Capítulo Um:
Uma estranha no ninho.
Draco Malfoy observava a garota sentada no Salão Comunal da Sonserina. Cercada de livros, pergaminhos, penas e tinteiros, a menina franzia os olhos de vês em quando, concentrada em seu dever de poções. Ela era realmente esquisita. Ocupara uma mesa inteira, não que alguém estivesse ligando, mas Pansy reclamou em altas vozes que não poderia montar a nova música das animadoras de torcida, e a garota apenas olhou-a sem o menor interesse. De repente algo começou a apitar incansavelmente e todos olharam para o aparelho trouxa de Celina. Ela simplesmente fuzilou-os com o olhar, dando gritinhos de excitação e pequenas gargalhadas após ler alguma coisa. Minutos depois, deixou o computador móvel de lado e voltou-se ao dever de poções. Draco lembrou-se das palavras de Dumbledore, mais ou menos há um mês atrás: Celina Chers, brasileira. O louro matutou. Já havia ouvido falar daquele sobrenome, mas.. onde? Foi retirado de seus pensamentos por Crable, que perguntara algo, mas Draco mandou ele calar a boca e o garoto obedeceu. Voltou a observar Celina, que agora lia um livro. Franziu o cenho, ao pensar que aquela trouxa estava na Sonserina! Como uma sangue-ruin poderia estar na Sonserina? O louro tinha a leve impressão de que o sobrenome dela responderia todas as suas perguntas. Ele ainda olhava-a interminavelmente quando ela levantou os olhos, encarando-o. Bem que Draco tentou mergulhar na profundidade daqueles olhos castanhos, mas Celina escondia tão bem seus sentimentos quanto ele. Malfoy espantou-se por alguns segundos, mas não deixou isto transparecer. Deu um sorrisinho desdenhoso, aproximando-se. Celina continuou a ler seu livro, parecendo muito interessada nas letras. Malfoy chegou mais perto da mesa, encostando-se nela, notando uma lágrima escorrer pelo rosto da garota. Ela rapidamente enxugou-a, arrumando a pilha de livros e pergaminhos, metendo tudo na mochila, passando a mão em seu computador e subindo escada acima, em direção ao Dormitório Feminino do Quarto Ano. Draco apenas resmungou um "sangue-ruim idiota".
Celina acordou em meio à madrugada com Billy lambendo seu rosto. Ela era com certeza a única que possuía um cachorro em toda Hogwarts. Levantou-se, mas não conseguiu encontrar as pantufas, seguindo descalça para a escada. Antes de descer, porém, Celina passou a mão na coleira do cãozinho e enfim seguiu para fora da Sala Comunal da Sonserina. Passou pelas masmorras, indo em direção ao Portão Principal. Seus pés tocavam o chão de mármore gelado, mas a garota estava gostando de sentir o frio. Antes de abrir os portões, colocou a coleira em Billy e seguiu para fora do Castelo. Seus pés tocaram a grama e Cecel sentiu na pele as finas gotas de chuva. Estava triste, por isso uma garoa tão fina. Um arrepio percorreu seu corpo, o vento cortante bagunçou seus cabelos, enquanto ela seguia, com Billy a saltitar ao seu lado. Não estava realmente acostumada a Londres. Usava uma camisola de alçinhas. Lembrou-se de como ficou satisfeita quando o Chapéu Seletor disse "Hum.. uma mente armadora. Consegue tudo o que deseja. Sonserina!". A matéria de que mais gostava era certamente poções, e seu professor preferido, Severo Snape. Este último por sinal, realmente se agradou que uma garota como Celina Chers entrasse na Sonserina, e ainda no quarto ano. Assim ele podia dar a alguém de sua casa os merecidos pontos, porque, mesmo que doesse admitir, Ginny Weasley não era uma péssima aluna, conquistando alguns pontos para a Grinfinória. O sorriso fraco de Celina desapareceu. Chegou ao campo de quadribol e soltou Joejoe pela propriedade. Sentia um vazio dentro do peito, uma vontade insana de chorar. Não estava conseguindo se concentrar. Estudava horas, mas mesmo assim, quase não compreendia. O inglês não foi a barreira para ela não ter feito amigos. Celina estava espantada com a facilidade que teve em compreender a todos. Só não entendia o fato de não ter amigos. Era tão querida pelos seus colegas na sua antiga escola.. Ah, quem estava querendo enganar? O máximo que conseguiu no Brasil não poderia ser chamado de amigo nem na China. Todas as quatro casas de Hogwarts a olhavam de maneira duvidosa, como se ela fosse uma aberração ou algo do tipo. Surpreendeu várias vezes alunos do primeiro ano da Sonserina cochichando. O que fazia, porém, não era algo muito maldoso, mas faria as criancinhas pensarem duas vezes. Mandava um presentinho. Uma moeda redonda, do tamanho de um galeão, que explodia. Apenas um aviso.
Estava louca para o próximo final de semana chegar, haveria visita a Hogsmeade, um povoado totalmente bruxo, de onde ela nunca sequer tinha ouvido falar. Levaria Billy consigo, claro, não tinha com quem ir. Conseguiu falsificar a assinatura da mãe no formulário que entregaria ao Professor Snape. Gritou algumas palavras em português ao cão, que veio correndo e abaixou-se, esperando sua dona colocar-lhe a guia. Celina levantou-se e voltou a dirigir ao castelo, em passos lentos. Parou ao encontrar uma rosa vermelha bem no meio de um monte de grama. Adorava flores e não escondeu a alegria de encontrar uma. Tocou em suas pétalas de leve, derramando mais lágrimas do que esperava. Saudade.. A palavra ecoou em sua cabeça. Queria voltar para o Brasil. Mas não daria esse gostinho para a mãe. Nunca. Se tinha uma coisa que Cecel era, era ser muito orgulhosa. Secou as lagrimas, se concentrando em voltar ao castelo. Seus pés tocando a grama molhada. Seu corpo ensopado pela água da chuva que fez cair. Abriu as portas do portão Principal, tornando a soltar Joejoe, que começou a correr em direção ao salão principal. Celina correu atrás, como uma criança. Então parou abruptamente. Cerrou os olhos, acostumando-se com a pouca luz vinda de uma tocha. Uma figura franzina estava ajoelhada, soluçando.
- Ei.. psiu..
- Me deixe em paz.
- Porque você está chorando? – Perguntou Celina, aparentemente preocupada com o problema da menina.
- Oras! Como se ninguém soubesse! Harry disse-me que sou apenas uma irmã para ele – frisou a palavra irmã, antes de continuar – e devolveu os presentes que eu havia dado. – disse a menina sem levantar a cabeça.
- E você está chorando apenas porque o idiota do cicatriz não te quer?
- Ei! Você é Sonserina! – Falou a garota levantando os olhos para encontrar os de Celina.
- Sou, e daí?
- Aposto que está aqui apenas pra fazer piadinhas.
- Por que eu faria isso? – Perguntou Cecel, achando o comentário da mocinha idiota.
- Por que.. Oras, porque, vocês Sonserinos não perdem tempo! Bastam encontrar um de nós e já começam com suas ceninhas.- As duas estavam de pé, uma olhando a outra.
- "Nós".. Vocês quem? – Falou Celina, impaciente.
- Será possível? Cabelos vermelhos, rostos sem expressão, família numerosa e livros e vestes de segunda mão refrescam sua memória?
- Não ajudou em nada. Perdão por não me apresentar: Celina Chers. Qual o seu nome?
- Gin-Ginny Weasley. – Ginny olhou para a garota parada a sua frente estupefata. Uma sonserina falando com ela? Devia ser um pesadelo.
- Weasley? Esse nome não me é estranho.. hum..
- Claro que não! Todos os sonserinos sabem quem são os Weasley, agora, com licença.
Celina segurou Ginny pelo braço, voltando a falar.
- Eu já sei de onde conheço seu sobrenome.. Minha mãe tem um primo que se chama.. hum.. Arthur Weasley, conhece?
- O-o q-que? Sua mãe é prima do meu pai? – Era muita informação de uma só vez. "Eu sou prima de uma Sonserina?".
- Somos algo como primas, que interessante. Qual sua casa? – Celina pareceu alheia ao espanto de Ginny e se mostrou animada com a descoberta. Arranjara uma amiga!
- Grinfinória. Nunca imaginei que tinha uma prima sonserina. – a ruivinha havia se esquecido que chorara tamanho cúmulo do que estava acontecendo. – Acho melhor irmos para os Dormitórios, ou Filch pode nos pegar.
- Billy vamos. – Celina chamou seu cachorro, pegando-o no colo, assim que o avistou.
- Você é a brasileira que chegou faz um mês? É a única que tem um cachorro como animal de estimação!
- Pelo menos sou original – Comentou Cecel sarcástica, e ambas riram.
Subiram então até o segundo andar. Celina virou à esquerda, enquanto Ginny encaminhou-se para a direita.
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N/A: Obrigada pela review Lara!
