Olá pessoal, Calborghete aqui, como estão todos?

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Então agora sem mais enrolação, boa leitura.


"Diálogos"

- Pensamentos -

"Conversa via Rádio"

"Auto conversa."


Nota de Responsabilidade:

Evangelion, seus personagens e cenário são propriedade de Hideaki Anno. Qualquer marca, filmes e séries mencionados nesta Fanfic é propriedade de seus criadores.


Capítulo 31

Shinji olhou para a janela ao seu lado, viu como ele estava cada vez mais alto, cada vez mais perto do céu, para muitos isso era uma coisa boa, para alguns soldados era a volta para a sua casa, rever alguns amigos, levar remédios e promissões para os feridos que a muito tempo esperavam para conseguir voltar a ativa, mas para esse homem, voltar a esse navio era um tormento.

Vendo como cada vez mais alto ele podia ver os limites da terra vermelha, a cor que simbolizava a morte do planeta, a cor que simbolizava a sua maior falha como piloto e pessoa.

Sentindo a adrenalina tomando conta de seu corpo, Shinji fechou os olhos, mesmo que isso era somente um mero momento de tranquilidade, ele sabia muito bem que sua calma era somente temporária.

Seus olhos frios estavam olhando para frente, todos que ousavam olhar para Shinji neste momento sentia medo, não por estar perto de um soldado que a muito tempo lutava para libertar recursos para os refugiados no mundo inteiro, ou pela sua fama de destruidor de mundos ou caçador da SEELE e seus simpatizantes, mas sim era sua postura fria e intimidadora, sua farda preta mostrando exatamente como era seu coração neste momento.

Sentindo os olhos das pessoas caindo nele, Shinji olhou para frente, mesmo que os outros não pudessem ver seus olhos, o homem o encarou mantendo seu olhar afiado e firme, Shinji lutou para manter a calma, ele sabia como as pessoas na Wunder se sentiam com relação a ele, com o ambiente sendo perigoso como sempre, ele não poderia ter que confiar em ninguém, somente nele mesmo.

Vendo que algumas pessoas desviavam o olhar, Shinji sentia o desejo de morte que alguns lhe lançavam, o medo de alguns, a indiferença de outros, mas o cuidado nunca era demais. Sua arma começou a ficar pesada em sua perna.

Olhou para todos os lados para conseguir controlar a ansiedade, os mais jovens dentro da Wunder não queriam ter problemas com esse novo tripulante que estaria entrando na casa de muitas pessoas nesta guerra.

"Pare de encarar..." Sussurrou um dos homens ao olhar para os seus pés, o leve balanço da nave que carregava tudo que poderia para o grande navio. Olhou de solaio para o homem em questão, o jovem cadete pode ver Shinji ficando tenso, todos tinham motivos para ficarem tensos naquele pássaro.

"Não consigo." Falou uma garota com a voz mais tensa, seus olhos nunca saindo de Shinji, sua mente gritando para entender os motivos de como esse prisioneiro ainda estava vivo tendo perdido muitas pessoas no terceiro impacto.

Com uma sacudida um pouco violenta, as pessoas sentiam isso, tudo parecia estar contra essa pequena viagem, mas para Shinji isso era como um pequeno golpe contra ele, com uma mão pousando suavemente no pedaço de metal em sua perna, prontamente para entrar em ação se fosse necessário, muitas pessoas o olharam com medo, outros com raiva, mas para Shinji era somente apreensão.

Apreensão em busca de qualquer movimento suspeito, apreensão para qualquer sinal que sua vida estaria em perigo, qualquer sinal de perigo que iria impedir que sua vingança fosse possível, ele não sabia se era somente sua paranoia ou se tinha realmente uma ameaça real, mas sua mão não saiu de sua arma.

Se sentindo um pouco mais calmo, Shinji se deixou levar pelo pequeno balanço, um balancinho tímido que despertou algumas lembranças em sua mente, ele estaria mais uma vez ao lado de Misato, sua vida realmente era uma piada de mau gosto.

Encostando a cabeça no descanso de banco, o menino pensou no que poderia acontecer nestes dias que ficaria naquele navio, virando o rosto para fora novamente, ele finalmente a viu, parada entre as nuvens a Wunder em toda a sua glória esperando pelo comboio.

Seus olhos frios focaram na grande nave, nada disso o impressionou ou o assustou, ele sabia que isso iria ser difícil, ele sabia que todos lá dentro o odiavam e não se importava nem um pouco com isso, mas tinha uma pessoa que ele temia rever, uma pessoa que ele gritava que odiava, mas ele sabia a verdade, ele sabia que Asuka nunca iria receber seu ódio real, muito pelo contrario.

Abaixando seus olhos para a cor vermelha que tocava tudo ao seu redor, Shinji se lembrou dela, a cor que ficou para todos os lados lembrava ela. Asuka, a garota que tinha roubado a felicidade que restou em seu coração, o símbolo de sua punição, não era sua vida, não era seu sangue, mas sim a sua felicidade.

Fechando os olhos e respirando profundamente, Shinji lutou para conseguir se manter frio, mas sua mente já tinha feito o estrago, sua mente já tinha se lembrado de como era a sua rotina no tempo em que ele era amado pelas pessoas que um dia já o amou.

Ele ainda podia sentir aquele perfume, ele ainda podia sentir o calor de abraçar o corpo de Asuka, a felicidade que inundou seu corpo quando ele tocou seus lábios e provou seu mel, ele tinha sentido a felicidade de volta em sua vida naquele dia, ele pensou que poderia ser feliz, mas ele tinha que estragar tudo.


Misato olhava para os documentos na sua frente, mostrando que a Wunder iria ter mais uma unidade EVA, se fosse em outras circunstancias isso era uma coisa boa, mais uma arma para combater a NERV ou seja lá qual foi o novo motivo que iria levar o mundo a lutar novamente, mas era seu piloto.

A mulher que comandava uma das armas mais perigosas e poderosas do mundo, ela era uma guerreira então porque esse medo? Olhando para as suas mãos, a mulher sentiu a adrenalina tomando conta de seu corpo, ela estava com medo, estava com medo de estar perto de Shinji novamente, ela estava com medo de descobrir o que ele tinha se tornado.

"Porque estou sentindo isso?"

Queria escutar uma resposta milagrosa vindo de qualquer fonte que pudesse aliviar sua culpa, qualquer resposta que pudesse lhe dar a resposta que ela tanto desejava, mas sua mente gritava. Para todos que olhassem para a comandante, ela estrava fria, com seus movimentos lentos e calculados, exatamente o que é esperado pela sua posição, mas a realidade era completamente outra.

Sentindo a respiração destruindo sua calma, destruindo sua fachada fria, Misato ainda olhava para suas mãos, ela sabia que a cada segundo que se passava mais perto ela estaria de Shinji, mas quando o comboio finalmente chegasse como ela iria proceder? Como deveria lidar com o homem que tinha morado em sua casa há tantos anos atrás, o menino que tinha o coração puro e cheio de tristeza, será que ele ainda estaria ali?

Novamente o silencio tomou conta de seu escritório, Misato estava começando a perder a paciência.

"Merda! É somente Shinji!" Falou a mulher com raiva ao colocar as mãos sobre o rosto, ela podia sentir o leve tremor que ainda estava presente, sua mente agitada com o pequeno reencontro que estava prestes a acontecer.

"É só o Shinji, não é?" Sussurrou a mulher cansada de falar com as mãos, completamente alheia ao o que acontecia na sua sala. Sua mente criando milhares de situações que poderiam acontecer, em como os relatos dos homens que tinha lutado ao seu lado, a mudança de sua personalidade, Shinji se tornando um homem frio, assim como seu pai.

Balançando a cabeça para os lados, Misato não pode negar que parte de seu corpo tinha ficado aliviada por Shinji estar vivo, mas como isso mudava as coisas? Misato não conseguia entender, ela não conseguia a resposta que queria somente o tempo iria lhe dar essa resposta.

"Shinji..."


Se seu coração pudesse bater mais rapidamente ele bateria, foi assim os dias de Asuka, ansiedade forte, sentimento de vazio e solidão. Seus dedos apertavam forte a tecla de seu console portátil na esperança de acalmar sua mente agitada, ela queria poder desejar que fosse somente a contaminação angelical, mas quem ela queria enganar.

Parando o que estava fazendo, Asuka olhou para a tela agora parada, ela tinha pensado muito nestas semanas, todos na Wunder somente falavam de uma coisa, o novo EVA e seu piloto, como o sistema tinha escondido essa informação do mundo agora dito como moderno.

Asuka ainda podia sentir a ansiedade, uma ansiedade que ela jurou que não iria sentir, era somente Shinji que estava indo para sua casa, era somente um pirralho que achava que era homem.

Sentindo seu tapa-olho coçando, Asuka sabia que isso era somente coisa de sua cabeça, seu coração batia forte com as implicações de estar perto dele novamente, muitos anos ela tentou seguir em frente, ela tentou encontrar outras pessoas para ocupar o espaço que há muito tempo Shinji ocupou, mas conforme todas as tentativas de mudar seu passado e seu amor falharam.

"Droga!" Rosnou a ruiva ao continuar seu jogo na esperança de conseguir acalmar sua mente agitada, mas isso era uma batalha perdida, rapidamente a calma e a tranquilidade de seu quarto foi quebrada com a chegada de uma pessoa, a única pessoa que tinha mantido um pouco do humor.

"O filhote está chegando!" Mari gritou ao entrar no pequeno quarto que dividia com Asuka, ela podia ver a ruiva tentando se manter calma, mas tantos anos de luta, tantos anos de convivência lhe deram a visão por trás da grande mascara.

"E dai?" Asuka falou com arrogância, ela estava focada em seu game para manter a mente sobre controle.

Mari lentamente se aproximou da cama, sorrindo como um gato ao colocar as mãos nas barras de metal que eram a cama de Asuka, seu sorriso estava alegre e excitado com chegada de Shinji para que as coisas pudessem se consertar um pouco, ela sabia que isso iria ser difícil, mas não impossível.

"E dai!? É o filhote que está chegando! Sua paixão antiga!" Mari falou com força e excitação, Asuka balançou a cabeça para os lados, para todos que a olhavam viam uma mulher abatida e fria, mas por dentro ela não queria ver novamente shinji, eram muitas lembranças que a assombravam dos tempos onde ela era feliz.

Parando o jogo e levando a mão para a boca, Asuka se lembrou do seu primeiro beijo, de como ela pode sentir a sensação que tinha ficado viciada, mas isso foi a muito tempo.

Mari sorriu ao ver isso, ela sabia que Asuka sentia muita falta de Shinji, mesmo a ruiva negando firmemente.

"Pare com isso princesa, eu sei que você quer rever o grande lobo que o filhote se tornou, uma coisa bem grande cheia de masculinidade!" concluiu a morena ao bater uma mão contra a outra, seu rosto mostrava toda a sua empolgação.

Asuka revirou os olhos ao escutar isso, quanto mais Mari a provocava, mas suas memorias lhe torturavam, mais suas defesas eram testadas, muitas noites ela se pegou acordando com lagrimas nos olhos, acordando com os gritos de dor e desespero que Shinji dava ao ser carregado pelo pelotão de fuzilamento.

Sentindo um longo calafrio percorrendo suas costas com a lembrança daquele maldito pesadelo que há tanto tempo assolava seus sonhos, Asuka virou a cabeça para Mari ao falar a primeira coisa que passou pela sua mente.

"Não era para estar trabalhando agora, quatro olhos?"

Mari sorriu ao escutar isso, ela sabia que agora deveria estar configurando os novos sistemas para o plugue de entrada, os sistemas não iriam ser atualizados sozinhos, foi assim a vida de Mari quando ela não estava pilotando.

"Sim, mas Maya não está se importando com isso." Falou a morena com inocência ao olhar para as unhas de sua mão, um sorriso inocente em seu rosto ao pensar que sua função dentro da Wunder lembrava um pouco de sua vida antiga.

"Não na sua frente." Asuka falou com indiferença, mas ela sabia que Mari nunca iria se importar com o que Maya achava de suas saídas.

Mari sorriu com isso, prontamente retrucando com veneno sobre as coisas que sabia sobre a tenente que agora cuidava do funcionamento da Wunder e dos EVAS.

"Ela não é louca para reclamar de mim, se ela fizer isso eu conto para todos o que ela lavou com sabão."

Asuka olhou para Mari com ligeiro divertimento, a muito tempo Mari nunca parou de falar sobre isso, o que Maya tinha lavado com sabão?

"Finalmente descobriu isso? Agora vai parar de encher meu saco?" Resmungou a ruiva ao voltar a jogar, mas no fundo ela queria saber a resposta.

Mari sorriu abertamente ao escutar isso, com um movimento lento ela sacudiu a mão.

"Nya... eu ainda não descobri, mas um dia eu vou."

Asuka balançou a cabeça para os lados, mas um sentimento de decepção tomou seu corpo, ela queria mesmo saber a resposta, assim como todos.

Sentindo a atmosfera no quarto perdendo alguns graus, Mari olhou para Asuka, ela sabia que uma hora elas teriam que conversar sobre a pessoa que estava a poucos minutos de voltar para a vida de todas.

"Então, já sabe o que vai falar para ele?"

Asuka parou de teclar seu jogo e pensou, ela sabia que Mari estava se contendo para manter as provocações sobre controle, mas pensar em Shinji era difícil para ela, muita coisa tinha acontecido entre os dois, muitos sentimentos tinha nascido em seu peito quando ela conheceu Shinji, ele foi seu melhor amigo, foi seu primeiro amor, a primeira pessoa que entendia como era esse mundo perdido que era o de pilotar um EVA.

Mari pode ver como isso incomodou a ruiva, ela queria que Asuka admitisse que ainda tinha sentimentos por Shinji, ela queria que a filha de uma de suas melhores amigas pudesse voltar a sorrir, assim como ela estava voltando a sorrir.

"Não, nada para falar com ele." Asuka respondeu rispidamente, ela até ignorou Mari soltando um suspiro decepcionado, mas realmente seus sentimentos eram uma coisa estranha.

Mari não podia ter ficado menos abatida, mas uma guerra nunca era uma coisa fácil de ser vencida.

"Eu sei que você está louca para revê-lo novamente, não adianta mentir para mim." Provoca Mari ao se escorar na parede, seu rosto mantendo o seu melhor sorriso felino.

Asuka olha para Mari com raiva, não querendo saber de suas provocações num momento como esse, sua mente já estava agitada o suficiente para ter que lidar com as infantilidades de sua colega de quarto.

"Me poupe..." Asuka fala com nojo, mas no fundo sabia o que seu coração queria.

"O que faz você pensar que eu quero alguma coisa com aquele pirralho novamente? O que tivemos foi a muito tempo..." Conclui Asuka ao olhar para longe em sua parede, sua mente lembrando dos velhos tempos, de antigos sentimentos que ela tinha sentido e vivido só que agora tudo parece uma vida distante.

"Porque tanto medo de admitir que ainda sente alguma coisa por ele?" Mari falou com a voz abatida ao voltar para a cama, seus olhos afiados nunca saindo de Asuka, olhando cada gesto, cada sinal de estresse, tudo que aprendeu com Kaji.

"O que foi, Mari!?" Rosnou Asuka, ela podia sentir que essas perguntas tinha atingido os objetivos de sua colega de quarto, seu console caiu de suas mãos neste pequeno momento de raiva.

Mari como sempre se manteve impassível, não sentindo a ameaça que Asuka poderia representar neste momento, ela somente queria que a ruiva admitisse que sentia falta da companhia de Shinji, sentir falta de amar alguém e ser amada.

A morena sabia muito bem como era esse sentimento, ela sabia como era perder um grande amor e nunca poder consertar isso, rapidamente o rosto de Rei encheu sua mente agora agitada.

"Se encher sua cabeça de negatividade assim, um dia vai perder a oportunidade de agarrar a felicidade..."

Asuka olhou para Mari com raiva, mas ela podia ver a tristeza nos olhos da sua amiga/família, conhecendo a história por trás daquele sorriso triste de abatido, Asuka pensou com calma, ela sabia que Mari sempre estava certa.

Se sentando novamente com um baque moderado, Asuka colocou a mão sobre o rosto ao pensar na sua própria vida, como tudo tinha mudado de um dia para noite, assim como tinha sido para Shinji.

"Eu sei o que você está tentando fazer." Começou a ruiva a falar com tristeza em sua voz, mas quanto mais ela pensava, mas deprimida ela ficava.

"Mas agora o mundo não precisa disso, ele precisa de guerreiros, não de amantes."

Mari olhou para baixo em tristeza, ela sabia que a luta não era fácil, que todos poderiam morrer em questão de horas ou dias, eles tinha que saber consertar um pouco as coisas, pelo menos um pouco.

"Lutar? Que bem isso vai lhe fazer? Ter seu nome nos livros, mas onde ficam as pessoas neste mundo?" Falou a filosofia que veio em sua mente, Mari se perdeu em pensamentos que tinha aprendido nos livros que tinha lido, Asuka olhou para Mari escutando tudo atentamente, mesmo mostrando que não estava prestando atenção.

"Não sabemos quando vamos partir, não sabemos se vamos estar aqui amanhã ou no final do ano, a única coisa que eu sei é como vamos poder aproveitar esses momentos que temos agora..." Mari olhou para Asuka com um sorriso genuíno.

"O que vai me ajudar a dar tudo que posso na programação dos EVAS, me isolando e pensando somente em mortes e batalhas, se eu posso pelo menos ter cinco minutos de felicidade?"

Asuka sentiu medo daquelas palavras, no fundo ela sabia que sempre acabou fugindo de tudo que acontecia, ela somente queria lutar e estar em seu EVA, a única coisa que tinha restado de sua mãe, ela se sentia com sua mãe quanto estava dentro do EVA, era como se não tivesse problemas.

Mari sorriu ao saber que suas palavras tinham atingido o lugar certo, batendo as mãos novamente ao se afastar, ela também tinha que pensar a muito em sua vida, principalmente quando envolvia os seus próprios sentimentos, muita coisa tinha que mudar, mas pelo menos ela estava tentando.

Se virando e saindo, Mari recuperou o seu sorriso, ela queria poder rever Shinji, ela queria poder olhar para o homem e ver o que tinha se tornado, poder ver o que tinha restado do puro e inocente Shinji.

"Yui... por favor me ajude" Pensou Mari sorrindo ao abrir a porta, deixando Asuka pensativa e chocada para trás.

Asuka olhou para a porta agora se fechando, sentiu um sentimento ruim em sua boca com as palavras de Mari, soltando seu game particular e saindo de sua cama, Asuka foi em direção a um pequeno armário no canto, contendo principalmente os livros de Mari, mas uma pequena caixa no canto.

Sentiu um pouco de medo ao abrir e pegar seu conteúdo, ali estava o que restou da antiga Asuka, a sua felicidade resumida em pequenos itens, respirou profundamente para conseguir reunir coragem.

Pegando a pequena caixa e abrindo lentamente, ela sentiu seus olhos ardendo com a infinidade de lembranças que aqueles pequenos objetos lhe traziam, passando os dedos pela pequena boneca, a costura que carregava seu nome, mas não era isso que sua mente procurava, mas sim o que estava em baixo.

Pegou o objeto simples de plástico, Asuka olhou para o antigo tocador SDAT de Shinji, ainda parada na mesma posição que tinha sido recuperado, ela podia se lembrar de vê-lo escutando isso a todo o momento antes, não sabendo os motivos de ter guardado, mas parecia errado jogar fora.

Olhando para ele com tristeza, Asuka se controlou para não chorar, ela não queria chorar, ela tinha que ser forte, as pessoas dependiam dela, o mundo dependia dela, mas desta vez a emoção foi mais forte, uma pequena lagrima solitária escorreu pelo seu tapa-olho, apertando o velho tocador de fitas até que o plástico estalasse com a pressão.

"Baka..."


Assim como todos tinham previsto, esse encontro não seria fácil para ninguém, novamente naquela ponte de comando, novamente sob os olhares das pessoas, Shinji se encontrou parado exatamente no mesmo local onde ele tinha ficado no dia em que despertou de seu sono forçado dentro da unidade 01.

Mas diferente de antes, o menino que tinha medo de encarar os outros olhava para todos dentro daquela sala de metal como um homem, um homem que não teria medo de se defender, um homem que estaria pronto para o combate independente de como e onde ele estava.

Shigeru deu uma olhada para baixo, podendo ver claramente Shinji parado com os braços cruzados no canto da grande sala, olhar para aquele homem lhe deu calafrios, era como estar na presença de Gendo Ikari, a mesma postura fria, o mesmo olhar arrogante, isso de alguma forma lhe deixou chateado, pois todos se lembravam do menino que foi Shinji Ikari, o garoto tímido que não conseguia se impor, o menino que somente queria o amor do pai, isso era triste.

Mais ao seu lado, seu mais antigo amigo e colega de trabalho, Hyuga sentiu a pressão, ele sentiu como era estar sobre os olhos de Shinji novamente, mas agora era diferente, ele não sentia medo em Shinji, ele somente podia sentir sua raiva, ele não sentia que estava ao lado de um aliado.

"Isso é muito estranho..."Hyuga falou baixo somente para que seu colega pudesse escutar.

Olhando para o lado Shigeru tentou se manter calmo perante essa situação em que todos se encontravam, mas o clima era ruim, com uma assentida ele tentou voltar sua atenção ao trabalho, sua mente se lembrando daquele maldito dia do terceiro impacto, a decisão que a anos tinha salvado sua vida e condenado outra.

"Estranho o que?"

Hyuga olhou para seu console, vendo as inúmeras informações que corriam pela sua tela, mas ele não conseguia se concentrar na tarefa em questão, somente no olhar do que o homem estava lhe dando em suas costas, era como se ele estivesse sendo apunhalado.

"Shinji aqui novamente, ele parou no exato locou como daquela vez, só que agora..." Olhou para trás o técnico de óculos, sentindo suas entranhas ardendo ao saber que Shinji estava olhando para ele.

"Nem parece mais aquele menino."

Shigeru soltou uma risada amarga, no fundo ele sabia que a guerra mudava as pessoas e com Shinji não seria diferente, olhando para o colega com um sorriso atípico, o homem falou mantendo a voz controlada, mas no fundo sabia como era a sensação de seu amigo.

"Esperava o que? Que o menino ainda seria o mesmo de sempre, mesmo depois do que fizemos com ele?"

Hyuga olhou para o colega com mais atenção, justamente como todos dentro daquela sala, Shigeru sabia que suas palavras estavam sendo escutadas por todos, ele somente não queria que isso lhe causasse confusão, pois pela postura nova de Shinji, o cara não iria deixar mais as coisas para lá.

"Imagina como deve ser para ele, estar de volta no mesmo lugar onde sua vida foi por água a baixo, olhar para todos os rostos e saber que estão somente esperando que ele se ferre." Shigeru falou ao digitar em seu computador, sentindo os olhos de todos nele, mas isso não impediu o homem de continuar a falar.

"Acredito que a coronel Katsuragi deve ser capaz de controlar o major, ninguém aqui dentro ousa questionar sua autoridade." Hyuga falou com uma pequena ansiedade, sua mente se lembrando de como Misato tinha mudado nestes anos de guerra, como a mulher alegre, feliz que tinha sempre uma ideia louca para derrotar os inimigos que apareciam, mas agora parece que o velho brilho tinha sido apagado.

Shigeru sempre soube que seu colega tinha uma paixão escondida por Misato, mas isso nunca tinha sido falado antes, e uma pequena risada saiu de sua boca ao escutar essa ultima frase de seu amigo mais antigo, se os boatos estiverem certo, Misato não vai conseguir nada com Shinji.

"Cara... acha que ela vai conseguir controlar esse cara?" Gesticula com os ombros para onde Shinji estava parado.

"Shinji lutou ao lado do IPEA todos esses anos em que pensamos que ele estava morto, tem um motivo para isso ter ficado em segredo, ele não queria mais conversa com Misato ou todos aqui dentro, somente queria ir atrás de todos da SEELE e acabar com eles, e não estou falando de prisão ou coisa do tipo."

Hyuga sentiu um calafrio percorrendo suas costas, todos ficaram sabendo que foi Shinji e sua unidade que conseguiram capturar um dos membros do comitê, os mundos finalmente teve uma pequena oportunidade de conseguir a justiça, mas isso foi a forma de lutar de Shinji, seu jeito mais louco de lutar.

Essas histórias circularam o mundo, de como o IPEA tinha conseguido tomar dezenas de territórios que antes estavam nas mãos dos simpatizantes, os recursos que foram liberados para as aldeias de refugiados, parecia que o mundo estava finalmente ganhando alguma coisa, mas quem diria que quem estava possibilitando todos esses avanços foram por causa de Shinji.

"Eu sei que o mundo precisa de guerreiros, mas o que estávamos forçando não vai nos levar a lugar nenhum, Shinji estando aqui é um perigo para todos." Shigeru falou ao olhar para os olhos de Hyuga.

"Não confia nele?" Rebateu Hyuga, ele tinha medo de falar sobre Shinji nestes tempos sombrios, mas sabia muito bem o que tinha acontecido com ele em seu passado estava lá.

Shigeru respirou profundamente, pensando com cuidado em suas palavras, ele confiava em Shinji, ele confiava na WILLE, sentia que agora ele estava lutando no lado certo da balança, virando a cabeça e dando uma boa olhada em Shinji, o homem sentiu pena do que seus olhos viram, ele não queria mais que o menino lutasse, todos os pilotos tinham dado mais que suas vidas em prol de uma guerra que parecia estar perdida a muito tempo.

"Eu confio, não quero ele no navio por outros motivos."

Hyuga sentiu o clima esfriando ainda mais, sentindo que a conversa estava prestes a terminar, seus ouvidos não estavam preparados para escutar o que Shigeru falaria em seguida.

Ainda mantendo o tom de voz sombrio, Shigeru pensou e falou ao mesmo tempo, ele estava cansado de lutar, cansado de perder amigos, cansado de saber que esse poderia ser seu ultimo dia vivo, ele ajudava a controlar um monstro voador, assim como a unidade 01, a Wunder era um ser místico que poderia despertar a qualquer momento.

"Todo mundo dentro deste navio quer a cabeça dele, eu me lembro muito bem de quando pensávamos que ele tinha morrido, todos os homens aqui dentro pegaram suas garrafas de bebidas e passaram a noite comemorando, rindo a morte de mais um monstro no mundo e quando o mundo soube o que o IPEA tinha feito, muita gente não gostou... O cara vai ter que saber se defender muito bem, e não quero estar na frente dele quando as armas começarem a atirar."

Hyuga entendeu o ponto de seu amigo, a Wunder era um lugar perigoso para se morar, somente poucos tinham total confiança em seus colegas de armas, mas Shinji realmente estava em perigo dentro deste navio, ele não deveria abaixar a guarda.

"Um dia acha que isso vai acabar? Acredita que um dia poderemos voltar ao normal?" Hyuga perguntou ao começar a digitar e colocar o trabalho em dia.

"O normal está morto a muito tempo..." Shigeru respondeu amargurado, sua mente tentando se manter calma e poder ajudar no máximo que poderia numa hora como essa, novamente seus olhos caíram em Shinji, podendo ver que o homem ainda não tinha se movido de seu local original, ele somente ficou parado lá, observando tudo e todos, ele sabia o que o soldado tinha feito, suas costas estavam voltadas para a parede de metal, sua arma pronta para uso.

Olhando para todos os seus outros colegas, Shigeru pode ver Midori mais aborrecida que o normal, a jovem tinha crescido num mundo destruído, completamente doutrinada a odiar a família Ikari, perdendo toda a sua família no desastre que tinha sido o terceiro impacto e a tentativa de Gendo de se tornar um Deus.

Ela somente esperava que tudo isso não causasse mais mal do que bem, pois de maldade o mundo já estava cheio, alguma coisa em sua intuição lhe dizia que as coisas iriam ficar difíceis na Wunder.

Hyuga vendo que o assunto tinha terminado voltou ao seu trabalho, mas sua mente com certeza não iria ajudar, ele pensou no caso de Shinji, assim como todos os tripulantes que souberam de sua vinda, ele somente sentiu medo, nada mais que isso.

Midori olhou para Shinji parado na porta, sentindo sua raiva consumindo seu corpo por dentro, sentindo como se toda a sua luta e alegria tivesse sido arrancada de seu corpo, sentindo suas mãos tremendo com a ansiedade de estar novamente olhando para o assassino de sua família, a menina de cabelo rosa lutou para não pegar sua arma e terminar com aquele tormento ali mesmo, dane-se as ordens de Katsuragi, ela tinha que honrar sua família.

Olhando para cima, Koji estava no controle do grande navio de guerra, sentindo uma energia negativa tomando conta do local, ele sabia que isso era por causa do novo EVA dentro da Wunder e seu novo piloto, olhou para trás e viu Shinji em seu uniforme preto, um soldado completo, pronto para matar.

Uma rápida olhada para cima mostrou sua jovem colega apertando as mãos em raiva, o mais velho sabia que tinha que controlar as pessoas na ponte, eles não podiam ter o luxo de perder companheiros para coisas sem sentido.

"Se acalme Midori... sabe que isso está muito acima de você."

Midori apertou as mãos ao escutar isso, ela não esperava que Koji fosse falar com ela, o clima não estava dos melhores, vendo que suas palavras pelo menos despertaram um pouco do interesse da garota, Koji falou ainda mantendo um pouco de bom humor.

"Tente manter a calma e fazer o seu trabalho, ficar remoendo o passado não vai ajudar em nada."

Midori se esticou e falou, não se incomodando em controlar o tom de voz.

"Me acalmar! Eu tenho que aceitar a pessoa que matou minha família ao meu lado!?"

Koji a olhou de canto de olho, não tendo sentindo isso como uma ameaça direta a sua vida, tendo muito tempo para perceber o valor de saber seu lugar neste mundo, Kaji tinha lhe mostrado isso no seu tempo no IPEA.

Midori sentiu isso como uma chance para continuar a falar, ignorando os olhares que recebeu dos outros que estavam ao seu lado, Tama não queria que Shinji explodisse dentro da ponte, ele tinha lido sobre como ele tinha virado um soldado completo.

"Não é assim que o mundo funciona velho! Eu estava bem em achar que aquele assassino estivesse onde deveria estar, morto!" Falou a menina com raiva contida, sua mente com inúmeras lembranças de sua família, quando ela era feliz sendo uma mera criança num mundo se reconstruindo, mas Shinji e seu pai tinham que estragar tudo.

"Quando ele morreu minha família tinha finalmente descansado, e agora eu vou ter que ajudar aquela aberração? Nem a pau!"

Koji finalmente se virou e olhou para sua colega mais jovem, uma rápida olhada mostrou que Tama e Sumire estavam olhando para ele, com um sorriso ele continuou a falar, mostrando uma pequena figura de liderança para os mais jovens.

"Pessoal, eu posso entender o ponto de todos, mas se ele ainda está vivo e lutando ao nosso lado, temos que pensar que nossos lideres viram que tinha alguma vantagem em manter o jovem Ikari ao nosso lado, eles tem seus motivos para terem feito o que fizeram..." Falou Koji com calma, ele podia ver que Midori estava pronta para falar, mas suas habilidades foram mais rápidas.

"O jovem Ikari fez o terceiro impacto, sim... mas ele era somente uma criança na época, nunca foi provado que ele estava realmente com seu pai nos esquemas da SEELE... mas nosso mundo está focado em achar os culpados e nosso trabalho é justamente o que? Encontrar a verdade e a justiça."

Dito isso, todos ficaram em silencio, até Midori sentiu que isso tinha um certo peso, mas parecia que era uma afronta para sua família estar ao lado de um Ikari novamente, ela não conseguia aceitar isso e parece que Koji percebeu isso também.

"Acha que devemos esquecer?" Sumire perguntou com calma, mais por curiosidade em saber o que Koji iria responder.

"Não, mas não acho certo apontar o dedo sem saber completamente a verdade, temos que saber diferenciar as nossas ações dos inimigos, se quisermos que o mundo seja um lugar justo, temos que seguir as regras de forma rígida, não estou falando para sermos amigos dele, muito menos perdoar... mas temos que entender que agora as regras são essas, nosso objetivo não mudou."

"Acha que ele vai parar o próprio pai?" Tama perguntou com arrogância, ele sabia que isso era uma luta perdida ao seus olhos, parte de sua mente acredita que Shinji os trairia no primeiro momento.

Koji pensou na resposta, isso era difícil de responder, um filho poderia matar o próprio pai? Mas antes de poder falar qualquer outra coisa, Shigeru respondeu de seu posto, falando pela primeira vez na conversa que acontecia logo mais abaixo dele.

"Sim... eu podia ver como era as coisas naquele tempo, Ikari nunca foi próximo de seu pai, uma vez eu escutei uma conversa entre ele a piloto Shikinami que dizia que o administrador Kaji foi mais um pai para ele do que Gendo, Shinji nunca se mostrou uma pessoa como ele..."

Com todos os olhos focados nele, Shigeru sabia que estava pisando em terreno extremamente perigoso, falar sobre Shinji e os tempos da NERV era uma coisa perigosa, mas o que o mundo poderia fazer com ele?

"Shinji uma vez tentou atacar seu pai... foi logo depois do incidente da unidade 03...depois disso acredito que a relação entre eles morreu..."

"Eu vou matar ele."

Todos calaram a boca imediatamente, todos viraram o rosto para a única pessoa que nunca tinha aberto a boca, sua voz era fria e calculada, mostrando que isso não estava aberto a negociações, seus movimentos eram lentos e frios, seus olhos cobertos por um pesado óculos de sol.

Sentindo um longo calafrio percorrendo as costas de todos, eles não esperavam que Shinji estivesse escutando a conversa, um medo tomou conta de Tama e Midori.

Com todos os olhos voltados para Shinji, o homem ainda sem se mover de seu lugar perfeitamente parado encostado na parede de metal fria e sem vida, assim como sua alma, Shinji escutou perfeitamente todas as conversas que tinham sido feitas, cada palavra, cada sentimento, tudo.

Inspirando profundamente, ele olhou nos olhos de todos, mesmo que os mesmos não pudessem fazer isso, mesmo que eles não pudessem ver como o assunto do terceiro impacto tinha machucado sua alma, mas ele não se importava, sua alma não se importava com isso.

Sem perceber o que estava passando ao seu redor, Shinji perdido em raiva e rancor, não percebeu que estava sendo observado por duas pessoas no palanque superior da Wunder.

"Meu pai não é nada mais que o inimigo... pouco me importa a opinião de vocês, quero deixar uma coisa bem clara para todos! Somente estou aqui porque isso é uma ordem dos meus superiores, somente estou aqui para parar a NERV e sua gente! E outra coisa, não somos amigos, não somos colegas e muito menos aliados!"

Todos abaixaram o olhar com a frieza em sua voz, os que não conheciam Shinji sentiram em seus corpos a tensão que passou naquele momento, choque era a única coisa que podia ser percebida no olhar de quem o conheceu, de quem não podia acreditar nas palavras do menino que era tímido e fraco, que não conseguia manter uma conversa nos olhos com ninguém, realmente os boatos estavam certos, esse Shinji não era o mesmo que eles tinham conhecido quatorze anos atrás.

Vendo que seu recado tinha sido entregue com sucesso, Shinji sentiu seu coração acelerando ao começar a ir em direção da sala de Misato, ele queria terminar com isso o mais rapidamente possível para poder se concentrar no que era mais era importante, sua luta para parar seu pai.

Somente seus passos ecoavam no metal da ponte, Shinji sentiu isso, lentamente seus olhos caíram em Misato e Ritsuko paradas a sua espera, pelo menos uma tinha um olhar levemente chocado, Misato como sempre se manteve fria, mas por dentro, isso era uma tortura, tendo escutado cada palavra que o seu antigo protegido disse aos seus subordinados, ele estava lá somente para parar seu pai, nada mais.

Shinji podia sentir a sua adrenalina correndo solta por seu corpo, parte por estar novamente neste navio que tinha lhe dado tanta dor, parte por rever velhos rostos, rever as pessoas que não fizeram nada para lhe ajudar, as pessoas que tinha lhe condenado a morte, as pessoas que tinham lhe matado.

Ele não queria estar ali, ele não queria rever aquelas pessoas novamente, isso tudo somente fez com que sua raiva aumentasse ainda mais com tudo que estava acontecendo ao seu redor.

"Coronel Katsuragi, vamos terminar logo com isso." Shinji falou com sua voz fria e sem vida, seu rosto complemente estoico, somente seus olhos mostravam alguma emoção, mas essa era a única parte que estava coberta, a sua única fraqueza neste mundo.

Respirando profundamente, Misato ainda estava lutando internamente por estar novamente com Shinji, na teoria era ara ele estar sob seu comando, estar novamente ao seu lado nesta guerra, ser novamente um soldado, mas ela podia sentir que isso ai não era mais como antes, mas sua fachada externa continuou focada, fria, assim como todos tinham conhecido da mulher.

Misato caminhou lentamente, mas seu rosto nunca saiu do rosto de Shinji, de alguma forma ela se viu nele, uma pessoa quebrada e sem alma, somente com o foco em seus objetivos.

Shinji pode sentir quando Misato passou por ele, mesmo seus olhos não querendo focar na mulher que a tantos anos tinha lhe cuidado, aberto sua casa para um pobre garoto que não tinha mais esperança no mundo, ele sentiu um calafrio percorrendo suas costas ao estar tão perto de uma das ultimas pessoas que ele podia considerar sua família.

Tendo sentido o momento passando como horas, Shinji se virou para acompanhar, podendo ver o pequeno escritório de Misato nesta grande nave, o local onde ela tomava as suas decisões mais difíceis.

"O lugar onde ela decidiu me abandonar." Pensou Shinji ao ficar abatido ao pensar em como sua vida tinha sido destruída, o que tinha sobrado dele neste mundo? Nada, ele somente tinha Rei como família de sangue, Misato como alguma coisa na sua vida e Asuka o ser que ele nunca ira conseguir superar, seu coração estava para sempre num buraco onde não teria mais escapatória, somente a tristeza como companhia.

"Você cresceu bastante." Ritsuko falou com sua indiferença natural ao entrar no escritório fumando um cigarro, ela não mostrou estar impressionada com o porte físico de Shinji, podendo notar que o homem ao seu lado tinha ficado bem mais alto que ela e Misato, seu corpo ganhando alguns músculos e sua postura era intimidadora, ele realmente agora parecia seu pai.

Shinji como sempre encostou na parede e esperou, ele queria ir para seu quarto o mais rapidamente possível, ele não queria ficar perto de Misato, machucava ver a mulher que ele a muito tempo admirou e amou.

Misato com um longo suspiro se sentou, tentando evitar o olhar de Shinji, mas uma hora eles teriam que conversar, muitas coisas teriam que ser concluídas agora que ele estava aqui com todos.

"Ikari..." Começou a falar a mulher com calma, mas sua voz não carregava mais alegria como antes, somente uma indiferença que ela conseguiu cultivar nestes quatorzes anos de guerra sem fim, mas Shinji não a deixou terminar de falar.

"Ayanami." Cortou o homem, ele não queria mais ser acoiçado ao seu pai, esse nome era como uma mancha em sua alma, sentindo sua mão se fechando com essa blasfêmia, parte de seu corpo queria sacar sua arma e mostrar como ele era o monstro que todos achavam que ele era, mas seus sentimentos por essas pessoas não permitiam, não importasse o quanto ele tentasse odiar Misato, o quanto ele tentasse odiar Asuka, esse era um sentimento que até mesmo ele conseguia saber o destino, era impossível.

Misato levantou a cabeça ao escutar isso, Ritsuko franziu a testa ao escutar esse nome, achando isso um pouco interessante, a mudança de personalidade em Shinji, sua postura arrogante e violenta, uma pessoa pronta para a ação.

Mas tudo isso era fascinante para sua mente cientifica, seus olhos nunca perdendo cada detalhe desse novo Shinji, ela sabia como lidar com Gendo, parecia que a mesma estratégia poderia ser usada, é só pensar nas coisas que ele gostava, e seu nome lhe deu algumas ideias de como isso poderia ser possível.

Misato respirou profundamente, mas pelo menos ele tinha falado alguma coisa, se ajustando em sua cadeira, ela novamente tentou iniciar um conversa.

"Major Ayanami... você recebeu ordens para ingressar na Wunder e ficar sobre as minhas ordens, irá trabalhar com todos os membros da equipe com respeito e sob o mesmo objetivo." Misato começou a falar, sua voz era firme e controlada, assim como ela falava com todos os seus subordinados, mas algumas coisas sobre a postura de Shinji lhe dizia que isso não iria ser tão fácil assim.

Shinji por outro lado tinha escutado tudo, mas sua mente estava se recusando a aceitar essas palavras, trabalhar com essa gente que tinha lhe causado tanto mal? Aceitar ordens de pessoas que somente iriam lhe atrapalhar, nada disso era certo em sua mente, mas ele esperou, iria deixar Misato falar tudo que queria.

"Você irá cooperar?" Misato perguntou com calma e controle, ao seu lado Ritsuko soltava uma nuvem de fumaça de seu cigarro parcialmente fumado, seu lado cientifico querendo fazer alguns testes em Shinji.

"Pois não foi o melhor começo com a equipe agora pouco."

Via que não teria mais como escapar, o menino que agora era uma pessoa que não tinha mais nada a perder, com uma respirada profunda, o homem pensou no que falaria, ele não estava lá para tentar recuperar a confiança das pessoas que o odiavam, ele sabia que não era culpado por tudo que tinha acontecido no mundo perdido.

Com um sorriso sem vida e arrogante, Shinji olhou para a mulher que agora era novamente sua comandante, ele sabia que isso tudo era como uma grande piada de mal gosto.

"Começo... que começo foi esse coronel?" Falou o homem ao olhar para Misato com raiva, seu corpo gritando que novamente as pessoas falavam que ele tinha algum tipo de divida com essas pessoas.

Misato sentiu a força na voz do Shinji, ela sabia que isso iria ser uma batalha difícil, quase como a batalha contra Gendo ou qualquer outra escoria da SEELE, mas escutar ele falando assim despertou alguns velhos sentimentos em seu corpo, Shinji nunca tinha ficado contra os outros antes, sempre pedindo desculpa por qualquer motivo.

"Acha que vai conseguir a confiança dessa tripulação agindo assim?" Ritsuko finalmente entrou na conversa, podendo ver que essa era a mesma pergunta que Misato tinha em mente, mas diferente de sua amiga, ela não tinha medo de Shinji.

"Quem disse que eu quero a confiança de vocês?" Shinji falou irritado, mas manteve o controle de sua voz, vendo que tinha atenção que a tanto tempo elas desejavam, ele não perdeu tempo em começar seu discurso, falando exatamente o que pensava sobre estar novamente na Wunder.

Misato arregalou os olhos ao escutar isso, mesmo que isso não tenha sido visto, seu corpo tremendo com a frieza neste homem, era como fosse outra pessoa no corpo de Shinji Ikari.

- O que aconteceu com você? – Pensou Misato, mas nem mesmo ela poderia estar preparada para o discurso que o homem estava pronto para dar.

Ritsuko somente olhou para Shinji, sentindo medo pela primeira vez, ela não esperava por uma resposta assim, assim como Misato, ela esperava uma personalidade passiva, um homem com medo de olhar para todos, uma pessoa que iria fazer der tudo para se redimir, mas tinha sido completamente o contrario.

"Eu não queria estar aqui, não sei por que o comandante Albuquerque permitiu uma coisa assim... mas eu agora vou ter que aceitar e calar minha boca, espero que sua tripulação faça o mesmo!" Shinji falou com força, mostrando para Misato suas opiniões sobre como sua mente agora funcionava.

"Escuta uma coisa..." Misato começou a falar com raiva, finalmente seu corpo começou a perder um pouco da sua frágil paciência, ela não iria aceitar que Shinji falasse assim, nem nos tempos da NERV ele ousou falar isso, no fundo ela queria que ele cooperasse, queria que ele pudesse aliviar a culpa em seu coração com tudo que tinha acontecido.

"Escuta uma coisa você!" Gritou Shinji ao dar um passo para frente, seu corpo gritando para ele se afastar, com medo de fazer alguma coisa que realmente sentisse fosse mexer com sua mente, mas a raiva tinha tomado conta de seu corpo.

"Acha que eu quero ser um membro de sua tripulação? Acha que isso vai mudar as coisas? Não! Isso não muda nada!" Shinji falou finalmente com alguma emoção em sua voz.

"Não vou virar minhas costas para nenhum de vocês, não pense que é minha amiga, muito menos minha comandante... agora ficou claro coronel Katsuragi?"

Misato sentiu essas palavras, algo em seu peito ardeu com essas declarações, abaixando a cabeça e sentindo o pior dos sentimentos em seu corpo, a tristeza estava voltando, milhares de lembranças dos velhos tempos.

- Shinji-kun!?" Pensou Misato com um sentimento de choque percorrendo seu corpo.

Shinji olhava para Misato com raiva, uma raiva que ele queria que sumisse, uma raiva que alimentava sua culpa, uma raiva que sempre lhe lembrava dos seus erros, os olhares de culpa e raiva que todos lhe dava, e o que mais assombrou sua alma, o olhar de Misato e Asuka.

Sentindo um pouco de calma percorrendo seu corpo, Shinji respirou profundamente ao se acalmar, sentiu m pouco de pena por ter dito isso para Misato, ela não merecia isso, foi ele que tinha estragado sua vida, tudo isso era culpa dele.

"Minha participação dentro desse navio é parar a NERV e meu pai, somente vou cooperar quando for assim, fora disso... nem adianta."

Misato respirou profundamente, ainda se acalmando de como Shinji tinha falado antes, ela tinha um pouco de esperança de conseguir pelo menos conversar, falar sobre o passado e fazer com que ele entendesse que nunca foi isso que ela queria para ele. Mas quem era ela para criticar sua raiva, foi ela quem o condenou a morte, permitiu que fosse preso, foi ela que não o defendeu quando ele mais precisou dela.

"Terminamos?" Shinji perguntou com a voz fria novamente, mas no fundo ele sabia que isso nunca tinha sido a conversa que ele tanto queria ter que ela, perguntar os motivos dele ser tão odiado por ela, porque ela fez o mesmo que seu pai? Porque ninguém nunca o amaria, essa era sua punição? Parecia que sim.

"Você tem alguns exames físicos para fazer, Dra. Suzuhara está a sua espera na enfermaria." Ritsuko falou com sua total falta de crença nas pessoas, seus olhos caíram em Misato, podendo ler um pouco de sua mais antiga amiga, como as palavras de Shinji a atingiram profundamente.

Shinji assentiu levemente, ele queria poder pedir desculpas por ter falado coisas a Misato que não eram merecidas, mas ele tinha que mostrar como se sentia, ele tinha que mostrar como era as coisas agora, ele tinha virado isso, mesmo que muitas vezes ele duvidava se era o certo.

Se virando e saindo do pequeno escritório, Misato olhou para a porta agora fechada, cruzando os braços sobre o peito para conseguir controlar seu tremor, controlando um pouco de sua ansiedade, mas seu coração chorava com as coisas que ela escutou, no fundo ela queria que as coisas fossem melhores com Shinji, será que ainda tinha alguma esperança neste mundo? Será que ela poderia concertar um pouco as coisas com ele? Essa dúvida esta matando a mulher que sempre sabia o que fazer.

Respirando profundamente, Ritsuko olhou para seu cigarro fumado, soltando uma grande nuvem de fumaça, ela pensou em tudo que tinha escutado, com um sorriso irônico no rosto.

"O que é tão engraçado?" Misato perguntou com raiva e cansaço, isso tudo somente lhe lembrava seu fracasso como guardiã dos pilotos de EVA, seu fracasso como pessoa que tinha permitido que uma alma pura como a de Shinji fosse corrompida pelos pecados de seu pai.

"Ele está agindo como um ouriço completo." Ritsuko respondeu ao terminar de fumar, seu corpo rapidamente exigindo outro, mas ela tinha que economizar até a chegada na Vila-03.

"Sua mente encontrou a única forma de conseguir sobreviver, se fechando num mundo imaginário onde somente ele pode se escutar, Shinji está lutando para conseguir sobreviver, sua mente está gritando por estar aqui novamente e a violência é a única forma que ele encontrou de ter paz."

"Ele tem que aprender a se perdoar pelo passado... mesmo que isso machuque."

"Passado, nós o mandamos para a forca, não temos nada de inocência." Misato falou com tristeza e amargura, sentindo um grande peso em suas costas ao saber que tinha falhado com Shinji.

"Sim... mas ele vai ter que cooperar aqui na Wunder, pelo menos ele tem o bom censo de saber se defender, com o tempo ele vera que se isolar não vai levar a lugar nenhum." Falou a falsa loira ao pensar em como teria que lidar com o tempo agora teria que lidar com mais um EVA.

"Shinji... o que o mundo fez com você? O que eu fiz com você?" Misato falou baixo, sua mente correndo para conseguir as resposta que queria.


Saindo do escritório, Shinji tinha muita coisa para pensar, estar novamente com Misato tinha cobrado seu preço, ele somente queria estar em seu quarto, trancado em seu mundo pessoal e sem dor, mas o destino tinha que lhe machucar.

Caminhando com passos pesados, ele ignorou os olhares, ignorou os sussurros, ele somente queria ir para seu quarto, sua prisão particular e sem dor, lentamente o som de vozes vindo ao fundo chamaram sua atenção, virando uma esquina, Shinji não estava preparado para o que seus olhos iriam ver.

"Então foi isso que eu falei para Sakura... ela tem que deixar as coisas para trás e seguir com sua vida..." Mari falou sorrindo, ela estava feliz por Shinji estar novamente perto dela, tinha muito tempo para conseguir arrumar o estrago que a WILLE tinha feito em Shinji.

Asuka como sempre não estava ligando para a conversa fiada que Mari estava fazendo, ela somente queria ver o que Misato queria e voltar para seu quarto, o medo de cruzar com Shinji pelos corredores assombrava seus sonhos, assombrava seu corpo... assombrava seus pensamentos.

Parando ao olhar para Mari, Asuka desconfiou do silencio que tinha reinado ao lado de sua amiga que não sabia como calar a boca, olhando para cima, ela pode ver o motivo, era como se o destino quisesse que ela sofresse.

Seus olhos se arregalaram quando ela o viu, sentindo que o mundo estava ficando cada vez mais apertado, Asuka pode dar uma boa olhada em Shinji, ela pode ver como ele tinha ficado tenso com a mera presença dela, antes isso poderia ser uma coisa boa, mas agora, nem ela sabia mais.

Shinji a olhou, assim como todas as belas garotas, Asuka não tinha sido exceção, ela tinha virado uma bela mulher, seus belos cabelos cor de bronze brilhando na luz interna da Wunder, sua postura arrogante e convencida ainda estava presente, seu único olho azul brilhando como o mais belo diamante.

Olhando para o belo rosto de Asuka, Shinji sentiu seu coração acelerando com isso, ela sempre seria linda, assim como as mais belas princesas dos contos de fadas, assim era sua punição, ele sabia que sempre iria amar essa mulher, ele sabia que a desejaria ao seu lado, mas isso era impossível agora.

Sentindo um grande remorso tomando conta de seu corpo, Shinji se lembrou daquele dia, o dia em que ele deixou seu pai lhe manipular pela ultima vez, sentindo as suas mãos tremendo com a sensação que de esmagar a cabeça da unidade 03, o dia em que seu pai tinha lhe usado para matar seu único amor.

Olhou o tapa olho que estava cobrindo sua falha, Shinji queria se ajoelhar, implorar perdão por ter falhado com ela, mas seu corpo não estava mais respondendo, ele somente ficou parado ali, olhando para aquele belo olho azul, tudo isso somente o lembrou de sua maior falha.

Asuka olhou para Shinji, vendo como ele tinha virado um homem até que bonito, sua mente se lembrando dos velhos tempos, de como ela se sentia bem perto dessa pessoa, mas isso parecia ser um sonho de uma adolescente num mundo distante.

Mari queria estar preparada para esse encontro, mas pelo menos o destino parecia estar ao seu lado, com um sorriso nervoso ela olhou para Shinji, podendo ver seu afilhado em toda a sua nova gloria, um homem musculoso e cheio de masculinidade, mas ainda tinha um jeito de menino.

Shinji respirou profundamente ao estar ali, aqueles pequenos segundos pareceram horas, sua mente completamente em culpa por não ter feito nada naquele maldito dia, o dia em que ele pensou que tinha perdido tudo, o dia em que o fim do mundo tinha começado, o dia em que ele tinha descoberto que estava lá para sofrer, não para ser feliz e exatamente isso tinha acontecido, ele logo em seguida tinha matado tudo que era vivo no mundo, tinha destruído a vida de todos ao seu redor, ele era o responsável por isso, ele era o culpado, não importava quantas vezes ele tentasse negar ou gritar.

Ele somente conseguiu falar uma coisa no longo corredor que ligava a ponte da Wunder com o resto do navio, essa foi a primeira vez que ele sentiu uma forte insegurança depois que Albuquerque tinha salvado a sua vida.

"A... Asuka?"


Notas do Autor: Olá pessoal Calborghete aqui, temos enfim o capítulo 31, espero que tenha sido de agrado de todos, como sempre não deixem de segui-la e salva-la em seus favoritos para não perderem mais nenhuma atualização futura.

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