Capítulo 2


"É hoje, não é?", Ron perguntou-me enquanto enchia o prato de salsichas quentes. Manejei um sim, levando a colher repleta de sopa à boca. "Que horas?", fitei seu rosto bonito, e engoli suavemente.

"Às cinco da tarde", respondi, alcançando uma fatia de pão.

"Por que esse horário?", tornou a perguntar, inconformado. Geralmente, ficávamos juntos no tempo livre de sexta feira.

"Porque é o único que bate para nos duas...", e terminando a frase, busquei inconsciente a sonserina em sua mesa. Logo a encontrei, tomando um copo de leite, e sorrindo animada com algum comentário vindo das amigas. Permaneci a encarando não sei quanto tempo, até que seus olhos encontram os meus. O sorriso desapareceu por completo, e ela ergueu uma sobrancelha em puro sarcasmo. Corei constrangida, e baixei meus olhos para o prato fundo. "O que é realmente formidável, porque só vou me encontrar com ela uma vez por semana."

"Ainda não sei por que você concordou em dar aulas pra ela, Mione", falou Harry, pegando seu cálice e bebendo o suco fresco de abóbora.

Mas eu tinha plena consciência do porque, querido curioso. Ron e eu íamos completar seis meses de namoro, e queria comprar-lhe o conjunto de goleiro que ele havia se encantando num de nossos passeios ao Beco Diagonal. Queria agradecer sua paciência com as minhas implicâncias, e com aquele pequeno trabalho, eu ia ganhar suficiente para poder comprar o presente para nosso aniversário, e investir em minha causa com os elfos domésticos. Não, eu ainda não havia esquecido esse assunto.

"Bom, são duas horas", falei, levantando-me e depositando o guardanapo em cima da mesa lustrosa. "Vocês tem um período livre agora, não é?", perguntei, apoiando meus quadris nas costas de Ron, e agarrando uma maçã vermelha.

"Sim, senhora", respondeu o ruivo com uma voz engrolada, o que mostrava que sua fome estava longe de ser saciada.

"Vou para minha aula de Runas Antigas agora, nos vemos em Poções, então...?", falei desanimada.

"Boa sorte, Mione", desejou Harry, espetando um macarrão. Sorri fracamente, e caminhei para fora do salão.

Cruzei o cômodo e prossegui por um corredor estreito, decorado por várias tochas e janelas altas. Tochas que estavam acesas devido ao mau tempo que podia ser vislumbrado pelo vidro impecavelmente limpo das janelas. Ouvi passos acelerados vindos do início do corredor, e continuei meu caminho. Então, meu nome, e parei esfregando os olhos em claro cansaço.

"Sim, Parkinson...", falei, virando-me e encarando seus olhos. Sua franja estava bagunçada pelo simples ato de correr, o que lhe dava um ar um tanto selvagem.

"Aonde vamos nos encontrar?", perguntou fitando a chuva que caia no jardim.

"Na biblioteca, óbvio", respondi, virando meu corpo e voltando a caminhar para a sala de Runas. Ouvi o barulho da sola de seus sapatos a encontrar o chão de madeira, e não me surpreendi quando ela continuou pelo mesmo caminho. "Pois não?", falei em um tom alto desnecessário.

"Granger, eu sei que você pode achar que sou uma maníaca sonserina e que estou lhe seguindo pelo corredor mais estreito do castelo", falou sarcasticamente, ultrapassando-me e mantendo o queixo delicado erguido. "Mas, por mais estranho que pareça, estou apenas seguindo até a classe de Runas Antigas. Você pode se surpreender, mas eu também tenho aulas, sabe?", e virou o rosto por cima do ombro, fitando meu rosto com um brilho diferente nos olhos escuros.

"Pena que não compartilho do mesmo humor sonserino, Parkinson, porque se estivéssemos na mesma casa, pode ter certeza, eu estaria rindo freneticamente agora", falei num tom metido.

"Granger, querida, se estivéssemos na mesma casa, eu já estaria morta", falou sorrindo falsamente, e parando em frente à porta clara de mármore da sala que era, infelizmente, nosso destino. "E por escolha própria.", completou levando uma das mãos à franja e arrumando-a delicadamente. Abriu a porta em seguida, e entrou na sala, cessando nossa pequena discussão. Bufei alto, e também adentrei o cômodo, pisando forte no chão sujo.

Sentei-me na primeira cadeira, próxima ao quadro negro, e depois, olhando por cima de meu ombro, procurei por Parkinson, encontrando-a numa das últimas cadeiras. Subitamente, senti raiva. Estava claro para mim, naquele momento, que ela não se dedicava suficientemente aos estudos. Então, por que as aulas particulares? Qual a razão de tudo aquilo? Algo na minha mente fez-me lembrar que a Guerra logo iria começar, e que as famílias queriam os filhos prontos para servir. Seja qual for o lado.

Observei-a retirar da mala um livro grosso, e começar a ler tranquilamente. Ajeitei-me na cadeira, e fixei minha atenção à lousa vazia. Logo, o professor entrou na sala e com aquela voz serena, típica de especialistas naquela função, começou a explicar uma matéria nova, repleta de técnicas e falsos acertos. Sorri quando obtive sucesso na primeira atividade da aula, e ouvi risos vindos do fundo da classe. Não me surpreendi quando vi Parkinson rodeada por meninas, e olhando fixamente para minhas mãos sujas de poeira. Corei violentamente, e contraí meus lábios.

A aula prosseguiu rapidamente, contrariando meu desejo interior. Queria que tudo naquele dia fosse lerdo e excepcionalmente detalhado, para me afastar daquelas horas que eu seria obrigada a passar na biblioteca. Não que o lugar fosse o problema, de modo algum. A companhia ocupava esse lugar em minha mente. Logo, perguntei-me se aquela quantidade de galeões valia pelo desaforo que eu provavelmente iria passar naquele dia. Levantei-me quando o professor nos dispensou, e depositei rapidamente os livros em minha mala. Saí da sala antes de qualquer outro aluno.

Caminhei pelo corredor em largas passadas, e logo, cheguei às escadas que davam acesso à masmorra. Poções. Aquele dia ia ser espetacular. Entrei na sala abafada, e sentei-me, emburrada, entrei Harry e Ron.

"Não pergunte, por favor.", falei entre dentes, e tentei limpar minhas mãos com um pedaço de pano jogado em cima da carteira que sustentava criticamente os pesados caldeirões.

Observei quando Parkinson entrou acompanhada de Malfoy e outras hienas sonserinas. Desviei o olhar, pois já havia me cansado daquela expressão sarcástica que ela me lançava toda vez que se deparava com meu olhar em sua face. Snape entrou em seguida, passando instruções para uma poção cicatrizante. Seguindo a rotina, descontou pontos de minha casa pelas perguntas que respondi corretamente, e esvaziou o caldeirão de Harry. Cinco vezes. Recordo-me de ter ouvido algum comentário sagaz de Malfoy, que fez Harry lhe lançar um olhar raivoso, porém, diferente do normal.

Seguimos para fora da classe quando a aula terminou. Ron enlaçou minha cintura, tentando me animar, enquanto Harry voltava à sala para procurar seu livro, que segundo ele, havia esquecido, ou perdido, não me lembro. Encostei minha cabeça no ombro direito de Ron, e suspirei em pleno desanimo.

"Vamos, Mione, se ela te provocar, você transforma o cabelo dela em serpentes. Você é a mestra em Transfiguração, lembra?", ri, sentindo-me um pouco mais segura, e me desvencilhei de seus braços quando o corredor se dividiu em dois destinos. "Bom, a gente se separa aqui. Boa sorte lá", e beijou-me a testa, seguindo tranquilamente pelo caminho da esquerda.

Segui até o fundo do corredor da direita, e subi alguns frágeis degraus. Pulei o último, seguindo o bom senso. Logo, avistei a porta dupla da biblioteca, e levei minhas mãos às maçanetas prateadas um tanto relutante. Abria-as, por final, e adentrei o enorme cômodo. Não me surpreendi ao encontrá-lo vazio, exceto pela velha bibliotecária, que lia um grosso exemplar de Seu Destino Em Pequenas Pedras. Caminhei até uma mesa isolada e o mais afastada possível da entrada.

Não demorou até que Parkinson adentrasse a biblioteca com um livro em suas mãos. Buscou algo com o olhar, antes de me encontrar sentada com os cotovelos apoiados na mesa repleta de pó. Seguiu em passos largos até o local escolhido, e jogou o livro em cima da carteira, o ato estúpido desprendendo uma enorme camada de pó. Tossi nervosamente, e levei as mãos ao meu nariz, que coçava insuportavelmente naquele momento. Observei, com os olhos cerrados, Parkinson se sentar, e sustentar meu olhar com um desprezo intimidador. Ajeitei-me na cadeira, e peguei meu próprio exemplar do livro usado naquele ano em Transfiguração. Pigarreei em tom baixo, e quebrei o silêncio incômodo:

"Capítulo 1, Transfiguração em pequenos vertebrados...", comecei, e folhei a página. "Como é de conhecimento geral, a Transfiguração consiste em..."

"Granger", interrompeu-me, o que me obrigou a fitar-lhe os olhos sarcásticos. "Eu realmente não estou te pagando pra você vir aqui e me ler os capítulos. Isto, eu tenho capacidade pra fazer sozinha.", esforcei-me ao máximo para manter minhas maçãs do rosto num nível aceitável de vermelho, porém, contraí os lábios violentamente. Pisquei suavemente, e desviei o olhar.

"Bom, como quer que eu lhe ensine se não quer ouvir a teoria, Parkinson?", perguntei num tom de voz falsamente calmo.

"Olha, por que você não começa me perguntando no que estou tendo dificuldades?", sugeriu, cruzando os braços.

"Está bem!", falei, fechando o grosso livro com violência. "No que a senhorita está tendo dificuldades?"

"Nos acenos e técnicas para segurar a varinha", respondeu em tom tranqüilo, enquanto retirava uma bala do bolso, e a levava à boca. "Não sei dosar minha força em uma manobra que precisa disso"

"Em outras palavras, você é delicada demais para forçar a varinha quando o aceno lhe cobra um pouco mais de estupidez.", falei sarcasticamente, esperando que ela negasse e me mandasse ao inferno.

"Exatamente", falou em tom baixo, e parecendo vulnerável por um único segundo. Depois, fitou meus olhos e ergueu o queixo em desafio e imponência. "Pode me ajudar com isso, ou não?", subitamente, senti-me desconfortável, como se tivesse tocado numa parte que nenhuma de nós queria compartilhar.

"Posso...", murmurei com a cabeça baixa. Erguendo meu rosto, completei: "Na verdade, é muito simples..."

"Simples pra você", retrucou, novamente olhando a chuva pelas janelas no fundo da enorme biblioteca. Revirei os olhos, e novamente, abri meu livro na introdução, arrastando-o até sua frente, em seguida. Debrucei-me sobre a mesa e quando vi que tinha a atenção de Parkinson, comecei com uma explicação simples sobre as juntas das mãos e braços, e como isso pode influenciar na Transfiguração.

As horas seguintes se passaram exatamente assim. Eu falando, Parkinson ouvindo, calada. Questionando em tom diferente algumas vezes, mas mantendo um respeito considerável. Lançava-me alguns olhares furtivos quando me ouvia bufar, para logo em seguida, voltar sua atenção para as letras pequenas do grosso livro.

"Na próxima sexta, podemos praticar o que aprendemos hoje.", falei, fechando meu livro, e o colocando em minha mala. Entrelacei meus dedos, e apoiei minha mão em cima da mesa, fitando seu rosto concentrado. Observei quando ela levou uma das mãos aos cabelos curtos, e colocou uma mecha atrás da orelha, num ato invejavelmente feminino. Mas não foi inveja que me gelou o estômago. Sentindo um morno arrepio nas costas, desviei meu olhar para a janela, e pus-me a contar estrelas. Já era noite, e o jantar estava no final. "Acho melhor terminamos por hoje, já é suficiente.", falei, ignorando o que havia acontecido no momento anterior. Era apenas um mal estar causado pela fome.

"Você pode ir, vou terminar esse capítulo.", respondeu, sem tirar os olhos das palavras, dispensando-me como uma empregada qualquer. Lancei-lhe um olhar furioso, e peguei meu livro de Poções.

"Qualquer dúvida, pode me perguntar.", murmurei com raiva, preocupando-me com minha própria dificuldade.

"Certo.", respondeu, trazendo um dedo à boca, e levando-o até a página, virada em seguida.

Fitei-a por um instante, odiando-a. Odiando seu pouco caso com os outros, sua belo postura ereta e imponente, e seus comentários sarcásticos. Eu simplesmente a odiava. Seu cabelo liso e naturalmente ajeitado, seu rosto simétrico e seu nariz empinado. E então, como se tivesse lido meus pensamentos, fitou-me os olhos. Porém, aquele olhar foi diferente. Aquele olhar me fez esquecer daquele ódio momentâneo, e fez-me engolir fortemente, embora minha boca estivesse seca. Pansy Parkinson havia me lançado um olhar delicado, suave. Beirando ao carinho. Um brilho diferente naquelas íris castanhas. Subitamente, senti-me nervosa, e desviei o olhar. Talvez fosse apenas uma impressão boba.

Li algumas palavras filtradas sem ordem alguma em meu cérebro. Cansei-me de Poções, e daquele cheiro de mofo, que costumava me fascinar. Voltei a guardar o livro, e levantei-me.

"Se não precisa mais de mim...", falei, ajeitando as pregas de minha saia, e depositando um pesado livro que servira de consulta de volta à estante. Voltei-me para a mesa, evitando seus olhos. "Boa noite", falei por final, e dei dois passos curtos.

"Granger.", ouvi sua voz, o que me fez parar e permanecer de costas para ela. Olhei-a por cima de meu ombro, e manejei a cabeça, incentivando-a a continuar. "Eu to livre na quinta feira, também.", disse, guardando seu próprio livro e sustentando o olhar. Verifiquei mentalmente meu horário e vi que também estava livre.

"Pode ser às quatro?", perguntei educadamente. Como resposta, tive um suave aceno daquele rosto. "Certo, quinta às quatro, e sexta às cinco."

"Parece bom pra mim.", disse, levantando-se e caminhando até meu encontro, mais por educação do que por vontade. Deixamos a biblioteca juntas, porém, notei que Parkinson desviou o caminho. Por impulso, perguntei:

"Não vai jantar?", e mantive meus lábios entreabertos. Senti seu olhar passear por meu rosto, e em seguida, ouvi sua resposta:

"Eu não janto. Boa noite", disse simplesmente, e desapareceu nas sombras.

Observando o corredor iluminado somente por tochas que aqueciam mornamente o corredor, perguntei-me por que era capaz de medir minha pulsação tão facilmente. E que sensação estranha de ansiedade era aquela que balançavam meus joelhos. Foi o primeiro sinal. É exatamente nesse momento, querido leitor, que você pode escolher. Pode ceder ou resistir. Talvez, eu tenho escolhido me entregar com os pulsos atados por livre e espontânea vontade. Mas quando a culpa é grande demais para ser suportada, gosto de pensar que relutei. Lutei até o final contra a tentação, e quase a venci.

Não preciso mencionar que a mentira se fez presente em minha mente como seu perfume viria a ser o meu. Verdades incontestáveis.


Nota da Nika: Gente, agradecimentos à todos que estão lendo, novamente. Tô ficando até chata, mas eu gosto de deixar claro minha graditão à todos os leitores. Até os preguiçosos que não mandam reviews, hahahaha. Eu entendo vocês, viu? Eu costumava não mandar reviews, mas agora mando. E olha lá, meus dedos continuam aqui XD

Nati R. Black: Também imagino a Pansy mais como uma "francesa". Estilo cabelo curtinho, preto e lisão. Lábios grossos. Aquele modelo de francesa idealizada, né XD? Nati, brigadão pela review!

Ferfa: Aulas particulares realmente são as melhores, haahahhaha. E eu também ia amar ter aulas particulares, num lugar particular, com o Draco. Só não garanto que eu iria estudar, HAHAHA XD Brigada pela review, Fêh!

MiSMi: Lógico que eu leio as suas fics, moça. Você escreveu a única Draco/Hermione que eu li e gostei! "Diário de Hermione... Acorrentado". Amava aquela fic XD E muito obrigado pelos elogios, viu!

Carol Lopes: Gostei de como você enxergou a Pansy em "Quarenta tons de verde", Carol. Muito obrigado pelos elogios, desde o msn até as mps no fórum. Me animaram muito, viu?

Srtas. Weasel: Opa, obrigado pelo elogio, meninas. Tá aqui a atualização! Espero que continuem lendo o/

Julia: Que bom que você tá gostando da fic, moça. E a Hermione tá um pouco diferente, sim, porque é a primeira vez que eu trabalho com a personagem. Obrigada pela sua review!

Atualização na semana que vem, pessoal. Brigada a todos.


Disclaimer: Harry Potter, e suas personagens pertecem somente a J.K Rowling. (entendeu essa parte? ótimo! siga para a outra)

PORÉM, essa fic me pertence. é minha em toda sua essência, excelência e existência, ok? plágio é crime, além de ser algo abominante e muito, muito feio. por isso, lembrem-se do que sua mamãe dizia na sua infância sobre 'não furtarás' e não roube a minha fanfic!