Capítulo 4


Bati na porta três vezes. Esperei, e ouvi seus passos. Então, seu rosto, e um abraço feroz. A porta fechada atrás de mim, e fui empurrada até a cama. Pansy se sentou atrás de mim, e pôs-se a beijar meu pescoço. Fixei meu olhar à lareira acessa, enquanto sentia seus lábios úmidos.

"Acho que deveríamos terminar...", falei perdida, enquanto sentia o fecho de meu sutiã ser aberto. "Antes de alguém se machucar", completei, quando senti sua língua em minha nuca.

"Você quer terminar...?", perguntou, apoiando a testa em alguma parte adormecida de minhas costas. "Mione, acho que já é tarde pra isso. Eu vou sair machucada", completou a frase, o que me fez olhar-lhe por cima de meu ombro. Observei aquelas íris castanhas, e molhei meus lábios.

"Não, eu não quero terminar", respondi baixinho, unindo nossas testas. "Mas estou ficando obcecada, e isso não é bom", ela riu atirando a cabeça para trás, arqueando as costas e revelando seus seios pequenos.

"Obcecada? Por mim?", perguntou maliciosa, voltando a se aproximar de minhas costas. Voltei minha cabeça para frente, e levei minhas mãos às suas pernas.

"Sim...", senti seus dentes em meus ombros, e continuei em murmúrios. "Nos dias em que vou te ver, fico ansiosa, penso em motivos para cancelar nossos encontros. Me odeio."

"E nos dias que você não vai me ver?", questionou, apoiando seu queixo em meu ombro direito.

"Fico nervosa, mudo meus caminhos só para aumentar as chances de esbarrar com você, arrumo desculpas para te ver..."

"E você se odeia nesses dias?", falou carinhosa.

"Sim", respondi sem hesitar. "O ódio nunca passa", disse, e fitei seus olhos. "Acho que ele sabe", virei o rosto, para esconder os olhos úmidos. Pansy me abraçou com certa estupidez, e forçou a testa em minha nuca, obrigando-me a baixar a cabeça. Lembro que duas lágrimas sentidas e honestas escaparam de meus olhos.

"Eu te amo", sussurrou num tom amargo, e cravou as unhas grandes nos meus ombros.

Foi a última vez que aquele quarto foi usado. E os lençóis, apesar de limpos e novos, ainda continham o pecado, e aquela fina camada de suor amargo. Mentiras? Não, caro leitor. Minha culpada imaginação.


O último dia foi num domingo de manhã. Comi torradas naquele dia, e bebi um leite quente, porque já era um saudoso inverno, e eu sentia necessidade de me aquecer. Buscava isso nos líquidos, para não ter que recorrer ao seu corpo.

"Pansy está namorando Draco, sabia?", ouvi Lavander anunciar, quando se sentava entre mim e Harry. Meu corpo se tornou rígido, e senti o mesmo vindo de Harry. Tentei fitar os olhos de meu amigo, mas ele fez questão de escondê-los.

"Como você soube disso, Lavander?", perguntei seca.

"Seria impossível não saber quando você dá de cara com os dois se agarrando no corredor", ela falou indiferente, e serviu-se de cereal.

Pisquei várias vezes, tentando filtrar a informação. Era verdade que eu tinha namorado, e não tinha direito algum para sentir ciúmes, mas algo dentro de mim borbulhava, e cada centímetro de meu corpo ardia profundamente. Levantei-me e vi Ron chegar. Beijei-lhe secamente, e corri até o corredor que dava acesso à sala de Runas Antigas. Então, vi-os juntos. Sem pudor, nem salas secretas, tão necessárias para mim e Pansy. Apenas uma parede, e seus corpos. E era o suficiente.

Caminhei furiosa até seu corpo, e puxei-a possessivamente. Fitei seus olhos, confusos naquele momento, e pensei em golpeá-la ali mesmo. Jogá-la contra a parede, e dar-lhe um sermão. Xingar até a última geração, e amaldiçoar todos seus óvulos e futuros filhos. Até que Malfoy se fez ouvir, claro e seco:

"Pansy, livre-se dela, eu me livro dele, e pronto. Estamos quites", e apoiou-se na parede gélida. Entreabri meus lábios, formulando uma frase, mas nada me veio à mente.

"Vem!", e fui puxada grosseiramente por suas mãos. Livrei-me de seus braços, mas logo fui tomada novamente. Viramos alguma direita, e estávamos sozinhas, num corredor estreito. Pansy me emparedou, e tentou me beijar.

"VAI A MERDA!", gritei, enquanto golpeava cada centímetro de seu corpo. Ela voltou a se aproximar com uma expressão furiosa, e me beijou, mordendo meus lábios dolorosamente. "É ISSO? AS QUINTAS SOU EU, OS DOMINGOS O NOJENTO DO MALFOY!", gritei, enquanto lágrimas hipócritas escorriam de meus olhos. Senti suas unhas arranharem minhas costas, e gemi de dor. Empurrei-a até a parede, e a beijei com tanta força que temi que nossos lábios sangrassem. "Eu te odeio tanto...", falei fraca, enquanto tinha minha cintura envolta por seus braços, e meus ombros trucidados por seus dentes. Livrei-me de seus abraços possessivos, e corri procurando os jardins. Pansy me seguiu, gritando alguma coisa. Foi quando eu congelei. Ron seguia pelo corredor junto à Harry com o uniforme de quadribol, e um largo sorriso no rosto bonito. Virei meu rosto e procurei por Pansy, que se encontrava próxima à parede, apoiando-se com uma mão nas rochas sólidas. Senti os braços de Ron me envolverem, e então, meus joelhos fraquejaram.

"Mione, estamos indo treinar agora", falou em tom casual, e fitei seus olhos. "Ei... você mudou de perfume?", perguntou-me, com um sorriso carinhoso. Manejei um sim fraco, e ouvi-o completar somente para os meus ouvidos. "Eu prefiro o antigo... bom, a gente se vê mais tarde!", e deu-me um beijo no rosto, cessando o contato. Fitei o rosto de Harry, e notei o quão infeliz ele parecia naquele comento.

Ouvi seus passos se distanciarem, e prendi minha respiração. Mesmo não tenho nada para denunciar sua presença, senti seu corpo próximo ao meu, e fiz questão de me distanciar. Caminhei lentamente até o jardim, e senti diversas gotas pesadas lavarem meu rosto. Então, o aroma cítrico da grama, e a terra firme. Aproximei-me de uma árvore e encostei-me em seu tronco.

"Não precisa ser assim", ouvi sua voz num tom melancólico e falho. "Você sabe que não precisa ser assim...".

"O que sugere, então...?", murmurei, apoiando minha testa gelada na madeira afiada.

"Podemos fugir!", disse animada e com aquele toque ingênuo que demonstrara tantas vezes naqueles dias em que passamos juntas. "Eu estive planejando há algum tempo, podemos terminar o semestre e...", foi então que eu ri. Senti minhas costas saltarem diversas vezes, e virei-me em um único movimento. Fitei seus olhos com sarcasmo e finalmente, disse:

"Acaba aqui..."

"Não, não", ela manejou a cabeça com um sorriso bonito nos lábios. Aproximou-se de mim, e levou as mãos ao cabelo liso e encharcado. "A gente pode continuar, Mione."

"Continuar?", repeti, mantendo uma expressão descrente. "Continuar o que, Parkinson? Transamos algumas vezes, foi bom, e é isso..."

"Mas eu te amo", ela falou mordendo o lábio inferior depois de ouvir sua própria voz proferir aquelas palavras fortes. "Te amo", afirmou, baixando a cabeça e fitando a grama molhada.

"Eu não", disse em voz alta e clara. "Eu não te amo", repeti, daquela vez, agradecendo a chuva por cair tão fortemente a ponto de impedi-la de ver meus olhos marejados. "Por favor, vá embora".

"Vai arruinar todos os meus planos, então?"

"Quais planos, Parkinson?", falei com desprezo. "Realmente achava que eu iria fugir com você? Uma nascida trouxa e uma futura Comensal, de mãos dadas em Paris!", pensei em voz alta, com um tom cruel. Gélido. Tão, tão falso. Fitei seus olhos depois da última frase, e vi choque. Depois, o que era surpresa se tornou dor, e então, aquele ódio. Por final, o tão familiar e ressentido ódio.

"Você acha isso?", falou em tom de desprezo. "Acha mesmo que vou ser uma Comensal?"

"Ora, por favor, vamos ser realistas agora!", falei histérica. "Por que você queria melhorar em Transfiguração, em primeiro lugar? Incrível, porque é justo uma aula obrigatória para Aurores! E é exatamente isso que um Comensal é, não? Um Auror de Voldemort, nada mais!", cuspi a última frase, e fixei meu olhar em seu rosto. Então, vi Pansy Parkinson desabar. Chorar em minha frente, deixando toda aquela imponência e postura invejável se tornar apenas uma lembrança distante. Seus lábios tremiam suavemente, enquanto os olhos permaneciam cerrados e fixos em algum ponto distante daquele jardim. Odiei-me por um momento, e um soluço brotou de minha garganta. Gotas fundiram-se às lágrimas, e foi assim que terminamos. Chegara ao fim toda aquela fantástica idealização, e tudo que havia nos restado eram conceitos e sentimentos quebrados.

Ela recobrou a postura mais rápido, e fitou-me os olhos com aquela incrível frieza que era sua essência.

"Volte pro seu mundinho cor de rosa, sua idiota", e sorriu gélida e sarcasticamente, camuflando todos os sentimentos que ameaçavam sufocar-lhe apenas mostrando aqueles dentes puros.

Observei seu corpo se afastar do meu, levando consigo uma parte que eu não planejara dar-lhe. Uma parte que me fora roubada, e que, eu tinha certeza, iria me fazer falta daquele dia em diante. Talvez fosse um pedaço de minha capacidade de amar, ou minha fé em crenças e conceitos sólidos. Buscando algo para me refugiar, apoiei-me naquela árvore e pensei que nunca mais iria respirar. Foi quando ele apareceu. Coberto de sujeira e lama. Um contraste com toda aquela sua ingenuidade e pureza. Abraçou-me sem cobranças, apenas o fez e com isso preencheu parte do vazio.

"Você tá bem, Mione?", perguntou, e abriu um espaço entre nossos corpos para fitar meu rosto. Mordi meus lábios, e contraí o rosto em uma careta de dor. Cobri aqueles centímetros, e chorei em seus braços.

"Não, mas vou ficar", ou pensei ter dito.

E eu menti. Enganei, e pequei seguidas vezes. Mas Deus é benevolente, e o perdão é certo, no final. Ele sempre vem no final.

Cold, cold water surrounds me now
And all I've got is your hand

Lord, can you hear me now?
Or am I lost?


Nota da Nika: Bom, queria agradecer a todos que leram Quarenta tons de verde, pelos elogios, pelas críticas, por tudo. Muito obrigada, mesmo! Espero que tenham gostado do último capítulo (apesar dele ser curtinho), e do final. Antes de começarem a me xingar, eu vou explicar o porquê delas não terem ficado juntas, oka? Hermione não é forte o suficiente para simplesmente largar tudo, e assumir tudo o que ela sente pela Pansy. As duas são frágeis e fracas demais para lidarem com um sentimento tão intenso. Como nenhuma das duas soube lidar com isso, é o fim do relacionamento. Isto, ao meu ver. Não tinha como colocá-las juntas no final, então, sinto muito a todos que torciam por elas XD Bom, aos leitores que gostaram da fic, vai aqui um obrigado e um até mais. Aos que se decepcionaram, vai um pedido de desculpas e um pedaço de bolo de chocolate, hahahaha XD

Ps.: A música que toca no final é Cold Water, do Damien Rice. Baixem, a música é linda. E, sim, há HD nesta fic. Eu insinuei em pequenos trechos, quem é mais atento captou, com certeza.