Olá pessoal, Calborghete aqui, como estão todos?

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Então agora sem mais enrolação, boa leitura.


"Diálogos"

- Pensamentos -

"Conversa via Rádio"

"Auto conversa."


Nota de Responsabilidade:

Evangelion, seus personagens e cenário são propriedade de Hideaki Anno. Qualquer marca, filmes e séries mencionados nesta Fanfic é propriedade de seus criadores.


Capítulo 30

Chuvoso, era assim o dia na colônia administrativa, Albuquerque olhava para fora, vendo a águas caindo e limpando o ar da cidade luxuosa, pelos menos para os novos padrões, fechando os olhos ao pensar nos velhos tempos, o homem que agora comandava uma organização militar estava cansado, lidar com a perda de pessoas sempre iria pesar em sua consciência.

Percorrendo as gotas caindo na janela, ele podia ver resquícios de terra vermelha, as pequenas partículas que conseguiam passar pela forte barreira, mas pelo menos não era letal, fechando os olhos e pensando em tudo que ele já tinha enfrentado, na vida em especial que tinha salvado.

Shinji Ikari era o nome dele, o menino que tinha sido condenado a morte, sofrido com a nova crueldade do mundo, ele sempre acreditou em sua inocência, ele sempre pode ver que Gendo e Shinji eram pessoas diferentes, mas parecia que o mundo não via desta forma, nem mesmo a sua guardiã.

Reabrindo os olhos e olhando para a chuva, Albuquerque se perguntava todos os dias se tinha feito a coisa certa em salvar a vida de Shinji, se ele fez a coisa certa em ter explorado sua raiva contra seu pai para conseguir mais um soldado, sabia que o menino ia para a luta sempre com fome de combate não ligando para a sua vida, não se importando se morreria ou vivesse, isso sempre foi a grande dúvida na mente de Albuquerque.

Olhou para longe vendo a forte barreira dos pilares de contenção impedindo que a contaminação da barreira L tomasse o controle da nova cidade, uma simples barreira de energia estava salvando a vida de milhares de pessoas, uma falha e tudo acabaria, era assim que a vida seguia para todos que moravam ali.

Sentindo suas costas doendo com o tempo, lentamente ele se virou, indo para a sua mesa onde toneladas de papeis estavam à espera de serem lidos e assinados, muitas pessoas à espera da tão necessária comida e remédios, mas parecia que quanto mais a o IPEA limpava as áreas com os pilares de descontaminação da terra vermelha, parecia que o mundo ainda necessitava de mais.

Sentiu uma forte dor nas costas, foi assim que começou o dia de Albuquerque, sua saúde não era mais a mesma desde os eventos do terceiro impacto, para os novos padrões ele era um homem em forma, mas suas costas não diziam mais isso.

"Maldição." Reclamou o homem que estava no comando do IPEA ao massagear o local onde doía, várias horas sentado estavam cobrando seu preço, na sua frente, inúmeras folhas mostrando o desempenho de seus homens em manter os pontos chaves, ele tinha que conseguir manter o controle dos postos, a humanidade e as colônias dependiam disso para a sua sobrevivência.

Sentiu um calafrio percorrendo suas costas, o homem sabia que ele teria que aguentar um longo dialogo da pessoa que estava indo em seu escritório, ele sabia que a WILLE não iria pegar leve com ele, principalmente a comandante da Wunder.

Com um sorriso arrogante, ele sentiu o gosto da vitória ao saber que seu plano de apresentar sua nova arma tinha funcionado com sucesso, os simpatizantes estavam mais calmos nas suas tentativas de tentar assumir o controle sobre os campos que a muito custo tinham perdido.

Com um pequeno bip em seu velho computador, Albuquerque olhou, soltando um pequeno suspiro ao ver que novamente era o diretor da ONU querendo falar alguma coisa, ele queria poder recusar, inventar alguma desculpa, mas isso somente iria adiar a dor de cabeça que com certeza ele teria.

Com pequenas digitadas, uma pequena barra de progresso apareceu na sua frente, usando os velhos satélites que por milagre ainda funcionavam, o homem esperou.

"Olá comandante Albuquerque... como tem passado?" Perguntou Smith, um homem bem arrumado numa das colônias onde tinha sido fundada a ONU, como todos os outros líderes, Smith lutava para conseguir manter as pequenas nações sobre controle, tudo que o mundo não precisava era outra guerra mundial.

Albuquerque pegou algumas folhas de trabalho na sua frente, a maioria era relatório de danos ou perdas, mas os anos de luta esfriaram o peso que isso lhe dava em sua consciência.

"Diretor Smith, estou bem dentro do possível, lutando para conseguir entregar a pouca comida que venho recebendo da ONU..." Disse com desprezo o homem ao saber que tinha lutado para conseguir melhorar as coisas, mas parecia que quanto mais ele avançava, mais dos seus homens morriam e menos recursos eram disponíveis.

Smith tinha um sorriso nervoso no rosto, as coisas eram bem difíceis para lidar, muitos reivindicavam comida como forma de pagamento para informação ou poder, o mundo era um lugar estranho depois do terceiro impacto, mas ele não podia deixar Albuquerque achar que era o único lutando por alguma coisa, a ONU deu grande parte de seus homens e mão de obra para que a Unidade 08 V2 fosse construída.

"Não acha que está sendo injusto aqui?"

Albuquerque soltou um longo suspiro ao escutar isso, as pessoas tinham fome e sendo um homem religioso isso machucou sua alma, cruzando os braços sobre o peito e ficando com uma postura um pouco mais agressiva ele escutou o discurso do político de terno na sua frente.

Vendo que tinha a abertura que queria, Smith se aproximou da câmera e falou com a voz mais firme, tentando mostrar que ele não era o único com uma luta para vencer.

"Perdemos muitos recursos para a construção de seu EVA comandante, eu coloquei meu cargo em risco para que isso fosse possível, muitas pessoas não queriam que a construção fosse possível em nome da hipocrisia, então cuidado com o que fala."

Albuquerque olhava para a tela com calma, não se sentindo intimidado com isso tudo, sua mente pensando na próxima luta que iria ter, Smith pareceu perceber isso, ele sabia que ambos poderiam debater o dia inteiro sobre EVAS, o mundo ou qualquer outra coisa.

"O seu piloto se saiu bem, parece que você estava certo afinal de contas."

Albuquerque olhou para a tela com calma, um pequeno sorriso arrogante nasceu em seu rosto, foi muito arriscado remover Shinji da prisão, somente duas pessoas sabiam disso e ele esperava que continuasse assim, mas com o mundo sabendo da sua unidade EVA, era somente uma questão de tempo até isso vazar, mas não tinha importância.

O homem sempre desconfiou da versão oficial, sabendo que a SEELE iria fazer de tudo para tentar manter o controle sobre as pessoas, eles eram homens poderosos antes do terceiro impacto, muitos traidores ainda estavam nas colônias, somente observando os passos da WILLE ou do IPEA.

Albuquerque sempre pensou em Shinji, o seu real envolvimento no terceiro impacto, nada batia com o que as pessoas diziam, o menino não tinha olhos de assassino, seu melhor agente cuidou para que soubesse disso, foi aí que a ideia nasceu, ele tinha que se aproveitar da raiva do garoto, o mundo não podia pensar em ética.

"O garoto não é ruim, somente um pouco afobado..." Suspirou o homem ao pensar em tudo que ele colocou em risco para que Shinji pudesse trabalhar para ele, nos esquemas para lhe dar a liberdade, em como ele teria que treiná-lo para que não atrapalhasse os soldados ao seu redor, treiná-lo para liderar.

"Ainda acha que pode controla-lo?" Smith perguntou apreensivo, sua própria mente com sérias dúvidas, sempre se mostrou bom, mas seu comportamento em campo era perigoso.

"O seu soldado parece que não liga em morrer."

"Shinji já está morto, eu estou somente dando a oportunidade dele ficar em paz." Albuquerque rebateu, sua voz ainda era calma e controlada, Smith olhou para seu colega, no fundo ele concordou, quem conversava com Shinji podia sentir que ele era somente um pedaço de carne, uma máquina de lutar que somente se importava com o avanço de seus objetivos.

"A comandante da Wunder não perece muito feliz com o seu novo brinquedo." Smith falou com humor ao receber a reclamação oficial da Dra. Akagi sobre manter a WILLE longe do projeto EVA do IPEA. Albuquerque soltou uma risada ao escutar isso, ele nunca escondeu seu desprezo pela WILLE.

"Aqueles filósofos não tem que aceitar, eu não quero depender deles quando o assunto é um EVA, quero ter um pouco de controle sobre isso, mesmo que seja um pouco."

"Sabe que a coronel Katsuragi vai querer explicações." Smith relatou com um tom zombeteiro, todos conheciam o temperamento da mulher, que agora era a ponta da espada da WILLE, ele ria ao ver Albuquerque dando de ombros.

"Ela já está a caminho, eu posso lidar com isso..." Falou o homem com um rosto sombrio e pensativo, ele tinha uma coisa planejada para conseguir vencer os argumentos de Misato, no fundo ele não era diferente de Shinji, não se importava se as pessoas vão gostar dele ou não, ele somente queria o mesmo que todos, acabar com a SEELE e a NERV, poder achar um canto para ele se aposentar em paz.

"O alto comando da WILLE confia que você irá cooperar, uma coisa eu tenho que concordar com eles, o impacto de produzirmos um EVA é perigoso para o mundo." Smith falou com um tom de voz sério, mostrando claramente seu descontentamento com toda a burocracia que iria vir.

"E o conselho acredita que se entregar o controle do EVA Mark II para a Wunder vai melhorar um pouco as coisas." Smith falou apreensivo, Albuquerque somente balançou a cabeça para os lados.

"Acabamos de estrear e já temos que ceder, não vejo como ganhamos nisso."

"Temos que manter nossos laços comandante, não podemos nos dar ao luxo de perder um parceiro em potencial como a WILLE, mesmo assim o recado já foi dado para a SEELE, somente temos que colocar as nossas cartas no lugar certo." Smith concluiu seu pensamento ao olhar alguns documentos necessários.

Albuquerque assentiu com isso, ele tinha que cooperar com seus colegas, afinal de contas eles estavam no mesmo lado, ajudar não iria custar nada.

"Isso não será um problema, assim que eu terminar com a WILLE, eles terão todos os documentos que quiser, não vai ter muito para esconder depois de hoje." Disse o homem ao olhar para uma folha qualquer em sua mesa, mas seus olhos viam outra coisa.

Smith assentiu com isso, uma rápida olhada em seu relógio mostra que outros compromissos se aproximavam.

"Tenho que ir, agora se comporte Albuquerque, lembre-se que ainda responde a um conselho na ONU, assim como a WILLE você não tem carta branca para fazer o que bem entente."

Albuquerque não falou nada, na sua frente a tela perdeu a vida, ele estava sozinho, com somente seus pensamentos, seus medos e crimes, ele sabia que estava se aproveitando de Shinji, usando o homem que tinha sido traído para seus próprios fins, mas isso era justificável? Essa era a resposta que ele queria, um pouco de alivio em sua consciência.

Se inclinando na sua mesa, o homem colocou a mão atrás da cabeça e pensou, seu corpo lutando para conseguir as respostas, ele sempre sentiu que Shinji era inocente, sendo uma das poucas pessoas que tinham acreditado nisso, colocou sua vida em risco para conseguir salvar outra.

Albuquerque pegou os relatórios em sua mesa, folheando até conseguir encontrar o que queria, vendo o desempenho do Major Ayanami, o menino lutava bem, mas tinha que tomar cuidado, no fundo ele sentia pena de Shinji, sentia pena pelo o que tinha acontecido com ele, sabia que teria que ter uma conversa bem séria com ele.

"Senhor, a comitiva da WILLE está a sua espera." Relatou sua secretária, olhando para o velho dispositivo de som em sua mesa, Albuquerque inspirou ao saber que isso era outra guerra que ele teria que lutar, todos nesta comitiva não estariam nem um pouco felizes, mas ele tinha as armas para conseguir equilibrar a balança contra Misato e seu pessoal, diferente deles o homem não tinha medo de falar o que pensava.

"Ok, obrigado por avisar." Respondeu educadamente o homem a sua secretária, se levantando, parou no velho espelho e ajustou sua farda preta, ele gostou de seu reflexo, diferente da cor azul escuro da WILLE, o IPEA usava preto, com o intuído de dar medo nos simpatizantes.

Ele ficou um pouco se olhando, vendo como a cor preta realçava a cor de seu rosto, mostrando todas as marcas de seu cansaço. As cicatrizes de todas as lutas que ele enfrentou, como essa roupa deixavam ele mais ameaçador possível, pelo menos cumpria seu papel, com uma ajustada final ele saiu de seu escritório, Albuquerque se aproximou da mesa de sua subordinada e falou com a voz controlada.

"Caso eu não tenha voltado e o major Ayanami chegar, mande-o ir para a sala de conferencia." Albuquerque assentiu sorrindo ao ver sua secretaria entendendo a ordem, com um aceno final o homem começou a andar, com as respostas prontas para enfrentar Misato e todos que estariam com ela.

Usando todo o tempo do mundo, Albuquerque passava pelos outros homens, mantenho a postura fria, ao parar na frente de uma pesada porta o homem se preparou removendo qualquer vestígio de medo ou ansiedade.


Do outro lado da sala, Misato se sentiu agitada, sua calma já tendo acabado há muito tempo, sentiu uma raiva monstruosa ao saber que Albuquerque a está fazendo perder tempo, ao seu lado estava mais quatro pessoas.

"Onde está esse idiota!?" Asuka resmungou ao se levantar, não gostando de ficar parada, ela queria poder ir para seu quarto e se trancar em seu passatempo favorito, jogar seu console de vídeo game.

"Calma princesa, pelo menos estavam fora da Wunder." Mari falou sorrindo ao se sentar melhor na cadeira, ela estava ansiosa para rever Albuquerque novamente, diferente de todos, ela sentia alguma coisa pelo homem que lhe deu uma segunda chance de poder se aproximar de Asuka e Shinji, sentindo a tristeza tomando conta de sua mente, Mari rapidamente olhou para as unhas para se distrair, virando a cabeça para o lado, ela sorriu para Rei.

"Não é azul? É bom estar fora daquele navio, poder ver um pouco de outras pessoas... quem sabe até paquerar."

Rei olhou para Mari com dúvidas, mesmo tendo aprendido muito nestes tempos que conviveu com todos dentro da Wunder, ela não sabia como tinha que lidar com situações sociais, ela simplesmente não ligava para essas coisas.

"Não sei o motivo disso, gostaria de poder estar fazendo alguma coisa produtiva ao invés de somente sentar numa sala vazia." Respondeu a mulher de cabelos azuis, mas pelos menos estar perto de seus amigos ajudava a lidar com vazio que se instalou em seu coração depois da perda de Shinji.

Mari olhou para Rei e sorriu, sentiu seu corpo reagindo ao ver que a menina estava ficando cada vez mais parecida com Yui, mas de sua própria forma, Mari se lembrava das noites que passou com Rei, principalmente depois das discussões com Asuka.

Se perdendo nos intensos olhos vermelhos de Rei, Mari sabia que ela não era Yui, mas tinha alguma coisa nesta mulher que fazia querer se aproximar ainda mais.

Rei percebeu o olhar de Mari, ela sabia de seu passado, sabia que não era uma pessoa completa, ela podia sentir isso quando olhava para as pessoas, podia sentir seu campo AT, no fundo Rei tinha medo de sair da Wunder, medo de ser hostilizada, mas Mari nunca a tratou diferente, era divertido estar com ela, ela foi sua melhor amiga depois de Shinji, isso a deixou abatida por lembrar-se do menino.

Mari pode ver a reação de Rei, tento visto à menina se olhando no espelho ao se comparar com outras pessoas, ela sabia que Rei não se sentia humana, mas nunca tinham conversado sobre isso antes.

"Não adianta nada ter pressa agora, a Wunder está sendo reabastecida, então temos algum tempo livre." Ritsuko falou ao fumar um cigarro, não se importando nem um pouco com o local.

"Eu somente quero saber por que fomos deixados de lado no projeto EVA do IPEA, parece que Albuquerque se esqueceu da cooperação entre WILLE e IPEA."

Misato ainda estava sentada com braços cruzados, sua mente pensando na visão que teve da Wunder, onde o gigante negro do IPEA embarcou no transporte, tinha alguma coisa naquela coisa que a deixou intrigada, era como se ela pudesse olhar para uma pessoa conhecida, com o som de uma porta sendo aberta, Misato olhou para o lado, podia ver Albuquerque se aproximando dela com passos arrogantes, lembrando até ela nos tempos da NERV.

Albuquerque olhou para todos, se sentindo surpreso ao ver todos os pilotos da Wunder naquela sala, mas isso não foi passado na sua figura externa.

"Olá todos, me desculpem o pequeno atraso, estava tratando de assunto com a ONU." Falou o homem educadamente ao se aproximar de todos, mas seus olhos focaram em uma pessoa em especial, sorrindo ao rever Mari.

"Senhorita Makinami, já faz algum tempo que não nos vemos."

Mari sorriu ao rever Albuquerque desde a ordem para ficar sob os cuidados da Wunder por causa de seus status de piloto de EVA, mas ainda era uma soldada do IPEA.

"Faz sim chefe, posso ver que se manteve em forma."

"Eu tento." Albuquerque falou bem-humorado, notando pelo canto de olhos que Misato estava aborrecida, essa conversa com Mari estava irritando a coronel.

"Como está Kaji? Espero que esteja conseguindo manter a Vila 03."

Mari sorriu ao pensar no velho amigo, assim como Albuquerque, a muitos meses que ela não ia a vila de refugiados no Japão, seu velho amigo que salvou suas vidas, lhe deu forças para conseguir seguir neste novo mundo, ela queria poder falar com ele, parecia que Kaji sempre sabia o que dizer, a vila tinha sorte de tê-lo como líder.

"Vamos terminar logo com isso!" Asuka falou mal-humorada, ela não queria estar lá, Albuquerque olhou para a ruiva com calma, sem se deixar intimidar.

"Ninguém está obrigando você a ficar aqui."

Asuka sentiu o sangue fervendo com isso, pronta para retrucar ao estilo Asuka, mas Misato rapidamente levantou a mão.

"Chega Asuka..." Olhando para a dita pessoa com frieza, Misato voltou para Albuquerque, como sempre escondendo os olhos por trás dos pesados óculos de sol, ela queria respostas.

"Vamos ao que interessa Albuquerque... a WILLE está querendo saber por que fomos deixados de lado no seu projeto EVA." Misato perguntou com frieza, seu corpo como uma pedra.

Albuquerque assentiu ao escutar isso, prontamente ele sabia a resposta, mantendo a mesma frieza que Misato em sua voz.

"Pelo mesmo motivo que vocês esconderam do IPEA o projeto Wunder."

Misato sentiu o golpe, ela sabia que a coisa tinha sido invertida, ela nunca se importou em informar aos seus colegas sobre o grande navio. Ritsuko olhou em volta ao ver o grande silencio que tomou.

"Não acha que pode estar dando o exemplo errado ao construir um novo EVA?" Perguntou a falsa loira, ela pode ver Albuquerque olhando para ela sem se intimidar.

Exatamente como ele tinha planejado, Albuquerque se sentou em uma cadeira com uma postura folgada.

"Tivemos que correr esse risco, a NERV ou a SEELE não estão se preocupando em aumentar seu arsenal, podemos ver que os EVAS inimigos estão cada vez presentes em nossos sensores, temos que ter armas que possam proteger as zonas estratégicas, resumindo, não podemos depender da Wunder ou da WILLE quando o assunto é EVA."

Assentindo ao escutar essa resposta técnica, Ritsuko sabia que isso era uma realidade contra os inimigos, quando mais a IPEA avançava em terra, mais lugares eles teriam que proteger.

"Um EVA tem o efeito psicológico desejado, notamos que os simpatizantes da SEELE estão com medo, seu avanço parou... pelo menos por enquanto." Concluiu Albuquerque.

"Posso entender que vamos ter acesso aos esquemas de construção? Aliás temos que saber quem é amigo ou não, concorda?" Perguntou Ritsuko arrogantemente, ela queria poder ver o que fizeram de diferente, poder saber tudo sobre essa área técnica.

Albuquerque sorriu ao escutar isso, essa conversa pelo menos não estava sendo tensa como ele esperou que fosse.

"Claro que sim, tem a nossa cooperação e isso não vai mudar."

"Me pergunto se não for possível que seja transferido a custódio desse novo EVA e seu piloto para a Wunder? Temos mais pessoal e material para lidar com esse tipo de coisa, não acha?" Ritsuko começou a falar profissionalmente ao fumar.

Albuquerque não pode negar essa lógica, a Wunder tinha mais preparo para esse tipo de coisa, mas não poderia ceder tão facilmente, o assunto já estava sendo discutido no conselho da ONU, a WILLE tinha mais experiência com EVAS do que o IPEA.

"Não posso discordar doutora, mas isso pode ficar para outra hora, no momento temos que lidar com o piloto que é meio..." Parou o homem ao pensar em Shinji e sua personalidade, ele sabia que o garoto iria ter que enfrentar seu passado um dia.

"Meio temperamental."

"Já temos a princesa, então é mais fácil para lidar, mais um colega de armas é bom." Mari falou sorrindo ao pensar na possibilidade.

Misato ainda olhava para o rosto de Albuquerque, ela não ligava para essa conversa burocrática, ela somente queria poder entender o que estava acontecendo, desde a perda de Shinji e sua falha como guardiã ela somente queria poder atacar a NERV com tudo que pudesse, mas o som da porta sendo aberta chamou sua atenção, assim como todos dentro da grande sala, ela olhou para ver quem era, seu corpo congelou com a visão.

Albuquerque olhava para Ritsuko, respondendo as suas perguntas sem ao menos piscar, mas uma coisa chamou sua atenção, uma coisa que ele esperava, vendo a pesada porta sendo aberta, ele falou sorrindo.

"Major! Que bom que chegou!"

Todos dentro da sala viraram a cabeça, Asuka arregalou os olhos, sentindo suas mãos tremendo com o medo que tomou conta de seu corpo, ela estava vendo um fantasma, a cada passo que ele dava, a cada metro mais perto confirmava seu medo.

Mari se sentou, seu rosto perdendo a cor, sentindo cada fibra de seu corpo tremendo, a muito tempo ela chorou, a muito tempo ela se desesperou, isso era um sonho? Uma brincadeira de mal gosto.

Rei olhou para aquilo, podendo reconhecer aquele campo AT, podia sentir sua alma gritando em raiva, mas ela não sabia como se sentir, ela somente olhou e sentiu os olhos ardendo com uma emoção que ela não sabia como entender.

Ritsuko olhou para Shinji, balançando a cabeça para os lados ao entender a situação, não podendo dizer que sentiu uma pouco de alivio ao saber que Shinji de alguma forma estava vivo, mas isso a deixou com medo, o que mais Albuquerque estava escondendo?

Shinji olhou para todos os rostos, se não estivesse de óculos de sol, seus olhos teriam se arregalado, ele nunca pensou que um dia ele as veriam novamente, sentiu uma enxurrada de emoções tomando conta de seu corpo, o homem abaixou o relatório, focando seus olhos em cada pessoa, mas tinha uma em especial.

Asuka olhava para Shinji, sua mente gritava para correr até lá e ver se era verdade, mas seu corpo se sentiu paralisado, somente suas mãos tremiam, seu único olho visível completamente arregalado em choque.

Sentiu a raiva tomando conta de seu corpo, Shinji retomou seu trajeto, sentindo o peso da traição, o peso do abandono ao revê-las, as pessoas que ele achou que poderiam ser sua família, mas isso se provou ser impossível.

Parando a poucos metros de Albuquerque, Shinji sentia seu sangue fervendo com isso, olhou para Albuquerque com raiva, ele queria respostas, ele queria poder se virar e confortar Misato, perguntar o motivo dela não ter acreditado nele, perguntar o motivo de ter sido abandonado, o motivo de elas terem matado ele.

"O relatório da luta!" Falou rispidamente Shinji ao lançar o relatório para a mesa, ele não queria ficar nem mais um segundo ali, se virou e começou a sair, mas Albuquerque falou com a voz firme.

"Major Ayanami! Não pense que o ocorrido na missão vai passar despercebido, depois vamos conversar."

Shinji parou seu andar, falando ao se virar timidamente, a única pessoa que ele sentiu felicidade ao rever foi Rei, a garota que carregava o DNA de sua mãe, a coisa mais próxima que ele tinha de uma família real.

"Claro senhor." Depois de ter dito isso, rapidamente Shinji começou a sair da sala, seus passos pesados ecoaram profundamente ao seguir seu caminho para fora, ele sentiu seu coração batendo forte em seu peito com esse pequeno reencontro, sua mente gritava para buscar respostas, mas ele não podia ficar ali, era muita emoção envolvida, machucava rever aqueles olhos, aqueles rostos, ele somente queria ir embora.

"Que merda é essa!?" Asuka gritou ao se virar para Albuquerque, suas mãos tremiam claramente com a ansiedade que tomava conta de seu corpo, ela queria sair correndo, ir atrás de Shinji, mas ela sentiu medo ao vê-lo.

Mari sentia sua respiração acelerando, ela somente pensava em Yui, no rosto de Shinji, ela podia sentir sua raiva, Rei lentamente colocou a mão em seu ombro, ela estava próxima ao ter um ataque de pânico.

Misato se virou para Albuquerque, pegou sua arma e prontamente a apontou para o homem que estava calmo diante de toda a situação, ele podia ver as mãos dela tremendo, ele podia ver o quanto isso a deixou incomodada.

Olhando para os olhos de Albuquerque, Misato perdeu completamente a compostura, ela queria respostas.

"O que Shinji faz aqui!?" Perguntou Misato com ansiedade, Albuquerque pode sentir que isso não era raiva ou nada, mas somente uma grande surpresa, não se importando com a arma apontada para seu corpo, o homem lentamente falou com calma.

"O que foi? Surpresa porque ele está vivo?"

Misato sentiu sua mão tremendo, ela queria poder negar, mas parte de seu corpo sentiu uma felicidade ao rever aquela pessoa viva, abaixando a arma, ela ainda manteve sua postura ansiosa.

Ainda olhando para o homem com intensidade, Misato queria algumas respostas, sua mente gritando para que ela apontasse novamente a arma e usasse todas as técnicas que tinha aprendido para extrair informações.

Albuquerque sorriu com isso, uma rápida olhada para os lados confirmou suas suspeitas, todas estavam em choque, todas não esperavam esse movimento dele, isso não foi para machucar ou para simplesmente uma pura demonstração de poder, mas sim para mostrar que eles não davam as cartas.

"O que está acontecendo aqui?" Misato perguntou com a voz profunda e sem vida, sua mente ainda tentando entender o que tinha acontecido.

Com um movimento lento e sem pressa, Albuquerque se levantou, mostrando que não estava intimidado nem nada, lentamente o homem começou a caminhar para uma pequena mesa contendo um jarro de águas.

"É o que seus olhos veem, o major Ayanami é o piloto da Unidade Mark II..."

Andando com passos pesados em direção da pessoa que tinha conseguido salvar a vida de Shinji, Misato bateu com as mãos na mesa de madeira, o impacto foi tão forte que derrubou a pequena jarra de vidro, Albuquerque observou o pequeno estrago aos seus pés.

"A quanto tempo Shinji está vivo!?"

Sem deixar se intimidar, ele a olhou friamente sem se importar com todos os outras na sala, sem se importar com a pequena dor em suas costas.

"Tempo suficiente..."

"Isso não é possível..." Asuka finalmente conseguir falar, todos os anos de sofrimento, todos os anos sentindo culpa, e Shinji estava bem ali, estava vivo e com saúde.

"Seu maldito!" Mari rosnou ao olhar Albuquerque, sua mão tremendo pedindo uma chance para acabar com aquela vida que tinha mantido isso em segredo, todos os anos de culpa surgindo rapidamente em sua mente já agitada.

Finalmente perdendo um pouco da postura, Albuquerque deu um passo para frente, sua altura mais alta lhe dando uma posição mais intimidante contra a mulher que lhe acusava injustamente, ele que salvou a vida de Shinji, ele era quem estava ao seu lado lhe dando uma nova chance, o que Misato e a corja da WILLE tinham feito?

"Quem vocês pensam que são?"

Dando um pequeno passo para trás, Misato ainda estava sentindo o choque de ter descoberto sobre Shinji, ela esperou pelos ataques dele, podendo ver que tinha uma pequena vantagem, Albuquerque falou mantendo o tom de voz controlado e calmo.

"Eu somente fiz o que você nunca teve coragem para fazer, eu vi uma oportunidade de poder salvar a vida de um inocente!" Dito isso ele pode ver uma mudança na postura de todos na sala, sua mente sempre se perguntou onde esse pessoal estava quando o terceiro impacto aconteceu, mas ele nunca deixaria um inocente pagar o preço de um crime que nunca tinha cometido.

"Você sabe o Shinji significa para mim! Porque fez isso!?" Mari gritou ao se levantar, Rei não perdeu tempo em se levantar também, sua mente sentia emoções que quase nunca eram sentidas antes, era raiva? Alivio? Mas pelo menos tinha que conseguir controlar sua amiga.

Albuquerque perdeu a pose, ele sabia que isso iria ser difícil, a verdade sobre Shinji uma hora iria ser revelada, isso era somente uma questão de tempo, se virando para Mari, ele falou com a voz aborrecida.

"E o que vocês fizeram para ele!? Desde a volta do menino a WILLE o tratou como um monstro! Um assassino!" Se virando e apontando para Misato acusadoramente, ele se sentiu satisfeito ao ver que suas palavras tiveram efeito nas meninas.

"Você! Coronel Katsuragi, se importa tanto com ele que não perdeu tempo em envia-lo para a corte judicial da ONU, eu vi a oportunidade de conseguir salvar a vida dele, eu vi uma oportunidade! Não vocês!"

Rei olhou para o homem que apontava acusações para todos, rapidamente ao seu lado uma ruiva gritou.

"Você fala como se fosse o herói! Você está se aproveitando dele!"

"Aproveitando? Acha que estamos aonde, ruiva? Shinji é um soldado! Ele está lutando pelo o que acha certo! Eu somente lhe dei as ferramentas, o que vocês deram!?" Dito isso rapidamente todas se calaram, com um sorriso ele continuou.

"Acha que seria diferente se fosse ao contrário? Estamos em guerra! Ele está somente lutando ao meu lado e vocês? O que fizeram? O mandaram para o pelotão de fuzilamento."

"Achamos que isso seria o melhor, nunca pensamos que a ONU iria condenar o menino a morte." Ritsuko começou a argumentar, sua voz mantendo o tom calmo de sempre.

"O mundo quer sangue doutora, vocês estavam tão focados nos cargos que possuíam que não pensaram! Era mais importante o seu comando que uma vida, como foi que você me falou uma vez, coronel? 'Não podemos sentir empatia neste mundo'".

Albuquerque sorriu ao ver que suas palavras tinham atingido o ponto onde ele desejava, Misato claramente deu um passo para trás ao escutar isso, tomado pela adrenalina e pela raiva, ele continuou.

"Vocês da WILLE não são diferente da corja da NERV que lutam, você não é tão diferente de Gendo Katsuragi."

Sentindo o sangue fervendo com a comparação, Misato rapidamente se aproximou, apontando sua arma para a meio da cabeça de Albuquerque, ela nunca iria aceitar esse tipo de comportamento, mas ela está fragilizada com as palavras de seu rival, todos ficaram em silencio com esse pequeno ato.

Albuquerque não se importou com isso, seus olhos estavam focados firmemente nos de Misato, não tendo se arrependido de falar isso, calmamente ele continuou.

"Pode me ameaçar o quanto quiser coronel, mas não pode fugir da verdade, e a verdade é que você deixou Shinji morrer! Tudo pela sua vingança contra a NERV!"

Lentamente Misato abaixou a arma de sua cabeça, sua mente martelando as palavras do homem na sua frente, ela sabia que ele tinha razão, ela não tinha feito nada para salvar a vida de Shinji, se deixou levar pela sua patente, se deixou levar pela sua raiva, e no final quem sofreu foram as pessoas inocentes.

"Não me culpe por ter feito o que você não fez, agora se me der licença, tenho mais coisas para fazer." Falou o homem com autoridade ao começar a sair, sem se importar com o olhar mortal que Misato lhe dava e com as maldições de Mari, ele tinha que continuar seu trabalho.

"Pode pegar os documentos que quiser pelo canal de comunicação oficial doutora Akagi."

Ritsuko olhou para a pesada porta de madeira se fechando com um baque moderado, se virando e olhando para as pessoas com qual trabalhava a muito tempo, ela sentiu pena de Misato, podendo sentir que as palavras de Albuquerque atingiram com força a mulher, ela conhecia bem Misato para ver que isso iria ficar marcado na alma.

Virando a cabeça para o lado, ela pode ver Mari tremendo ao limpar ao rosto, com Rei inutilmente tentando um jeito de consola-la com uma simples massagem nas costas.

"Maldito Albuquerque!" Rosnou Asuka ao apertar as mãos, forte o suficiente para que suas unhas machucassem a pele branca de suas mãos, mas no fundo ela sabia que isso era errado, realmente ele fez o que elas não tinham feito, ele salvou a vida de Shinji, não se preocupou com o que iriam pensar dele, não se preocupou com seu posto, ele somente fez o que era certo.


Caminhando com passos pesados indo para seu escritório, Albuquerque estava aborrecido, ele sabia que Misato tinha um certo carinho por Shinji, até certo ponto ele podia entender sua raiva, mas não poderia ficar calado para sempre, abrindo sua porta com um pouco de violência, o homem nem percebeu que tinha uma pessoa na sala.

Escutando passos indo na sua direção, Albuquerque não teve tempo para reagir, tudo que ele pode fazer era sentir suas costas batendo forte na parede e um cano de arma em sua cabeça, abrindo os olhos, ele pode ver o forte olhar aborrecido de Shinji.

"Calma garoto." Disse Albuquerque ao levantar as mãos em sinal de paz.

"Porque?" Rosnou Shinji ao sentir sua adrenalina tomando conta de seu corpo, seus olhos famintos por sangue olhavam para Albuquerque, ter reencontrado Misato e todos os outros tinha agitado sua mente e corpo, se sentia como se tivesse sido traído, Shinji lutou contra o desejo de não fazer bobagem.

Ele ainda se lembrava do olhar de choque de Asuka, ele queria poder implorar por perdão, implorar por respostas, mas ele tinha que sair daquela sala o mais rapidamente possível.

"Não podíamos manter sua situação em segredo para sempre, uma hora isso iria..." Começou a explicar o homem, mas rapidamente foi impedido por um aperto em seu peito.

"Uma ova, acha que foi coincidência? Você acha que elas estarem aqui foi mero acaso!?" Falou Shinji com forte autoridade, Albuquerque se manteve calmo a todo o momento.

Com uma longa respirada, Albuquerque pensou no que falaria, ele pensou com cuidado, ele sabia que Shinji nunca iria atirar nele.

"Garoto, não se pode fugir do passado para sempre, um dia ou outro isso iria acontecer, tem que aprender a se controlar!"

Shinji piscou ao escutar isso, lentamente ele foi abaixando sua arma e se afastando, ajustando sua farda, Albuquerque olhou fortemente para Shinji, levantando seu dedo em sinal de poder.

"Se controle!"

Shinji respirou profundamente, ele queria desesperadamente poder ir para seu quarto, o lugar onde ele iria ter alguma paz, principalmente a paz que estava repousando ao lado de sua cama.

Dando mais um passo na direção de Shinji, Albuquerque sentiu pena do menino, ele sabia que isso iria machucar muito em Shinji, mas ele tinha que enfrentar seus medos e demônios se um dia fosse se perdoar pelo o que tinha acontecido no passado, ignorando o ato de insubordinação, ele foi em direção da sua mesa.

Shinji ainda olhava para o ponto onde tinha prendido seu chefe, mas rapidamente as palavras dele vieram, ainda tomado pelas lembranças ruins, Shinji fechou os olhos ao relembrar de cada palavra de ódio que foi direcionada a ele, de cada olhar, das maldições, da culpa.

"Tem que aprender a lidar com seu passado, um dia estaremos lutando juntos ao lado da WILLE e não posso me preocupar com um moleque que não sabe separar o passado do presente... isto está claro!?"

Shinji ainda não se virou, Albuquerque falou com a voz mais alta e com mais força.

"Eu perguntei se está claro, Major!?"

"Sim." Foi a resposta de Shinji ao se virar para sair, já tendo o destino que tanto esperava em momentos de crise, com certeza ele iria sentir os efeitos disso no dia seguinte.

Albuquerque soltou um suspiro ao olhar para a porta fechada, na sua frente tinha os esquemas de transferência de custódia da unidade Mark II para a Wunder sob cuidado da WILLE como prova de cooperação militar entre as duas agencias, ele somente queria a resposta que Shinji iria conseguir segurar sua mente essa iria ser a sua maior provação.

Albuquerque queria que as coisas fossem diferentes, mas o mundo não tinha muito mais tempo, Shinji teria que conseguir lidar com seu passado, da forma fácil ou difícil, não poderia se esconder no IPEA para sempre.


"Pirralho!"

Shinji piscou ao escutar isso, a cada passo que ele dava, era como se uma pequena faca entrasse em seu peito, sua mente se lembrando de cada momento em que passou preso, a cada olhar que recebeu pelos seus crimes, de cada maldição, para todos os outros ele era um soldado frio, o homem que não tinha medo do inimigo, mas para quem o conhecia um pouco, via que ele era somente um menino que fugia.

Passando por Shinji, tinha uma das poucas pessoas que queria se aproximar do menino, um certo garoto de cabelos brancos e olhos vermelhos, muitas vezes ele o observou, muitas vezes ele tentou contato, mas a reação era sempre a mesma.

Kaworu sorriu ao ver Shinji se aproximando, com seu sorriso simpático ele tentou, machucou quando Shinji desconfiou dele no almoço, ele somente queria poder ajudar, assim como sempre fazia com todos ao seu redor.

"Olá querido Shinji-kun."

Mas como todas as outras tentativas, nenhuma resposta ele recebeu, olhando para Shinji passando por ele, Kaworu pode reconhecer aquele olhar, ele podia ver que tinha alguma coisa errada, com um olhar aborrecido ele observou, mas não Shinji, mas sim o homem de terno que o olhava de longe.

"Seus crimes serão pagos de uma forma ou de outra!" Uma voz masculina gritou em sua mente, uma mera lembrança dos momentos na cadeia, na primeira vez que ele tinha matado uma pessoa.

Parando e olhando para a sua mão, Shinji podia sentir o calor do sangue do homem que queria lhe estuprar, por muito tempo ele pensou nisso, por muito tempo ele ainda escutava o som do crânio do homem se quebrando com cada batida que recebia.

Thanato como sempre observava, Lilith não estava mais ao seu lado, a deusa estava longe, mas isso não impediu a morte de olhar, ele sabia que não poderia fazer nada, ele não tinha esse poder, somente poderia ajudar nos sonhos que ele tinha.

Com um olhar de tristeza ele olhou Shinji entrando no seu quarto, ele já sabia o que homem iria fazer, como muitos na história usavam o mesmo método para bloquear as memorias.

"Os homens não sabem que isso somente piora?" Falou Thanato sozinho ao ver Shinji fazendo o seu ritual ao entrar no quarto, entrando no pequeno cômodo agora empoeirado, Thanato observou Shinji andando por todos os cantos, sua arma ele apontou para todos os cantos.

Pobre garoto ele pensou, era difícil ver Shinji neste ponto, não confiando em ninguém, somente nele mesmo, isso era o que mais doía na morte, muitos anos ele observava as famílias, o laço de confiança que todos tinham, era para ser assim com shinji, era para ele confiar em Albuquerque, confiar nos homens que morriam ao seu lado, mas isso parecia ser coisa para os outros, não para Shinji.

"Não faça isso..." Implora Thanato ao ver Shinji se sentando de frente para a porta, sua arma prontamente a espera de um possível invasor, o local era escuro e frio, sem vida, assim como Shinji se sentia.

Uma dose atrás da outra ele observou, Shinji lentamente foi se envenenando com o liquido alcoólico, dose a dose ele sentiu quando a mente de Shinji se fechava, era como ver uma porta se fechando, não demorou para Shinji cair no mundo dos sonhos e como sempre, era sombrio e nublado pelo veneno.

Voltando a ser um menino tímido, Shinji se viu sentado em um banco de uma praça, o mundo sem cor ou sem calor, ele somente se sentou, não importava o quanto ele tentava, o quanto ele pensava, era somente tristeza.

Thanato andou por essa fantasia, ele se sentia com frio, assim como a alma de Shinji, não demorou para ele encontrar o menino, com passos lentos ele se aproximou.

"Porque faz isso com você mesmo?"

Shinji levantou a cabeça, não mais se importando com a pessoa que sempre entrava em seus sonhos, ele não ligava mais para isso.

"É a única forma de esquecer..." Respondeu Shinji extremamente abatido.

"Porque tenta esquecer, até onde eu sei temos que aprender com o passado." Thanato se sentou em um dos bancos vazios, o ar frio empurrando tudo ao redor, o lugar estava morto a um bom tempo.

Shinji abaixou a cabeça e respirou profundamente.

"Aprender com o passado? Já matou todo o mundo e conseguiu seguir em frente?"

Thanato sorriu com isso, como se ele não soubesse como era ceifar muitas vidas.

"E se lamentar ajuda com o que?" Falou a criatura ao olhar para Shinji, ele queria que o menino aprendesse que fugir não levaria a lugar nenhum.

"Acha que esse sofrimento não é um pouco de exagero?"

Shinji se encolheu ainda mais, ele queria que essa criatura fosse embora, lhe deixasse em paz, agarrando sua cabeça com violência, Shinji gritou.

"O que você sabe de sofrimento!?"

"Eu sei mais do que pode imaginar." Thanato respondeu ao se lembrar dos momentos mais sombrio da humanidade, vendo o menino olhando para baixo, lentamente ele se sentou na frente de Shinji.

Sentindo a mão fria da criatura tocando seu queixo, Shinji queria resistir, mas parecia que nada poderia afastar, ele olhou para os olhos dourados de Thanato, sentindo um pouco de paz.

"A vida é sobre erros e acertos garoto, posso ver que seu desejo de se redimir está queimando em seu peito, mas ficar bebendo até a morte não vai lhe ajudar em nada, tem pessoa que vão estar disposta a tentar lhe ajudar, mas tem que se permitir ajudar."

Shinji abaixou o olhar ao escutar isso, ele sabia que isso era certo, mas ele poderia confiar nas pessoas novamente? Se aproximar somente iria lhe causar dor.

"Sabe que um dia vai ter que olhar para elas novamente." Thanato falou ao se levantar, seus olhos focando no horizonte, um dos locais onde Shinji conheceu Misato pela primeira vez.

"Eu sei que você sente falta delas, principalmente de Asuka."

Shinji sentiu seu corpo ficando irritado com isso, rapidamente ele se levantou e falou com a voz irritada.

"Elas me mataram! Me abandonaram!" Olhando com olhos vidrados para o nada, Shinji se perdeu em sua própria loucura.

"Elas me mataram! Me abandonaram!"

"Elas me mataram! Me abandonaram!"

"Elas me mataram! Me abandonaram!"

Thanato suspirou abatido ao se aproximar de Shinji, com um movimento lento e suave ele tocou em sua testa, então tudo acabou.

Abrindo os olhos abruptamente, Shinji olhou para os lados, ainda com o sonho que teve em mente, rapidamente ele pegou sua arma e se certificou de que estivesse carregada.

"Elas me mataram! Me abandonaram!" Falou o menino com raiva, mas isso era mentira, ele mesmo sabia que seu coração nunca iria conseguir odiar Asuka ou Misato, era elas que ele mais queria ao seu lado.

Abaixando o olhar para o chão, Shinji lentamente coçou a cabeça, pensando com extrema tristeza, ele queria poder chorar, ele queria poder fazer alguma coisa de diferente, mas ele sabia que elas o odiavam e ele teria que suportar essa dor até sua morte.

"Me desculpe Asuka."


Wunder

Algumas semanas tinham se passado desde o encontro com Albuquerque, com a poderosa Wunder no ar fazendo suas rondas, mantendo o terreno contra as tentativas da NERV de assustar o mundo, mas para Misato isso não era o que mais a incomodava.

Sentada em seu escritório, Misato olhava para os novos documentos que tinham chegado da ONU, mais especificamente as ordens de transferência do EVA IPEA Mark II para o seu navio, fechando os olhos ao pensar em quando tinha visto Shinji pela última vez, ela sentiu um longo calafrio percorrendo suas costas.

"Ainda pensando em Shinji?" Ritsuko perguntou ao atualizar os sistemas da Wunder, em sua mão um cigarro parcialmente fumado.

Colocando as folhas novamente em sua mesa, Misato olhou para sua amiga, se não estivesse com seus pesados óculos de sol, a falsa loira teria percebido seu olhar abatido.

Com um longo suspiro, Ritsuko olhou para a mulher de cabelos roxos, tentando ao máximo não parecer fria ou desinteressada.

"Se pensarmos com calma, o comandante Albuquerque não está errado."

Misato levantou a cabeça ao escutar isso, pronta para revidar com seus melhores argumentos, mas Ritsuko falou ao dar uma longa tragada em seu cigarro.

"Mesmo que tivéssemos conseguido manter Shinji na Wunder, uma hora ou outra ele iria ter que ganhar alguma função, então não temos muito com o que reclamar."

Misato olhou para a mesa novamente, vendo uma foto em baixa qualidade do rosto do Mark II do IPEA.

"O que mais me incomoda é eu ter pensado em Shinji todos esses anos e ele sempre esteve lá... fico me perguntando como isso tudo poderia ser diferente."

"Não podíamos ter previsto isso Misato, somente temos que lidar com as consequências." Falou a loira ao olhar seu computador novamente, já pensando em como teria que conseguir lidar com mais um EVA em suas costas.

Misato abaixou o olhar, Shinji iria estar em seu navio novamente, mas como ela iria lidar com ele? Como ele lidaria com sua tripulação? Como ela lidaria com a culpa de olhar para ele?

Mari novamente se viu sem fome, na sua frente estava Rei, sentada numa cadeira qualquer no refeitório olhando para sua comida com uma expressão abatida no rosto, parte de seu corpo gritando de alegria ao saber que Shinji ainda estava vivo, que ela poderia tentar ajuda-lo novamente, mas porque essa tristeza?

Rei parou de comer e olhou para Mari, ao seu lado estava um livro que achava que poderia ajudar, sentindo um sentimento estranho em seu peito ao não saber como lidar com isso, em como poder ajudar sua 'melhor amiga'.

"Eu trouxe isso para você."

Mari levantou a cabeça ao ver essa pequena interação em seu rosto nasceu um pequeno sorriso, Rei tentando lhe alegrar foi uma atitude linda da mulher de cabelos azuis, mas nada parecia estar trazendo de volta a alegria que Mari sempre teve.

"Obrigado por isso azul..."

"Eu não sei como posso ajudar." Rei falou com tristeza, nestes dias ela queria poder ajudar Mari, poder ajudar Asuka, mas parecia que nada estava ao seu alcance, esse sentimento de inutilidade a deixou chateada.

"Queria poder ser mais produtiva, me entristece ver você assim."

Mari sentiu suas bochechas esquentando com isso, estar perto de Rei ajudava a aliviar sua tristeza, ela não sabia se era porque Rei carregava o rosto de Yui, ou pela simples personalidade fofa.

"Somente a intensão já ajuda azul..."

Sorrindo ao ver Rei corando levemente, Mari pensou na sua vida, um dia ela teria que superar sua paixão por Yui, um dia ela teria que seguir com sua vida, mas o que ela sentia por Rei era verdadeiro ou somente uma substituição? Isso a deixava mais abatida.

Rei olhou para Mari, sua presença sempre tinha ajudado a lidar com o vazio que Shinji tinha deixado, muitos sentimentos tinham nascidos em seu peito, cada vez mais ela queria estar na sua presença, mas como ela deveria proceder? Como deveria falar com Mari sobre isso? Ela não tinha ninguém para conversar, exceto uma pessoa, mesmo que parecesse improvável que isso fosse possível.


Villa de refugiados 3

O pequeno choro de um bebê quebrava o silencio deste local, uma mulher se ajoelhou na frente de uma pequena lapide de madeira, um local simples para uma pessoa simples, uma pequena oração pedindo paz ao finados.

Com as mãos na frente do rosto ela rezou, sem se importar com o barulho, quando tudo estava terminado Hikari se levantou, com uma reverência ela terminou o que tinha começado.

Olhando para o horizonte com olhos abatidos, Hikari queria que essa pequena lapide pudesse ficar junta com as outras, mas seu medo de que ela pudesse ser de alguma forma vandalizada a perturbava, mesmo que seu marido lhe garantisse que isso seria impossível.

"Descanse em paz Shinji, espero que tenha encontrado a paz."

Depois de dizer isso, Hikari começou seu caminho para sua casa, ela sorriu para seu bebê, sentindo seu coração se aquecendo de alegria novamente ao ver aquele sorriso.

"Fico feliz em ver que não sou a única que vem aqui."

Kaji se levantou da pedra em que estava sentado, mesmo tendo ficado mais velho, o homem não parecia se importar com isso, ele ainda tinha seu cabelo, ainda tinha sua barba malfeita e o principal de tudo, ele ainda mantinha seu humor. Agora ele tinha uma boa oportunidade para sorrir, sendo um ex-espião e uma pessoa com muitos contados.

"Soube que a Wunder vai passar aqui no próximo verão..."


Notas do Autor: Olá pessoal Calborghete aqui, temos enfim o capítulo 30, espero que tenha sido de agrado de todos, como sempre não deixem de segui-la e salva-la em seus favoritos para não perderem mais nenhuma atualização futura.

Por favor revisem, suas críticas (Boas ou ruins) são muito importantes para mim, vocês sabem que eu levo muito em consideração o que é dito e também me dá forças para continuar.

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