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Capítulo Cento e Dois
Prisões e Porões
31 de Julho, 1993
Muito longe, em uma ilha no Mar do Norte, um homem estava sentado em uma cela de prisão. Apenas um dos muitos prisioneiros perdidos em um borrão de roupas sujas e olhos vazios; apenas uma das muitas celas perdidas em um borrão de chão sujo e baldes de água vazios. Vazio porque a água poderia ser usada para beber ou tomar banho, mas não para os dois. De alguma forma, a desidratação superou a sujeira, embora se soubesse que vários prisioneiros escolheram a morte no final; isto é, se eles pudessem se safar antes que algum Auror os atordoasse, amarrasse e os levasse até um Curandeiro. Geralmente levava apenas alguns dias antes que eles voltassem à saúde, vivendo em sua própria sujeira mais uma vez e desejando a morte.
Sirius Black nunca desejou a morte.
Durante o primeiro ano, ele não desejou nada além de vingança. Nos cinco anos seguintes, ele desejou ficar sozinho, o que funcionou a seu favor, pois não havia ninguém - nem mesmo em Azkaban - que quisesse se associar a ele. Aurores, curandeiros e oficiais visitantes pensaram que ele era um Comensal da Morte secreto, o servo supostamente favorito de Você-Sabe-Quem, o homem que traiu os Potters. Os verdadeiros Comensais da Morte que viviam em Azkaban com ele sabiam a verdade, sabiam de sua inocência, embora ninguém dissesse uma palavra em sua defesa. Mesmo que o fizessem... Quem iria acreditar neles? Para eles, ele era um traidor do sangue, o último de uma linhagem de sangue puros que foi para a merda. Sirius era da opinião de que sua família estava na merda muito antes de ele nascer.
Nos últimos anos, Sirius desejou sua família - sua verdadeira família; a família que ele escolheu para si.
No começo, ele tentou não pensar neles com muita frequência. Os dementadores sentiram sua breve felicidade e se reuniram em sua cela para livrá-lo dela. Com medo de que eles roubassem suas memórias - os últimos vestígios de humanidade que ele reteve - ele se concentrou em sua inocência. Concentrou-se em Peter. Concentrou-se em seu ódio.
Mas o ódio tem um jeito de quebrar um homem.
E Sirius Black se recusava a quebrar.
Ele esperava por um curto alívio quando os dementadores não estavam à vista. Ele esperava os momentos em que os Aurores mudavam de turno, carregando seus Patronos com eles pelos corredores para se protegerem, ou quando escoltavam visitantes, oficiais ou não. Às vezes, havia até dias como hoje, em que o mais alto do Ministério vinha fazer vistorias.
Cercado por Patronos prateados que afastavam os dementadores, Sirius deu um suspiro de alívio com a ausência das horríveis criaturas e encostou a cabeça na parede de cimento de sua cela, desejando que fosse um travesseiro gigante e que, em vez de um frio chão úmido, ele estava no calor de uma cama de dossel. Em vez do uniforme mofado da prisão, ele desejou um jeans trouxa e sua jaqueta de couro. Em vez de uma solidão devastadora, ele desejou uma bruxa em seu colo - sua bruxa - passando os dedos por seu cabelo e beijando aquele ponto logo acima de sua clavícula antes de descer pelo resto de seu corpo.
"Ainda vivo, Black?" Uma voz chamou do lado de fora da cela, o tirando do seu sonho momentâneo.
Sirius Black não era realmente um assassino, mas ele poderia matar. Seus olhos se voltaram para cima para olhar para o rosto redondo e presunçoso de Cornelius Fudge. Ministro Fudge como os Aurores o chamavam. Ele ficou ali parado no que devia ser uma capa antiquada agora listrada com o mais feio chapéu-coco verde no topo de sua cabeça careca, um Profeta Diário enrolado debaixo do braço.
"Estou aqui para as inspeções," Fudge o informou como se fossem conhecidos se encontrando para almoçar em vez de um condenado - até onde alguém poderia ser considerado condenado sem ter um julgamento real - assassino, e um dos homens que o colocaram naquela prisão e literalmente o marcou como um perigo para a sociedade.
Sirius silenciosamente coçou a cicatriz em seu peito que o identificava como um prisioneiro de Azkaban. Apenas uma das poucas cicatrizes que recebeu ao ser jogado na ilha deserta no Mar do Norte. Outra era uma tatuagem em seu pulso, a única tatuagem que ele não havia escolhido para si: um número de prisão. Porque isso era tudo o que ele era agora: um número; um número em um oceano de lunáticos gritando.
"E como vão as inspeções, ministro?" Sirius perguntou. Ele havia pensado em não falar com o homem, mas uma conversa genuína acontecia tão raramente ao longo dos anos, e ele percebeu desde o início que ser um espertinho não lhe valia nada, exceto espancamentos.
"Muito bem. Alguma reclamação?" Fudge perguntou com um bufo.
Houve um ponto em sua sentença perpétua que teria feito Sirius se jogar contra as grades na tentativa de tirar a expressão do rosto do homem. Do jeito que estava, ele não tinha mais forças. Seu corpo havia passado fome quase a ponto de morrer tantas vezes que era preciso um esforço genuíno para levar uma colher à boca para comer. Não que ele tivesse o luxo de coisas como colheres, mas gostava de pensar em uma época em que coisas como talheres não eram algo pelo qual ele ansiava. Era quase engraçado ouvir novos prisioneiros olharem para sua primeira refeição dentro de Azkaban, imaginando em voz alta como eles deveriam comer mingau de um prato sem a ajuda de um utensílio e sem varinha na mão para transfigurar um. Felizmente, Sirius tinha um Animago canino vivendo dentro dele, e ele se importava pouco com o que outros prisioneiros ou guardas pensavam ao ver o homem comendo no chão como um cachorro.
Sirius limpou a garganta seca "Bem, o serviço de quarto é péssimo, e o champanhe que me trouxeram era de 1962 quando eu claramente pedi o de 1974."
Cornelius Fudge riu da piada e, por uma fração de segundo, Sirius Black quase se sentiu humano.
"Não pensei que depois do que você fez com a família você estaria inclinado a comemorar o aniversário dele," Fudge disse, sua risada anterior sumiu de seus olhos – só havia sido deixado um rastro de desdém.
"Que aniversário?" Sirius perguntou.
"De Harry Potter," Fudge disse e jogou sua cópia do Profeta Diário. Lá em cima estava a data: 31 de julho.
Treze, pensou Sirius. Seu afilhado, seu menino, tinha treze anos agora. Ele estaria começando seu terceiro ano em Hogwarts - um ano importante, escolhendo suas aulas eletivas. Sirius se perguntou se ele seria como Lily, Remus e Mia e escolheria coisas como Runas e Aritmância, ou se tentaria algo mais aventureiro como Trato das Criaturas Mágicas. Sirius se perguntou muitas coisas sobre Harry Potter ao longo dos anos.
Não houve notícias sobre seu afilhado por dez anos após a morte de Lily e James e a subsequente prisão de Sirius, mas dois anos atrás, quando Harry foi a Hogwarts pela primeira vez, Sirius ouviu falar dele do outro lado do Mar do Norte. Aurores, curandeiros e guardas eram fofoqueiros terríveis.
"Harry Potter! Dá para acreditar!" Um guarda exclamou. "Meu garoto está um ano na frente dele em Hogwarts. Pelo o que eu ouvi, ele é igual ao pai."
Exceto pelos olhos, Sirius pensou. Harry tinha os olhos de Lily.
"Bom, óbvio, Harry Potter foi para Grifinória," uma curandeiro mencionou para a amiga outro dia. "Os pais dele eram dessa Casa, não? Ele teria sido uma maravilha para a Corvinal, se quer saber a minha opinião."
Grifinória. Sirius sorriu com essa notícia como um pai orgulhoso sorriria. Como James sorriria.
"Vi com meus próprios olhos quando estava visitando minha filha. Ela é uma artilheira da Sonserina. Ele não é o melhor voador, lembre-se - a vassoura estava se debatendo - mas lá, no final, Harry Potter pegou o pomo com a boca!" Um Auror riu com seu parceiro no canto do corredor ao lado da cela de Sirius. "O apanhador mais jovem em um século, dizem."
Sirius não se atreveu a fazer perguntas ou mesmo deixar transparecer que ouvia as conversas deles, com muito medo de que eles parassem de falar perto dele, e ele precisava saber tudo e qualquer coisa sobre Harry - a única coisa boa que ele sentia ter deixado nesse mundo. Um mundo que havia tirado todo o resto dele. As notícias sobre Harry Potter sustentavam sua vida.
"Vivendo com trouxas", dissera um Desfazedor de feitiços do Ministério ao passar por lá um dia, avaliando as proteções de segurança. "Dá para acreditar? Harry Potter vivendo com trouxas todos esses anos."
"O quê?" Sirius murmurou, mas não alto o bastante para alguém ouvir.
"Bom, a mãe dele não era uma Sangue ruim?"
"Sim, eles são parentes dela, eu imagino."
Sirius correu para as barras em fúria. "O quê?!"
Esse incidente havia ocorrido há mais de um ano e Sirius teve que ser atordoado para que um curandeiro forçasse uma Poção Calmante especial preparada na prisão em sua garganta. Ele acordou dois dias depois machucado e quebrado, mas ainda chateado por descobrir que Harry - por algum maldito motivo - foi criado por Petunia e Vernon Dursley.
Que merda Dumbledore estava pensando?
Ele soube do destino dos Longbottoms. Ao contrário do resto da população prisional, que negava constantemente os crimes que haviam cometido, Bellatrix e os irmãos Lestrange ficaram muito satisfeitos consigo mesmos quando foram trazidos aos gritos de seu triunfo. Ainda assim, mesmo que Alice e Frank estivessem incapacitados, restava Remus. Por que Remus não estava criando o menino como James e Lily queriam? Isso fez Sirius se preocupar com o destino final de seu amigo - um amigo que ele pensava ter sido um traidor - mas não era como se Sirius pudesse solicitar informações sobre alguém de fora, especialmente um lobisomem.
Ele traçou com o polegar a data no jornal de Fudge como se fosse o rosto de Harry, lembrando-se de treze anos atrás, quando ele acordou de um coma induzido por álcool bem a tempo de James lhe socar repetidamente e a bolsa de Lily estourar. Perdido em seus pensamentos e memórias, Sirius nem notou quando Fudge saiu com os Aurores. Agarrado ao papel em suas mãos, sentiu-se imensamente grato por ter algo para ler. Apesar de sua reputação juvenil de preguiçoso, Sirius armazenava conhecimento como uma arma que um dia poderia achar útil. Deixar seu cérebro apodrecer aqui em Azkaban ao lado de seu corpo ao longo dos anos foi tão doloroso quanto tocar seu cabelo imundo e emaranhado. Ele se lembrava de uma época em que sua cabeleira negra era limpa e macia o suficiente para uma bruxa — sua bruxa — passar os dedos por ela.
Ele deu uma olhada nas notícias recentes do Quadribol e os relatórios da próxima Copa do Mundo que aconteceria no ano seguinte. Merlin, como ele sentia falta de voar. Ele olhou para o centro do papel onde estava uma fotografia de família.
FUNCIONÁRIO DO MINISTÉRIO DA MAGIA GANHA GRANDE PRÊMIO
Arthur Weasley, Chefe do Escritório de Uso Indevido de Artefatos dos Trouxas no Ministério da Magia, ganhou o sorteio anual do Grande Prêmio do Profeta Diário. Um encantado Sr. Weasley disse ao Profeta Diário: "Vamos gastar o ouro nas férias de verão no Egito, onde nosso filho mais velho, Gui, trabalha como Desfazedor de Feitiços para o Banco Gringotes." A família Weasley passará um mês no Egito, retornando para o início do novo ano letivo em Hogwarts, que cinco dos filhos Weasley frequentam atualmente.
"Bom para eles," Sirius comentou consigo mesmo ao se lembrar de um jovem Arthur Weasley, um dos amigos de Mia do Ministério. Ele lembrou que o homem tinha vários filhos e estava rolando uma brincadeira em que ele e Mia apostavam no sexo do mais recente. Sirius se perguntou quem teria vencido.
Seus olhos percorreram a fotografia da adorável família: pais orgulhosos e filhos entusiasmados. Ele se perguntou quantos filhos ele e Mia já teriam. Ele se perguntou se Remus teria encontrado sua companheira e se acomodado para criar alguns filhotes. Ele se perguntou se James e Lily teriam mais do que apenas Harry. Sirius decidiu que Harry poderia ter tido uma irmã. James e Mia eram um par perfeito enquanto cresciam, e ele tinha certeza de que Lily teria insistido em ter alguém como Mia lá para moderar o ego que Harry certamente herdaria de seu pai.
Sorrindo com o pensamento, ele examinou a foto novamente, notando as duas crianças mais novas na foto. O irmão estava com o braço em volta da irmã, ambos sorrindo alegremente, e no ombro do menino havia um rato.
O sorriso de Sirius desapareceu quando ele notou algo estranho nos dedos da pata do rato: um estava faltando.
3 de Agosto, 1993
Remus gemeu ao acordar no porão escuro. Ele odiava este porão ainda mais do que a Casa dos Gritos. Ele ansiava pelo Pomar dos Potter, onde ele poderia realmente correr, mas como seu único espaço disponível era o porão sangrento que havia sido devidamente protegido contra sua forma de lobo. A mesma forma que aparecia a cada mês, assumindo o controle total de seu corpo e deixando-o quebrado, ferido e exausto na manhã seguinte.
Fechando a porta do porão atrás de si, Remus a trancou com um aceno cansado de sua varinha em uma tentativa inútil de fazê-la desaparecer por mais um mês. Ele esticou os músculos doloridos e parou em frente a um espelho pendurado na parede do corredor para verificar se havia infligido mais danos permanentes a si mesmo.
"Sem cicatrizes," Remus sussurrou para si mesmo, pensativo. "Apenas hematomas. Muito obrigado, Sr. Moony." Ele estremeceu quando uma dor profunda atravessou sua parte inferior das costas. Suspirando, ele olhou para seu reflexo. Apesar de ter apenas trinta e três anos, Remus percebeu que parecia muito mais perto dos quarenta. Sua pele estava pálida, seu cabelo louro-claro estava ficando grisalho e as olheiras o faziam parecer assombrado, o que muitas vezes era como ele se sentia, especialmente após a lua cheia.
Ele foi até a cozinha onde pôs a chaleira no fogo, virando-se para olhar as três latas de sopa que sobraram da mercearia que comprou há um mês, graças a um emprego temporário que conseguira trabalhar como zelador em uma mercearia trouxa. Trouxa porque não havia leis que o impedissem de trabalhar lá. Temporário porque mesmo na Londres trouxa, ele ainda era um lobisomem e tinha que ficar doente vários dias por mês. Após os primeiros dois meses, ele foi chamado de lado e informado de que estava desenvolvendo um padrão de atendimento e precisava quebrá-lo ou então eles encontrariam alguém que pudesse fazer o trabalho adequadamente.
Pelo menos seu último cheque foi capaz de encher os armários com comida. Agora estava acabando, e Remus desejava como o inferno que o jardim que ele tentou plantar no início daquele ano tivesse criado raízes. Ele se repreendeu mentalmente por desistir de Herbologia no sexto ano.
Ele bocejou ao entrar na pequena sala de estar, ansioso para se sentar no sofá e relaxar pela manhã com um bom livro. Infelizmente, o sofá estava ocupado.
"Merlin!" Remus gritou em choque, pulando para trás ao ver outro bruxo em sua casa. O chá quente espirrou nas laterais da xícara e caiu em suas mãos, queimando-o. Ele estremeceu, deixando cair a caneca completamente. "P-Professor Dumbledore?"
"Bom dia, Remus." Os olhos azuis de Dumbledore brilharam. "Peço desculpas pelo susto."
"Como...?" Remus começou, coração acelerado e respiração instável. "Como você passou por minhas proteções sem que eu fosse alertado?"
Dumbledore apenas ergueu uma sobrancelha incrédula.
"Há algo em que eu possa ajudá-lo, senhor?" Remus perguntou, pegando sua varinha para limpar a bagunça de chá derramado e cacos de vidro no chão. Ele ignorou completamente as queimaduras em suas mãos. O que era mais um machucado? "Raramente recebo, mas posso oferecer-lhe chá, se quiser."
"Não, obrigado," Dumbledore respondeu com um sorriso que se desvaneceu em um suave olhar de pena que Remus estava muito familiarizado. "Fiquei triste em saber sobre seu pai."
Remo franziu a testa. "Obrigado."
"Vocês dois se reconciliaram antes de ele morrer?"
Ele assentiu. "Algo parecido."
Depois de perder seu apartamento no Beco Diagonal, Remus não tinha outro lugar para ir e veio implorar a seu pai por refúgio. Lyall Lupin o aceitou de volta com as estipulações de que Remus não se envolvesse com mais ninguém - já que foi seu relacionamento com Mia Potter que aparentemente aumentou as preocupações de Lyall. Remus sabia que seu pai tinha um problema muito antes de se envolver com Mia, mas não havia sentido em discutir, não quando Remus não desejava levar uma bruxa - especialmente quando a única a quem ele estava destinado nem havia entrado em Hogwarts ainda - então ele concordou com as regras ridículas.
Ao longo dos anos, ele cuidou de seu pai doente, que ainda bebia demais, mas nem de perto como Remus tinha visto Sirius beber anteriormente. Lyall, por exemplo, nunca entrou em coma. Embora, no final, ele tenha bebido até a morte. A cirrose era algo que raramente matava bruxos e bruxas – Sirius Black era a prova viva disso. Um bruxo poderia suportar muito mais danos aos seus órgãos do que um trouxa, mas não era impossível. Lyall Lupin acabou sucumbindo às décadas de doença, deixando só a casa para Remus e nem mais um sicle.
"Ouvi dizer que você está procurando trabalho," Dumbledore comentou pensativamente. "Um amigo disse que você vem ao Ministério várias vezes por mês para entregar currículo."
Os olhos de Remus se arregalaram ligeiramente. Ele havia, de fato, deixado vários formulários no escritório de Uso Indevido de Artefatos Trouxas e vários outros departamentos localizados no Nível Dois dentro do Ministério. Ele reaplicava pelo menos uma vez por mês, sempre sabendo que nunca conseguiria o emprego. O que a aplicação ofereceu a ele, no entanto, foi um breve vislumbre do Escritório dos Aurores, onde uma recém formada de Hogwarts com cabelo ocasionalmente roxo começou a seguir o velho Alastor Moody, enchendo-o de perguntas, solicitando tarefas e - pelo menos duas vezes por dia - tropeçando na lixeira no canto da sala.
Com apenas um assassino trancado em Azkaban como o único membro solitário restante da sua matilha - exceto por Harry, é claro, a quem ele foi proibido de contatar - Remus silenciosamente vigiava sua companheira ao longo dos anos. Primeiro, coincidindo as viagens à Escócia para coincidir com os fins de semana de Hogsmeade, onde ele poderia observar à distância para se certificar de que ela estava segura e feliz, sabendo que ele não poderia oferecer a ela mais nada. Mais tarde, quando ela se formou apenas para se juntar aos Aurores, ele foi dominado pelo medo e pela necessidade de protegê-la. Foi apenas a lembrança das palavras reconfortantes de Mia que o impediram de procurar Nymphadora Tonks. Mia os conheceu no futuro, o que significava que Nymphadora - que gostava de ser chamada de Tonks - estava segura... por enquanto. Claro, tudo dependia de Remus ter ou não arruinado aquele potencial futuro de onde Mia veio.
"Estou procurando emprego em qualquer lugar, para ser honesto," Remus respondeu casualmente.
"Adorável coleção," Dumbledore comentou, examinando as estantes de Remus que estavam cobertas do chão ao teto em todos os assuntos imagináveis, a maioria deles sobre medidas defensivas contra Artes das Trevas, Runas Antigas e alguns títulos selecionados sobre Magia do Tempo.
Remus tinha tudo, desde Monstruosidades Mais Macabras, e Sereianos: Um Guia Abrangente para Sua Língua e Costumes, até Um Compêndio de Maldições Comuns e Suas Contra-Ações, e surpreendentemente, Por que Licantropos Não Merecem Viver.
Os dedos de Dumbledore percorreram aquele livro em particular. "Você leu Andanças com Lobisomens?"
Remus bufou e cruzou os braços sobre o peito "Absolutamente não. Gilderoy Lockhart é um idiota de classe maior."
"Ele era, até recentemente, nosso professor de Defesa Contra as Artes das Trevas," Dumbledore disse com um sorriso.
Remus ficou boquiaberto em choque. "Com todo o respeito, você simplesmente ficou sem pessoas para aceitar o trabalho? Eles não eram todos horríveis quando eu estava na escola, mas mesmo o Comensal da Morte anti-lobisomem que tentou nos matar durante o quinto ano não era totalmente sem utilidade."
"É uma posição bem difícil de preencher," Dumbledore admitiu, parecendo se divertir com a irritação de Remus. "Um problema que eu esperava corrigir agora. Você gostaria de um emprego em Hogwarts?"
Era como se o ar tivesse sido sugado para fora da sala. Um trabalho? Um verdadeiro trabalho com dinheiro. Não apenas dinheiro, mas um lugar para morar que não precisava urgentemente de reparos. Não apenas qualquer lugar para morar, mas Hogwarts, um lugar que foi uma segunda casa para ele nos anos mais importantes de sua vida. A casa onde conheceu seus melhores amigos, formou sua matilha, passou as noites revisando na biblioteca e as manhãs comendo juntos na mesa da Grifinória onde - Comida! Um trabalho que fornecia três refeições completas por dia!
Remus estava tremendo só de pensar nisso.
"O pagamento não é tanto quanto eu gostaria de oferecer," Dumbledore explicou, evidentemente tomando o silêncio de Remus como uma tática de negociação. "Mas há alojamento e alimentação, é claro, e você poderá criar seu próprio currículo. Teremos um substituto disponível para as luas cheias, sem mencionar que tenho certeza de que Poppy ficaria feliz em dar uma olhada na sua saúde mais uma vez. Ah, e nós temos um Mestre de Poções que está disposto... ou estará disposto," ele se corrigiu, "para preparar sua Wolfsbane."
Remus sentiu seus joelhos cederem e caiu no chão.
Dumbledore ignorou a reação. "Não tenho certeza de onde você compra sua Wolfsbane agora, mas posso garantir que não há melhor Mestre de Poções do que o que temos em Hogwarts."
"Eu não compro." Remus sufocou as palavras em um sussurro.
Dumbledore inclinou sua orelha para frente. "Desculpe?"
"Eu... eu não compro Wolfsbane," Remus disse através de uma exalação trêmula. "Eu não posso... É muito... O custo é..." Fechou os olhos, lembrando-se da última vez em que pensara por conta própria durante a lua cheia. Anos. Fazia quase quatorze anos. Catorze anos desde que Mia desapareceu.
"Eu aceito o trabalho," Remus finalmente disse com um sorriso agradecido.
"Maravilhoso!" Dumbledore disse brilhantemente e moveu-se para se levantar. "Oh, e havia, é claro, uma razão pela qual vim primeiro a você para esta posição. Você tem lido o Profeta Diário?"
Remus balançou a cabeça. Jornais custam dinheiro. "Não vejo um há algumas semanas. Por quê?"
Dumbledore enfiou a mão em suas vestes, o sorriso desapareceu de seu rosto quando ele retirou uma cópia dobrada do jornal de magia.
Remus pegou com apreensão e olhou para a imagem de um rosto que não via há doze anos. "Não," ele murmurou baixinho.
BLACK AINDA FORAGIDO
Sirius Black, possivelmente o prisioneiro mais infame de todos os tempos na fortaleza de Azkaban, ainda está fugindo da captura, confirmou o Ministério da Magia hoje. "Estamos fazendo tudo o que podemos para recapturar Black," disse o Ministro da Magia, Cornelius Fudge, esta manhã, "e imploramos à comunidade mágica que mantenha a calma." Fudge foi criticado por alguns membros da Federação Internacional de Bruxos por informar ao Primeiro Ministro trouxa sobre a crise. "Bem, realmente, eu tive que informá-lo ," disse um Fudge irritado. "Black é louco. Ele é um perigo para qualquer um que o contrarie, mágico ou trouxa. Tenho a garantia do Primeiro Ministro de que ele não dirá uma palavra sobre a verdadeira identidade de Black a ninguém. E vamos encarar - quem acreditaria nele se ele falasse?" Enquanto os trouxas são informados de que Black carrega uma arma (uma espécie de varinha de metal que os trouxas usam para matar uns aos outros), a comunidade mágica vive com medo de um massacre como o de doze anos atrás, quando Black assassinou treze pessoas com um único golpe.
"Como isso é possível? Você não pode escapar de Azkaban." Ele encarou, horrorizado, a imagem gritante de Sirius Black – uma vez seu amigo, uma vez sua matilha. Um homem que ele pensou que nunca poderia prejudicar aqueles que amava. Um homem de quem Remus ainda estava, de alguma forma, inexplicavelmente jurado de cuidar, graças a uma promessa que havia feito a Mia quatorze anos antes, antes que ela desaparecesse de sua vida.
Ele se lembrava do Voto Perpétuo. Ele havia prometido a Mia que somente depois de quinze anos ele revelaria a Sirius suas verdadeiras origens. Especificamente este ano. Sua boca se abriu ao perceber que, de alguma forma, ele não deveria ter quebrado a linha do tempo, afinal. Mas isso também significava algo muito mais horrível: ela sabia. Ela sabia sobre Sirius e Azkaban – sobre Lily e James. Ela sabia que ele escaparia este ano. Por quê? Por que isso?
Remus havia refletido sobre seu Voto de tempos em tempos ao longo dos anos, geralmente quando tropeçava na caixa com as coisas de Sirius que Dumbledore havia lhe dado no funeral de James e Lily. Lembrando que ele não poderia quebrar a varinha de Sirius sem receber um aviso doloroso, ele tentou empurrar os pensamentos de seu ex-amigo para o fundo de sua mente, sabendo que era inútil. Era tudo inútil, já que Sirius Black estava preso em Azkaban pelo resto de sua vida miserável. E ninguém escapou de Azkaban.
Exceto... Sirius Black tinha feito exatamente isso.
