Olá pessoal, Calborghete aqui, como estão todos?

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Então agora sem mais enrolação, boa leitura.


"Diálogos"

- Pensamentos -

"Conversa via Rádio"

"Auto conversa."


Nota de Responsabilidade:

Evangelion, seus personagens e cenário são propriedade de Hideaki Anno. Qualquer marca, filmes e séries mencionados nesta Fanfic é propriedade de seus criadores.


Capítulo 28

Quatorze anos depois do terceiro impacto.

Passos pesados ecoavam pelos longos corredores do IPEA, uma pessoa andava, seu rosto uma máscara fria e sem vida, ele não ligava mais para os olhares que recebia das pessoas ao seu redor, ele não ligava para os que tinham um pouco de rancor, para os que tinham medo, ele somente queria os recursos para conseguir seu objetivo.

As pessoas a sua volta olhavam para o rosto desse homem, um soldado, o homem que tinha libertado diversas áreas para a produção de recursos, os simpatizantes da SEELE tinham medo quando ele aparecia, parecia que ele não temia a morte.

Para muitos ele deveria ser motivo de orgulho, o símbolo de sua luta, mas por trás das fortes lentes negras que bloqueavam a luz do rosto do homem, estava um homem quebrado, sem vida, era assim que as pessoas diriam se pudessem ver seus olhos, um homem que lutava contra os inimigos do mundo, lutava para que os inocentes pudessem prosperar num lugar onde um pequeno erro aconteceu, mas ele tinha o pior dos inimigos, ele mesmo.

Muita coisa tinha acontecido nestes seis anos, ele tinha passado pela prisão, pelo desespero que tomou conta de seu corpo depois da sentença que tinha recebido pelos seus "crimes", do olhar de raiva que recebia das pessoas que a tanto tempo ele achou que eram sua família, mas no final das contas, todos se provaram os mesmos.

As mesmas pessoas que ele mais odiava, seus olhos não conseguiam mais ver os outros como pessoas normais tentando sobreviver, todos eram iguais a ele, iguais ao seu pai.

Olhando em volta para o centro que hoje era o centro operacional do IPEA, um prédio simples comparado com a sua total gloria que foi antes do terceiro impacto, uma olhada rápida pela janela, o homem sem emoção podia ver as casas e prédios simples que consistiam em as cidades agora.

Antes ele sentiria tristeza, remorso ou peso, mas agora ele tinha outro combustível, agora era a raiva, mesmo tentando limpar a mente o melhor que podia, ele não conseguia, pois não importa quanta vezes ele dizia para si mesmo que tudo não passou de um acidente, que ele não sabia de como um EVA funcionava, mas quem estava lá era ele, um menino que levou a culpa.

Mas Shinji sabia que de alguma forma era o responsável por isso, ele tinha aceitado seu destino a muito tempo, ele tinha aceitado que tinha perdido sua vida quando percebeu que nem sua antiga família ligava para o fim que recebeu, agora ele não tinha nada, nem mesmo uma carta ou pedido de intervenção perante ao juiz do novo mundo, nada.

Sentindo sua mão tremendo com o pensamento e as emoções que queriam sair, Shinji fechou os olhos para se controlar, ele não era mais o mesmo de antes, ninguém era o mesmo de antes, ele somente tinha que lutar, somente isso.

Uma simples mulher estava na sua mesa, digitando alguma coisa em seu computador pessoal, um velho dispositivo que ainda funcionava, ter alguns recursos eram coisas valiosas num mundo vermelho e sem vida, o som de passos chamou sua atenção, uma olhada para frente revelou seu medo.

Parando na frente de sua mesa estava o homem que muitos admiravam e temiam, vestindo sua farda preta com sua arma presa em sua cintura somente a espera de ser usada, ela tinha o visto muitas vezes, sempre com a mesma aparência, ele nunca era visto sem sua arma, todos eram seus inimigos.

Olhando para o rosto de Shinji, um silencio constrangedor reinou no pequeno e simples corredor, as luzes no teto falhavam com a estrutura precária da nova cidade que foi considerada o novo marco da humanidade.

Helena conhecia pouco sobre Shinji em sua vida, ela somente sabia o que as pessoas diziam, o que os relatórios diziam, os pequenos meios de comunicação, ele era o responsável pelo terceiro impacto, mas conforme o tempo passava, suas ações passavam, a pequena mulher foi conhecendo quem era esse homem, ele não se parecia com um criminoso de guerra.

Ele parecia mais como um dos soldados que lutavam pela IPEA, ela os admirava por lutar nas terras vermelhas, expor seus corpos aos perigos que ali residiam, lutar contra os simpatizantes da SEELE que queriam acabar com o que tinha sobrado, parte dela se sentia triste ao vê-lo, ver que ele não confiava nem em seus irmãos de armas, pronto para reagir a qualquer sinal de hostilidade, ela não podia culpa-lo, o mundo tinha sido cruel com ele.

Piscando para voltar ao mundo real, Helena olhou para seu computador velho, ela tinha sido informada sobre a chegada de Shinji, somente um homem tinha coragem de conversar com ele, e esse homem era o comandante Albuquerque.

"O comandante Albuquerque está a sua espera major."

Shinji assentiu lentamente, ele pode ver o olhar pensativo da mulher, ele não podia culpar a jovem, sua história era o motivo disso, ele tinha acabado com o mundo das pessoas, ele tinha sido a pessoa que impediu eles de terem uma vida para viver, de crescer e terem filhos, mas no fundo ele pensou, seria bom ter outras pessoas para conversar e interagir, assim como eram antes.

Sentindo velhos sentimentos voltando à tona, velhas lembranças tomaram conta de seus pensamentos, sua velha vida voltando, mesmo sendo por meros milésimos, esse pequeno tempo foi suficiente para que ele lembrasse de seus rostos.

O jeito brincalhão e quase infantil de Misato, de suas provocações quando ela chegava em casa depois de um dia difícil de trabalho, de como ela tentava lhe agradar das implicações que pilotar um EVA trazia.

"Vá com tudo Shinji!"

Sentindo uma pontada de dor em sua mente ao lembrar daquele dia, Shinji tentou lutar contra esses sentimentos que sempre o massacrava, ele sabia que agora não era mais nada para aquela mulher que a muito tempo foi somente a sua única família, mesmo ele gritando dizendo que tinha acabado, seu coração não aceitava isso e essa foi a pior punição.

"Baka Shinji..."

Sentiu o coração ardendo com a lembrança de uma certa ruiva que era dona de seu coração, ele a muito tempo tentou esquece-la, tentou desesperadamente remove-la de seu coração, mas o dano já tinha sido feito.

SOM DE VIDRO SENDO QUEBRADO.

Fechando os olhos ao se lembrar daquele dia, o dia do seu despertar, em como ela tinha crescido, se tornado uma mulher forte e independente, mas foi o seu olhar que tinha machucado, ele tinha visto olhar de raiva e decepção que inundou aquela pequena sala dentro do navio.

Foi ali que ele sentiu que tinha morrido, não importa o quando as pessoas a sua volta tentem dizer que ele está vivo, mas quando o coração está morto, essa pessoa está morta, ele considerou por muitas vezes o suicídio, mas isso não o levaria a ter paz, não daria a paz que as pessoas queriam, ele teria que esperar a sentença e nem isso ele pode ter.

Não importava o quanto ele pensava na ruiva, seu coração gritava para reencontra-la, parte de sua mente não ligaria mais para os xingamentos que com certeza iriam vir, ele somente queria poder ver ela mais uma vez, mas isso iria ser cruel, qual o sentido de buscar uma coisa que somente iria lhe causar mal? Essa era a pergunta que a muito tempo ele se perguntava.

Olhando brevemente para seu reflexo, Shinji pode se ver, ele parecia mais um nazista do que um soldado do IPEA, seu uniforme negro lhe dava um tom de autoridade, o símbolo de IPEA em seu ombro era a única coisa que lhe dizia o lado que estava, os calos em sua mão lhe diziam do passado, das lutas pela sobrevivência dentro da cadeia, das lutas para liberação de recursos para as pessoas que sofriam pelo seu erro.

Era por isso que ele ainda não poderia morrer, era por isso que ele tinha que lutar ainda mais, a dúvida com o mundo era pesada, ele somente poderia partir depois que removesse o pecado dos Ikaris, aí ele poderia ficar tranquilo para partir.

Por isso ele lutava, queria ter alguém que poderia lhe dar uma morte limpa, uma morte onde ele pudesse partir sem ter mais peso na consciência, mas quanto mais ele lutava, mais se expunha, parecia que a morte o protegia.

Com passos lentos e pesados, Shinji passou pela mulher que estava claramente com medo de sua presença, seus olhos cansados pousaram na porta de madeira, ela rugiu ao se abrir, o escritório de Albuquerque neste novo mundo era simples, o espaço era bom, considerado de luxo pelos novos padrões de vida.

Virando a cabeça para o lado, ele pode ver um velho sofá onde as pessoas descansavam depois de planejar as lutas e recursos, virando a cabeça para frente, ele pode ver o homem que tinha "salvado" sua vida, o homem que tinha lhe dado um acordo para conseguir se vingar, somente ele sabia como a mente de Shinji funcionava.

Indo lentamente para a cadeira na frente da mesa, Shinji se sentou e esperou, ele não gostava de falar, ele somente queria poder ir embora daquela sala e voltar para os campos de batalha, onde ele tinha alguma paz.

Albuquerque olhava pela janela, seu corpo mais velho rangia com a vida estressante que tinha, em suas mãos uma bebida quase transparente, um destilado de arroz, ela era a única forma de conseguir controlar a ansiedade que tomava o corpo dos soldados.

Seus olhos ainda se lembravam daquele dia, o terceiro impacto, dos gritos das pessoas ao verem seus amigos sendo transformados em LCL, ele ainda não sabia os motivos de ter sido salvo, ele não sabia se tinha sido sua crença, suas ações ou simplesmente sorte.

O IPEA tinha a responsabilidade de cuidar das colônias, sobre os olhos da ONU, eles tinham que conseguir o controle dos pontos chaves do mundo, petróleo, gás e sintetização de alimentos eram o dinheiro, muitas dessas áreas estavam sobre o controle da SEELE, simpatizantes que estavam focados no fim da humanidade e nos planos dos seus líderes.

Se virando e olhando para Shinji, ele podia ver como o menino tinha mudado, sua postura fria e sem vida, isso machucava sua mente, diferente de muitas pessoas do seu ramo e da justiça, Albuquerque nunca culpou Shinji pelo o que tinha acontecido naquele dia, seus olhos conseguiam ver o que mais ninguém tinha visto, ele era mais uma vítima dos planos de seu pai.

"Capitão Ayanami, como foi a recuperação dos campos de petróleo no leste da Rússia?" Perguntou o homem mais velho ao se sentar em sua cadeira, ele podia ver que Shinji estava sentado como uma pedra na cadeira a sua frente, ele sabia como tinha sido a missão, os relatórios mostravam como tinha sido.

Shinji pensou no seu nome, Ayanami, tendo sido um de seus poucos pedidos nesta nova jornada de sua vida, ele queria ficar distante de seu pai, foi aí que ele lembrou de sua irmã, a menina que levava o rosto de sua mãe, sua única família de sangue que valia a pena lutar.

Se lembrando de quando Albuquerque tinha lhe contado a verdade sobre Rei e Mari, Shinji lutou para manter o controle, mas saber que poderia usar o nome de sua mãe ajudou, pelo menos um pouco.

"Tudo foi como planejado.." Shinji respondeu com a voz calma e controlada, assim como um soldado, olhando para os olhos de Albuquerque, ele poder ver o homem ficando irritado, a missão tinha sido difícil, soldados tinham perdido suas vidas.

"E as vinte e cinco baixas, isso não estava nos planos." Albuquerque falou com a voz baixa e ríspida, Shinji apertou as mãos ao escutar isso, ele sentiu sua alma sendo queimada com essas mortes, mas ele iria conseguir lidar.

"Baixas acontecem."

Albuquerque soltou um longo suspiro ao escutar isso, Shinji tinha conseguido retomar zonas chaves de controle, mas a forma como ele lutava era o que assustava o homem, ele sabia como Shinji era irresponsável.

"Não pode continuar lutando assim garoto, um dia vai acabar morrendo."

Shinji teria soltado uma risada ao escutar isso, ele queria a morte mais que tudo para acabar com as vozes das pessoas que tinha destruído a vida, todas as noites ele ainda escutava os gritos.

"Estamos em guerra senhor, se um dia chegar a minha vez... que assim seja."

Balançando a cabeça para os lados ao escutar isso, rapidamente o homem virou sua dose de destilado, falando com raiva ao se voltar para Shinji, sua mente rapidamente se lembrando de quando o removeu da prisão, pouco tempos antes de morrer.

"Esse não era o nosso acordo!"

Shinji não se intimou com isso tudo, seus olhos caíram na arma de seu superior, parte de seu corpo ficou rígido com isso, mas as palavras do homem tinham chamado sua atenção, ele tinha conseguido uma abertura para conseguir vencer seu pai.

"O nosso acordo era que eu poderia acabar com Gendo Ikari!" Shinji rebateu com raiva controlada, mesmo por trás dos fortes óculos de sol, o menino estava sentindo seu coração batendo forte em seu peito.

"E acha que se matando vai conseguir isso!? Rebateu Albuquerque, sua mão batendo forte contra a mesa de madeira, um forte silencio tomou conta da sala, ambos os homens se encararam.

"Foi somente para isso que me chamou?" Shinji falou arrogantemente, sua mente se lembrando dos olhares na ponte de comando da Wunder, um forte sentimento de tristeza tomando conta de seu corpo neste momento, principalmente por se lembrar de como tinha sido o olhar que Misato lhe lançou.

"Não é como se eu valesse muita coisa."

Albuquerque respirou profundamente, ele sabia que esse assunto era uma luta perdida com Shinji de qualquer maneira, pegando uma pasta vermelha de sua mesa, o homem a lançou para Shinji.

"Se seu desejo é ir e enfrentar seu pai, parabéns, conseguiu!"

Shinji olhou para a pasta em seu colo, o documento altamente secreto, se alguém pudesse ver seus olhos, eles poderiam ver a surpresa, na sua frente uma unidade EVA.

"Quer que eu pilote de novo?" Perguntou ceticamente o homem, sua voz era fria e controlada.

Albuquerque lançou um olhar para Shinji, mostrando que suas intenções eram serias, a ONU tinha sido bem clara com relação a isso, eles não confiavam em Shinji pilotando novamente, mas Albuquerque tinha sido bem convincente, tudo iria ficar em alto segredo, nem a WILLE tinha noção disso.

"Não confio naquela gente da WILLE, eles esconderam o projeto Wunder do mundo e somente aparecem esperando que todos simplesmente aceitem e essa é a nossa vez... quero ter meus próprios brinquedos."

Shinji estava olhando para o rosto da unidade, o nome escrito em vermelho, um forte sentimento de dúvida tomou conta de seu corpo, ele tinha pilotado pela última vez a muito tempo e tinha matado o mundo com isso.

"Unidade Evangelion Mark 10." Balançando a cabeça tristemente ao relembrar daquele dia.

"Me quer em um EVA? Depois do que aconteceu?"

Albuquerque sorriu com isso, ele sabia que pelo menos ainda tinha algum poder sobre Shinji, se ajustando em sua cadeira simples, o homem falou com a voz firme.

"Sim, você é um bom piloto... não podermos nos dar ao luxo de treinar outra pessoa, precisamos de todos os recursos possíveis."

Shinji assentiu com isso, ter um EVA contra os simpatizantes ajudava a controlar os terroristas, mas pilotar mostrava que tudo poderia ir para o ralo novamente, imagens de Asuka e Misato pularam em sua mente, pilotar significaria que eles poderiam voltar a se ver e isso ele não queria.

Albuquerque vendo os silencio do menino, rapidamente continuou seu dialogo, ele se lembrou do terceiro impacto e das implicações que tudo isso ocorreram.

"Aquilo não foi sua culpa, seu pai o usou para conseguir abrir os protões de Guf..." Um pequeno silencio tomou conta da sala.

"Então, como vai ser?"

"Você é meu superior, vou cumprir suas ordens, não importa o que eu acho."

Shinji balançou a cabeça ao se levantar da cadeira, colocando gentilmente a pasta vermelha na mesa de seu superior, seus olhos abatidos não puderam ser vistos pelo homem, o terceiro impacto voltando em sua mente, principalmente os olhares de Asuka e Misato.

"Eu estava lá, eu sou a pessoa que sofre todos os dias por aquele erro..."

Albuquerque observou Shinji se virando e indo para a porta, ele não se importava com mais detalhes técnicos, falar sobre o terceiro impacto sempre terminava assim, ele sabia muito bem como esse dia iria terminar.

"Não pode fugir para sempre Shinji, um dia vai ter que se perdoar sobre o que aconteceu naquele dia."

Shinji parou ao escutar isso, mas não se virou, ele pensava muito sobre isso, em todas as vidas que tinha terminado, em como tinha decepcionado as pessoas mais importantes da sua vida, ele sabia que nunca iria conseguir se perdoar por isso, com passos pesados ele saiu da sala, sabendo que tinha uma garrafa de destilado a sua espera em seu dormitório, a única forma de conseguir parar as vozes.

Albuquerque foi deixado sozinho na sala, ele sabia que o menino estava entrando em seu limite, pilotar novamente estaria batendo nas portas do inferno, mas ele teria que ser forte.

Uma rápida olhada em seu computador mostrou o símbolo da WILLE, os filósofos não iriam gostar disso, mas pouco importava para Albuquerque o que eles achavam, pelo menos todos tinham os mesmos objetivos, derrotar a NERV, custe o que custar.


Andando com passos pesados, Shinji olhava para frente com olhos mortos, com suas piores lembranças como companhia, voltar a pilotar nunca esteve em seus planos, mas esse era o acordo, o comandante Albuquerque era seu líder, suas ordens iriam ser cumpridas e se isso mostrasse que era necessário para parar seu pai e a NERV, com certeza iria voltar a pilotar.

Parando na frente de seu alojamento, Shinji olhou em volta, como sempre ele estava sozinho, a solidão era de alguma forma boa para o homem, não ter que olhar para os olhos de ninguém cuja a vida ela destruiu de alguma forma, para algumas pessoas foram seus pais, outros foram os filhos.

Com uma respirada simples e sem barulho, a pesada porta de metal foi aberta, com um som de vácuo ele a observou, como sempre o medo de ser pego desprotegido tomou conta de seu corpo. Colocou sua mão sobre a única coisa em que ele confiava, sua arma.

Olhando para os lados em busca de qualquer sinal de traição ou inimigos, Shinji entrou em seu quarto, o lugar simples que atualmente era seu lar, perfeitamente limpo e organizado, escuro e frio, como tinha ficado seu coração, nada podia ser escutado, nada se movia, somente o som das pessoas trabalhando do lado de fora.

Nem uma brisa batia na janela perfeitamente fechada, nem uma luz do sol aquecia o interior do quarto, ele não queria nada que o lembrasse de sua maldição, nada que o lembrasse de seu pecado, nada que o fizesse lembrar deles.

Vendo que estava seguro, lentamente o menino fechou a porta, certificou que estava devidamente trancada, ele se sentou em uma cadeira no canto, ao seu lado sua garrafa de álcool de arroz destilado, o gosto era horrível, o material de má qualidade feito para somente ter alguma coisa para beber, mas pelo menos ele conseguia apagar a dor, conseguia calar as vozes das pessoas cuja a alma ele ceifou antes da hora.

Thanato como sempre estava lá no quarto, ele não tinha visto Lilith com muita frequência, principalmente depois do que tinha acontecido com seu Lilin favorito, muitas vezes ele teve que convencer a deusa a não destruir o que restou do mundo, essa era a última chance da humanidade, foi assim que a mãe tinha dito.

Olhando abatido para o homem na sua frente, ele queria poder fazer alguma coisa, mas o que poderia ser feito? Ele não podia interferir, nem Lilith tinha tamanho poder para fazer tal coisa, com um suspiro abatido ele observou.

Removendo os pesados óculos e sua arma do coldre, Shinji a olhou com calma, ele pensava em todas as vidas em que ele as removeu em combate, em cada momento em que ele tinha feito sua arma cuspir fogo contra as pessoas que cooperavam com seu pai de alguma forma, para algumas pessoas que lutaram ao seu lado, o seu fogo era de se admirar, mas poucos homens sabiam o motivo de tamanha façanha.

Pegando um pequeno copo de vidro, lentamente uma dose foi colocada, uma por uma Shinji foi envenenando seu sistema para que a dor passasse, para que o mundo pudesse lhe dar alguma paz, mas como sempre, ele não conseguia essa paz.

A cada dose que queimava sua garganta como fogo, Shinji lembrava mais das pessoas que ele mais deixou decepcionada, sentindo a emoção tomando conta de seu corpo, o menino deu uma longa respirada, cobrindo os olhos com o sentimento de desespero tomando conta de seu corpo.

"Isso não é da sua conta!"

Sentindo sua respiração acelerando com a enxurrada de emoções que tomaram conta de seu corpo, o homem lutou contra si mesmo, lutou como sempre fazia quando estava sozinho, mas sempre era o mesmo, ele perdia.

"Asuka..." Falou o homem com tristeza, ele queria chorar, ele queria poder desabafar, mas de que isso adiantaria? Chorar iria fazer com que as pessoas o visse de forma diferente?

"Me desculpe... Me desculpe..."

Apertando a cabeça com força, Shinji lentamente tomou outra dose, sentindo os seus sentidos ficando cada vez mais entorpecidos pela forte bebida, o garoto somente queria desaparecer, mas como poderia fazer isso em paz? Somente lutando iria ajudar a alcançar essa paz.

"Misato! Asuka! Porque me abandonaram!?" Resmungou o homem com a voz claramente embargada pelo álcool, ele sempre se perguntou isso, porque isso aconteceu com ele? Porque ninguém o ajudou? Eles sabiam como tinha sido naquele dia, porque ficaram calados?

Sentindo a ira tomando conta de seu corpo, Shinji trocou os sentimentos, antes eram o de arrependimento e desespero, agora era raiva, ira, ele queria respostas, mas conseguiria ficar olhando para elas? Com certeza não.

"Eles somente me usaram!" Resmungou o homem ao sentir uma pequena lágrima escorrendo pelo seu rosto, uma vez ele tinha visto um dos homens chorando ao perder seu parceiro, o sentimento inicial foi nojo, mas ele podia entender isso, o desespero tomando conta de seu corpo por perder pessoas queridas, novamente ele sentia culpa, essas pessoas não teriam que lutar se ele não tivesse acabado com suas vidas.

Abrindo os olhos e olhando para teto, Shinji se sentia leve, mas como sempre, o sono não vinha, nos raros momentos em que ele dormia, os gritos nunca paravam, com uma respirada funda ele pensou.

"Porque fez isso comigo, Misato?"

Sem ter as respostas que mais desejava Shinji fechou os olhos, tentando remover as lembranças de um velho apartamento, de uma velha vida onde ele somente tinha que se preocupar em melhorar sua taxa de sincronização e fazer bentos para sua família disfuncional.

Parte de sua mente gritava que era somente um mero teatro, que isso era somente para que eles pudessem ficar de olho nele, pilotar quando for necessário, uma mera ferramenta para uso quando necessário, somente isso, como sempre ele era abandonado no final, foi assim com seus tios, foi assim com sua mãe, foi assim com Misato.

Pensando em sua família, Shinji se lembrou de uma conversa com Albuquerque, quando foi revelado quem era Mari, sua madrinha, foi um choque no começo, mas como sempre o abandono o seguiu, ela escolheu ficar com Misato.

Ele desejava poder voltar, desejava poder falar com ele mesmo, dizer para fugir da NERV, mas isso somente iria atrapalhar, ele nunca teria conhecido Misato, nunca teria conhecido seus amigos na escola e o principal de todos, munda teria conhecido Asuka.

Abrindo os olhos novamente, Shinji jurava que podia vê-la, o seu belo sorriso ao olhar para pôr do sol, com seus belos cabelos cor de bronze balançando na brisa leve que tocava sua pele perfeita, assim como eles tinham feito muitos anos antes.

"Asuka..." Pensou o menino com tristeza, essa era a sua real punição, não era como os outros pediam, não era sofrer pelas almas mortas, mas sim ter alguém no coração que nunca poderia alcançar mais, ver esse amor ardendo e nunca poder expressa-lo, ele tinha o direto de ser feliz? A resposta que ele sempre se dava era não.

Essa era sua punição, isso era pior que a morte, pois ela sempre o visitava em seus pesadelos, ela sempre o visitava para falar o quanto estava decepcionada, em certa parte ela está correta, ele acabou com a vida dela, acabou com a vida de todos.

Mais uma dose foi tomada, outra tentativa inútil de apagar o desespero que sua mente estava fazendo com ele, mas como qualquer outra coisa feita em excesso, mais mal ela acaba fazendo.

Apertando a mão com raiva, o menino tentou pensar nas coisas boas que fez, nas vezes em que salvou o mundo, nos momentos em que ele achou que os elogios das pessoas eram genuínos, mas como sempre, a realidade tomava conta de seu corpo, os seus rostos apareciam, os rostos de todos que somente davam sorrisos vazios e palavras sem valor somente para controlar o menino que tinha um pouco de valor.

"Todos eles... nada além de cara vazias para controlar o monstro..." Falou o homem ao tomar mais da bebida forte.

"Monstro..."

Shinji pensava muito sobre essa palavra, ele sempre buscava alternativas para conseguir escapar desse título em especial que a maioria das pessoas lhe davam, mas como ele poderia não ser um monstro? Um herói não coloca as pessoas num pesadelo perpetuo, um herói não remove seus entes queridos do seu lado, um herói não assustava as pessoas, um herói não machucava os mais queridos.

Finalmente deixando a mente completamente nublada, Shinji sentiu seu corpo indo para o próximo passo de seu pesadelo eterno, o momento em que ele fechava os olhos, o momento que para muitos era para recuperar as energias e se preparar para o próximo dia, mas para ele era diferente, ele tinha outra batalha para combater, as lembranças que sempre voltavam para lhe assombrar.

Foi assim que aconteceu, como sempre ele era levado para o passado, onde teria que rever cada rosto das pessoas em seu julgamento, as surras na prisão, a primeira vez que tinha matado e o pior, o olhar de decepção de Misato e Asuka, isso machucou mais que a pior sentença que o mundo poderia dar.


ANTES.

"Shinji Ikari, por favor fique de pé." Pediu o homem que iria definir o futuro do garoto, Shinji lentamente se levantou, ele estava vestido com um macacão cor de cinza, praticamente o mesmo que vestia dentro da Wunder, ele podia sentir os olhos de todos em suas costas, mas tinha dois em especial que estava faltando, sua mente não podendo entender o que estava acontecendo.

Olhando para Shinji como olhasse para uma barata prestes a ser esmagada, o juiz queria terminar logo com isso, as novas leis eram rígidas, o mundo não queria saber de compaixão, ele queria isso com uma especial de satisfação pessoal, o nome Ikari tinha ficado marcado como o mal.

Seus olhos travam no rapaz com ferocidade, ele queria seu sangue, assim como todos naquela sala, a justiça iria ser feita ao modo dos homens, deixando a forma correta, usada por muitos anos antes, desprezada.

"Deseja falar alguma coisa antes da leitura?" Disse o homem com desdém, sem ao menos se importar com o que o menino iria dizer, ele já sabia como iria punir o menino, isso era somente um mero teatro.

Shinji ainda olhava para baixo, sua mente ainda querendo gritar, chorar para que todos entendessem seu lado, uma rápida olhada para trás buscando encontrar os rostos delas, algo que pudesse lhe ajudar, mas ele não recebeu nada, somente os olhos das pessoas que queriam seu sangue.

Respirando fundo, o menino preparou uma última defesa, uma última tentativa de conseguir que as pessoas lhe dessem a verdadeira justiça, algo que todos pudessem escutar e acreditar, pois era a verdade, olhando para o lado, Shinji não ligou pelo fato de não ter alguém que queria lhe defender, ele teve que aguentar tudo sozinho.

Logo mais ao fundo da sala, um homem de terno estava sentado, em seu ombro um símbolo do IPEA, muitos estavam contestando sua presença, ele tinha uma grande organização para cuidar, muitas missões para gerir, mas esse homem não se importou, olhava diretamente para Shinji com seus olhos de águia, buscando qualquer sinal de mentira.

"Eu peço desculpas... eu ... eu realmente não sabia que isso iria acontecer."

Todos na sala começaram a falar juntos, todos queriam poder ir até o menino e mostrar como acreditaram nele, rapidamente do outro lado da sala, um dos homens que estava encarregado de acusar e praticar a justiça, gritou com raiva.

"Excelência, se me permite, o mundo precisa dessa justiça, Gendo Ikari tem que entender que não teremos pena nem compaixão pelos atos de seus aliados!"

Shinji olhou para baixo novamente, ele não queria que o comparasse com seu pai, ele rapidamente sentiu uma lagrima escorrendo pelo seu rosto, todos estavam lhe castigando com palavras e maldições, cada uma matando uma parte de sua alma, foi ali que ele entendeu que nada que ele falasse ou fizesse mudaria, nem Misato ou Asuka pareciam ter pena dele, somente o entregaram a essas pessoas e partiram.

Apertando a sua mão com força, Shinji lutou contra as emoções que lutavam pela dominação em seu corpo, ele somente queria que isso acabasse logo. Respirando profundamente, o velho juiz não tinha mais paciência para isso, abrindo um pequeno envelope na sua frente, ele sorriu ao saber do que já sabia.

"Silencio!" Gritou o homem com forte autoridade, todos ficaram em silencio na expectativa para ver a sua justiça sendo feita, Shinji sentiu um forte calafrio percorrendo suas costas, como se alguém tivesse colocado as mãos em seus ombros, essa era a única coisa que o impedia de desabar completamente. Ele não acreditava se essa sensação era real, mas ele pouco se importava com isso, ele somente queria o conforto.

Focando seus olhos em Shinji, o homem sorriu ao esperar por esse momento a tantos anos.

"Shinji Ikari, seus atos contra a humanidade foram de grande extinção, não podemos deixar isso de lado somente pelo fato de você ter somente quatorze anos na época em que esses eventos aconteceram, suas ações levaram a desestabilização mundial, muitas vidas foram perdidas, seu vínculo com o arquiteto disso tudo mostra que não podemos confiar em você."

"Eu... eu não sou meu pai!" Rosnou o menino, mas isso somente deixou o juiz ainda mais aborrecido.

"Você é um perigo para o mundo! Em respeito as vidas que você tirou em um momento de egoísmo da família Ikari e lhe dando as devidas justiças! Este tribunal lhe condena a morte!" Falou o homem com força ao bater o martelo, todos na sala começaram a se levantar e bater palmas, menos um.

Shinji arregalou os olhos ao escutar isso, ele olhou para os lados ao ver guardas indo na sua direção, todos sorriam, balançando a cabeça ao sentir o peso da traição, da injustiça sendo cometida contra ele.

"ISSO NÃO É JUSTO! EU NÃO SOU UM MONSTRO!"

"EU NÃO SABIA QUE ISSO IRIA ACONTECER!"

"EU NÃO AJUDEI MEU PAI!"

O juiz olhou para Shinji com nojo, ele queria que os homens cumprissem a justiça ali mesmo, mas ele ainda tinha um censo do que era certo ou errado, um tempo na prisão iria lhe dar o sofrimento que quase todos achavam que ele merecia.

"ABERRAÇÃO!"

"ASSASSINO!"

"MALDITO!"

Shinji olhou para suas mãos ao se sentir sendo levado para fora, ele estava paralisado, seu corpo não queria se mover, sua mente se nublou naquele dia, seu coração morreu naquele dia, ele tinha sido abandonado pelas pessoas que ele achou que iriam lhe proteger.

Olhando as pessoas massacrando Shinji, Albuquerque manteve a pose, ele sabia como julgar as pessoas, parte dele queria poder ir ali mesmo e ajudar, usar sua fama para conseguir alguma coisa, enquanto algumas pessoas finalmente sentiam o gosto da justiça, o homem pensou, sorrindo levemente ao ter uma ideia, o mundo precisaria de homens como Shinji.

Se levantando e saindo, ele sabia que tinha que conseguir montar seu esquema com cuidado, seria difícil para ele conseguir, o mundo tinha virado um lugar cruel, mal ele sabia que logo atrás tinha uma pessoa de terno, ninguém conseguia vê-lo.


Um mês após o julgamento – Wunder.

Misato estava em sua mesa, sua mente lhe bombardeando com a ideia de não ter feito nada para ajudar Shinji, ela tinha que ter lutado para conseguir, mas porque ela não fez nada? Será que essa guerra tinha mudado ela tanto assim? Levando a mão para o rosto, a mulher de cabelos roxos solto um longo suspiro, um suspiro que foi percebido por uma outra mulher.

Olhando os relatórios da Wunder, ela estava feliz que os reparos das batalhas estavam indo bem, parecia que pela primeira vez eles teriam uma chance contra as novas maquinas de Gendo, falando com uma forte indiferença, ela lentamente fumou seu cigarro.

"O que foi? Ainda pensando o menino?"

Misato ainda mantinha a pose, sem remover seus óculos de sol, falou com a voz fria.

"Não deveríamos ter entregado ele para o comando... o IPEA não tem recursos para combater um ataque de nível EVA."

Ritsuko sabia que isso era somente uma mera desculpa, soltando uma nuvem de fumaça, ela se virou completamente para Misato.

"Você entende mais do que eu como as coisas acontecem numa guerra, se quer sua tripulação segura tem que tomar decisões, e foi isso que fizemos naquele dia, não podemos colocar a vida de todos em risco somente porque a dele está, não é culpa deles que você falhou como guardiã."

Misato olhou para a sua antiga amiga com raiva, mas sua nova postura tinha conseguido esconder isso, a mulher de cabelos roxos nunca iria se perdoar pelo o que tinha acontecido com Shinji ou Asuka, ela deveria ter colocado sua própria culpa de lado em prol daquelas crianças, agora ela tinha estragado as vidas de todos.

Ritsuko olhou para Misato com seu sorriso arrogante, a falsa loira se orgulhava de poder tocar nas feridas de todos, ter sempre uma arma para conseguir provar seu ponto, foi assim que ela conseguiu sobreviver nos anos seguintes ao terceiro impacto, no fundo ela sabia que Misato sempre quis de alguma forma proteger Shinji.

"Acha que pode me enganar, Misato? Acha que eu não sei que você ainda quer defende-lo? Não podemos correr o risco de descobrirem que estávamos lá naquele dia, senão estaríamos no mesmo barco que Shinji."

Misato olhou para a amiga com olhos intensos, sua paciência tinha sido a primeira coisa que tinha morrido nestes sete anos de conflito, tendo perdido Shinji por tanto tempo a fez esquecer o que era ser humana.

"Isso é errado Akagi... não importa se estaríamos no mesmo barco! Entregamos ele para o comando, o que vão fazer com ele!?"

"Errado ou não isso não importa, temos que sobreviver neste mundo esquecido por Deus, onde não tem mais certo ou errado, somente os vivos e os mortos." Concluiu a loira sem ao menos se importar com a resposta de Misato, voltando seus olhos para seus arquivos.

"Além do mais, Shinji ficará em um lugar seguro, o comando não vai executar o menino, a idade dele na época do terceiro impacto vai ser..."

Akagi estava falando sem ao menos se importar, ela mesma sabia que era errado, que o certo era eles terem dado o depoimento sobre o terceiro impacto, mostrar que o menino não tinha controle absoluto sobre o EVA, mas o que aconteceria com ela? O mundo iria entender? Era melhor não arriscar.

Misato a encarou, no fundo ela sabia que alguma coisa tinha dado errado, rapidamente sua porta foi aberta com violência, na sua frente uma Mari altamente furiosa, Misato não teve tempo de reagir ou falar nada, tudo que ela sentiu o punho forte de Mari contra seu rosto.


Mari estava comendo, olhando para sua pasta de vegetais com olhos sem vida, ela tentou sair da Wunder quando Shinji foi entregue para o comando central da WILLE, mas antes dela poder fazer qualquer outra coisa, ele já tinha partido.

Balançando a cabeça para os lados, Mari ainda não tinha concertado seu relacionamento com Asuka, ela buscava desesperadamente uma alternativa, mas parecia que Misato não a escutava. Uma risada quebrou seus pensamentos, virando lentamente a cabeça para o lado, ela pode ver os outros tripulantes da Wunder rindo.

Se concentrando para escutar claramente a conversa, seus olhos se arregalaram quando ela entendeu, sentindo o sangue sendo bombeado com força pelo seu corpo, ela apertou seus talheres com raiva.

"O bastardo foi condenado a morte... hahahahaha." Os homens falavam alto para todos escutarem, rapidamente um pequeno coro começou desejando o tormento eterno para o jovem Ikari, Mari teria escutado mais, mas sua raiva não permitiu.

A morena tinha atingido seu limite, pela primeira vez a real impotência tinha acertado seu corpo, ela não conseguiu fazer nada para mudar o destino de Shinji, seu afilhado, a cria da pessoa que ela mais amava neste mundo, isso foi demais para Mari.

Se levantando rapidamente, a morena começou a caminhar para fora, ela tinha seu alvo, a pessoa que não permitiu que ela pudesse ajudar Shinji, a pessoa que não permitiu que ela ajudasse seu afilhado e essa pessoa estava na ponte. Andando com passos acelerados, o caminho geralmente curto pareceu uma eternidade.

Todos na ponte olharam quando uma pessoa entrou, era raro ver um dos pilotos de EVA ali, mas a julgar pelo olhar no rosto de Mari, a coisa não era boa, único que estava começando a se preparar era Koji, sua experiência sabia quando uma confusão iria começar.

Olhando para a piloto com dúvidas, ninguém tinha visto a mulher tão irritada antes, a única que olhava para Mari com raiva era Midori, a garota de cabelos rosas nunca gostou da morena pelo simples fato que Mari sempre defendia o menino.

Mari passou por todos, ignorando os sussurros dos tripulantes, ela olhou para seu alvo, a porta de metal onde estava Misato, a pessoa que poderia ter feito alguma coisa, ela tinha visto o terceiro impacto, ela sabia como tinha acontecido. Com um movimento rápida ela abriu a porta, ignorando o olhar surpreso de Ritsuko, ela somente queria vingança.

Fechando o seu punho, Mari usou toda a sua força, seus dedos doeram quando acertou o rosto de Misato, mas a adrenalina não permitiu ela sentir dor, tudo que ela queria era machucar. Vendo seu alvo caindo no chão, ela não perdeu tempo ao se lançar, subindo em cima da mulher caída, ela rapidamente desferiu outro golpe forte ao soltar sua raiva.

"MALDITA! MALDITA! VAGABUNDA DESGRAÇADA! EU VOU TE MATAR!"

"Mari! O que está fazendo!?" Gritou Ritsuko ao se lançar para frente, tentando em vão soltar Misato das garras precisas de Mari.

Olhava para seu alvo com raiva, ela somente queria sangue, Misato lutava para conseguir se libertar, nunca em sua vida ela esperaria uma reação dessa, principalmente de uma pessoa como Mari.

"SEU MONSTRO! VOCÊ É IGUAL A ELE!"

Finalmente colocando as mãos em volta do pescoço de Misato, Mari apertou com toda a sua força, nem os esforços de Ritsuko conseguiram mudar isso, rapidamente mais mãos a puxaram de cima de sua comandante, Mari olhava para Misato como um demônio.

"Makinami pare com isso!" Gritou Hyuga ao proteger Misato, uma rápida olhada para sua comandante mostrou que ela estava viva, rapidamente Shigeru segurou os braços de Mari que lutava a todo o momento.

"MALDITA! VAGABUNDA! DESGRAÇADA! EU VOU TE MATAR! EU VOU TE MATAR! EU VOU TE MATAR!"

Misato soltou algumas tossidas ao se recuperar, seus óculos de sol voando para o outro lado da sala, todos puderam ver o olhar de surpresa, se recuperando um pouco do ataque que recebeu, ela falou com raiva e medo para Mari que ainda lutava contra o forte aperto que recebia dos antigos técnicos da NERV.

"Mas que merda Mari! Porque isso!?" Gritou Misato com dor no nariz, mas algo no olhar da morena mostrou que isso somente podia significar uma coisa, ela sabia sobre a história de Mari, no começo ela não aceito bem, mas com o tempo tudo fez sentido, os arquivos que ela lhe mostrou provaram sua história.

Mari finalmente parou de se mover, olhou para Misato ainda com raiva, mas algumas lagrimas começaram a rolar pelo seu rosto, rosnado cada palavra.

"Aposto que você deve estar feliz! Vocês filhos da puta devem estar satisfeitos agora, NÃO É!"

"Que merda você está falando!?" Retrucou Misato ao limpar o sangue que escorria do nariz.

"O filhote foi condenado a Morte! ENTENDE ISSO!?" Mari falou ao sentir o aperto dos outros ficando mais fraco, finalmente a raiva foi sendo consumida pela tristeza, caindo como um pano sem vida, Mari lentamente se ajoelhou no chão, deixando a represa de lagrimas cair.

Todos olharam para si mesmo, Misato olhava para Mari chocada, Hyuga e Shigeru abaixaram o olhar, todos sabiam que isso podia acontecer, mas nunca esperavam que aconteceria.

Sentindo as mãos tremendo com a notícia, Misato sentiu seu coração parando de bater, mesmo ela não demonstrando isso externamente, uma rápida olhada para sua ex-amiga revelou que ela estava certa, novamente ela falhou, sentindo sua respiração acelerando, com calma e frieza ela deu a ordem para seus homens.

"Levem a piloto Makinami para seu quarto."

Hyuga e Shigeru olharam para Misato com serias dúvidas, ela sofreu uma grave agressão de um subordinado, ambos soltaram um pequeno "O que?"

Mari limpou o rosto e colocou seu melhor sorriso no rosto, lentamente se levantou, sua voz era séria e ameaçadora, seus olhos nunca saindo de Misato.

"Hahaha... claro que quer ficar sozinha agora, tem que poder comemorar com eles, comemorar a morte de um inocente somente para acalmar seu maldito ego..." Hyuga e Shigeru pegaram a piloto pelo braço, mas não antes de escutar a última ameaça de Mari.

"Quando essa guerra acabar... eu vou matar você!"

Misato pegou novamente seus óculos, sua última cortina contra a realidade, colocando sua melhor mascara no rosto.

"Eu mandei leva-la para seu quarto!"

Engolindo a seco, os dois homens começaram a levar Mari para fora, Ritsuko olhou para sua comandante, ela sabia que agora tinha saído tudo errado, nem ela poderia esperar uma coisa assim.

"Olha... eu não esperava isso..."

Misato a olhou com raiva, mesmo seus olhos cobertos pelos óculos, Ritsuko sentiu um forte calafrio percorrendo suas costas.

"Você cala a maldita boca! Vá cuidar dos EVAS que é o seu trabalho!"

Engolindo a seco com a frieza de Misato, rapidamente a falsa loira com passos acelerados saiu da sala deixando Misato sozinha somente com seus pensamentos como companhia, com um baque leve em sua cadeira, a mulher que pilotava a máquina que poderia matar Deus, sentiu uma coisa que nunca pensou que sentiria novamente, remorso.

Pensando nas palavras de Mari, ela aceitou seu destino, ela não merecia a gloria, não merecia a calma, no fundo ela sabia que o terceiro impacto nunca foi culpa de Shinji, novamente ela se deixou ser manipulada, os outros conseguiram o que queriam dela, uma lagrima solitária escorreu pelo seu rosto, uma coisa que a muitos anos ela não sentia, ela tinha que ser durona, tinha que mostrar o que aconteceria com os que queriam o mundo destruído.

Mari estava certa, ela tinha se tornado um monstro, ela tinha permitido que inocentes morressem para que ela pudesse ter sua vingança, no final a morte iria ser bom, pois o pior castigo iria estar nas suas costas, ela teria que aguentar o desespero por relembrar os olhos de Shinji no dia de seu despertar, o desespero em sua voz, a felicidade por ter revisto as pessoas que ele gostava, tudo isso para ser destruído num piscar de olhos.

Colocando as mãos contra o rosto, Misato controlou suas emoções, ela controlou o choro que queria sair, controlou a raiva que queria ter sua liberdade, mas ela não conseguiu controlar o desespero que tomou conta de seu corpo, sua mente gritou com imagens de Shinji.

"Shinji, me desculpe."


Notas do Autor: Olá pessoal Calborghete aqui, temos enfim o capítulo 28, espero que tenha sido de agrado de todos, como sempre não deixem de segui-la e salva-la em seus favoritos para não perderem mais nenhuma atualização futura.

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