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O Cavaleiro Celestial

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A música estava alta e as luzes estroboscópicas deixavam a pista de dança parcialmente iluminada. O habitat natural de Duo estava a poucos passos de distância. Animados pela música, Duo e Chris dançaram por algumas horas; Shinigami notou que além de tudo, Chris dançava surpreendentemente bem. "O cara é prefeito em tudo! - pensou com seus botões".

- Quer beber alguma coisa? - Duo foi surpreendido pela voz de Chris que gritava próximo a seu ouvido. O piloto do Deathscythe virou a cabeça de repente e seus lábios esbarraram contra os de Chris.

Duo e Chris se afastaram um do outro, vermelhíssimos. O 02 chegou a sentir uma vertigem quando o "it" de Chris, meio descontrolado se lançou sobre ele. As pessoas em redor deles também tiveram sua atenção desviada da música alta e olharam para os rapazes encabulados. Os dois saíram rapidamente da pista, sem olhar um para o outro.

Andaram rapidamente (correram desenfreados!) até o bar onde se sentaram. Olharam-se e começaram a rir.

- Nascemos pra pagar mico, hem, Duo?

- Cada mico que vou te contar... Olha, daqui a pouco eu vou exigir um mandato de interdição ou coisa do gênero.

- É você que tá vindo pra cima... - disse Chris com um sorriso sarcástico.

Pararam de rir quando perceberam o garçom olhando com uma cara meio estranha para eles.

- Você vai querer alguma coisa, Duo?

- Uma coca-cola: não sou muito fã de álcool.

- O mesmo pra mim. - disse Chris, dirigindo-se ao garçom.

Quando as bebidas chegaram, os dois se encararam meio silenciosos. Estranhamente, Duo reparou no gosto que sentia na boca: parecia chocolate... Mas era diferente, ainda mais doce...

- Vamos indo? Tá meio tarde e amanhã a gente tem aula...

Duo concordou e seguiu Chris até a saída. Entraram no carro (Chris estava dirigindo agora) e foram até a casa dos pilotos. Duo se assustou quando viu que já passava das três.

- Putz...! Três da manhã! O Heero vai me matar!

- Ele é tão superprotetor assim?

- Quem dera... Ele só não gosta que eu saia durante a semana.

- Bom, não sei se vou ajudar, mas acho que posso assumir a culpa pelo seu atraso...

- Nah, é melhor você não se meter... Você não conhece o Heero...

Quando chegaram à casa dos pilotos, um Heero muito irritado saiu pela porta e foi até o carro; literalmente arrombou a porta do conversível e puxou Duo para fora pela trança. Duo tentava reclamar, mas o olhar gelado de Heero o assustava demais para que pudesse fazê-lo.

- Hei! - berrou Chris, saindo do carro - Solta ele!

Heero enrugou as sobrancelhas para ele: não estava acostumado a ser desafiado.

- Vai pra casa, Chris. Pode ficar tranqüilo que eu só quero conversar com o Duo...

- Ahã... Nem vou fingir que acredito. Larga ele.

Heero largou Duo de qualquer jeito na grama do jardim da casa, circulou o carro e agarrou Chris pela camiseta.

- Quem você pensa que é pra me dar ordens? O que você quer do Duo? Fala!

O piloto do 01 sentiu algo parecido com um pequeno choque quando Chris, um pouco mais alto que ele, o ergueu pela camisa e o lançou para trás. Heero não perdeu o equilíbrio e partiu para cima do rapaz loiro, golpeando-lhe a face esquerda com o punho.

Chris foi jogado contra o carro, mas se recuperou rápido o suficiente para socar Heero no peito. O soldado perfeito sentiu novamente algo como um choque, mas muito mais forte que o primeiro; caiu de costas no asfalto.

- Parem os dois! Que inferno! Agora vão ficar aí se moendo de pancada? - Duo berrou, levantando-se e indo em direção a casa. Entrou e bateu a porta. Heero tentou levantar-se para seguir Duo e ficou espantado quando viu que não conseguia fazê-lo.

De repente, sentiu que uma força estranha o erguia. Parecia que alguém o agarrava pela gola da camisa e o puxava para cima. Foi graças àquela força que pôde ficar de pé.

- Eu geralmente não gosto de brigar, mas o que você tava fazendo com o Duo me deixou com o sangue meio quente... Saiba que da próxima vez que eu te vir fazendo algo assim com ele, eu não vou ser bonzinho a ponto de te levantar...

Heero notou, meio abobalhado que Chris estava a alguns passos de distância dele: como o cara podia tê-lo levantado sem tocá-lo. Chris lançou mais um olhar gelado para Heero, entrou no carro e foi-se.

O soldado perfeito entrou na casa ainda cogitando como Chris podia atacá-lo daquela maneira. A sensação do choque, a paralisia quando havia caído e a maneira como ele o levantou... Definitivamente havia algo de estranho nesse cara.

Subiu as escadas e foi até a porta do quarto de Duo. Era estranho como se pode gostar tanto de uma pessoa numa hora e na seguinte ficar louco de raiva com ela... Bateu de leve e não ouviu resposta alguma.

- Duo? - O deus da morte continuou completamente calado. Chamou-o mais duas vezes e, desistindo, foi para seu quarto.

Duo olhava o teto insistentemente, procurando algo que o permitisse entender o que estava acontecendo com ele. Heero e Chris...?

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Na manhã seguinte, Duo acordou mais animado. Afinal era sexta-feira e haveria um fim de semana inteiro pela frente. Arrumou-se e desceu para comer alguma coisa. Não havia ninguém na cozinha, fato que o deixou muito surpreso. " Aqueles caras vão se atrasar... - pensou.". Ficou muito furioso quando viu que havia levantado uma hora mais cedo do que geralmente.

Meio irritado consigo mesmo, deixou um bilhete sobre a mesa ("Fui a pé!") e saiu. A caminhada até a escola era meio longa, mas já fazia um tempo que Duo pensava em voltar a se exercitar: estava parado demais! Estranhou a falta de movimento na rua...

Quando chegou ao colégio, não viu ninguém. Olhou para os lados e não viu viva alma na rua. "Agora sim tô ficando assustado... - pensou". Estranhou quando viu Chris descendo a rua numa regata branca e com uma bermuda laranja, correndo. Ele parou e olhou para Duo como alguém que não tem certeza do que vê.

- Duo? O que você tá fazendo aqui?

- Como assim? Vai dizer que hoje não tem aula?

- Hoje é feriado mundial Duo: Não ficou sabendo? A imperatriz foi assassinada, pelo que eu li no jornal de hoje.

- Quê? A imperatriz Relena foi...?

- Yeah. E pelo que eu vi na internet foi um piloto Gundam que fez isso.

Duo quase teve um treco quando ouviu aquilo.

- Você tá bem? - perguntou Chris meio assustado - Ficou pálido de repente...

- Tô legal... Só o choque, sabe como é...

- Hm. Por um instante achei que fosse um dos pilotos... - Chris disse sorrindo - E aí? Tá a fim de fazer cooper?

- Não, valeu o convite... Acho que vou voltar pra casa.

- Eu até te acompanharia, mas acho que ainda é meio cedo pro Heero me ver por lá.

- Por falar no Heero, como é que você conseguiu derrubá-lo daquele jeito? Nem o Wufei, que dá aula de caratê, consegue fazer o que você fez!

- Bom..., não fui muito honesto sobre o meu "it". Eu sei fazer mais coisas com ele do que apenas dominar as pessoas...

- Tipo...?

Duo viu Chris enrugar de leve as sobrancelhas, como se estivesse fazendo um esforço físico. Ficou sem ação quando percebeu que flutuava a alguns centímetros do chão.

- Ufa! - Chris disse, soltando Duo, fazendo com que ele caísse de pé - Não posso fazer isso por muito tempo, mas é uma boa mostra.

- Então, você tem habilidades psíquicas? Que irado!

- Você é um dos poucos que entende assim; a maioria das pessoas acha que eu leio mentes e provoco acidentes.

Duo olhou para Chris com uma cara de assustado.

- Você lê mentes?

- Geralmente não. Se a pessoa estiver muito concentrada em algo, com uma idéia fixa, por exemplo, aí sim, eu consigo ter uma idéia geral do que ela está pensando. Mas as pessoas dificilmente ficam assim tão concentradas numa única idéia. Então, não precisa se preocupar quanto a isso.

- Isso é um alívio... - disse Duo - Bom, eu vou indo. A gente se fala!

- Valeu. Quer sair no fim de semana?

- Sei lá. Qualquer coisa eu te ligo, ok?

- Tá bom.

Chris e Duo se afastaram, ambos com algumas idéias novas na cabeça. O rapaz com a trança pensava em como Relena podia ter sido assassinada por um piloto Gundam. "Quem será que fez isso? - pensou". O rapaz loiro, continuando sua corrida, sorria de orelha a orelha. Um dos pensamentos de Duo o tranqüilizava pelo que havia feito à noite passada. "E vai me consolar pelo que terei que fazer. - pensou Chris".

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Duo praticamente voou até a casa dos pilotos, onde não os encontrou. Levou um tempo pensando até que entendeu o que acontecera: provavelmente já tinham ido averiguar o que havia acontecido com Relena. Pegou o telefone e discou o número de Quatre.

- Alô! Quatre, é o Duo. Onde vocês estão?

- Onde é que VOCÊ tá, Duo? - respondeu o loirinho com a voz meio alterada - Você não tem idéia do que aconteceu!

- Mataram a Relena! Eu não sou tão avoado assim, Quatre!

- Desculpa. - disse Quatre - Eu tô meio nervoso... Pega o carro e vem até o palácio do governo.

Em quinze minutos, Duo já estava nos portões do palácio, onde um guarda já o esperava. Ele foi conduzido até uma entrada lateral e pôde ver que a área residencial do palácio havia sido destruída. Desceu uma escada até uma sala subterrânea, onde os outros pilotos, Umi e Zechs estavam discutindo.

- Um novo Gundam... - disse Umi em voz alta - É impossível. Não existem mais minas de Gundanium na Terra ou nas colônias.

- E porque essa certeza de que esse Gundam é feito de Gundanium? - perguntou Wufei - Quer dizer, tem uma dúzia de ligas metálicas que podem ser usadas pra montar um Móbile Suit.

Zechs respondeu com uma voz que não disfarçava seu profundo abatimento.

- Tem um dispositivo de radar que detecta Móbiles Suits no subsolo do palácio. Só Móbiles de Gundanium podem se mover num raio de cem quilômetros da cidade sem disparar um alarme na casa de vocês. Ou seja...

Zechs foi interrompido pela chegada de um soldado que carregava um pequeno pacote. Ele se aproximou de Umi, ficou em posição de sentido e estendeu o pacote a ela.

- A fita que requisitou, general. (Relena havia elevado a patente de Umi alguns meses antes).

Umi dispensou o soldado e, abrindo um armário na parede da sala, revelou uma tv e um vídeo. Pôs a fita e pediu que todos se aproximassem. A primeira imagem que viram foi a sombra do Gundam, conforme ele pousava no pátio externo do palácio. A imagem foi posta em Pause, para proporcionar uma melhor visão do novo Gundam.

Era uma máquina incrível. Todos naquela sala conheciam o poder dos Gundams e, mesmo assim, não puderam deixar de ficar impressionados. Era mais alto do que a maioria dos Móbiles Suits convencionais; possuía quatro asas pontudas, desenhadas para estabilizar pousos. Portava um escudo enorme, quadrado, com um desenho que era difícil de definir e uma enorme maça (uma arma medieval - é uma barra ligada a uma corrente que se conecta a uma bola metálica cheia de pontas). Trazia ainda duas enormes espadas penduradas nas costas. O desenho básico (os pilotos notaram isso de imediato) era extraordinariamente parecido com os dos Gundams originais.

- Que loucura é essa! - berrou Duo - Como é que ele teve acesso aos planos dos nossos Gundams?

- Somente alguém de dentro do palácio poderia ter liberado essas informações... - disse Heero -Nos estamos lutando contra um inimigo dos piores, se ele tem apoio de dentro do palácio. Ainda mais com uma máquina dessas.

- Senhorita Umi? - disse Quatre - Será que não existe uma maneira de usar o radar para localizar os Gundams ao invés de ignorá-los?

Foi Zechs quem respondeu.

- Qualquer radar convencional capta um Móbile Suit, seja de Gundanium ou não. Pus quarenta Móbiles Áries no encalço dele, mas esse Gundam é rápido demais, mesmo para os Áries. Ele seguiu para o sudoeste, pelo menos por uns 750 Km antes que o perdessem.

- Então, - disse Trowa - tudo que podemos fazer é procurá-lo.

Mal Trowa disse isso, a fita continuou a rodar e os pilotos viram o que esse novo Gundam era capaz de fazer. Ele sacou as duas espadas, brilhantes (lembram o ataque do SandRock) e golpeou com enorme precisão a área do palácio onde ficava o quarto de Relena. Embainhou-as e começou a golpear com a maça.

Umi desligou a fita, pois Zechs havia ficado mortalmente pálido. Um a um, os pilotos foram saindo daquela sala, deixando que Umi consolasse Zechs.