No dia seguinte, acordei antes mesmo de o céu clarear. Rolei na cama por vários minutos tentando voltar a dormir, mas meu cérebro já estava completamente desperto, tentando absorver os acontecimentos da noite anterior. Meu corpo rígido, e minha garganta inflamada não ajudaram nem um pouco.
Desisti e me levantei, decidindo que um banho de banheira me ajudaria com os músculos doloridos. Apesar do banho quente da noite anterior ter ajudado, ainda sentia necessidade de deitar em uma banheira de água quente, e relaxar.
Caminhando para o banheiro, pude ouvir o barulho de copos e pratos na cozinha. Charlie já estava acordado.
Corri escada abaixo até ele.
Na noite anterior, quando ele finalmente chegou em casa, tive que insistir muito para ele comer alguma coisa antes de se deitar. Nós não conversamos muito - Nenhum de nós sabendo muito bem como demonstrar sentimentos. O cansaço estava evidente em seu olhar, e ele parecia ter envelhecido vários anos em um dia.
Eu não mencionei a presença de Alice na cidade, propositalmente. Estava receosa com a reação que ele teria, mas não poderia evitar a conversa por muito mais tempo. Alice apareceria a qualquer momento naquela manhã, e eu não queria que aquilo fosse um choque muito grande para ele. Ele já tinha coisas demais em seu prato.
"Bom dia, pai." Eu disse, parando na base das escadas, de onde eu podia vê-lo na cozinha, sem entrar no cômodo. Ele se virou, parecendo surpreso em me ver acordada tão cedo. Seus olhos envoltos por olheiras profundas, e vermelhos. Ah, pai.
"Hey, Bells. Acordou cedo. Está tudo bem?"
"Está", garanti, sorrindo levemente para que ele não se preocupasse. "Apenas tomei chuva ontem, e provavelmente peguei um resfriado, então não consegui dormir direito. Como você está?"
"Vou ficar bem. Não se preocupe." Ele deu de ombros de costas para mim, mexendo, pelo que eu podia notar pelo cheiro, alguns ovos na frigideira.
"Hm, pai?". Eu disse, hesitante. Ele olhou sobre seu ombro.
"O que?" Charlie perguntou ainda mexendo na comida. Eu mordisquei minha boca, imaginando qual seria a melhor maneira de contar.
"Alice Cullen passou por aqui ontem. Ela estava na cidade e veio dar um oi."
"Oh."
Ele parecia tentar decidir se tal notícia era boa, ou não. Charlie colocou os ovos de lado e virou para mim, após desligar o fogo. "Alice? E... como ela está? Faz bastante tempo desde que a vi pela última vez"
"Você vai ter a chance de perguntar a ela você mesmo. Ela disse que iria passar aqui, daqui a pouco." Eu tentei soar o mais natural possível "Nós não conversamos muito ontem. Depois da chuva que peguei voltando de La Push eu só queria deitar."
Charlie me observou por alguns segundos e eu engoli em seco.
"Tudo bem. Vai ser interessante falar com ela, depois de tanto tempo."
Eu balancei a cabeça. "Imagino que sim. Eu hun... Vou tomar um banho." Anunciei, escapando para as escadas de dois em dois.
"Pegue um Tylenol no armário do banheiro." Ele gritou atrás de mim antes de eu me trancar no banheiro, considerando aquela missão um sucesso.
Fiquei mergulhada na banheira por vários minutos, imaginando se havia feito a coisa certa ao contar a notícia para Charlie. Eu não queria mais preocupá-lo. Ele já tinha bastante coisa em seu prato, mas aquela situação era algo inevitável. Pegá-lo de surpresa não parecia a melhor opção no momento.
Alice havia dito que voltaria.
Tentei lembrar das palavras que ela havia dito no dia anterior; Ela havia se precipitado ao voltar para Forks? Isso deixava mais do que claro que ela não pretendia ficar muito tempo.
Fechei os olhos e mergulhei a cabeça na água, deixando apenas o nariz para fora.
Ele havia realmente ido a extremos para me retirar, não só de sua vida, mas também da vida de todos à sua volta. Me abandonar não era suficiente; tinha que tirar de mim, também, aqueles que eu considerava parte da minha família.
Meu coração apertou mais uma vez em meu peito. Talvez eu tivesse derramado lágrimas, se não estivesse submersa.
Eu me considerava sortuda por ter tido a chance de conhecê-lo; de poder passar aquele tempo com ele. Mas sempre soube, no fundo do meu peito, que eu não era o suficiente para ele. A única coisa que nos segurava no lugar era o amor e, no fim, nem aquilo fora suficiente. Ele não me amava da mesma maneira que eu o amava, e isso ficou claro.
Obviamente, saber disso não ajudava com a dor em meu peito, mas agora, pelo menos, eu tinha certeza de algo: meu coração partido tinha jeito de ser consertado. Eu experimentei aquilo na noite anterior.
Jacob me veio à mente, e eu senti minhas bochechas corarem ao lembrar dos beijos que compartilhamos. Depois de tudo que aconteceu no carro; de termos finalmente nos comprometido àquele destino, eu não conseguia nem cogitar a possibilidade de tê-lo perdido por causa de Alice.
Comecei a planejar em minha mente, como consertar aquela situação. Eu tinha certeza que, se eu explicasse todos os meus problemas e inseguranças, ele entenderia. Não que ele já não soubesse das minhas reservas, mas eu precisava falar com Jacob o quanto antes.
A água da banheira já estava gelada quando decidi sair. Sem pressa alguma, com meus músculos completamente relaxados, terminei de me secar e me vestir, antes de sair do banheiro, ainda com a toalha na cabeça.
Quando abri a porta, me surpreendi ao ouvir Charlie conversando com alguém. Voltei para o banheiro, tirei a toalha da cabeça e comecei a dar um jeito em meus cabelos. Enquanto eu trabalhava nos nós, me surpreendi ao conseguir ouvir tudo o que diziam na cozinha.
Alice puxava conversa, enquanto Charlie parecia preparar algo para ela.
"Foi muito ruim, Charlie?" Ela perguntou, e no início eu pensei que eles estivessem falando sobre Harry Clearwater.
Charlie suspirou. "Muito ruim".
"Me conte. Eu quero saber exatamente o que aconteceu depois que nós fomos embora".
Houve uma pausa enquanto a porta de um dos armários abria e fechava, e o fogão era desligado. Eu esperei, temerosa.
"Eu nunca me senti mais inútil", Charlie começou lentamente. "Eu não sabia o que fazer. Naquela primeira semana, eu pensei que teria que hospitalizá-la. Ela não comia e não bebia nada; ela não se mexia. O Dr. Gerandy estava soltando palavras como 'catatônico', mas eu não deixei que ele a visse. Fiquei com medo de que isso a assustasse".
"Mas ela superou?"
"Eu pedi para Renée vir buscá-la e levá-la para a Flórida. Eu só não queria ter que... se ela tivesse que ir para um hospital ou coisa assim. Eu esperava que, estar com a mãe, fosse ajudá-la, mas quando começamos a fazer suas malas, ela acordou com um olhar de ódio. Eu nunca a vi surtar daquele jeito. Bella nunca teve acessos de raiva, ela estava furiosa. Ela jogou as roupas para todo lugar, gritou que nós não podíamos forçá-la a ir embora, e depois ela finalmente começou a chorar. Eu pensei que aquele fosse o fim de tudo. Eu não discuti quando ela insistiu em ficar aqui. No início ela não parecia estar melhorando..."
Charlie parou. Era difícil escutar isso, sabendo quanta dor eu havia causado a ele.
"Mas?", Alice incitou.
"Ela voltou pra escola e pro trabalho; ela comia, dormia e fazia o dever de casa. Ela respondia quando alguém fazia uma pergunta direta. Mas ela estava... vazia. Os olhos dela estavam apagados. Havia um monte de coisas pequenas que já não eram as mesmas - ela já não ouvia música; não lia; ela não estaria na sala se a TV estivesse ligada, não que ela fosse muito de assistir à TV, antes. Eu finalmente entendi - ela estava evitando tudo que a lembrasse dele, mesmo que sem perceber. "
Charlie suspirou.
"Nós mal podíamos conversar; eu estava sempre tão preocupado em dizer algo que pudesse aborrecê-la. As menores coisas faziam-na vacilar. Ela só falava se você fizesse uma pergunta. Ficava sozinha o tempo todo. Não retornava as ligações dos amigos, até que, depois de um tempo, eles pararam de ligar. Era sempre a noite dos mortos vivos por aqui. Eu ainda ouço-a gritar enquanto dorme..."
Eu quase pude vê-lo tremer, e estremeci também, ao lembrar de tudo pelo que havia passado. E então eu suspirei. Eu não consegui enganá-lo, nem por um segundo.
"Eu lamento, Charlie", Alice disse, a voz mal humorada.
"Não é sua culpa", ele disse, deixando bem claro em seu tom de voz, que não era ela quem ele responsabilizava pelo ocorrido. "Você foi uma boa amiga pra ela".
"Ela parece melhor agora".
"É. As coisas mudaram desde que ela começou a passar seu tempo com Jacob Black. Eu tenho reparado em uma grande melhora. Ela sempre tem cor nas bochechas quando volta pra casa. Está definitivamente melhor." Ele parou e a sua voz estava diferente quando voltou a falar.
"Ele é um ano mais novo que ela, mais ou menos. Mas eu acho que há algo mais acontecendo entre eles, ou, pelo menos, estão nesse caminho". Charlie disse isso num tom que era quase agressivo. Era um aviso. Não para Alice, mas para que ela passasse adiante. "Jake é maduro para a idade dele, muito responsável", ele continuou, ainda parecendo defensivo.
"Ele tem tomado conta do pai fisicamente, assim como Bella cuidou da mãe. Isso amadureceu ele. É um garoto bonito também - puxou ao lado da mãe. Ele é muito bom pra Bella, sabe". Charlie insistiu.
"Então é bom que ela o tenha", Alice concordou.
Charlie suspirou uma quantidade de ar, mudando rápido demais a sua opinião sobre o assunto. "Ok, talvez eu esteja apressando as coisas, também. Eu não sei... Mesmo com Jacob, de vez em quando, eu vejo alguma coisa nos olhos dela, e eu me pergunto se, por acaso, eu tenho noção da verdadeira dor pela qual ela está passando. Não é normal, Alice, e isso... isso me assusta. Não é nem um pouco normal. Não é como se alguém a tivesse... abandonado, mas como se alguém tivesse morrido". A voz dele falhou.
Realmente foi como se alguém tivesse morrido - como se eu tivesse morrido. Mas também era perder um futuro inteiro, uma família inteira - toda a vida que eu havia escolhido.
Eu literalmente estava disposta a abrir mão da minha humanidade por ele, e tudo se foi, como se nunca tivesse existido.
Charlie continuou, com seu tom desesperançoso. "Eu não sei se algum dia ela vai superar isso totalmente. Não sei se faz parte da natureza dela se curar de uma coisa assim. Ela sempre foi uma coisinha tão constante. Jamais esquece as coisas ou muda de idéia. Mas talvez com o tempo, ela mude isso, também, e siga em frente".
"Ela é uma em um milhão", Alice concordou com a voz seca.
"Alice..." Charlie hesitou. "Olha, você sabe a afeição que eu sinto por você, e eu posso dizer que ela sentiu certo alívio em te ver novamente, mas... eu estou um pouco preocupado com o que a sua visita vai fazer a ela".
"Eu também, Charlie. Eu também. Eu não teria vindo se eu tivesse alguma ideia do que realmente estava acontecendo por aqui. Me desculpe".
"Não se desculpe, querida. Quem sabe? Talvez seja bom pra ela, afinal".
"Eu espero que você esteja certo".
Houve uma longa pausa enquanto garfos arranhavam os pratos e Charlie mastigava. Eu me perguntei onde Alice estava escondendo a comida.
"Alice, eu preciso te perguntar uma coisa", Charlie disse estranhamente.
Alice estava calma. "Vá em frente".
"Ele não vai voltar pra visitar também, vai?", eu podia ouvir a raiva suprimida na voz de Charlie.
Alice falou num tom macio, tranquilizador. "Ele nem sabe que estou aqui. Na última vez em que nos falamos, ele estava na América do Sul em algum tipo de intercâmbio, ou algo assim."
Eu enrijeci quando ouvi essa nova informação. "Pelo menos, isso é alguma coisa", Charlie bufou. "Bem, eu espero que ele esteja se divertindo".
Pela primeira vez, a voz de Alice parecia estar um pouco dura. "Eu não tiraria conclusões precipitadas, Charlie". Eu sabia como os olhos dela brilhavam quando ela usava esse tom.
Uma cadeira se afastou da mesa, se arrastando com muito barulho no chão da cozinha. Eu imaginei Charlie se levantando; não havia a menor possibilidade de Alice fazer aquele barulho todo.
A água da torneira correu, fazendo um splash no prato. Não pareceu que diriam mais nada, então eu decidi que era hora de descer as escadas.
Estava tudo muito quieto na cozinha.
"Alice? Você já está aqui!"
Ela se levantou da cadeira da cozinha e veio me abraçar. Seus olhos estavam brilhantes como ouro e ela havia trocado suas roupas.
"Oi, Bella. Charlie me disse que você estava tomando banho e eu não quis te perturbar."
Eu sorri, constrangida.
"Desculpa te fazer esperar, se eu soubesse que já estava aqui, não teria demorado tanto."
"Não tem problema, Bella. Charlie e eu tivemos tempo de conversar um pouco." Ela sorriu docemente, me levando em direção ao sofá na sala.
"Verdade? E do que vocês falaram?" Perguntei inocentemente enquanto nos sentávamos.
"Nada de mais, apenas... compartilhando as novidades." Não havia nenhuma pontada na voz dela que indicasse qualquer suspeita que eu estivesse escutando escondida. Mas ela era boa em esconder as coisas, então não me animei muito.
"Então porque não conta as novidades para mim, agora?", perguntei me ajeitando no sofá, e tentando me preparar para a conversa que viria.
Charlie teve que sair naquele momento - ele iria ajudar Sue Clearwater com os preparativos para o funeral.
Nós falamos sobre a sua família - todos menos um. Aparentemente, todos haviam seguido com suas vidas normalmente e aquilo cutucou o monstro de rancor que havia dentro de mim. Carlisle trabalhava às noites em Ithaca e ensinava parte do tempo em Cornell. Esme estava restaurando uma casa do século dezessete, um monumento histórico, na floresta ao norte da cidade. Emmett e Rosalie foram para a Europa por alguns meses para mais uma lua de mel, mas agora já estavam de volta. Jasper estava em Cornell também, estudando filosofia dessa vez.
Alice fazia algumas pesquisas pessoais, envolvendo as informações que eu havia revelado a ela na primavera passada. Ela teve sucesso em encontrar o asilo onde passou os últimos anos de sua vida humana. A vida da qual ela não tinha memória alguma.
"Meu nome era Mary Alice Brandon", ela me disse baixinho. "Eu tinha uma irmã mais nova chamada Cynthia. A filha dela - minha sobrinha - ainda vive em Biloxi".
"Você descobriu porque te colocaram... naquele lugar?"
Ela só balançou a cabeça, seus olhos cor de topázio pensativos. "Eu não consegui descobrir muito sobre eles. Eu li todos os jornais antigos no estoque. Minha família não era mencionada com muita frequência; eles não faziam parte do círculo de notícias que faziam os jornais. O noivado dos meus pais estava lá, e o de Cynthia". O nome saiu da boca dela sem muita certeza.
"Meu nascimento foi anunciado... e a minha morte. Eu encontrei meu túmulo. Eu também vasculhei as fichas de admissão dos velhos arquivos do asilo. A data de admissão e a data na minha lápide são a mesma".
Eu não sabia o que dizer e, depois de uma pequena pausa, Alice mudou para tópicos mais leves. Os Cullen haviam se agrupado novamente, com apenas uma exceção, e ele estava aproveitando as férias, em Denali, com Tânia e a família dela. Eu escutei até as notícias mais triviais, e não pude deixar de me sentir triste em ouvir as histórias da família da qual um dia eu havia sonhado fazer parte.
Sem muitos questionamentos, Alice passou o dia todo comigo. Nós conversamos sem parar, e o assunto nunca terminava. Foi bom ter alguém para conversar por tanto tempo. Apesar de tudo, eu sentia falta daquilo.
Charlie não voltou até depois de escurecer, e parecia estar mais cansado do que na noite anterior. Eu havia preparado o jantar com a ajuda de Alice e Charlie se sentou na pequena mesa da cozinha, como se carregasse o mundo em suas costas.
"Como foi, pai?" perguntei enquanto servia seu prato de macarronada.
"Complicado, mas tudo já está resolvido. O funeral vai ser amanhã, às cinco e meia", eu pude ouvir o cansaço em sua voz até mesmo naquele momento.
"Tão cedo?" perguntei, me sentando ao seu lado na mesa. Ele mal levantou os olhos do prato para responder.
"Os Quileutes realizam uma cerimônia durante o amanhecer, aparentemente. Então temos que realizar o funeral antes disso."
Uma onda de preocupação se apossou de mim, enquanto imaginava por tudo o que Charlie estava passando. Organizar o funeral de um dos seus melhores amigos não estava lhe fazendo nenhum bem. Eu mordisquei meu lábio, pensando em como eu poderia ajudá-lo.
Encarei Alice, que sentava na cadeira em frente à Charlie, e ela levantou suas sobrancelhas, como se perguntasse o que eu estava pensando.
Eu não podia negar que queria passar mais tempo com Alice. Queria aproveitar ao máximo a sua estadia; Havia sentido muito a sua falta nos os últimos meses, mesmo que estivesse ainda um pouco ressentida por ter desaparecido ao primeiro pedido de Edward.
Alice se importava comigo - e com Charlie - o suficiente para ter pego o primeiro voo quando pensou que eu havia morrido. Eu não sabia se ela desapareceria novamente depois disso, mas eu sabia que mesmo se ela o fizesse, ainda estaria cuidando de mim, mesmo à distância.
Ofereci um sorriso que ela retornou sem notar o significado por trás dele. As engrenagens do meu cérebro trabalhando rapidamente enquanto eu tomava minha decisão.
Voltei a minha atenção à Charlie, que já quase terminava o seu jantar, em silêncio.
"Então você vai ter que sair bem cedo. " comentei, tentando soar casual. "Mais ou menos umas cinco horas. Melhor você ir para cama cedo."
Ele apenas concordou com a cabeça, terminando as últimas garfadas do seu jantar e, quando o fez, eu me levantei para retirar o seu prato. Logo em seguida Charlie se despediu, dizendo apenas um "boa noite" e afirmando que Alice poderia ficar o quanto ela desejasse.
Assim que ouvi a porta do quarto do meu pai se fechando, Alice se levantou, e foi até a pia, onde eu lavava o prato de Charlie.
"Você vai ao funeral com Charlie." declarou ela. Seu olhar se tornou doce, e eu senti minhas bochechas corarem. "Ele vai amar ter você lá para apoiá-lo, eu posso ter certeza… mesmo sem poder ver muito sobre isso." Suas sobrancelhas se curvaram em frustração no fim de sua frase.
"Você não consegue ver nada sobre o funeral?"
Ela balançou a cabeça, perdida em pensamentos. Seus olhos desfocaram por alguns segundos antes de voltar para o meu rosto. "Apenas flashes, nada que faça sentido. Acho que seu amigo lobo vai estar lá."
O pensamento de ver Jacob fez meu estômago revirar.
"Sim, Harry era um dos anciões da tribo, então todos os lobos com certeza estarão lá." comentei, terminando de secar o prato recém lavado e o colocando dentro do armário.
Me virei de frente para Alice, encontrando seus olhos dourados em mim e por um momento, eu me senti triste. Eu sabia que sentiria falta de ter ela ali comigo, daquele jeito.
"Hoje de manhã, quando você chegou, eu ouvi o que Charlie falou. Eu não sabia que eu o tinha machucado tanto, Alice." murmurei, quase envergonhada por admitir que estava espiando. "Ver ele assim agora, precisando de apoio, só me faz sentir mais culpada ainda por apenas pensar em mim mesma. Eu tenho sido muito egoísta."
"Se você está falando do pulo do penhasco, então sim, você foi. Mas não se culpe pelo resto, Bella. Charlie te ama e tudo que fez foi cuidar de você quando você mesma não conseguia." Alice segurou minha mão, acariciando a minha palma com o seu dedo.
"Eu sei", concordei rapidamente, abaixando os olhos. "E é exatamente o motivo pelo qual eu quero retribuir. Eu quero estar lá para ele do mesmo jeito que ele estava para mim. Por isso eu queria te pedir um favor."
"O que eu puder fazer." respondeu ela, com um pequeno sorriso.
Eu segurei o ar nos meus pulmões, mordiscando a parte interna da minha boca por alguns instantes, tentando tomar coragem. Olhei fundo em seus olhos.
"Você poderia não sumir?", minha voz se quebrou na última palavra e eu tentei limpar minha garganta. "Eu não sei quais são os seus planos daqui para frente, não sei como Ed- Edward irá reagir ao saber que você veio aqui, mas será que poderíamos ainda ser amigas?"
O pequeno rosto de Alice se contorceu. A princípio eu pensei que ela tinha se machucado de alguma forma, mas logo eu percebi que aquela era a forma mais próxima de uma cara de choro que um vampiro poderia chegar.
"Eu nunca deixei de ser sua amiga, Bella." respondeu ela, sua linda voz de sino, quase inaudível.
"Agora eu sei que não," disse, olhando para nossas mãos juntas, "mas eu não quero que você desapareça de novo… Será que você pode me prometer isso? Nem que seja um telefonema às vezes ou até mesmo um email."
"Mas é claro, Bella. Essa visita trouxe abriu minha mente quanto à sua situação aqui em Forks." respondeu ela, seus olhos brilhando enquanto ela sorria. "Não há chances de ele me impedir de falar com você desta vez."
