No fim daquele dia terminaria Hogwarts e começaria a corrida contra o tempo para se salvar. Ela tinha que se salvar da morte iminente que pairava sobre sua loura cabeça. Ouviu batidas na madeira do dormitório. Só podia ser uma menina e grifinória.
-Corine? A voz grave e gutural de sua doce irmã murmurou à porta. Ela havia cedido novamente, havia se reconciliado com Sirius, todos haviam esquecido aquele desagradável incidente. Todos exceto Corine.
-Você ainda não está pronta? Perguntou ela entrando porta adentro.
-Estou pronta.
Tina olhou melhor, sim, ela estava pronta, tinha os antes longos cabelos louros, agora na altura dos seios já muito desenvolvidos, sua silhueta era bela, esguia, porém formosa e "bem dotada", aqueles belos lábios carmim estavam postos num sorriso melancólico e forçado. Era assim que Vallentina Melchior Mallory via sua irmã gêmea, melancólica e forçada. Ela estava num vestido negro, com apenas uma alça grossa e nessa alça tinha costurada uma Rosa Eterna. Uma linda rosa negra, o negro do vestido estava em contraste com a alvura de sua pele. Como Corine conseguia ficar tão melancolicamente bonita sem fazer o menor esforço era um enigma que Tina ainda não tinha desvendado. De suas delicadas orelhas pendiam diamantes em forma de gota e havia um colar de ouro branco com um pingente de diamante do mesmo formato dos brincos agraciando aquele belo colo nu.
-Vamos? Tina perguntou com um sorriso sincero.
Corine a invejava, não por sua beleza, isso as duas tinham de sobra. Nem sua inteligência, não. Corine a invejava porque Tina tinha pais que a amavam, tinha para si o homem que Corine sempre quis, tinha amigos que não ficavam com ela por pena ou interesse ou tinham que suportá-la com aqueles ataques toda hora, aquele jeito sombrio, aqueles olhos opacos e aquela ausência de sorrisos sinceros. E também, por mais que Corine representasse (fisicamente) a luz, por causa de seus cabelos louros e pele pálida e Tina as sombras, por causa de sua pele mais escura, mais morena e cabelos escuros. Tina tinha uma vivacidade que Corine jamais teria, ela tinha um sorriso que cativava as pessoas, exatamente como o de sua mãe, só que menos melancólico, ao contrário do dela, forçado, meio cruel, como se ela estivesse arreganhando os dentes e repuxando os cantos da boca para cima, aquele sorriso afastava tudo e todos. Menos Tina. Tina era a única que dizia, com sinceridade, que Corine ficava mais bonita sorrindo. Isso era outra coisa que Corine invejava nela, sua bondade e pureza sinceras, quando ela estava triste chorava, quando estava feliz, ria, era exatamente isso que Corine gostaria de ser. Elas desceram, de mãos dadas, como duas grandes amigas. Sirius olhava abestalhado para sua amada Tina, ela estava num vestido longo, prateado, tomara-que-caia, brilhante, nos cabelos tinham brilhantes que pareciam gotas de orvalho. Seus sapatos eram prateados como a roupa, salto alto bico arredondado assim como o da Corine, só que o da outra era preto.
-Você está linda, meu amor.
Eles se beijaram. Corine não sentia mais inveja, se tocou de que isso era uma atitude infantil, ela queria que o Sirius fosse feliz, e ponto. Se ele ia ser feliz com ela ou sem ela, ah, isso era outra história.
O trem chacoalhava, Corine tinha o rosto grudado na janela. A expressão em seu rosto era de felicidade. Não uma felicidade forçada, empurrada como tinha sido a vida toda, era sincera. Sabem por que ela estava tão feliz? Por causa de um pedido de casamento. De Sirius. Para...Tina. Não tinha sido para ela, mas ela sentia como se tivessem tirado um ENORME peso de suas costas. Agora sabia que não era a escolhida e se sentia livre para partir para outra. A festa tinha sido linda, seu amigo Malfoy parecia muito feliz enquanto dava um selinho em sua querida Narcisa Black. Remus ficou extremamente vermelho mas gostou bastante quando Tonks o beijara, um beijo de despedida com um "Até logo." sussurrado entre lágrimas. Até Peter parecia feliz, afinal, tinha conseguido passar em todas as matérias. Lily e James haviam desaparecido nos jardins de mãos dadas falando sobre os planos para o futuro. Todos sorriam alegremente. Até Corine, que não estava mais sozinha. Ela tinha a promessa de uma nova vida pela frente para confortá-la, não era uma pessoa, mas fazia-a sorrir mais do que qualquer coisa naquele momento. Aquele sorriso não murchou. Ela se trancou sozinha em uma cabine separada e foi flagrada por Sirius e Tina vendo um pergaminho. O pergaminho falava sobre uma garota, uma garota de longos cabelos louros, olhos cinzas, uma determinação invejável que escreveu seu próprio destino. Uma boneca de porcelana que ficou marcada, mas sabia que essas marcas eram sinônimo de aprendizado. Uma marionete que decidiu cortar as cordas do destino com seus próprios dentes. Que aprendeu a sorrir pela felicidade alheia já que a sua era tão pouca.
