Capítulo 1


Os mornos raios de sol escaparam das cortinas, e bateram carinhosamente em meu rosto, naquele dia. Era uma terça feira quente de outono, o que era estranho, porque há semanas fazia um frio incômodo. Porém, suportável. Lembro que me levantei com um sorriso fraco nos lábios, e com um único pensamento otimista em minha mente. Aquele dia seria ótimo. O sol não passava de um sinal. Certo, era apenas um devaneio bobo de menina apaixonada.

Caminhei até o banheiro e lavei meu rosto com toda a paciência do mundo. Movimentos suaves e delicados. Naturais em um monge. Especiais quando se tratava de mim, afinal, sempre fui tão grosseira, raras as ocasiões em que a feminilidade era encontrada em minhas palavras e gestos. Fitei meu reflexo no espelho, e levei as mãos aos cabelos. Haviam perdido um pouco do volume infantil, mas continuavam com aquelas ondas indecisas. Não sabiam ao certo o que queriam. Lisos ou cacheados. E acabaram ficando no meio o termo, para meu tormento. Ignorei-os contendo um suspiro, e concentrei-me em meus dentes, depois. Escovei-os com dedicação típica de filha de dentistas.

Voltei ao quarto, e vi que as outras garotas haviam acordado. Falei um bom dia animado, e dirigi-me ao baú, buscando meu uniforme ordinário e conferindo o brasão de monitor que havia deixado na escrivaninha.

"Por Merlin", Lavander murmurou, analisando cada movimento meu. "O que houve? Por que tanto animo, nesta hora da manhã?"

"Está fazendo sol, o céu está lindo...", fui listando os motivos enquanto espreguiçava-me antes de abotoar a camisa. "Vai ser um ótimo dia, eu sei", terminei quando peguei o brasão e fixei-o do lado esquerdo de meu peito.

"Viu o passarinho verde, Mione?", perguntou Parvati. "Ou seria o passarinho vermelho de um certo ruivo?", e então, as risadas maliciosas que encheram o ar fresco do dormitório.

Lembro de ter corado, e jogado a mala em minhas costas em um único agressivo movimento. Não suportava aqueles tipos de brincadeira. Gostava de manter minha intimidade intacta, obrigado. Lancei um último olhar furioso à Parvati antes de sair do cômodo, e descer as escadas rapidamente. Talvez eu estivesse errada, afinal. Não seria um dia extraordinário, porque geralmente, meus dias memoráveis não começam daquele modo.

No momento em que pisei no tapete felpudo do térreo do salão comunal, e encontrei os garotos sentados naquele sofá vermelho, esqueci-me dos aborrecimentos. Sorri ao ver que Ron ainda bocejava, e mantinha os olhos fechados. Harry se encontrava em pior estado, estendido no sofá e dormindo pesadamente. Caminhei até eles e beijei a face de Ron, que não abriu os olhos, mas envolveu minha cintura num movimento carinhoso. Ri baixinho, e virando meu corpo, sentei-me ao seu lado. Fitei Harry novamente, que ressonava tranqüilo, e estendi minha mão até sua face.

"Harry, vamos...", murmurei, aproximando-me dele, "Ou vamos chegar atrasados em Transfiguração.", e depois, acho que ele tentou discordar, mas sua fala estava engrolada demais para ser entendível. "Ron, você também, vamos!", falei um pouco mais grossa.

"Hei, por que com ele você é carinhosa, e comigo, que sou seu namorado, é tão fria?", perguntou, franzindo o cenho ainda com os olhos fechados. O que só deixava sua expressão cômica.

"Porque você gosta da minha frieza", falei, apoiando minha cabeça em seus joelhos. Permanecemos assim por um longo tempo, até que adormeci também.

Não sei ao certo quantos minutos se passaram até que abri meus olhos, sonolenta, e vi que estávamos atrasados para a primeira aula. O que antes era uma possibilidade tornara-se um fato.

"Ron!", chamei, verificando o horário em meu relógio, "Ronald!", chamei mais alto, e belisquei sua coxa esquerda.

"AI! Que houve, Mione!", perguntou, finalmente abrindo os olhos azuis, lançando-me um olhar perdido.

"Aconteceu que nós estamos atrasados!", respondi, engatinhando até Harry, e acordando-o também. "Vamos, Harry, perdemos a hora.", e levantei-me, ajeitando minha saia, no momento seguinte. Peguei minha mala jogada em cima do enorme tapete, e virei-me para os garotos. Surpreendi-me quando notei que eles continuavam estendidos no sofá, como se fosse um feriado qualquer. "Olha, quer saber? Eu vou sozinha!", falei irritada, e caminhei até a saída, escutando os protestos de Ron e Harry, que agora corriam para me alcançar. Olhei para trás, e lançando-lhes um olhar reprovador, acelerei meus passos.

Corremos pelo andar, e subimos rapidamente os degraus das mais variadas escadas. Senti um vazio no estômago e arrependi-me de não ter ido direto para o café da manhã. Fui influenciada por aqueles garotos que, provavelmente, passaram a noite jogando cartas ou falando de mulheres. Bufei alto, porém o barulho de nossos passos camuflou totalmente meu protesto. Fitei o longo corredor, e contei três portas. Paramos em frente à sala, e levei minhas mãos aos cabelos. Bati três suaves vezes na madeira escura, e escutei passos dentro do cômodo. Logo, McGonagall nos fitava com um olhar severo e assustador. Pelos menos, para mim, aluna dedicada e geralmente, pontual.

"Professora, nos desculpe, é que houve um imprevisto e...", ouvi Harry sendo o mais educado possível, e levei meu cotovelo ao braço de Ron, que conteve a risada que brotara em sua garganta.

"Entrem.", falou simplesmente, e caminhou até sua mesa, sentando-se em seguida.

Não questionei, apenas aproveitei a oportunidade. Não, não. Questionar, naquele momento, seria estúpido. Caminhei até a primeira carteira, ainda não ocupada, e sentei-me, sendo seguida fielmente por Ron e Harry.

"Ei", Harry murmurou, apoiado a cabeça estrategicamente na carteira na tentativa de não ser notado. "O que acabou de acontecer?", disse apenas movimentando os lábios sem emitir nenhum som.

"Não faço idéia", escutei Ron sussurrar, não tão discretamente. Lancei-lhes um olhar severo e voltei minha atenção para a lousa, preenchida com várias instruções.

Se algum dia, perguntassem-me qual era a matéria que mais tinha facilidade, a resposta seria Transfiguração. Nunca tive problema algum para transformar um animal em objeto. Uma agulha em minhoca. A teoria, lida repetidas vezes, ajudava quando o aceno certo de varinha era posto em prática. Não era muito feminina quando se tratava de assuntos de mulheres, mas era delicada o suficiente para controlar precisamente cada movimento mais suave cobrado em Transfiguração. O contraste das minhas atitudes era o que realmente me fascinava. Sentia-me mais frágil... Loucura pensar assim, tenho plena consciência.

Parei de filosofar, e abri um pergaminho e no momento seguinte, estava escrevendo fervorosamente sobre novas técnicas e planos de estudo. Fixei-me na última palavra escrita no quadro negro. Precisão. Sorri sem mostrar os dentes. Então, ouvi a voz de nossa professora ditando uma serie de exercícios para praticarmos em nosso tempo livre.

"É o nosso tempo livre, por que eu iria praticar Transfiguração justo quando eu me livro dela!", ouvi Ron questionar, e ignorei-o simplesmente, focando-me na explicação.

Lembro que a aula passou estranhamente devagar. Ainda por cima porque eu chegara atrasada, o que deveria tornar o tempo reduzido. Hoje, vejo aquela aula como uma despedida. Um divisor de águas. A vida se torna cruelmente irônica quando relembramos o que, antes, era intrigante.

"Dispensados", ouvi McGonagall falar, atrás de sua mesa, lendo algo realmente interessante, dada a expressão em seu rosto. "Menos você, Stra.Granger", e fixou seu olhar em meu rosto surpreso.

Senti a mão de Ron acariciar suavemente minhas costas, antes dele deixar a sala em passos curtos. Observei cada aluno presente deixar a sala, antes de me aproximar da mesa impecavelmente organizada da professora.

"Prof.McGonagall, se por um acaso for em relação ao meu atraso de hoje, por favor, me descul...", comecei, jogando as palavras num tom eufórico.

"Stra.Granger,", interrompeu-me com o tom um pouco mais alto que o normal, "Apesar de me surpreender com seu atraso, não a chamei aqui por causa disso...", automaticamente, fiquei mais tranqüila, e não contive o suspiro aliviado que veio depois. "Sente-se, por favor", uma cadeira foi conjugada atrás de meu corpo, e verificando o lugar onde ela estava, sentei-me lentamente. Fitei o rosto da mulher em minha frente, e notei que sua expressão tinha se suavizado de maneira considerável. "Bom, o que eu vou lhe pedir hoje, é mais um favor..."

"Sim...", incentivei-a a continuar.

"Antes, queria lhe dar os parabéns por ser a primeira em minha matéria, algo extraordinário, Stra.Granger", ela prosseguiu, tomando uma linha totalmente diferente, me fazendo piscar duas vezes, antes de murmurar um obrigado. "É justo por isso que eu chamei você aqui hoje..."

"Discutir minhas notas, professora?", arrisquei-me, ajeitando-me na cadeira subitamente desconfortável.

"Não...", respondeu, assinando algum pergaminho qualquer, antes de fitar-me diretamente os olhos. "Stra.Granger, você estaria disposta a ajudar algum aluno com notas não tão favoráveis como a sua?", suavizei minha expressão desconfiada e mantive o olhar, sem responder. "Na verdade, a proposta era para mim. Mas estou muito ocupada esse ano com as ausências de Dumbledore e...", neste ponto, interrompi-a:

"Professora, à qual aluno você está se referindo?"

"Os Parkinson me mandaram uma carta semana passada, estão insatisfeitos com as notas de sua filha, porque realmente querem que ela seja uma das melhores em Transfiguração", McGonagall me lançou um olhar furtivo, esperando que eu entendesse os motivos da família por trás de uma simples carta. "Eles sugeriram aulas particulares, e deixaram claro que estão dispostos a pagar por isso..."

"Eu?", comecei manejando a cabeça em descrença. "Dando aulas à Pansy Parkinson?"

"Stra.Granger, você seria paga, e eu realmente não ia lhe passar uma responsabilidade tão grande se tivesse condições de dar aulas eu mesma.", falou um tanto áspera.

"Professora, ela nunca iria concordar"

"Ela já concordou.", falou, levantando-se e me encorajando a fazer o mesmo. "Então, você aceita? Daria aulas à Stra.Parkinson?", pus-me de pé também, e trazendo minha mala próxima ao corpo, tamborilei meus dedos na camurça castanha.

"Bom, é complicado. Eu também estou meio ocupada, e..."

"Sim ou não, Stra.Granger?", cortou-me simplesmente, e mantivemos um olhar cúmplice por um segundo, antes de eu mudar toda a minha vida e planos.

"Sim.", falei baixo, quase não emitindo som, abaixando minha cabeça.

"Certo!", e levou-me até a porta, mantendo uma mão em minhas costas, numa espécie de apoio. "E, Stra.Granger...", virei-me ao ouvir meu nome. "Muito obrigado", manejei um sim, e a porta foi fechada.

Respirei várias vezes, perguntando-me aonde tinha me metido. Lembro que somente naquele momento, reparei que um de meus sapatos estava desamarrado. Abaixei-me, e levei meus dedos aos finos cadarços.

"Granger.", ouvi uma voz baixa e aguda, e erguendo o rosto, deparei-me com as pernas longas de uma sonserina. Rapidamente, levantei-me e ergui meu queixo, preparada para o ataque. Fitei os olhos castanhos de Pansy Parkinson, esperando a provocação. Que nunca veio, na verdade. "Queria saber se você aceitou me dar as aulas particulares.", não me perguntou delicadamente como qualquer colega agradecido faria. Manteve uma das mãos apoiadas na cintura, enquanto a outra descansava nas pedras frias da parede do castelo.

"Sim, aceitei", respondi analisando sua postura desleixada, e ao mesmo tempo, tão imponente. Parkinson tinha uma espécie de presença, devido aos cabelos curtos e o rosto muito branco. Não que isso fosse positivo, de modo algum.

"Olha, só porque você vai me dar essas aulas, isso não quer dizer que temos que ser amigas", falou, apoiando as costas na parede e virando o rosto para fitar meus olhos, naquele momento, surpresos com o comentário. "Você me dá as aulas, eu aprendo, e seguimos nossas vidas."

"Certo", respondi tolamente. Queria concordar, e quebrar-lhes as pernas com alguma frase de impacto, mas tudo que saiu de meus lábios foi aquela simples palavra estúpida e pronunciada com uma certa hesitação.

"Certo", disse no mesmo tom, e piscou uma vez, antes de passar por mim, e seguir seu caminho. Deixei de ouvir seus passos ritmados, e assim, sua voz: "E, Granger, seu outro sapato também está desamarrado", falou caminhando de costas três curtos passos, antes de virar o corpo, e prosseguir, desaparecendo no final do corredor.

Mantive meus lábios abertos, e levei uma das mãos à minha testa. A partir daquele dia, deixei de acreditar que dias de sol são possíveis dias tranqüilos e de pura felicidade. Foi nessa terça feira, que minha vida mudou. Ouvi um estrondo e fitei as janelas altas. Lá fora, uma chuva torrencial caia.


Nota da Nika:Queria agradecer todos que mandaram reviews pra Quarenta tons de verde, viu XD? Tá certo que o hits da fic não combina com as reviews, então, leitores anônimos, podem me mandar uma crítica, viu? Não tenham medo da caixinha roxa que enfeita a lateral esquerda de seu monitor, hahahahaha XD

Nati R. Black: Linda, brigadão pela sua review, e pelos elogios quanto à Hermione. Eu realmente me esforcei pra entrar na mente dessa menina, esperando conseguir um bom resultado, e é reviews como a sua que me animam e me fazem ver que o esforço valeua pena!

Ferfa: Brigadão, Fêh XD Como eu já disse, a Hermione é um ser difícil pra entrar na mente, se você a achou apertável, então, o tempo dedicado (insira aqui "momentos de frustração") à personagem não foi em vão. Obrigada mesmo!

Tania Kenorton: Taniiia! Brigadão, querida, por não ser uma leitora anônima, e me mandar uma review! Que bom que você gostou da introdução, viu? Isso me deixa muito contente! Espero que continue lendo a fic!

Mari Gracita:Tá aqui o novo capítulo, Mari. Eu atualizo uma vez por semana, sem falta. Muito obrigado por sua review, querida!

MiSMi: Você me deixando uma review? (morre) Muito obrigada mesmo pelos elogios e pela crítica feita lá no 3V, viu, MSM? Eu sempre adorei suas fics, e tendo você como leitora me faz muiiiito feliz, mesmo! Um beijo!

Opa, opa, opa. Quase ia esquecendo, queria agradecer a todos que indicaram Quarenta tons de verde como melhor slash e melhor título lá no Fic Awards. Eu realmente fiquei surpresa pelo número de indicações, e como não se pode agradecer lá no tópico, eu agradeço aqui mesmo, na minha nota XD

Um obrigado, e um abraçoa todos que leram esse capítulo!


Disclaimer: Harry Potter, e suas personagens pertecem somente a J.K Rowling. (entendeu essa parte? ótimo! siga para a outra)

PORÉM, essa fic me pertence. é minha em toda sua essência, excelência e existência, ok? plágio é crime, além de ser algo abominante e muito, muito feio. por isso, lembrem-se do que sua mamãe dizia na sua infância sobre 'não furtarás' e não roube a minha fanfic!