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O Cavaleiro Celestial
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- Cavaleiro Celestial? - repetiu Duo, tentando interpretar aquelas palavras.
Chris riu baixinho.
- Bem que me avisaram sobre o soldado perfeito... "Os outros vão ser fáceis de enganar comparados ao piloto do 01".- citou uma frase de uma conversa de algum tempo atrás.
- Você sabia sobre os Gundams então? - disse Duo meio desolado e impressionado.
- Desde o começo. Antes de te conhecer eu já sabia de tudo. Fazia parte da minha missão...
- E essa missão era... - continuou Heero, forçando Chris a falar.
O loiro, com voz muito velada, disse, quase num sussurro:
- Eliminar o piloto do 02...
- Quê?
- Isso mesmo que você ouviu, Duo: - disse Heero, ainda sem desviar o olhar de Chris - esse maníaco não passa de um assassino de aluguel...
Duo olhou para Chris; o loiro sentiu como se toda a dúvida e toda a incompreensão do planeta olhassem para ele num único instante. Não pôde suportar o olhar.
O piloto do 02 fez cara de choro e saiu correndo da sala, indo até o carro de Heero. Heero tentou impedi-lo, mas já era tarde: Duo havia feito uma ligação direta e ido embora.
- Viu só o que você fez? - berrou Heero na direção de Chris, que continuava com os olhos voltados para o chão - Eu devia... - o piloto do 01 começou a aumentar a força do indicador sobre o gatilho da arma.
De repente, uma força estranha ergueu o corpo de Heero do solo e o lançou violentamente contar a parede da sala, fazendo-o perder os sentidos. Com a raiva, o "it" havia voltado com força total. O loiro estava desfigurado de tanto ódio: haviam lhe tomado o pai e agora até mesmo Duo... Ele pegou o revólver no chão e o apontou para o peito de Heero, da mesma maneira que o piloto do 01 o havia feito há alguns poucos instantes.
- Não Heero... Eu é que devia...
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- ...mas não vou... A última coisa que eu preciso é de mais um assassinato...
O loiro largou a arma no chão, perto de Heero. Respirou fundo para colocar as idéias em ordem e foi até a parede da sala, logo atrás do piloto desmaiado. Afastou um dos quadros e revelou um pequeno botão, quase imperceptível.
Pressionado, o botão revelava um teclado numérico na parede oposta. Chris digitou a senha e pegou o cilindro do tamanho da palma de sua mão que saíra de um compartimento secreto no chão. Não tinha muito tempo até que Zechs chegasse com o Tal-Giesse.
Antes de sair da sala, olhou mais uma vez para Heero: era quase engraçado pensar que aquele piloto queria matá-lo. O soldado perfeito agora ostentava uma expressão tão serena, tão diferente daquela que mostrava alguns minutos antes.
- Você também o ama, não é? - disse Chris, sorrindo - Sei bem como é isso e não posso te culpar. O Duo... Não tem explicação. Ele é o tipo de pessoa que todo mundo acaba gostando, de um modo ou de outro... Ah, bem, você vai me desculpar, mas eu tenho que sair logo daqui, antes que o Zechs venha e acabe com a minha raça. Além do mais, - disse com um sorriso maior - eu tenho coisas mais importantes pra fazer do que ficar aqui falando com alguém desmaiado...
O loiro saiu e trancou a porta. Abanou para uma velhinha que morava na casa vizinha a sua, pegou seu carro e saiu, indo em direção ao centro. No mesmo instante, o tempo que Zechs havia dado a Heero para que retirasse Duo da casa acabou. O Tal-Giesse remodelado e vinte Móbiles Áries decolaram em direção à casa de Chris.
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Duo chorava enquanto dirigia. Mal podia ver direito por causa das lágrimas e não conseguia entender tudo o que havia ouvido. A pessoa que ele mais amava tinha que matá-lo... Por que Chris havia brincado com ele daquela maneira era um mistério... Devia ter acabado com ele logo na primeira oportunidade, ainda na lanchonete. Teria sido menos doloroso...
Estacionou o carro de Heero de qualquer maneira na entrada da casa dos pilotos e subiu correndo as escadas, indo para seu quarto, sem dar atenção alguma aos chamados de Quatre, que ficara preocupado ao ver o estado em que seu amigo se encontrava. Trancou a porta e enterrou a cabeça no travesseiro, ignorando os apelos de Quatre e Trowa. Precisava ficar sozinho, por as idéias em ordem. E acima de tudo, precisava chorar. Foi o que fez até pegar no sono.
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Chris dirigia pela cidade com determinação. Precisava falar com Duo antes do fim, mas não queria o piloto do 02 metido na guerra entre ele e Zechs. Miliardo queria vingança a qualquer preço e não mediria as conseqüências para obtê-la. Nem mesmo que tivesse que matar Duo para chegar até Chris. O sexto piloto tinha a impressão de que (apesar de tudo) Duo acabaria defendendo-o.
Entrou na garagem do Shopping e estacionou o Lamborghini. Um carro vistoso como aquele apenas iria chamar a atenção e facilitar que Zechs o localizasse.
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Saiu do shopping a pé, portando apenas o cilindro que estava escondido em sua casa. Chris chamou um táxi e pediu que o levasse até os arredores da cidade. Logo, logo teria uma batalha difícil pela frente.
Dentro do táxi, ouviu uma música que lhe pareceu familiar. "White Reflection?". Tentou se controlar, mas não foi capaz de desvincular a imagem de Duo da música que tocava. Algumas lágrimas caíram sobre o estofamento do carro.
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De volta à casa dos pilotos, tínhamos uma cena muito incomum. Duo dormia trancado em seu quarto, o rosto ainda banhado de lágrimas. Trowa e Quatre assistem a um filme na sala de estar, pois, segundo Trowa "Não adianta tentar forçá-lo a conversar agora. Vamos deixar que ele se acalme antes de tentar qualquer coisa". Mas Wufei não estava tão confiante assim: alguma coisa muito grave devia ter acontecido com o Duo para ele entrar chorando daquele jeito.
O piloto do 05 também não conseguia esquecer a cara de Heero quando Duo saiu na tarde anterior com Chris. Ele ficou lá parado por quase dez minutos antes de pegar o carro e sair feito um desesperado atrás do piloto do 02. Lógico que não falou nada com ninguém, ou não seria o soldado perfeito...
Wufei não precisava de mais pistas para concluir que havia alguma coisa de errado entre os dois pilotos. O fato de não conhecer Chris pessoalmente apenas comprometia seu julgamento. Tinha que falar com Duo e tirar essa história a limpo.
O chinês subiu as escadas e parou na frente da porta do quarto do americano. Bateu de leve para não irritá-lo e chamou seu nome baixinho. Não conseguia ouvir nada, o quarto estava silencioso. Apurou os ouvidos, chegando ao extremo de encostar uma orelha na porta. Duo roncava baixinho.
- Menos mal, - pensou Wufei - assim ele não faz nenhuma besteira...
"Mas..., e o Heero?" Wufei sabia que o piloto do 01 não iria ser muito paciente com Chris. Ele já sabia, ou pelo menos tinha uma idéia do que o soldado perfeito sentia pelo deus da morte. Eh, iria ter que falar com o Duo de qualquer maneira.
Observou a porta e constatou que não ia poder derrubá-la com facilidade. Além do mais, qual seria a reação de Duo perante essa invasão? Não, tinha que encontrar uma maneira mais sutil de abordar Shinigami. Uma fraca luminosidade amarelada que passava por baixo da porta deu-lhe a idéia exata do que fazer.
Saiu para o quintal, como quem não quer nada da vida. Teve que passar pela frente dos outros dois pilotos para tal e sentiu os olhos de Trowa tentando entender o que ele iria fazer. O piloto do ShenLong começou a assobiar sem muita vontade, tentando parecer entediado.
Deu a volta na casa e, através de uma árvore que Quatre fizera questão de plantar próxima a ela, entro no quarto de Duo pela janela aberta. Quase sentiu pena do piloto que dormia com os olhos vermelhos de tanto chorar e o rosto molhado de lágrimas.
Tocou o ombro do piloto que dormia de leve e chamou-o com a delicadeza que era capaz de usar numa situação como aquela.
- Duo?
- Hmmm...
- Duo...!
- Hã? Fala...
- Tás acordado?
- Não. - disse Duo, com um sorriso amarelo - Não consegue ouvir os roncos?
- Será que não tem nada que você queira falar?
Duo olhou com renovado interesse para Wufei.
- Tipo...?
- Tipo aquilo que você tá precisando desabafar, baka...
- Desculpa a grosseria, Wu-man... - disse Duo, usando o apelido que mais deixava Wufei ofendido - Mas acho que não tô pronto pra falar sobre isso, nem mesmo sei o que é que eu estou sentindo agora... - as lágrimas começavam a voltar.
O piloto do 05 suspirou:
- Ah, olha Duo, eu sou um zero a esquerda pra dar conselhos e pra apoiar pessoas com o coração partido... Eu sou um bom ouvinte, só isso... Não vou te forçar a falar se você não quiser, mas saiba que, aconteça o que acontecer, - ele sorriu - você sempre vai ter um ombro amigo pra chorar.
E foi isso que Duo fez por quinze longos minutos, praticamente em silêncio, com a testa apoiada num dos ombros do amigo.
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Vinte e um Móbiles Suits pousaram próximos à casa de Chris enquanto trinta soldados a invadiam por todos os lados.
- E então? - perguntou Zechs pelo canal de comunicação de seu remodelado Tal-Giesse - Acharam o desgraçado?
- Senhor, encontramos um dos pilotos Gundam desacordado. - respondeu o tenente encarregado da invasão - Acho que é o piloto do 01, senhor; ele está um pouco ferido, mas não parece nada grave.
- Heero...? - Zechs perguntou em voz alta para si mesmo - Tragam-no até aqui fora.
Em poucos minutos uma maca foi providenciada para o piloto do 01 que lentamente recobrava a consciência. Zechs saiu de seu novo Tal-Giesse e foi até o piloto com cara de poucos amigos.
- Eu achei que tivesse ordenado que não agisse de maneira precipitada, Heero. Agora tem um doido por aí com um Gundam nós não temos a mínima idéia de onde ele está!
Heero notou que Zechs estava tão furioso com ele que estava prestes a socá-lo. O ruim era admitir que ele tinha uma certa razão...
- Eu estava preocupado com o Duo, senhor. - uma atitude respeitosa de Heero podia ser bem vinda, pra variar - O senhor sabe o que ele pretendia com o piloto do 02.
- Graças a você! Mas, nós dois sabemos que ele não pretendia machucar seu "amigo"... - para a fúria de Heero, Zechs fez questão de destacar bem a palavra "Amigo".
O loiro virou-se para os soldados que saíam da casa, sem ter encontrado nenhuma pista do sexto Gundam ou de seu piloto. Bufou de ódio e disse:
- Levem o 01 de volta para o palácio, façam com que ele receba tratamento médico. E, acima de tudo, deixem-no longe de qualquer tipo de Móbile Suit.
Em poucos minutos um transporte para Heero já havia chegado e Zechs pôde voltar a seu Móbile Suit. Juntamente com sua escolta de vinte Áries, decolaram, tentando localizar Chris.
