Tinha sido um casamento duplo, James estava num paletó preto com um colete escuro que combinava com seus olhos e Lily num vestido branco com belas esmeraldas no colar. Sirius vestia com um paletó alugado e colete azul-marinho que ressaltava suas belas faces e Tina em seu vestido rosa-bebê que tinha um corpete bem justo até a cintura e depois soltava em camadas. Estavam exuberantes. Corine usava um vestido prateado que combinava loucamente com seus olhos, e sorria, jogando pétalas de rosas para todos os lados.

Passou um ano, Tina e Sirius tiveram um filho, Peter, o menino tinha os olhos da mãe e os cabelos e a estrutura óssea do pai, era muito risonho e se dava as mil maravilhas com a tia, que agora era extremamente feliz.

-Hey pestinha! Que idéia é essa de tacar papinha na minha cara? Corine exclamou, brincalhona, enquanto Peter gargalhava às suas custas.

-Ah, seu moleque! Você ficou todo sujo, vamos tomar banho antes que a mamãe chegue do trabalho e brigue com a titia, vamos.

Subiram e chegaram no banheiro, onde a banheira tinha sereias nadando no fundo e a cortina era estampada com hipogrifos voando.

Corine encheu a banheira magicamente e uma espuma confortável e morna foi aparecendo na superfície da água.

-"Samba crioula, que veio da Bahia, pega a criança e joga na bacia! A bacia é d'ouro areada com sabão, depois areada enxuga com o roupão, o roupão é de seda, lalalalala..." (N/A: ela cantou isso em um português cheio de sotaque mesmo, hehe. )

Peter riu.

-Ah, você gostou? Eu aprendi essa música quando fui no Brasil, lembra, mês passado. Lá eles também tão vivendo dificuldades, parece que uns trouxas instalaram uma ditadura por lá, mas já resolveram, assim como vão resolver a nossa. O povo é muito alegre, feliz, um dia, quando você for mais velho, eu te levo lá, as crianças são tão risonhas quanto você, o país é lindo, a arquitetura das igrejas é de tirar o fôlego...Ah, é um país maravilhoso...

O banho termina, Corine leva o bebê num pijama de dragõezinhos com fundo azul para o quarto e o põe para dormir com mais umas cantigas brasileiras.

-Boa-noite, queridinho.

Os minutos foram passando...As horas se arrastavam...E nada de Tina chegar. Corine ia ficando mais e mais preocupada. Se remexia, ajeitava as coisas, fazia papinha...Ela já devia ter limpado os móveis umas três vezes, já tinha papinha até dizer chega e as almofadas estavam tão fofas, que se um botão caísse nelas, entraria num buraco negro e nunca mais ninguém o acharia.

Onde ela se enfiou? Nesses tempos é perigoso ficar até tão tarde fora de cas...

BLAM!

-Sirius! Você está todo ferido...Onde está a Tina? O que hou...

-Cou-ri-ne...Dum-blen-do-re...Rá-pi-do...Tina...Mor... Antes que ele terminasse a frase ele desmaiou nos seus braços e falou algo na linha de "colar", "chave", "morte", "Peter" e "recuperar Tina", ele falava isso clara e repetidamente. Corine ficava mais ansiosa, onde estaria sua irmã? O que estava acontecendo? Mas mesmo com todas essas angústias, medos e dúvidas, Corine chamou Dumblendore, realizou os primeiros-socorros em Sirius e foi preparar uma poção reanimadora. Sirius estava numa cama e Dumblendore, Remus, Peter (Pettigrew), James, Lily e Corine estavam ao seu redor, ao que ela pôde perceber, é que TODOS sabiam o que se passava, TODOS, menos ela.

Após um longuíssimo silêncio, Corine ousou perguntar:

-Afinal, o que está havendo, de fato?

Lily soltou um soluço molhado de lágrimas, James a abraçou para consolá-la, Peter a olhou preocupado, mas não abriu a boca, a expressão de Dumblendore endureceu e Remus falou num sussurro rouco, quase inaudível, como se ele quisesse se entregar às lágrimas, como Lillian fazia:

-White Lady, Corine, ouça, Tina e Sirius voltavam do trabalho, quando...Bem...Eles foram atacados por um grupo de Comensais e...

Corine estava entendendo que rumo essa conversa ia tomar, mas mesmo assim, arriscou perguntar:

-E que fim levou Tina?

-...Corine, seja forte, Sirius e Peter precisam de você,... Disse Remus apertando sua mão.

-O que houve com a minha irmã! Corine berrou, esquecendo que só ela, Peter (ele era um bebê, não contava), Sirius, Voldemort e Tina sabiam que as duas eram irmãs.

-I-irmã? Is-isso fica para outra hora, mas...Um grupo de aurores está tentando resgatar...Bem...O corpo dela dos escombros.

Peter chorou no seu quarto.

Corine não chorou, não teve um ataque, nada. Só se levantou e foi acariciar o sobrinho e sussurrar que estava tudo bem, que tudo ia passar. Quem não a conhecesse podia achar que ela estava se controlando, não era isso. As dores, as perdas, decepções, tristezas,...Já eram tantas que ela nem se abalava. Voltou à sala e perguntou:

-E acharam algum testamento dela?

Dumblendore respondeu:

-Sim, aqui está.

"Maninha, não foi só você que podia vislumbrar o futuro de vez em quando, eu também sou capaz. Já sabia que ia morrer, não chore, por favor, Peter precisa de você. Na verdade, nem sei por que ele sofreria, a mãe dele sempre foi você. Quem deve precisar de você mesmo é Sirius, que bom, é uma oportunidade para vocês recuperarem o tempo perdido. Tudo meu vai para você, até as roupas de que gostar (faça o que quiser com as que não gostar). Diga a Sirius que eu o amo muito, e a Peter também, quando ele puder entender. Estou feliz, veja: você e Sirius se amarão livremente, Peter terá uma mãe melhor do que eu seria, vou me reencontrar com Mama... Podia ser melhor, eu queria conhecer meus sobrinhos... Mas supero (hehe). Por favor, doem meus ossos e órgãos (se tiver sobrado algum corpo) e cremem o resto.

Sinto muito por não poder me despedir melhor,

Tina

P.S: EXIJO que você fique morando na minha casa, para cuidar de Peter (e por outros motivos não-mencionáveis)

Corine fez cara de dor e cerrou os dentes, o ódio por aquele que um dia chamara de pai crescia...Lembrou de uma passagem do diário da mãe:

"Não culpo Tom pelo que me fez, não sinto ódio por ele, sinto pena. Ele foi uma criança desorientada e um adulto sem limites, muito poder em mãos de alguém que não soube usar...No meu caso e no dele. Tolo, no momento em que me chutou, todo o poder que ele havia absorvido de mim voltou para as mãos de sua legítima dona. A pessoa que lhe contou minha história provavelmente não a contou direito.

'...Porém, se ele/ela a abandonar, tudo se desfará. É necessário que seja recíproco, não adianta que ela se entregue se não houver troca. É a Lei do Equilíbrio, tudo o que se recebe deve ser pago com algo de valor correspondente, quer ele/ela queira ou não.'

Pobre ingênuo, o 'preço' que 'estipulei' será futuramente 'cobrado' pela minha próxima encarnação, como não me entreguei por completo não cobrarei o preço todo. Minhas meninas farão o resto.

Espero que elas compreendam seu pai."

Corine entedera a mensagem e já sabia seu papel. Tina havia ganhado, de herança, o colar da mãe, manchado com o sangue dela, só que o fecho não abria e era pequeno demais para passar pela cabeça de alguém, portanto ficava numa caixinha de veludo no quarto dela. Já Corine ganhara o diário da mãe, com a capa manchada pelo mesmo sangue e as páginas impregnadas com aquele cheiro de jasmim que seu corpo exalava, mesmo tendo se passado 18 anos desde a sua morte, Corine sentia a sua presença naquele cheiro persistente, nos conselhos, nas explicações e nos desenhos que jaziam naquelas páginas. Corine sentia uma nova sensação fluir pelo seu corpo. Nojo. Um profundo nojo do progenitor, por ter feito a mãe de marionete e tê-la abandonado quando ela mais precisava dele. O nojo foi substituído por raiva de si mesma por desejar um "amor paterno".

-Corine? Lily a olhava, preocupada.

-Entendo que esteja triste, mas... Murmurou Remus, tentando "consolá-la"

-NÃO ESTOU TRISTE, REMUS! Explodiu Corine.

Todos se assustaram. Dumblendore viu naqueles olhos castanhos (que já tinham sido cinzas) a sombra de Tom Riddle e a influência que ele exercia sobre a menina, como Mar e Lua, apesar de nunca ter criado efetivamente a "filha" Dumblendore desconfiava, que, na época em que formulamos nossa personalidade e buscamos nosso ídolo, Corine tivesse visto no "pai" esta figura.

-Corine, ninguém está te recriminando por se abalar com a morte da sua irmã. Dumblendore disse naquela sua voz calma que lhe era característica.

-Não estou abalada.-disse Corine entre dentes -Espero, nem que eu tenha que morrer para isso, que a minha filha seja a próxima encarnação de minha mãe.

Dois anos depois nascia Mary, pele White Lady e olhos azul-esverdeados, quase incolores.

O fecho do colar abriu.