Se acalme, são apenas palavras.

Quem se importa? Ninguém pode me deter!

Eu não ligo, irmão.

Eles sentirão minha IRA!


*Aqueles que são lendas*

Dentre tantos, tantos ovos, apenas dois começam a rachar. O resto... está podre. Tudo que importa são os dois sobreviventes, dois ovos intactos nesta teia de aranha.

Balançam uma vez, então outra, e outra. Pequenas rachaduras se formam na superfície superior, crescendo com cada movimento. Logo, pequenas patas de aranha quebram a casca, permitindo os primeiros raios de luz de entrarem nos olhos dos recém nascidos.

Com a casca completamente quebrada podia-se ver exatamente como eram os bebês. Duas aranhas antropomórficas, com duas pernas, dois braços e quatro patas nas costas cada um. O da direita, um macho, possuindo pequenos olhos vermelhos brilhantes, cheios de pura malícia e ira. No entanto, o da esquerda, sua irmã, tinha olhos azuis, exibindo apenas sua inocência enquanto olhava pacientemente os arredores.

Cercados por paredes cinzas de pedra e teto de madeira negra, sem janelas por perto. Viam estar pendurados em uma grande bolsa de teia, elevada acima do chão com uma distância de dois metros. Na sua frente, duas criaturas semelhantes, porém já adultos, olhando seus dois bebês com sorrisos.

"Meu bem, meu bem! Eles nasceram!" Disse a fêmea, que vestia-se com trajes pretos nobres, enfeitados com uma jóia verde na gola.

"Estou vendo! Um menino e uma menina, assim como queríamos!" Respondeu o macho, vestido de forma semelhante, porém com uma cartola e monóculo. "Como devemos chamá-los?" Pergunta à sua esposa, entusiasmado.

"Tem que ser nomes dignos da nobreza, para os dois únicos ovos que sobreviveram..." Põe um dedo do braço superior esquerdo em seu queixo, pensativa. "Já sei! Eles serão... Elduke e Laduqueza!"

"Adorei os nomes! Realça o quão poderosos eles são!"

Poderosos? Mas são apenas recém-nascidos, como podem os considerar... poderosos?

Vira a cabeça ao seu irmão, atualmente tentando morder um pedaço de casca furiosamente, incapaz de a despedaçar. Olhando assim, era realmente fofo.

A pequena aranha de olhos azuis sorri, tentando se aproximar do irmão, e quando consegue, o abraça. De repente, ele fica calmo, larga a casca e a abraça devolta.


Um tremendo soco atinge o rosto do jovem lutador, o mandando ao chão após percorrer alguma distância no ar. O punho deixou uma marca vermelha enorme no rosto do garoto, que agora era incapaz de se levantar.

O homem que o atingiu esbanjava seu orgulho, levantando o punho usado no golpe e dando um beijo. Após isso, se vira à platéia, braços erguidos gloriosamente.

"El Don mais uma vez saiu ileso! Como esperado do homem mais forte de Londreux!" Toda a platéia grita. Alguns felizes, outros enraivecidos por terem apostado no oponente caído.

De qualquer forma, o vencedor foi, como sempre, El Don, o homem musculoso e careca com sua força absurda. Como comemoração, ele tira sua regata branca e a balança sem parar no ar enquanto ria exageradamente alto.

"Isso é o que acontece com qualquer um que ouse pisar nessa arena comigo!" Vai até o jovem machucado, agarra seu braço e o ergue no ar como um prêmio. "Todos acabam assim! Sabendo disso, alguém ainda vai tentar me enfrentar?!"

POV: Elduke

Se entretia com o quanto os humanos se vangloriavam. Este em específico, achando que ninguém pode o vencer, era o que mais o divertia. "Tão patético." Ele pensa sorrindo para si mesmo, apesar de ninguém conseguir ver pelo seu capuz preto. "Talvez eu deva participar, também."

A outra figura encapuzada põe uma mão sobre seu ombro, chamando sua atenção. "Sei o que está pensando. Sabe o que vai acontecer..." Ela diz, com uma voz feminina e delicada, mas ainda séria e preocupada.

Em resposta, Elduke apenas retira a mão de seu ombro. "Não há diversão sem correr alguns riscos." Levanta-se de seu assento e anda em direção às escadas, por onde desce até a entrada da arena. O segurança na frente da porta de grades o bloqueia estendendo o braço ao seu caminho. "Eu vou derrotar o El Don. Abra para mim."

Como se contendo uma risada, o segurança alto e musculoso suspira, porém retrai o braço e permite a passagem. O próprio Elduke abre a porta e faz sua entrada na arena, pisando no chão coberto por uma espessa camada de areia. A grade se fecha atrás dele, assim selando sua decisão.

Com lentos passos ele se dirige ao centro da arena, onde estava seu adversário de bigode fino. Como sempre, esbanjava sua confiança através de um pequeno sorriso no canto do rosto. A platéia gritava o nome do campeão, dizendo para destruir seu oponente fraco.

Pobres humanos, nem sabem o que estão prestes a testemunhar.

Levanta suas mãos até seu pescoço, puxando o capuz para baixo. O manto que o cobria cai ao chão, expondo o corpo de Elduke como ele realmente é. De repente, a multidão que torcia por El Don agora estava calada, com um forte sentimento de medo preenchendo o ar.

Sentia como se o mundo estivesse o olhando, com seu corpo coberto por pelos pretos, exceto nos antebraços e pernas, que eram como patas de um inseto. Possuía dois braços cruzados em suas costas, logo abaixo de quatro patas normais, sem dedos ou palmas. Em seu rosto, eram claros como o dia dois olhos grandes e vermelhos irradiando fúria, com outros seis ao redor, fechados. Por fim, em sua boca, duas grandes presas escuras que poderiam perfurar uma braço sem dificuldades.

"Que monstruosidade!"

"O que é aquela coisa!?"

"Alguém mata esse bicho...!" Ouvia das pessoas, sussurrando e ainda sendo bem audíveis.

Entretanto, havia uma pessoa na platéia que não estava em pânico, a mesma que acompanhou o monstro aranha. "Não há mais porquê me esconder..." Como seu irmão, deixa seu manto cair, mostrando para todos que era uma criatura semelhante – não, idêntica – a Elduke, exceto pelo mínimo detalhe que seus olhos são azuis e não guardavam nenhuma raiva.

Rapidamente, as pessoas se afastam dela assustadas, deixando-a sozinha no meio da arquibancada.

Então ouvem risadas. Eram de El Don, rindo chegava mais perto de Elduke, logo colocando uma mão em seu ombro. "Bela fantasia, guri, mas intimidação não funciona comigo."

"... Do que você me chamou?" Aperta suas mãos e rosna diretamente para o homem maior, sem nada além de raiva.

"Vamos ter uma luta justa. Tira logo essa fantasia feia." Dava leves tapinhas no ombro de Elduke, sorrindo arrogantemente, até ser respondido com um soco dado diretamente no seu nariz, fazendo o humano se inclinar de costas e quase cair na areia.

Se a revelação da forma de Elduke já não bastasse, o golpe surpresa faz mesmo o narcisista El Don ficar em completo silêncio, e por consequência, a platéia boquiaberta.

Então como um jato, o humano devolve o soco com muita força, visível pelas veias de seu braço fazendo uma grande pressão. No entanto, o golpe que antes nocauteou um lutador e o mandou voando, não provocou nenhuma reação do monstro.

"Tira essa mão da minha cara." Usando só um braço, apertava o pulso do inimigo, o esmagando sem o menor esforço como se fosse só um pequeno palito de madeira.

A dor do grito de El Don foi clara como o Sol. Não bastasse a hemorragia nasal causada pelo golpe de Elduke, agora ele nem conseguia sentir seu braço esquerdo. Caia aos seus joelhos, tremendo em agonia enquanto lágrimas se formam em seus olhos, lentamente escorrendo por seu rosto até cair no chão assim que chegam ao queixo.

"Não sou um monstro, como os que vocês lêem em estórias..." Se agacha na frente do humano, erguendo a cabeça dele com uma mão, o forçando a olhar em seus oito olhos tenebrosos. "Sou algo muito pior: um demônio." Sussurra ao seu ouvido, imediatamente o levantando pelo pescoço e completando; "Um pecado venenoso!"

Mas enquanto ele se divertia demonstrando toda a sua superioridade, sua irmã na platéia assistia com nada além de preocupação. Não haviam armas ou materiais que podiam os ferir, porém...

Desviando o rosto para não ver mais, a preocupada demônia passa a ver os rostos horrorizados dos outros humanos, incrédulos perante ao que ouviam.

"Um demônio?!"

"Demônios não existem!"

"D-Deus é bom, Deus é bom..."

Ouvia-os rezando em silêncio, apavorados. Entretanto, no meio deles, via também parte da segurança, homens trajados em preto e carregando rifles e metralhadoras. Passam pela mesma entrada que Elduke usou, formando uma linha e mirando suas armas ao seu irmão.

"Irmão!", gritou do fundo de sua garganta.

A atenção do demônio se volta aos homens armados, e eles não pareciam nem um pouco preocupados em acertar El Don.

Altera seu olhar entre os seguranças e El Don, logo depois rosnando. "Que seja. Dê uma ajuda, Laduqueza!" Grita de volta, levantando El Don e ficando na sua frente.

No tempo dos seguranças terem se preparado para atirar, Laduqueza juntou duas de suas mãos e vai as afastando, gerando um orbe azul que rapidamente crescia. Quando já se tornou grande como uma bola de futebol, a aranha a lançou até os humanos. Ao fazer contato com o chão, o orbe se expande grandemente, cobrindo todos eles em uma grande área azul que os deixou extremamente lentos, tal como as balas das armas disparadas.

Agora que a ameaça estava atrasada em uma bolha de estase, o irmão segura o braço intacto do homem e o empurra para a arquibancada. Depois, a bolha se dissipa, retornando os humanos à sua velocidade natural. Os projéteis atingiam Elduke em sua maioria, no entanto não faziam nem marcas no seu terno preto chique.

Não sentia nem mesmo cócegas com esse ataque de pânico dos humanos. "Eu sou um demônio, e ainda assim são os humanos que me atacaram sem motivo." dizia enquanto pega sua cartola e a limpa da pólvora das balas. "Bem, cabe ao pecado da Ira os ensinar uma lição." Uma chama vermelha sai da cartola, indo à mão do demônio e crescendo, tomando a forma de uma colt .45 prateada. "Vocês estão bem protegidos. Um tiro para cada não deve ser letal."

Gira o revólver em seu dedo, e então o mira nos humanos armados, atirando com precisão em seus ombros protegidos por coletes balísticos. Eram oito seguranças, mas uma arma demoníaca tinha a vantagem de não precisar recarregar. O barril com seis espaços não passava de mera decoração.

Um a um, todos eles caem na areia, deixando pequenas poças de sangue abaixo de seus corpos, até não sobrar nenhum para o impedir de voltar à sua irmã. Não que houvesse alguém, para começo de conversa.

Pisava sobre seus corpos na saída da arena, se juntando com sua irmã na entrada do corredor de entrada. Ambos vestem seus mantos novamente antes de enfim saírem juntos, como se nada tivesse acontecido a poucos minutos atrás.

Mas no momento que já tinham ido embora, o grande El Don se reerguia novamente na arquibancada. Se apoiando no braço direito, e assim que fica de pé, segura o esquerdo severamente ferido.

"Quem... Não... O que é aquele cara?" diria logo antes de cuspir uma pequena quantidade de sangue no chão. Sua respiração pesada aos poucos se acalmava. "Ninguém... vence o El Don. Nem mesmo um demônio."


Com o próximo pecado...

Oculto em seu lar secreto

Um demônio que uma vez foi um humano, um rei de ouro

Não consegue o ver? Preste atenção