Epílogo

Ao pisar na escadaria que levava inicialmente a Áries, Saga avistou Shion. Como soubera que ele retornaria?

A verdade é que Shion não soubera. Imaginara que Saga fugiria com o irmão. E no entanto, lá estava o jovem cavaleiro de Gêmeos a sua frente. Um verdadeiro e digno cavaleiro de Athena. Destroçado, mas cumprira a missão.

O mais rápido que pôde, Saga refugiou-se em seu templo. Achou um pequeno espelho entre suas coisas e agarrou-se ao objeto. Ficou por um longo tempo fitando-o, buscando em sua imagem refletida cada pedaço de Kanon que ficara em si. Chorou sem o menor pudor e com a vista embaçada pelas lágrimas, pensou que delirava ao ver uma imagem que não era a sua no vidro. Quase que ao mesmo tempo, ouviu aquela voz explodir, tempestuosa.

- E ao fim das contas, você o traiu. É isso que chama de amor? Se deixou guiar feito um fantoche pelo honorável Grande Mestre. Vai suportar isso? Seu amado Kanon morrerá afogado, os restos serão devorados lentamente. Pode suportar isso?

Gêmeos soltou o espelho, que se partiu em dois ao cair no chão. Levou as mãos às temporas.

- Quem é você? - procurou ao redor. Aquela voz malvada ria, se regozijava de sua desgraça. Saga tampou os ouvidos, mas os risos ecoavam em sua mente. Aquela voz partia de sua mente. - Quem é você! - berrou.

- Eu... sou você. E você sabe o que devemos fazer, não?

Saga fechou os olhos e apertando a cabeça com força, como se lutasse contra aquela voz, deixou-se cair na cama. Foi quando a voz, soando o mais parecido com a de Kanon possível, repetiu:

- Sabe o que devemos fazer, não?

Ele não podia aceitar aqueles planos maléficos. Berrou em silêncio que não concordaria. Protestou sem que uma palavra saísse de seus lábios. E quando sentiu que as forças o estavam deixando, permitiu que a escuridão tomasse conta.

Quando recuperou a consciência, viu mãos ensagüentadas. Eram as suas, mas não sentia como se fossem. A seus pés, que também não pareciam seus, jazia o corpo sem vida do mestre. Ele gritou, mas aqueles lábios que já não lhe pertenciam mais não emitiram qualquer som. Logo ouviu o risinho baixo que saiu de sua boca, da qual não tinha controle. Então um olhar impiedoso contemplou o corpo morto e ele sorriu. Aquele olhar e o sorriso não lhe pertenciam, ainda que partissem dele.

Lágrimas escorreram pelo rosto do jovem, as únicas provas de sua existência, aprisionado naquele corpo.

O plano fora cumprido.

E logo a escuridão retornou.

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