfoy, filhos fora do casamento não têm qualquer direito à herança se não houver consentimento da esposa. Como eu me casei com Sophie, Anabelle passaria a ser uma filha "bastarda" e ela não teria direito a nenhum centavo da minha fortuna, mesmo tendo o meu nome. Ciente disso, eu propus um trato à Sophie: que ela admitisse que Anabelle tivesse direito à herança e em troca ela poderia colocar qualquer cláusula no contrato.

Gina levou às mãos ao rosto, já prevendo no que viria. Draco continuou a falar.

Como você sabe, o homem da família, ao contrário da mulher, tem todo o direito da traição. Adultério não dá o direito da esposa pedir o divórcio. Porém, a cláusula que Sophie escolheu pro contrato foi que, se ela soubesse que eu estava tendo qualquer relacionamento extraconjugal com você, ela poderia pedir o divórcio eficaria com 50 de toda a minha parte na fortuna dos Malfoys... Que não inclui, logicamente, a parte da minha mãe que ainda está viva e a parte reservada para os filhos.

Você é louco de aceitar uma condição dessas, Draco!

Era isso ou a nossa filha ficaria sem nenhum tostão, Virgínia! Você não entende? E além do mais, eu nunca achei que teríamos uma recaída... Mesmo que eu me contradissesse toda vez que pensava isso.

Então agora, você quer me dizer que se Sophie souber de nós dois, você perde metade de tudo o que você tem?

Ele confirmou com a cabeça. Ela suspirou.

E isso é muita coisa?

Algo em torno de – ele parou por um momento - Quarenta milhões de galeões... – disse, calmamente.

Ela deu um pulo no sofá, sem perceber e abafou um gritinho.

Quarenta milhões de galeões e você me fala nessa tranqüilidade! Você é louco!

Ele sorriu.

Oras... Ainda vão me restar 40 milhões de galeões... Por enquanto.

Definitivamente: Você é um louco! - ela parou pra pensar, batendo o pé repetidas vezes no chão. - Eu não posso ficar com você, Draco.

Por quê não?

Porque eu não quero que você perca esse dinheiro todo por minha causa!

Eu não vou perder. Ela não precisa saber que nós estamos juntos, não é? - ele levantou uma sobrancelha.

E eu vou ser sua amante pra sempre?

Ele não respondeu e os dois ficaram em silêncio durante incontáveis minutos. Ele tinha a cabeça apoiada em uma mão e ela continuava a bater o pé no chão.

E então, Virgínia? Eu não tenho o dia inteiro. O que você me diz?

Ela o olhou.

Eu não sei... É tão complicado...

Ele se ajoelhou na frente dela, ficando apenas um pouco mais baixo. Eles se olharam nos olhos.

Eu quero muito ficar com você, Virgínia. Nós chegamos a esse ponto por pensarmos demais nas nossas atitudes. Não pensa muito agora...

Você quer mesmo correr todo esse risco só pra ficar comigo?

Ele nem ao menos pensou.

Quero.

Ela sorriu pra ele.

Então como nós vamos fazer?


- E então, o quê vocês acham? - Blaise perguntou animadamente, quando terminava de abrir uma enorme janela, cuja vista era das ruas movimentadas de South Kensington. - Não é grande coisa, mas vocês não vão morar aqui, não é?

O apartamento realmente não era dos melhores. O prédio era muito antigo, e o corredor cheirava a comida de gatos porque a vizinha tinha no mínimo oito deles.

Mas mesmo assim. Era um lugar. E ninguém jamais pensaria em procurar Draco Malfoy ali. Mesmo se o visse, acharia que era outra pessoa.

Onde você conseguiu... isto? - Draco perguntou, olhando com uma cara nada agradável para o teto do apartamento.

Eu consegui pela Aston's. E o melhor é que ele já vem equipado! - Blaise se encaminhou para o sofá e deu duas batidas nele, fazendo com que a poeira subisse. - Bem, é só dar uma limpadinha... - comentou, tossindo.

Você não podia ter encontrado algo um pouco mais apresentável? - Draco cruzou os braços e olhou pro moreno enquanto ele tossia.

Draco... – ele fez um gesto pra pedir pra esperar enquanto terminava de tossir. – É uma pequena alergia... Mas enfim. Pense pelo lado positivo! A Sophie nunca pode saber de vocês dois, logo ela nunca vai te procurar aqui...

Lógico, eu nunca me meteria aqui em sã consciência...

Exatamente por isso, amigão!

Draco revirou os olhos. Blaise sorriu.

Eu gostei... - Gina comentou, baixinho, como se falasse mais pra si mesmo.

O QUÊ? - Draco quase gritou.

Eu gostei, oras. É um lugar que nunca vão te procurar e só está um pouco maltratado. Com um pouco de cuidado e um toque caseiro, esse lugar vai ficar perfeito.

Está vendo? É por isso que eu amo essa ruiva! - Blaise foi até Gina e a abraçou, sorrindo.

Ama nada. – Draco se adiantou e tirou Blaise de perto dela.

Ei! Quê que foi isso?

Medida de precaução. - respondeu, abraçando-a.

Os três sorriram.

Eu nunca daria em cima da Gineca, você sabe, Draco...

Sim, eu sei, mas prefiro me prevenir.

Tá, parem com isso! - Gina interferiu e depois olhou ao redor. - Pelas condições do apartamento, eu vou precisar de ajuda com a arrumação.

Pra quê? Você é uma bruxa ou não?

Draco... Você acha que eu vou dar jeito nisso tudo sozinha? Claro que não!

Blaise gargalhou e depois deu dois tapinhas nas costas do Draco.

Você se ferrou nessa, meu amigo...

Ah, é? Você que arranjou esse troço e agora vai ter que ajudar também espertinho...

Mas... - Blaise tentou reclamar.

Sem 'mas'! - Draco finalizou a discussão, se dirigindo até o outro cômodo, que ficava no fim do corredor. - NOSSA! MAS ESSE BANHEIRO É NOJENTO! - ele gritou.

Gina e Blaise sorriram na sala.

Não seja fresco, Draco... - Gina comentou, com um tom de voz mais alto, pra que ele a escutasse de dentro do banheiro.

Não é frescura. Você que não faz idéia da situação precária desse local. Nem magia negra limpa esse lugar. - ele ficou um tempo em silêncio. - Olha... Tem até umas rachaduras aqui e...

NÃO MEXE NIS---

Blaise ainda tentou avisá-lo, mas não deu tempo. Draco gritou logo em seguida e saiu correndo do banheiro, completamente encharcado.

A PORRA DO ENCANAMENTO ESTOUROU NA MINHA CARA! - Draco berrou enquanto tentava tirar (em vão) seu cabelo do rosto.

Eu ainda tentei te avisar, Draco! A proprietária disse que o apartamento estava com uns pequenos problemas no encanamento. Por isso tinha umas rachaduras e seria necessário chamar um especialista pra ver...

Draco bufou.

Eu não fico nisso nem mais um minuto!

Draco! Seja razoável... Você deu sorte de ter sido o cano de água que estourou na sua cara... Imagina se fosse do esgoto!

Se fosse de esgoto, eu lançaria um Avada em você agora por me fazer passar por tal situação.

Nossa, que violento... - Blaise debochou e depois caiu na gargalhada. Draco avançou na direção dele, mas Gina o impediu.

Parem com isso! Parecem duas crianças!

Draco foi para o outro lado da sala, onde permaneceu fitando a parede de braços cruzados. Blaise permaneceu no seu lugar, tentando parar de rir e enxugando as lágrimas.

Então, nós ficamos com ele? - Gina perguntou.

Eu não fico nesse barraco por nada nesse mundo!

Mas Draco... É o esconderijo perfeito. Ou é isso daqui ou você vai perder 40 milhões de galeões. - Gina ponderou.

Eu prefiro perder os 40 milhões de galeões... - Draco comentou ainda com a cara emburrada.

Blaise parou de rir instantaneamente e fitou os dois.

Peraí, peraí, peraí... Se a Sophie souber que vocês dois estão juntos, ela fica com quarenta milhões de galeões? - ele perguntou, um pouco boquiaberto.

Sim... - Gina confirmou e Draco apenas afirmou com a cabeça.

Nossa... Se eu soubesse que você valia tanto assim, eu tinha me casado com você, garanhão.

Gina gargalhou, mas Draco não achou muita graça, apenas sorriu de modo debochado.

Tá aí um lado que seu que eu não conhecia, Blaise... Homossexual agora?

Meu amor, por quarenta milhões de galeões, eu me casava com você, te matava e fugia do país com toda a sua grana. Depois, me casava com a Natalie Louren.

Até parece que a Natalie Louren ia se casar com você... Ela é a modelo mais bem paga do mundo. - Draco desdenhou.

E daí...? Com quarenta milhões de dólares, eu a comprava pra mim, caro amigo.

Draco não resistiu e esboçou um sorriso. Gina sorriu abertamente e murmurou um 'Só podia ser o Blaise'. Depois, a ruiva foi na direção do loiro e o abraçou.

Nós ficaremos com ele, não é? Com a sua ajuda e a do Blaise nós vamos fazer disso aqui um lugar agradável pra nós dois... Você verá...

Eu não vejo como a gente vai conseguir fazer isso, Virgínia... - ele a olhou sério.

Você confia em mim?

Confio, mas...

Confia ou não? - ela o olhou intensamente.

Confio.

Então você vai ver como aqui vai ficar um bom lugar.


- Eu.Estou.Morto.- Blaise comentou, se jogando no sofá e dando uma longa pausa entre as palavras. - Não agüento fazer mais nada.

Eles estavam há uma semana trabalhando naquele apartamento. Blaise e Draco faziam o serviço mais bruto, como mudar a arrumação dos móveis como Gina queria, enquanto ela cuidava da estética da coisa toda, além de ver o que mais faltava e que precisavam comprar. No final das contas, o "cortiço", como Draco havia apelidado, havia ficado um ótimo lugar para se viver.

As paredes da sala haviam sido pintadas de azul claro, com o teto branco e assoalho de madeira. Os móveis todos eram de mogno, em um estilo neoclássico, e Gina não havia deixado nenhum cantinho do apartamento sem ser milimetricamente e caprichosamente detalhado.

Não seja exagerado, Blaise... Você não fez quase nada... – Draco resmungou, se jogando no sofá também. – Ai, minhas costas...

Gina surgiu do quarto, carregando dois vasos de plantas pequenos, um em cada mão. Parou de frente pra eles e ralhou:

O quê que vocês dois estão fazendo jogados aí? Vamos trabalhar!

Blaise a olhou apavorado.

PARA COM ISSO, MULHER! Você é uma sádica!

Ela está falando isso porque não fez quase nada. Só ficou dando ordens... "Quero o sofá virado em direção ao quadrante solar" – Draco afinou a voz, imitando-a.

- "Quero que a mesinha fique na reta paralela a mesa central e o pano perpendicular a..." - Blaise também começou a imitar, mas Gina interrompeu.

Tá legal... Tá legal... Eu já entendi! - ela respondeu, colocando um dos vasos em uma janela. Depois virou na direção deles, cruzou os braços e soltou um suspiro. – Não ficou lindo?

É... Ficou melhor do que eu esperava... Mas ainda se parece um cortiço. De luxo, mas um cortiço.

Gina bufou.

Não esperava mesmo que você desse seu braço a torcer e dissesse que eu estava certa o tempo inteiro, Draco Malfoy.

Bem... O papo está muito bom... Eu estou adorando a companhia de vocês, mas eu tenho que ir embora.

Já, Blaise? - Draco perguntou, apenas virando a cabeça.

Claro que já. Já são oito horas da noite e eu tenho que descansar pra curtir meu sábado, não é?

Oito horas? Já? - Draco se levantou de um pulo, mas depois ficou sem graça ao sentir o olhar de Gina sobre si. – Er... Eu tenho que ir, Virgínia...- ele completou, visivelmente encabulado.

Tudo bem. Eu entendo. Vai ser sempre assim, não é? - ela deu um sorriso triste.

Mesmo assim... Você tem o jantar dos seus pais pra ir... - Draco comentou, abraçando-a.

Er... Hem, hem... Eu já vou indo então..- Blaise avisou, mas nenhum dos dois deu atenção. O moreno então, deu as costas e saiu do apartamento.

Eu não queria que fosse assim, Virgínia... - Draco comentou, sem sair do abraço, apenas se afastando um pouco para olhá-la nos olhos.

Eu sei. Eu também não queria. Mas fomos nós mesmo que procuramos isso... - ela deu um sorriso fraco. - Será que um dia nós vamos parar de cometer erros, Draco?

Ele sorriu pra ela e depois olhou em volta e disse:

Isso tudo que nós estamos fazendo pode ser errado pra toda a sociedade, mas soa muito certo pra mim.

Ela sorriu.

Pra mim também.

Ele levou o dedo indicador até o rosto dela e a acariciou lentamente. Suspirou. Os olhares se encontraram e um poderia notar claramente a preocupação nos olhos do outro. Não entendiam como conseguiram deixar a situação deles chegar a esse ponto. Claro que houve toda uma seqüência de desencontros e mal-entendidos, porém eles tinham certeza que foram bastante culpados em tudo isso, tanto pelo orgulho, como pela descrença e falta de confiança um no outro.

E agora, eles se encontravam ali, fazendo algo totalmente fora dos padrões, enganado, mentindo, omitindo e se amando às escondidas. Parecia que eles tinham voltado à época da escola quando se apaixonaram devido a uma fatalidade e por isso tinham que se encontrar escondido, enfurnando-se em salas escuras, abandonadas e muitas vezes, desconfortáveis. Porém, tal qual essa época, eles agora tinham duas certezas: que se amavam e que nada iria impedi-los de viver esse amor... Até quando ele durasse.

Ele a puxou para um abraço apertado. Afundou o rosto nos cabelos vermelhos dela e respirou fundo. Amava o cheiro dela, assim como amava cada pedacinho do corpo da sua ruiva... E por isso, odiava vê-la sofrendo e passando por tal situação. Ela não merecia isso... Muito menos Sophie, que sempre fora uma ótima companheira, esposa e amiga. Mas não havia saída. Ele precisava fazer a sua escolha e era isso que ele havia escolhido pra si.

Você tem que ir... – ela falou com a voz abafada pelo abraço dele.

Ele levantou a cabeça e deu um beijo de leve na testa dela, roçando os lábios.

Tudo bem... Tudo vai ficar bem, ok?

Eu sei... - ela murmurou.

Draco, então, abaixou a cabeça e deu um beijo leve nos lábios dela. Era apenas um toque de lábios, um carinho, um pedido de desculpas. Depois, se retirou do apartamento.


Draco chegou em casa um pouco antes do jantar e estranhou o fato de não ver Sophie supervisionando os elfos na preparação do jantar. Mesmo que ele reclamasse, ela achava que essa era uma função importante, já que ela não gostava de "ingerir porcarias", como ela mesma definia. Ela não confiava em seus empregados, por isso tomava conta de tudo.

"Talvez ela tenha caído na real" ele pensou, enquanto subia as escadas vagarosamente. Ao chegar no quarto, a enorme porta de cedro estava entreaberta. Ele a empurrou levemente e entrou no quarto, dando de cara com Sophie, sentada em sua penteadeira, terminando de prender os longos cabelos loiros.

Olá, meu amor...! Você demorou hoje! - ela comentou, finalizando com um sorriso doce.

Ah... – ele desviou o olhar. - Tive que assinar uns documentos importantes da empresa... O Ministério já estava nos ameaçando por causa disso.

Esses incompetentes... – ela soltou um muxoxo. Depois, sorriu pra ele e se levantou. - O que achou? - Sophie perguntou, abrindo os braços.

Ela usava um longo vestido de seda preto, que ele ainda não tinha visto. Ele era totalmente tampado na frente, mas quando ela deu uma volta, Draco deixou sua boca abrir por um momento: tinha um decote generoso atrás, deixando boa parte das suas costas de fora. Ele tinha que concordar: Sophie estava simplesmente linda.

Muito bonito. - se forçou a responder. - Vai sair?

Ah, sim... Louise anda meio deprimida por causa do Blaise e me convidou para jantar. Não vai ser muito interessante ouvir todas as lamentações dela sobre esse assunto, mas amigas são pra essas coisas, não acha?

Eu ainda não entendo como ela dá atenção a ele...

O amor é cego, querido... Quando estamos apaixonados perdemos a razão e não vemos um palmo na nossa frente...

"Eu que o diga" Draco pensou, tentando refrear um sorrisinho. - Tudo bem... Como é um assunto particular e feminino, não vou ousar me intrometer.

Ela se aproximou dele e deu um beijo de leve nos lábios dele.

Não tem problemas, querido... Você me leva pra jantar algum outro dia.

Depois, ela acariciou o rosto dele, pegou sua bolsa e foi em direção a porta. Ao abri-la, virou pra trás, lançou um beijo no ar e se retirou.

Draco esperou alguns minutos até ter certeza absoluta que ela tinha saído. Ao ver isso, desceu as escadas pulando alguns degraus e se dirigiu até o escritório. Chegando lá, acionou a lareira, jogou um pouco de flu e chamou a casa de Blaise.

Não demorou muito e o rosto do moreno apareceu flutuando, aparentemente muito cansado.

Espero que seja algo de muito importante, Draco... - o moreno bocejou.

Estava dormindo?

Não... Eu só bocejei por diversão e a minha cara amarrotada é porque eu acho que fico mais sexy assim... Não é óbvio?

Que mau humor, Blaise... Você não costuma ser assim.

Eu fico assim quando eu trabalho o dia inteiro pra uma maluca perfeccionista e quando eu penso que posso finalmente descansar, vem seu amigo inconveniente e te acorda.

Muito obrigada pela parte que me toca... Não vou te atrapalhar então. Só ia te chamar para um drinque, mas vejo que você não está muito disposto.

Bem... - Blaise suavizou as feições. - Eu até iria, sabe... Não sou homem de recusar um pedido feito com tanto carinho pelo seu melhor amigo.

Você não é homem de recusar álcool, isso sim... - Draco interrompeu.

Claro, claro. Mas também não sou homem de recusar uma linda mulher... E como tem uma deitada nesse momento na minha cama, nosso encontro vai ter que ficar pra próxima.

Ah... Já compreendi. Então tudo bem, vou arranjar um livro pra ler, então. - Draco soou entediado.

O que houve? Arranje algo pra fazer com Gina!

Ah... Ela vai jantar na casa dos pais e com seus irmãos. E lá, eu não piso nem morto.

Ih... Que mal. - Blaise fez uma careta. - Então leve Sophie pra jantar.

Não posso, sua amada Louise já fez isso...

Como? - Blaise pareceu interessado. - Sophie saiu pra jantar com Louise...?

Sim. Elas foram jantar juntas porque, pelo que parece, Louise ainda está com dor de cotovelo por sua causa.

Ah... - Blaise apenas murmurou. - Entendi.

O que foi, Blaise? - Draco perguntou, desconfiado.

Nada! - Blaise voltou a si. - Nada... Apenas não sabia que a Louise ainda estava na minha.

Hum... Entendo. Vou arranjar algo pra fazer então.

Tudo bem. E eu vou dar atenção a minha mulher de hoje.

Vai lá, garanhão. - Draco debochou. - Até mais.

Blaise esperou até que Draco fechasse a conexão entre as lareiras e suspirou. Olhou para a mulher deitada em sua cama, adormecida como um anjo, que não tinha a mínima intenção de ir a lugar algum.

Era Louise DeLancré.


Enfim... Eu sei mesmo que esse cap demorou horrores. E nem tenho apenas uma desculpa, uma satisfação. Eu tive problemas familiares, provas, fiquei doente, preguiça, bloqueio e todas essas coisas que vcs podem imaginar.

Na realidade, eu acho que foi mais um famoso bloqueio fim de fic meu. Quando eu estava escrevendo Fenômeno, eu não conseguia escrever os últimos capítulos por nada nesse mundo e acho que, indiretamente, foi isso que aconteceu com SLU.

Peço milhões de desculpas. Sei que não é justo fazer isso com vocês, que sempre me deixam tão feliz com as reviews, mas eu não fiz por querer. Foi mais forte do que eu.

Espero que eu não tenha mais problemas desse tipo e gostaria de pedir o apoio de vocês.

Muito obrigada a quem revisou o último capítulo, me mandou e-mails, me deu broncas no MSN... E desculpas, mais uma vez pelo atraso.

Espero que tenham gostado desse capítulo!

Amo vocês!

PS: Ah, claro.. Sei que o contrato Pré-Nupcial do Draco pode parecer meio 'irreal', principalmente pra quem tem conhecimento de leis (não é, Nana? ), mas quero ressaltar que é um contrato que é regra na Família Malfoy há séculos, ou seja, são regras básicas que vão passando de geração em geração. E como todos vocês estão cansados de saber, a área jurídica dos bruxos também não é muito decente, né...

PS2: O apelido dado por Blaise a Gina (Ginéca) foi uma homenagem minha a Marina, beta da fic, que só chama a pobre Gina desse modo.