Capitulo II

Um soldado do Santuário foi incumbido de noticiar Saga sobre a morte de sua mãe. O próprio pai fora ao Santuário pedir noticias do filho e avisar sobre o ocorrido. Ao faze-lo, soube que Saga não poderia se ausentar do templo para o enterro, mesmo não sendo o único cavaleiro que defendia Gêmeos. Era lei que os cavaleiros dourados não poderiam em hipótese alguma abandonar o território sagrado.

Nesse dia, o pai também soube que Kanon se tornara um defensor de Athena, por isso seu sumiço repentino.

O dinheiro que fora deixado para Saga pela mãe, foi usado para o enterro desta.

Novamente, os homens daquela família teriam que seguir com suas vidas.

O cavaleiro de Gêmeos não se surpreendeu quando o soldado deu-lhe a noticia, dois dias depois do ocorrido. Mas não pode evitar que a tristeza o dominasse. No fundo, tivera a esperança de que seu pressentimento fosse falso. Agora sabia que não e essa verdade doía.

Shion respeitou o luto do jovem cavaleiro, ausentando-o dos treinos por duas semanas.

Enquanto isso, Kanon tinha seus primeiros treinos com os cavaleiros de prata e já exibia sua superioridade, como se fosse uma roupa nova. E ainda não desistira da vontade de conhecer o guardião do terceiro templo.

oOo

Era o primeiro treino de Saga com os dourados, após seu luto. Não estava pronto para uma guerra, mas sentia-se apto a um simples treino.

Fez uma rápida e leve refeição e vestiu uma túnica curta verde-clara, quase colada ao corpo e uma calça justa branca. Colocou as ombreiras e joelheiras de treino e calçou o sapato. Pela milésima vez, ficou em duvida entre prender os longos cabelos azuis ou não. Acabou por deixá-los soltos, mais uma vez.

Um soldado esperava-o na porta do templo, encarregado de conduzi-lo a arena. Enquanto saía do templo e acenava com a cabeça para o guarda, indicando que estava pronto, viu um soldado descendo acompanhado de um cavaleiro, que aparentava ser o de Câncer, pelo que Saga ouvira a seu respeito. O jovem garoto de cabelos azuis e arrepiados reclamava ao guarda dizendo que não gostava de babás e sabia muito bem ir ao coliseu sozinho.

Saga deu de ombros. Para um garoto daquele tamanho, ele parecia bem malcriado. O geminiano ficou imaginando se os outros dourados também seriam assim.

Andou tranqüilamente ao lado do servo, observando a paisagem do Santuário. Quando chegou a arena, faltavam apenas os cavaleiros de Aquário, Peixes e Capricórnio.

Saga observou todos atentamente, eram mais novos do que ele. Na arquibancada, o loirinho de aparentemente sete anos, com seus cabelos na altura dos ombros, estava sentado, de olhos fechados enquanto conversava com outro cavaleiro de sua idade, que chamava a atenção pelas duas pintinhas no alto da testa. Alguns garotos maldosos diziam que ele era de outro planeta, mas o menino, Mu, tentava não se chatear e retrucava sempre com calma e bom humor.

Saga desviou a atenção das duas crianças e pousou o olhar no menino que estava um pouco a sua frente. Tinha a pele bronzeada e cabelos e olhos extremamente azuis. Olhava alegremente em alguma direção que o geminiano seguiu com o olhar, deparando-se com outro jovem cavaleiro, que também aparentava não passar dos sete anos e no entanto, possuía um ar mais serio do que os demais. Vinha conversando com outra criança um pouco mais velha que era conduzida junto com ele para a arena.

O geminiano se perguntou por que aquela amazona estava sem máscara, se ouvira que isso era proibido no Santuário. Foi apenas quando as duas crianças se aproximaram mais que ele percebeu que a criança de cabelos azuis claros e uma delicada e encantadora pinta na face era um menino também. Possuía uma beleza tão refinada que fez Saga ficar sem ação por um momento. Tão logo voltou a si, percebeu que o garoto de cabelos e olhos azuis estava animado com a presença do cavaleiro de Aquário pois eram amigos. Talvez fossem até parentes, visto que a proximidade entre os dois parecia mais notável. Mas Saga descartou a hipótese ao fita-los com mais atenção. Enquanto o menino de cabelos azuis possuía traços tipicamente gregos, o outro, de cabelos da mesma altura do loirinho da arquibancada, porém azuis esverdeados, e olhos também claros, possuía traços totalmente estrangeiros.

Saga voltou sua atenção para o delicado cavaleiro de cabelos azuis claros, que agora entregava rosas para outros dois jovens. Um deles, era o garoto que já vira antes próximo ao seu templo, reclamando ao soldado que sabia o caminho até o coliseu. O outro também possuía cabelos arrepiados, porem mais escuros. Recebeu a rosa vermelha com um sorriso simpático, o contrário de seu semelhante, que jogou a rosa no chão e pisou em cima, fazendo o gentil cavaleiro ficar com os olhos rasos de lágrimas ao ver sua rosa despetalada esmagada.

Pelas contas do cavaleiro de Gêmeos, todos já estavam presentes ali. Percebeu do outro lado os irmãos gregos, o mais velho, de cabelos castanhos bem claros e faixa vermelha na testa provocava o menor, de cabelos mais escuros e curtos, mas muito parecido com o irmão. Pareciam se dar bem. Ao observar isso, Saga lembrou-se que certa vez a mãe comentara que o irmão dele morava com seu pai, mas quando ele tentara saber mais, ela mudara de assunto. Se lembrava vagamente dele, mas pensou que seria legal te-lo ali, ambos defendendo Athena.

Os jovens cavaleiros de ouro conversavam e discutiam animadamente, mas de repente, um silêncio cortou o ar. O Grande Mestre estava ali, para auxilia-los no treino.

Fizeram uma reverência ao mestre, como era de costume e esse lhes disse:

- Vocês treinarão em duplas. Para que não haja problemas eu escolherei quem treinará com quem.

Todos observavam e esperavam, atentos. Era como se num raio de dez mil metros, todos parassem diante da voz firme de Shion.

- Shaka de Virgem treinará com Mu de Áries.

O garoto de pintas na testa mais do que rápido se posicionou. Já estava acostumado a acatar rapidamente as ordens de Shion, que era seu mestre. O loiro, Shaka, acompanhou-o.

- Aiolia de Leão treinará com Shura de Capricórnio.

- Mas... - resmungou o caçula dos irmãos gregos. - eu queria treinar com meu irmão.

- Vá, Aiolia. - disse o irmão, empurrando-o amigavelmente. - Lembre-se de que sou seu mestre.

O pequeno assentiu e foi na direção do garoto de cabelos arrepiados, que já se posicionava para o treino.

- Milo de Escorpião treinará com Camus de Aquário.

- Yes! - exclamou o grego, fazendo seu companheiro de treino balançar a cabeça em reprovação.

- Non seja bobo, Milo. Vamos. - disse Camus, com expressão severa de um adulto, que mal combinava com seu rosto infantil.

- Máscara da Morte de Câncer treinará com Afrodite de Peixes.

- Ah mas que droga! - o pequeno rebelde de cabelos arrepiados cruzou os braços. - Eu não quero treinar com esse daí.

- Não desafie minhas ordens, Câncer. - disse o mestre, calmamente.

- Não sei porque aceitam maricas como cavaleiros de ouro. - replicou Mascara, ainda emburrado.

Num piscar de olhos, Afrodite fez uma rosa branca e com ela nas mãos, olhou ameaçadoramente para o cavaleiro de Câncer.

- Eu deveria tapar sua boca com isso!

Embora a resposta fosse obvia, Saga esperava que Shion anunciasse seu companheiro de treino. Então ouviu o francesinho dizendo para o amigo:

- Milo, pare de prestar atenção na briga deles e vamos treinar logo! Non tenho tempo a perder!

- Ah Camus, como se você tivesse muita coisa para fazer! Aposto que você também acha chato ficar na sua casa!

- Non, eu non acho mon ami. Eu tenho estudado quando fico na minha casa. Estou aprendendo a escrever e já leio muitas coisas.

Milo fez uma expressão de tédio.

- Que chatice!

Camus sacudiu a cabeça. Embora Milo fosse um garoto legal, era definitivamente um caso perdido.

- Vamos treinar antes que o mestre nos dê uma bronca.

Shura e Aiolia já rolavam no chão, trocando socos. O treino deles mais parecia uma briga de bar. De Shaka e Mu sentiam-se os cosmos elevadíssimos, eles mal se tocavam, mas a batalha de poderes psíquicos estava acirrada.

Saga estava tão distraído observando os demais, que permanecera no mesmo lugar. Sentiu uma mão em seu ombro.

- E então Gêmeos, podemos treinar ou prefere evitar meu poder? - disse o garoto de faixa vermelha na cabeça, sorrindo.

- Ah... eh... claro que podemos. Não se gabe Sagitário, você não tem ideia da minha força. - comentou com um sorriso sarcástico.

- É o que veremos. - retrucou Aiolos, passando uma rasteira no geminiano.

Caído no chão, ele ainda pôde observar Afrodite e Mascara da Morte. O primeiro se esquivava dos golpes, não querendo ficar com uma marca sequer. Notava-se que ele prezava sua beleza ao extremo.

- Eu deveria mandá-lo ao inferno! Não precisamos de veadinhos no Santuário!

- Como ousa falar isso de mim? - o pisciano fez uma expressão de ofendido e uma rosa vermelha surgiu entre suas mãos. - Veja se pode com isso, seu italianinho estúpido!

Aiolos ajudou Saga a se levantar.

- É sempre assim, amigo. Nem se espante. - comentou o sagitariano, sempre com um sorriso simpático estampado no rosto.

Saga assentiu com a cabeça e acertou-o com um golpe.

- Opa! Parece que alguém não estava atento! - comentou com um sorriso.

- Ah, você vai ver só!

Começaram um treino que mais parecia brincadeira. Riam enquanto trocavam socos e as vezes, arriscavam umas cócegas.

- Há tome isso! - Aiolos acertou Saga com um soco, lançando-o ao chão. Então sentou sobre seu abdômen e começou a fazer cócegas nele. Saga só conseguia rir.

Todos os dourados pararam suas lutas e voltaram-se para os dois. Escorpião estava com cara de quem queria participar, Câncer com expressão de desprezo e Virgem e Aquário com ar reprovador. Shion aproximou-se dos dois cavaleiros. Aiolos ainda estava por cima de Saga, mas parara com as cócegas.

- Vocês são os cavaleiros mais velhos daqui. Deveriam dar o exemplo aos mais novos.

Aiolos levantou-se e estendeu a mão para Saga, ajudando-o a levantar.

- Perdão, mestre. - disseram em uníssono.

- Voltem para seus templos. Estão suspensos por hoje.

- Bem feito! - murmurou Mascara e recebeu uma cotovelada de Afrodite.

Os douradinhos ficaram observando os dois cavaleiros se afastarem, cabisbaixos.

- Pelo menos nos safamos do treino. Eu já estava cansado. - comentou Aiolos, quando se encontravam fora do coliseu.

- É. - Saga apenas assentiu com a cabeça.

Após sair dali se dera conta que realmente não veria o outro cavaleiro de Gêmeos.

- Aiolos... você conhece o outro cavaleiro de Gêmeos?

- O que usava a armadura antes de você? Não, ele morreu na ultima guerra sagrada, pelo que sei.

"Ele também não o viu."

Deu-se conta de que realmente, o outro defensor de Gêmeos ficaria isolado do Santuário. Entristeceu-se pelo garoto.

Chegaram em Gêmeos, ainda calados.

- Bem, meu templo é aqui.

- É, eu sei. O meu é um pouco mais acima...

- Então... - disseram juntos e riram.

- A gente se vê no próximo treino. - disse Aiolos, dando um súbito abraço em Saga, que corou levemente.

- Até mais, Sagitário.

Ficou vendo o cavaleiro se afastar e então, olhou para a entrada de seu templo.

"Outro cavaleiro habita em Gêmeos. E nunca vou vê-lo."

oOo

Já era rotina para Kanon observar cada detalhe do templo de Gêmeos quando estava ali. Não tinha muito o que fazer, não tinha com quem falar, não queria estudar e nem treinar.

Queria conhecer o cavaleiro de Gêmeos e no entanto, não podia.

Pela manhã, quando sentira o cosmo de Saga se afastando do templo, imaginara que ele fora treinar. Estava deitado em sua cama, fitando o teto, mas então se levantou. Foi andando até a sala, deslizando a mão pelas paredes frias. Sentia a textura e a força daquele concreto. Qual não foi sua surpresa ao perceber que parte daquela parede parecia mais frágil, de camada mais fina. E se fosse a entrada para o outro lado do templo? Ao pensar nisso, Kanon sentiu o coração acelerar. Precisava tentar.

Usou toda sua força empurrando o grande muro, mas foi em vão. Procurou algum botão, alguma parte falsa, mas não conseguiu nada. Sentou-se desolado no chão, recostando-se a parede.

"Que besteira a minha. Se não podemos nos ver, é claro que não vai existir uma passagem secreta a meu alcance."

Ficou algum tempo ali, abraçando as próprias pernas.

"Mas a parede é mais fina aqui. Se eu atingir com todo meu cosmo... talvez eu consiga!"

Levantou-se e uniu as mãos em concha, concentrando seu cosmo nelas. Quando sentiu toda sua força concentrada, desferiu o golpe contra a parede. Involuntariamente, fechou os olhos. Após o estrondo, abriu-os devagar. A parede continuava intacta.

- Droga! - gritou e deu um soco na parede. - Droga, droga, droga, droga!

Ficou socando a parede, com ódio. Não conseguia parar, sentia a raiva dominá-lo.

"Eu não vou parar até que eu chegue do outro lado."

oOo

Após o momento de breve hesitação, olhando para o símbolo de Gêmeos no alto da entrada do terceiro templo, Saga adentrou sua casa. Ouviu um barulho semelhante ao de marteladas que pareciam vir dali de dentro.

"Talvez seja do outro lado!", pensou, indo em direção ao barulho. Vinha da parede de seu quarto.

"É... o outro cavaleiro que está fazendo isso?"

- Ei! - gritou. - Pode parar com essa barulheira?

Kanon teve a impressão de ouvir uma voz do outro lado da parede. Parou as investidas contra ela, seus punhos doíam.

"Ele me ouviu?", pensou Saga, percebendo que as batidas haviam cessado. Se aproximou mais da parede, o coração quase podia ser ouvido, de tão forte que batia.

- Obrigado. - disse um pouco sem graça. - Aliás, você consegue me ouvir? - mantinha a voz alta.

"É... o outro cavaleiro! Só pode ser! Mas eu posso estar delirando, a voz parece com a minha!"

- Sim, eu estou ouvindo! Pode me ouvir também? - encostou a mão na parede, como se assim, estabelecesse um contato entre eles.

"Acho que o treino me fez mal. Parece a minha voz."

- Er... posso.

Um silêncio se fez. Saga apoiava a mão na parede e esperava uma resposta. Pensou que não havia falado alto o bastante. Ia repetir, mas então ouviu aquela voz de novo.

- Você é o cavaleiro de Gêmeos oficial, certo?

- Hum... é, sou. Você tem raiva de mim por isso?

- Só de vez em quando. - comentou com um sorriso, que Saga não podia ver, mas sentiu.

- Eu sinto muito, gostaria de poder vê-lo.

- Ah... eu também. Mas o mestre disse que é proibido. Que droga.

- É mesmo. Você... conhece os outros cavaleiros de ouro?

- Não. Eu treino com os de prata. Você os conhece?

- Os de ouro? Treinei com eles hoje. - sentou-se no chão, recostando-se a parede.

- Ahm... e que tal são eles?

- São legais, mas novos do que eu... ah, você tem quantos anos?

- Quinze e você?

- Também.

Outro silêncio.

- Hum... er... - não sabia o nome do cavaleiro. - Eu estou ficando com fome. Depois volto para a gente conversar mais.

- Tá bom. Acho que também vou lá comer alguma coisa.

- Ah! Qual seu nome?

- Kanon e o seu?

- Saga. Bom falar com você Kanon.

- Aham. Até mais Saga.

Levantaram-se ao mesmo tempo, com o pensamento de que seus nomes lhe eram vagamente familiares. Ignoraram logo a idéia, não lembraram de ninguém conhecido que pudesse se chamar assim. Saíram dali olhando para a parede como se se despedissem.

"Eu conheci o outro cavaleiro", pensaram.

oOo

n/a: Desculpem a demora! Tentei ser o mais rápida possível, mas digitar a fic estando no msn não é mto produtivo! u.u Logo começo a passar o capítulo 3 pro pc, como é um pouco mais curto, acabarei atualizando mais rápido (espero! xD)

Espero que tenham gostado desse, eu particularmente adorei escrever a parte dos dourados no treino!

Agradeço as reviews e aguardo mais, afinal é sempre bom e estimulante hehehe

Bjus!