Eu vestia meu único vestido preto com sapatos baixos quando Charlie desceu as escadas naquela manhã. Ele estava vestindo um terno velho que eu nunca o havia visto usar antes. O terno estava aberto; talvez estivesse apertado demais para que os botões fechassem. A gravata era um pouco larga demais para o estilo do momento.

Ao me ver parada na frente das escadas, parou, surpreso.

"Bella? O que você está fazendo acordada?", perguntou ele, antes de notar o meu vestido e a bolsa em minha mão.

"Você disse que o funeral era às cinco e meia." respondi, e Charlie pareceu ter problemas para controlar as lágrimas por um momento. Eu passei meus braços ao redor do seu torso, puxando Charlie para um dos nossos raros abraços. "Eu lamento muito, pai."

Ele me abraçou forte por um momento, fungando, "Obrigado, Bells." Nós ficamos assim por alguns minutos antes de Charlie se afastar, tentando esconder as lágrimas. Aquilo quebrou meu coração. Foram poucas as vezes que eu vi Charlie chorar, e eu não podia dizer que estava gostando muito de ver aquele lado dele. Decidi dar espaço para ele, fingindo estar ocupada demais com uma linha que desprendia do vestido enquanto ele se recuperava e nos caminhávamos até à viatura

O caminho até a casa de Sue foi silencioso na manhã ainda escura e fria, mas, de algum modo, reconfortante. Charlie pareceu ter um pouco mais de cor no rosto do que quando desceu as escadas, e eu estava preparada para a longa manhã que teríamos à nossa frente.

Logo a placa da reserva passou por nós e eu não consegui mais evitar pensar no que aconteceria a seguir. Na noite anterior, depois de Alice ter ido embora, deixando para trás seu número de telefone em um papel, eu havia feito de tudo para ocupar minha mente com qualquer coisa que não fosse Jacob, mas, naquele momento, era impossível.

Eu queria focar em estar ali por Charlie, mas apenas o cheiro das árvores do lado de fora já fazia a ansiedade subir pelos meus membros como se fossem formigas, impossíveis de controlar.

Não sabia exatamente o que iria dizer a ele. Tudo o que eu tinha era um pedido de desculpas, além da notícia de que Alice havia ido embora. Eu não sabia se aquilo seria suficiente para levantar seu humor.

A viatura parou em frente à uma casa relativamente pequena, de cor azul, que eu não conhecia. A porta da frente estava aberta e as luzes todas acesas. Eu puxei o máximo de ar em meus pulmões, enchendo-os completamente, antes de soltar. Charlie me imitou.

"Está pronta?" perguntou como se mais para ele mesmo do que para mim. Eu apenas confirmei, abrindo a porta da viatura.

Dentro da casa, os móveis haviam sido afastados, para dar espaço a algumas cadeiras, que ainda se encontravam vazias. As poucas pessoas que já estavam ali, estavam em pé, próximas a Sue Clearwater, e seus filhos. O corpo de Harry estava acomodado no centro da sala e eu evitei olhar para ele. Eu tinha a impressão de que eu teria pesadelos se o fizesse.

Enquanto nos aproximávamos, notei vários olhares de surpresa lançados em minha direção. Talvez ninguém ali esperasse que eu fosse aparecer; ainda mais se meu pai tivesse deixado escapar sobre a visita inesperada na noite anterior. Eu grudei meus olhos no chão, me sentindo uma intrusa.

Charlie se aproximou de Sue e a abraçou; Ela chorou copiosamente em seus braços e depois de alguns instantes foi a minha vez.

"Eu sinto muito por sua perda, Sue." sussurrei, enquanto a apertava em um abraço.

"Obrigada, querida." respondeu, sua voz quebrando no final da palavra, e depois fungou.

Ao seu lado, com olhos vermelhos, estava Seth. Ele era apenas um eco do garoto que eu me lembrava ter conhecido no dia em que comemos macarronada na casa de Billy. O garoto que nunca parava de falar, agora em silêncio, apenas me abraçou apertado enquanto segurava as lágrimas. Eu não poderia imaginar o que ele estava sentindo por perder o pai, ainda mais sendo tão jovem.

"Se precisar de alguém para conversar, Seth, pode passar lá em casa a qualquer hora." Sugeri, e consegui arrancar um meio sorriso dele, que assentiu.

Enquanto o abraçava, notei que ele estava muito quente; Quase como um forno aceso. Estranhei, olhando para o seu rosto quando nos afastamos, sem conseguir parar de pensar em como ele estava parecido com Jacob.

Franzi a testa, confusa.

Não lembrava de Jacob ter mencionado nada sobre uma adição ao bando. Ainda mais Seth, que era apenas um menino. Não é possível que seja um lobo, certo?, pensei.

Eu descartei a possibilidade, culpando o terno quente e as horas que ele provavelmente havia passado chorando, enquanto o assistia afastar-se em direção à parte mais distante da casa.

Seth se aproximou de uma garota de cabelos curtos que estava sentada em uma cadeira e começou a conversar com ela. Demorou alguns segundos para eu notar que aquela era Leah. Ela vestia nada mais do que um par de shorts jeans e uma regata branca, mesmo que a temperatura não passasse dos cinco graus no momento.

Charlie se posicionou ao lado de Sue, começando uma conversa baixa que eu preferi não interferir. Notei que ele estava à beira de cair em prantos novamente.

Querendo evitar me intrometer, eu saí do seu lado, andando para o outro lado da sala e procurando algum lugar para ficar, em que eu não estivesse no caminho de todos. Notei o olhar de Leah sobre mim. Seu nariz estava enrugado, como se sentisse um cheiro ruim, e seus olhos estavam cheios de ódio.

Aquilo me deu calafrios.

Dei a volta em Harry, ainda sem ser capaz de olhá-lo, até achar um lugar da casa que estivesse fora do campo de visão da jovem Clearwater. A casa não estava cheia, mas uma boa quantidade de pessoas estava chegando. Em poucos minutos, haviam tantas pessoas ali, que não se era possível dar dois passos sem ter que pedir licença para passar.

O olhar de Leah e seu nariz enrugado, como se fosse eu quem cheirasse mal, estavam gravados na minha mente e, novamente, me senti uma intrusa em meio àquelas pessoas que eu não conhecia.

Decidi sentar em uma das cadeiras da varanda, do lado de fora da casa. Charlie estava ocupado demais com Sue para notar a minha falta.

Eu tinha a cabeça baixa, tentando parecer invisível, enquanto seguia em direção à porta pela qual havia entrado quando chegamos. Quando a atravessei, atingi alguém.

"Me desc…" Comecei a me desculpar, porém, quando olhei pra cima, me deparei com Sam Uley - que tinha a mesma expressão no rosto que Leah acabara de exibir - e as palavras sumiram de minha boca. Engolindo em seco, tentei novamente. "Eu sinto muito. Não estava prestando atenção."

Paul estava atrás dele e empurrava a cadeira de Billy. Seu nariz também estava enrugado, e eu assisti suas mãos começarem a tremer.

"Bella." cumprimentou Billy, esticando a mão em minha direção e tirando-me do meu transe. Eu a segurei, sorrindo pequeno. "Fico feliz em ver você aqui."

"Oi, Billy," eu disse, e, querendo evitar mais tempo em meio ao bando de lobos que, aparentemente, me odiava, soltei sua mão e me apressei para sair dali. "Com licença." pedi, enquanto me espremia para passar entre Sam e o batente da porta.

Me sentando em uma das cadeiras da varanda, aspirei o ar frio da madrugada, deixando que lavasse o stress que eu havia acumulado em tão pouco tempo. Tentei, disfarçadamente, cheirar as minhas roupas, ainda confusa com o que acabara de acontecer. Eu sabia que os lobos tinham o olfato mais apurado, mas eles precisavam ser tão rudes a ponto de fazer caretas com o meu cheiro?

Me perguntei se Leah também havia se transformado. Aquela era a única explicação para as suas roupas e a cara de nojo.

Alguns minutos se passaram antes de as pessoas começarem a sair da casa. Eu me mantive sentada, observando pequenos grupos se juntarem em frente à entrada, conversando ao sussurros. Em um dos grupos, onde a maioria eram senhores de idade, notei um que parecia ter o olhar cravado em mim há alguns minutos, como se me reconhecesse. Charlie não havia me apresentado a ele, então, eu não sabia quem era.

Desviei o olhar, tentando evitar mais julgamentos naquela manhã fria.

Quando Sam passou pela porta, ele carregava a parte da frente do que parecia ser uma maca, e , em seguida, notei que ele carregava Harry, com a ajuda de Paul.

O grupo de idosos que eu havia visto antes começou a cantar, quase que imediatamente, entoando algum tipo de cantiga em uma língua que eu não conhecia, e deduzi ser Quileute.

Leah, Seth e Sue apareceram pelo lado direito, como se tivessem saído de trás da casa, carregando algo que eu não consegui identificar a princípio, devido à escuridão do lado de fora. Só quando colocaram no chão em frente à varanda foi que eu percebi ser uma canoa. A cantiga ficou mais alta agora, com todos cantando ao mesmo tempo.

Era um ritmo calmo e melancólico que, por mais que eu não conseguisse entender, me fazia sentir o peito apertar. Eles estavam, literalmente, lamentando a morte de um ente querido.

Charlie parou ao meu lado, enxugando suas lágrimas. Ele pareceu perceber meu olhar confuso com a cena que se desenrolava na nossa frente.

"Os Quileutes são enterrados em canoas ao invés de caixões.", explicou ele com a voz rouca. "Eles vão levá-lo pro cemitério da reserva, onde só quem é da tribo pode entrar."

Eu assenti, observando Sam abaixar o corpo de Harry para dentro da canoa. Sue chorava enquanto os ajudava. Senti meus olhos se encherem de lágrimas, vendo Seth e Leah abraçarem a mãe, e Billy logo atrás, enxugando os olhos com um lenço.

"Você deveria ir com eles, pai." comentei quando vi um grupo se juntar ao redor da canoa, como se para erguê-la, "Ele era um dos seus melhores amigos."

"Não vou te deixar sozinha aqui, Bella.", começou ele, mas eu o cortei.

"Pai, não sou eu quem precisa de você, neste momento. E você também precisa deles." eu insisti, vendo que ele iria continuar resistindo. "Tá tudo bem, eu sigo atrás."

Nesse momento a canoa foi erguida nos ombros dos homens que estavam ali. Eu vi Sam logo na frente, parecendo ser quem segurava a maior parte do peso, e Seth logo atrás, mal fazendo esforço algum. Seus ombros chacoalharam, enquanto ele chorava.

Charlie desistiu de qualquer resistência quando o empurrei em direção ao grupo. Achando um espaço entre os que carregavam a Harry, e logo, ele estava ajudando na procissão, que estava para começar.

O grupo de senhores mais velhos foi o que liderou o caminho, ditando o ritmo da caminhada, seguido por Harry logo atrás. No horizonte, os primeiros raios começavam a despontar ao mesmo passo em que a cantiga se espalhava pelo ar frio. Era como se tudo tivesse parado para ouvir a canção, as pessoas, os animais, a chuva, e até mesmo o vento… Nada mais podia ser ouvido.

Esperei até que o último grupo começasse a andar, antes de me juntar ao final da procissão.

Cruzei os braços em frente ao peito, amaldiçoando o dia em que eu havia decidido comprar aquele vestido idiota. Minhas pernas estavam congelando, e eu sentia que meus braços iriam cair, a qualquer momento.

"Não esperava vê-la por aqui." A voz de Jacob soou mais dura do que o normal, me pegando de surpresa. Eu não havia notado ele se aproximando, tão silencioso.

Seus olhos tinham olheiras profundas e ele parecia muito abatido.

"É eu… achei que seria uma boa ideia estar aqui pelo Charlie." resmunguei, sabendo que ele me ouviria mesmo que falasse baixo. Eu não queria ter aquela conversa ali, durante o funeral de Harry, mas Jacob pareceu ter outras ideias.

"E onde está a sua 'amiga'?" perguntou e agora, eu pude ouvir o tom de desgosto em sua voz. Eu o encarei, sentindo meu sangue esquentar.

"É por isso que veio até aqui falar comigo? Para saber notícias de Alice?" Ele não me respondeu. Apenas continuou andando ao meu lado, como se esperasse que eu admitisse ter trazido Alice dentro da bolsa.

"Eu não gosto de estar aqui também, ok?", acusou ele, depois de alguns minutos de silêncio, com suas mãos tremendo levemente.

Essa doeu.

Foi a minha vez de estremecer. Pelo menos a caminhada me dava uma desculpa para não olhar para ele quando respondi: "Então eu lamento que Sam o tenha forçado a vir falar comigo", murmurei, magoada.

"Eu só tenho que te perguntar algumas coisas.", foi tudo o que ele disse.

"Ok. Então acabe logo com isso.", respondi, ríspida. Eu provavelmente estava exagerando no antagonismo, mas, por mais que eu não quisesse que ele visse o quanto havia me magoado, eu não conseguia evitar.

Jacob respirou fundo, e de repente suas mãos, que antes tremiam levemente, estavam paradas; Seu rosto suavizou, e ele vestiu uma máscara de serenidade que, por algum motivo, eu odiei.

Eu tentei prestar mais atenção nos meus pés, antes que tropeçasse.

"Um dos Cullen esteve na sua casa ontem a noite.", afirmou aos sussurros.

"Sim. Alice Cullen".

Ele balançou a cabeça pensativo. "Por quanto tempo ela vai ficar?"

Eu demorei alguns segundos para responder aquilo, sentindo uma pontada em meu coração. "Ela já foi embora."

O rosto de Jacob se virou rapidamente em minha direção, atento à minha resposta. Ele me encarou por alguns segundos, antes de continuar. "Você explicou a ela sobre aquela outra - Victória?"

Senti a cor deixar meu rosto, me deixando ainda mais pálida do que normalmente. "Sim, eu contei a ela".

Ele balançou a cabeça. "Você sabe que, com um Cullen em Forks, nós só podemos vigiar nossas terras. Se ela… se algum deles voltar, você só estará segura em La Push. Eu não posso mais te proteger lá".

"Eu entendo", eu disse com uma voz pequena. Lutei para que nenhuma das lágrimas que se formavam escapasse dos meus olhos. Nessa hora Jacob desviou o olhar. Ele não continuou. Imaginei quantos dos lobos estariam ouvindo nossa conversa.

"É isso?" perguntei.

Ele continuou olhando para frente, enquanto respondia. "Só mais uma coisa".

Eu esperei, mas ele não continuou. "Sim?", eu finalmente incitei.

"O resto deles também vai voltar, agora?", ele perguntou numa voz gelada, quieta. Isso me lembrou do jeito calmo de Sam. Jacob estava ficando cada vez mais parecido com ele.

"Não", eu disse simplesmente. "Nenhum deles vai voltar."

A expressão dele não mudou. "Tudo bem. Isso é tudo".

Eu olhei pra ele sentindo meu coração doer. Parecia que havia uma parede entre nós, e eu a odiei. Queria poder voltar ao que éramos antes, para a noite anterior. Queria quebrar aquela parede e abraçá-lo, pedir perdão, mas tudo o que saiu da minha boca foi: "Certo".

"Certo", ele repetiu, ainda calmo, antes de apressar o passo, para se juntar a seu pai no começo da procissão.

Olhar para suas costas, enquanto ele se afastava, fez meu peito se apertar tanto que eu perdi o ar. Eu segurei o choro o máximo que consegui, não querendo que ninguém me visse chorar, e quando tropecei pela segunda vez, impossibilitada de ver qualquer coisa com a minha vista embaçada, decidi dar meia volta. Eu esperaria por Charlie no carro.

Piscando forte, deixei a procissão à passos largos. O caminho de volta pareceu dez vezes mais longo estando sozinha, e entre lágrimas. Assim que cheguei na viatura, pulei para o banco do passageiro, feliz por, pelo menos, estar protegida do frio.

Tentando colocar meus pensamentos no lugar, me forcei a lembrar do exato momento em que a minha vida havia se tornado uma bola de neve descendo montanha abaixo.

Era óbvio. Eu havia conseguido estragar tudo, mais uma vez. Havia afastado até mesmo Jacob, com meu jeito egoísta, e agora, estava pagando por isso.

Cobri meu rosto com as mãos, finalmente deixando o choro se apossar de mim. Soluços chacoalharam meu corpo e eu me deixei perder o controle. Toda a tristeza daquela manhã, misturada com as incertezas dos dias anteriores, pesando em minha alma.

Duas batidas no vidro do carro me fizeram dar um pulo em meu assento. Olhei para cima, ao mesmo tempo que tentava limpar as lágrimas do rosto, achando que tinha sido pega por Charlie, mas descobrindo que era Jacob quem estava ali.

"Bella...?", a máscara de expressão contida de Jacob havia desaparecido; seu rosto estava ansioso e incerto. Ele abriu a porta do carro, deixando uma onda de ar frio entrar e agachando, para que seus olhos ficassem na mesma altura dos meus. Eu tentei esconder o resto das minhas lágrimas, mas já era tarde demais.

"Eu fiz de novo, não fiz?" ele disse, com a voz rouca.

"Fez o que?", eu perguntei, minha voz falhando.

"Quebrei minha promessa. Me desculpe".

"Tudo bem", eu murmurei. "Fui eu quem começou dessa vez".

Seu rosto se contorceu. "Eu sabia como você se sentia em relação a eles. Isso não deveria ter me pego de surpresa desse jeito.".

Eu podia ver a repulsa nos olhos dele. Eu me encolhi. "Me desculpa. Eu só precisava ver..." eu comecei, mas ele me cortou.

"Eu sei. Não vamos nos preocupar com isso, tá bom? Ela já foi embora, então as coisas vão voltar ao normal agora."

Senti os braços de Jacob ao meu redor, e eu me encolhi em seu peito, o máximo que podia, sentindo seu calor e seu cheiro me acalmarem. Me senti em paz e eu desejei nunca mais precisar sair dali.

Enquanto me abraçava, ele se inclinou, cheirando o meu cabelo e disse, "Ew".

"O que?" eu quis saber. Eu olhei pra cima pra ver que o nariz dele estava torcido. "Oh, você também não. Por acaso eu cheiro tão mal assim?"

Ele sorriu um pouquinho. "Sim - você cheira como eles. Credo. Muito doce - doentemente doce. E... gelada. Queima meu nariz".

Pisquei duas vezes, tentando processar o que ele tinha me dito.

"Eu não tinha pensado que esse fosse o motivo de todos os lobos estarem me olhando estranho hoje", disse, lembrando dos narizes torcidos que havia recebido.

Isso levou o sorriso dele embora. "Hoje não foi um bom dia para ninguém, não é?"

"Não, não foi", respondi. Eu apenas abaixei a minha cabeça e me apertei o máximo que pude contra o seu peito. Fechei meus olhos, aproveitando o seu perfume amadeirado.

Jacob desenroscou um braço da minha cintura, pra que pudesse usar a mão livre pra levantar o meu queixo, e me fazer olhar diretamente para ele. "Era mais fácil quando nós dois éramos humanos, não era?"

Eu suspirei.

Nós olhamos um para o outro por um longo momento. A mão dele queimava a minha pele. No meu rosto, eu sabia que não havia nada além de uma tristeza saudosa e, no início, o rosto dele refletia o meu, mas depois, quando nenhum de nós desviou o olhar, a expressão dele mudou. Estática preencheu o ar ao nosso redor, e meu coração perdeu uma batida, quando percebi o que estava prestes a acontecer.

Ele me soltou, usando a outra mão para alisar a minha bochecha com as pontas dos dedos, criando uma trilha com eles até a minha mandíbula. Eu podia senti-lo tremer - não de raiva, desta vez.

Perceber aquilo fez um pequeno sorriso brotar em meus lábios. Era bom saber que não era a única nervosa.

Jacob pressionou a palma em minha bochecha, para que assim o meu rosto ficasse preso entre suas mãos. Borboletas esvoaçaram em meu estômago em antecipação.

"Bella", ele sussurrou.

Eu estava completamente derretida, sua voz rouca preencheu a minha mente e tudo que consegui fazer foi encará-lo de volta. Não tinha ideia do quanto ansiava por seus lábios até que ele começou a se inclinar em minha direção, lentamente. A espera era uma tortura e eu podia sentir meus lábios formigando, impacientes.

Seus lábios de fogo tocaram levemente os meus, ansiosos, mas ainda assim cuidadosos. Sua língua tocou meus lábios, tomando o seu tempo para desfrutá-los antes que pudesse aprofundar o beijo e eu esperei, ansiosa por tudo o que ele estava prestes a me dar.

"Jacob!", meu pai chamou ao longe, em algum lugar atrás de nós, e eu dei um pulo de susto, quase batendo a minha cabeça no rosto de Jacob.

Jacob se afastou depressa da porta do carro, se virando em direção a Charlie, que estava a poucos metros de distância agora, e cumprimentou ele como se nada tivesse acontecido.

Eu tentei esconder a quentura que se formava em minhas bochechas quando Charlie finalmente alcançou a viatura. Ele pigarreou audivelmente.

"A cerimônia acabou." comentou ele, parecendo desconfortável. Seus olhos ainda vermelhos deixavam claro que ele tinha chorado mais.

"Obrigado por ter organizado tudo, Charlie." Jacob comentou, sua fisionomia, completamente relaxada, "Eu imagino que tenha sido caótico lidar com o hospital e ainda as regras da tribo para a procissão."

"Você não tem ideia, garoto." resmungou ele, coçando os olhos fortemente, em um gesto cansado. "Mas eu estou feliz de poder ajudar. Não fiz nada do que Harry não teria feito por mim."

Jacob apenas concordou.

"Está pronto para ir para casa, pai?" Foi a minha vez de intervir, querendo encerrar aquela manhã gelada de uma vez por todas. O sol havia nascido, iluminando toda a rua.

Charlie concordava comigo quando um uivo longo e torturado, de estourar os tímpanos, o parou. Eu senti meu sangue gelar em minhas veias. Eu tentei procurar respostas no rosto de Jake, mas tudo o que eu encontrei foi seus olhos vazios e suas sobrancelhas franzidas.

Por um longo instante, foi tudo o que fizemos, ficar ali, escutando o uivo, até o mesmo cessar por um breve momento.

"Isso soou perto para você?" perguntou Charlie para ninguém em particular, e eu estremeci. Pânico lavou o meu corpo, enquanto minha mente começava a processar as inúmeras possibilidades e motivos para aquele uivo. Jacob tinha um olhar angustiado quando se virou para Charlie, pronto para dizer alguma coisa, mas as palavras também ficaram perdidas, pois outro uivo cortou o ar. Desta vez, mais alto do que o primeiro.

Ok, dois uivos.

Não havia maneira nenhuma de aquilo significar algo bom.