Essa estória é baseada em uma ideia da querida Caliana. Obrigada por isso e espero que eu escreva a contento.

Deixe-me saber se devo continuar. Vou aguardar o review de vocês para seguir.

A fanfic contém alguma violência então fica um alerta.


Capítulo 1 – Cleveland

Três anos haviam se passado. Três longos anos desde que ele invadiu a sala de jantar de Cuddy com o seu carro.

House trabalhava em Princeton Plainsboro e não tinha notícias de Lisa Cuddy, ele nem queria saber. House nunca pesquisou o nome dela no Google, nunca perguntou nada a ninguém, era melhor assim.

Há um ano atrás ele divorciou-se oficialmente de Dominika, depois teve uma crise hepática que o hospitalizou por duas semanas, por sorte evitaram a falência do órgão, mas ele precisou se desintoxicar forçosamente. Agora ele lidava com a dor através de medicações bem menos lesivas ao fígado e rins, além de fazer uso de adesivos. Nos primeiros meses ele desejou morrer, mas Wilson, seu bom amigo, começou a frequentar aulas de natação e levou House com ele, no principio ele estava relutante, mas com o tempo começou a apreciar a pratica esportiva. Obviamente ele não tinha a mesma destreza dos demais por conta da perna, mas hoje, um ano depois, ele era um exímio nadador. Além disso, House parou de beber e fumar, ele estava mais saudável do que nunca.

House havia conhecido Tina, uma frequentadora das piscinas, ela era bonita, inteligente e bem mais relaxada e despreocupada do que todos a sua volta, eles estavam juntos há quatro meses. Não era um namoro tradicional, ele não queria isso, era... alguma coisa que estava funcionando. Eles se viam as vezes, saiam as vezes e estava ótimo assim.

Naquele domingo ele e Tina foram para um evento de motociclistas em Cleveland, Ohio. Eles saíram sábado de moto, passaram a noite em um hotel de beira de estrada e seguiram viagem para Cleveland pela manhã. House estava viajando mais, ele precisava aproveitar a vida na estrada, era uma das únicas coisas boas que restaram. Ele geralmente viajava curtas distancias sozinho, mas agora que tinha mais confiança em sua perna começou a se arriscar um pouco mais. Tina também passou a acompanhá-lo eventualmente. Era agradável, House estava longe de estar apaixonado, mas ele tinha sexo, era isso o que importava, não?

O casal passou o dia em um evento de jazz e moto e, no começo da tarde, foram procurar algum lugar para comer antes de pegarem o caminho de volta.

"Todo lugar tem um shopping". Tina disse. "Vamos para algum deles e lá haverá inúmeras opções de restaurantes e fast food".

"Você está em Cleveland e quer ir a um shopping?".

"Ué, eu gosto de shoppings".

House bufou e lembrou-se de Cuddy automaticamente, eles foram poucas vezes ao shopping quando estavam juntos. Duas? Três vezes? Ele não sabia ao certo, mas ela era uma criança feliz quando ia. E uma consumista nata, nunca saia de lá sem as mãos cheias de sacolas.

"Ei...". Tina chamou a atenção dele. Isso acontecia com frequência, House absorto nos pensamentos sem reparar no que ela dizia.

"Ok, vamos procurar um shopping então". Ele concordou para encerrar rapidamente o assunto.

Quando eles estavam a caminho do shopping mais próximo, House viu uma cena que chamou sua atenção: Em frente a uma casa, um homem de meia idade parou o carro e saiu arrastando uma menina pelo braço, o problema é que estava nítido que o homem fazia uma força além do normal e que aquilo estava machucando a garotinha. House tinha muitos defeitos, mas não suportava abuso infantil de qualquer espécie. Ele parou a moto imediatamente.

"O que houve?". Tina perguntou confusa.

House não respondeu, retirou o capacete e caminhou em direção ao homem. A menina devia ter uns seis ou sete anos apenas.

"Ei!".

O homem continuava arrastando a menina.

"Ei, você!". House insistiu.

"O que foi seu aleijado?".

"House!". A menina se virou para ele.

"Rachel?". Ele arregalou os olhos surpreso.

A menina se soltou e correu para os braços de House.

"Ei... Você está bem?". Ele perguntou enquanto a menina o abraçava. House sentiu as pernas tremerem, era Rachel!

"Você conhece esse idiota?". O homem agressivo perguntou.

"Eu vi você maltratando Rachel, eu vou chamar um policial". House o ameaçou ainda zonzo com tudo. Cuddy estaria por perto?

O homem riu. "Quem você pensa que é?".

"Ele é House!". Rachel avisou. "O melhor médico de todos e o namorado mais legal que mamãe já teve".

"O quê? Você foi namorado de Lisa?".

House sentiu-se gelar.

"Escute, suma daqui seu aleijado. Lisa é minha namorada agora. Só minha!". O homem falou em tom agressivo se aproximando.

Aquelas palavras fizeram o coração de House parar de bater por alguns minutos.

"Mamãe não gosta de você!". Rachel falou com irritação.

"A sua mãe me ama garota, pare de ser mal educada. Se sua mãe fosse mais enérgica com você...".

"Ei, você não ouse tocar um dedo em Rachel". House falou se colocando entre a garotinha e o homem.

"Quem você pensa que é? Nunca nem ouvi Lisa falar nada sobre você, sobre nenhum ex-namorado aleijado".

House respirou fundo, claro que ela não havia falado sobre ele.

"Eu sou um médico que pode atestar lesões corporais nessa menina e te colocar na prisão".

"House ele é mal". Rachel disse.

"Ele te bateu outras vezes?". House perguntou preocupado.

"Eu não bati nela, você está vendo coisas que não existem. Suma logo daqui! Você não tem nada a ver conosco". O homem esbravejou enquanto Tina se aproximava.

"O que aconteceu?".

"Esse sujeito está se intrometendo na minha vida". O homem falou para Tina.

"House, não vá embora!". Rachel se agarrou fortemente a perna boa dele.

House engoliu seco, ele não sabia o que dizer ou como agir.

"Onde está a sua mãe?".

"Trabalhando". Rachel respondeu.

"Onde ela trabalha?".

"Cleveland Clinic". A menina respondeu.

House arregalou os olhos, claro que sim. Era a cara de Cuddy trabalhar em um dos hospitais mais renomados do país.

De repente o homem empurrou House que caiu de costas para o chão. "Suma daqui seu aleijado".

Tina foi para cima dele, mas o homem puxou Rachel para dentro de casa sem que House pudesse fazer nada, pois ele tinha uma perna ruim e isso era um saco, sempre estaria no seu caminho, ele não tinha nem condições de ajudar uma garotinha indefesa. Rachel tentava lutar contra o sujeito mas foi vencida pela força física.

House levantou-se o mais rápido possível e tentou bater à porta, mas obviamente o sujeito não iria abrir.

"O que houve?" Tina estava confusa.

"Depois eu explico, nós precisamos ir para Cleveland Clinic agora!".

Antes House ligou para a policia e denunciou o sujeito.

"Tina, fique aqui e observe. Se ouvir gritos de Rachel invada a casa".

"O quê?".

"Pule uma janela, sei lá...".

"Greg...".

"Quando a policia chegar conte a eles que o sujeito estava puxando Rachel pelo braço e que a garota estava desesperada, com medo".

"Greg...".

"Eu preciso ir atrás da mãe dela".

"Quem é a mãe dela?".

"Uma conhecida...".

A caminho do hospital em que Cuddy trabalhava, House só conseguia pensar que faria isso por Rachel. Ele não tinha ideia de como Cuddy o receberia, mas ele devia isso a Rachel. Afinal, House estava apavorado com o que podia estar acontecendo com Rachel: A violência, os abusos, ele precisava encontrar Cuddy urgentemente.

Ao chegar no hospital ele nem sabia como procura-la. O que ela fazia lá afinal? Qual era o cargo da ex-namorada? Ela seria a reitora de medicina?

"Por favor, eu preciso falar com Lisa Cuddy".

A recepcionista olhou pra ele como se ele tivesse dito 'Eu preciso falar com Jesus Cristo'.

"Lisa Cuddy não recebe visitas".

"É pessoal, é importante".

"Quem é você?".

House pensou. Ela jamais o atenderia. "James Wilson".

"Um minuto...".

A jovem recepcionista falou com a supervisora que olhou curiosa para ele.

O que seria aquilo? Cuddy havia se tornado uma Rock star? House estranhou pois em Princeton Plainsboro ela sempre foi tão receptiva e disponível.

"Você é amigo dela?". A recepcionista voltou.

"Sim. E médico também".

"James Wilson?".

"Sim". House torceu para não pedirem um documento que comprovasse a identidade.

A jovem voltou para falar com a supervisora.

"Tudo bem, tenta ligar pra ela e... boa sorte!". Ele ouviu a supervisora falando para a funcionária.

"Doutora Lisa Cuddy, há uma visita aqui...". A mulher tremia falando ao telefone. House estranhou. "James Wilson". ... "Tudo bem, desculpe o incomodo senhora, doutora...".

A mulher desligou e respirou fundo. "Você pode ir. A sala dela fica no quarto andar".

"Ok, obrigado". House respondeu desconfiado. O que foi tudo aquilo?

E ele foi. No elevador House respirou fundo, afinal, ele estava fazendo isso por Rachel, precisava ser feito. Isso não afastou o nervosismo, nada... Ele transpirava e sentia o seu coração na garganta. Ele se identificou com aquela recepcionista nervosa e ansiosa por falar com Lisa Cuddy.

Quando ele chegou no quarto andar ele se deparou com uma placa e arregalou os olhos.

Lisa Cuddy, MD – CEO

Ela era CEO de um dos maiores hospitais do país? De repente House sorriu orgulhoso e tirou um grande peso da consciência, afinal, ele não tinha acabado com a carreira dela. Cuddy deu a volta por cima.

"Senhor?". Uma jovem o chamou.

"Olá. Boa tarde. Eu preciso falar com Lisa Cuddy".

"James Wilson?".

"Oh, sim". Ele sentiu-se mal por mentir, mas não havia outra maneira.

"Venha comigo, ela te espera". A mulher o levou para uma sala e abriu a porta. Era um ambiente gigantesco e branco, muito branco. Parecia sem vida.

Quando ele viu os olhos de Cuddy nele, House notou que ela havia envelhecido significantemente nesses três anos. Ela não estava feia, veja bem, Cuddy ainda era uma linda mulher, mas pareceu que passaram pelo menos o dobro do tempo. No mais, o olhar de ódio que ela deu para ele era perturbador demais.

"Saia já daqui!". Ela disse firme.

"Ok, desculpe pela mentira, mas era a única maneira de chegar até você".

"Saia daqui agora ou eu chamarei o segurança e você voltará para a prisão de onde não deveria ter saído".

"Eu não estou aqui por sua causa, eu nem viria se não fosse por Rachel".

De repente ela arregalou os olhos. "O que houve com Rachel?".

"Posso me sentar para explicar?".

"Não!".

"Cuddy, eu não estava te perseguindo, eu nem sabia que você era CEO, aliás, parabéns por isso!".

"O que houve com Rachel?". Ela o interrompeu angustiada.

"Você tem um namorado com cabelos pretos, média estatura e meio gordinho, certo?".

"Fale logo!".

"Conhecemo-nos hoje, não foi o melhor momento. E ele estava agredindo Rachel".

"O quê?".

"Ok, alguma explicação se faz necessária... Eu estava de moto passando por lá, eu não fazia ideia de onde eu estava até que eu vi um homem puxando uma menina pelo braço, eu parei e fui ajudar e então me surpreendi com Rachel".

"Saia daqui agora!".

House franziu a testa. "Você ouviu algo que eu disse?".

"Saia!".

"Cuddy, o seu namorado agride a sua filha! Ela estava com medo, ela correu pra mim".

"Eu não acredito em você".

"Se você não acredita em mim, pergunte pra Rachel".

"Saia e nunca mais volte!".

Ele sorriu e balançou a cabeça. "Eu cometi um erro grave com você e isso me custou um ano de liberdade, mas eu jamais brincaria com isso".

"Saia!".

"Eu desejo sorte para Rachel. Sinto muito por tudo... Ela não deveria pagar o preço, ela é só... Uma criança".

"Saia!". Cuddy quase gritou dessa vez.

House saiu.

No caminho de volta ele ouviu funcionários no elevador comentando sobre fofocas no hospital. Então ele resolveu especular.

"Vocês conhecem Lisa Cuddy?".

"A CEO?". Uma funcionária perguntou intrigada.

"Sim".

"Lisa Cuddy, a bruxa?". A outra perguntou bem humorada.

"Oh, ela não sai do quarto andar pra nada, sempre que precisa ela manda a secretária dela pra resolver assuntos aqui no hospital, sim porque ela é a rainha e não se mistura com meros mortais".

"Dizem que ela era bem diferente antes. Que algo aconteceu que a deixou assim...".

"Nossa! Então deve ter sido um grande trauma porque ela é a diaba".

As duas riram.

House sentiu-se mal do estomago. Ela podia ter o posto de CEO em um renomado hospital, mas certamente ela não era a mesma que ele conhecera um dia.


Lisa Cuddy trancou a porta assim que House saiu e chorou. Ela chorou muito. Fazia dois anos que ela não chorava, nenhuma gota. Ela demorou um ano pra se recuperar do que havia passado, mas depois disso, nunca mais Lisa Cuddy derrubou uma gota de lagrimas por nada ou por ninguém. Ela se fechou em sua carcaça de segurança. Cuddy encontrou um emprego dos sonhos, mas não era feliz lá. Encontrou um bom homem, Joshua, com quem namorava há oito meses. Ela o amava? Não! Ela sentia desejo? Também não. Mas assim era melhor, ela não sofria.

Joshua era dono de uma rede de alugueis de veículos, ele tinha em torno de cinquenta anos, era divorciado e tinha três filhos adultos. Ele morava na casa dele e ela na dela, se viam nos finais de semana e em alguns dias a noite durante a semana, ela não queria morar junto ou nada do tipo. Rachel implicava com ele sem razão, provavelmente era uma fase. A menina teria que se acostumar eventualmente. Joshua ajudava com Rachel as vezes, sobretudo nos finais de semana em que ela precisava trabalhar, ou seja, quase todos.

Eles faziam sexo, claro que sim, era... Ok. Talvez um pouco regular demais, sem paixão, desejo ou grandes orgasmos, assim como todo o resto do relacionamento deles, mas Joshua era um cara bom, House não era bom. Jamais Cuddy acreditaria em House, nunca! Ela planejou muitas vezes o que faria se o reencontrasse, ela esperou que ele a procurasse, mas tanto tempo depois... Cuddy pensou que ele nunca mais apareceria até minutos atrás. Ele mentiu a identidade e invadiu a sala dela como se nada houvesse acontecido. Era como estar de volta a Princeton, era como voltar no tempo. Ela sentiu-se enjoada e foi vomitar no banheiro privativo. O desgraçado estava bem. Cuddy sabia que havia envelhecido, que estava com uma raiva enrustida e mal direcionada, como dizia a sua psicóloga, mas ele parecia saudável e mais jovem? Como o mundo era injusto com as mulheres. Ele era um criminoso, ele colocou a vida dela em risco e apareceu acusando Joshua? O que ele sabia sobre Joshua? Sobre a vida deles? Sobre Rachel? De repente Cuddy se preocupou com a filha e ligou para a casa do namorado.

"Finalmente, querida. Quando você vai vir pra cá?". Joshua disse quando atendeu.

"Rachel está bem?".

"Sim, a policia apareceu aqui por conta daquele louco aleijado, mas já foram embora".

"O que houve?".

"Ele surtou quando viu Rachel, ele queria levá-la, queria machucá-la".

"O quê?".

"Ele a puxou com força e machucou o braço da pobrezinha".

"Ele não fez isso!".

"Ele fez. Eu a salvei e depois ainda por cima a namorada dele chamou a policia".

"Ele tem uma namorada?". Cuddy não sabia o que sentia naquela hora. Eram tantas informações desencontradas. "Rachel está bem?".

"Sim. Uma loira, alta e jovem é a namorada dele. Não sei como um aleijado conseguiu se sair tão bem e ter uma mulher bonita ao lado dele. E Rachel está bem agora, graças a mim".

Cuddy tentou desviar o pensamento. "Deixe-me falar com Rachel".

"Oh, claro que sim".

O homem colocou o telefone no mudo.

"Rachel, se você desmentir a minha versão você sabe o que eu farei com você e com a sua mãe, não sabe?".

A menina estava apavorada e atendeu.

"Mamãe".

"Rachel você está bem?".

"Sim".

"House te machucou?".

"Não".

"Não?".

"Eu estou bem mamãe".

"Eu estou voltando agora pra casa. Me espere bebê".

Cuddy desligou e saiu. Ela precisava entender o que havia acontecido. House machucou Rachel? Como ele pode? Por quê? Nada fazia sentido.


Horas antes Joshua conseguiu despistar a policia alegando que se tratava de um trote. Tina tentou argumentar, mas não havia muito a dizer, ela não presenciou nada, havia sido House, e ele não estava lá. Depois o homem entrou ignorando completamente a presença da loira e foi até a menina.

"Rachel, você sabe que eu te amo, não sabe?".

A menina ficou muda.

"E que eu amo sua mãe?".

Rachel continuou calada.

"Se você quiser ver a sua mãe triste você vai dizer que eu te puxei pelos braços. Se você quiser vê-la feliz, você vai ficar quietinha ou dizer que aquele sujeito a machucou".

"Ele não me machucou!".

"Mas ninguém precisa saber disso, só eu e você".

"Eu gosto de House".

"Mas ele não gosta de você".

"Mentiroso!".

"Ele e sua mãe não estão juntos, eu estou com a sua mãe agora".

"Eu te odeio!".

"Vou deixar as coisas claras aqui menina. Eu odeio crianças e odeio que você atrapalhe a minha vida com a sua mãe, então se você falar qualquer coisa diferente do que eu orientei, eu vou jogá-la pela janela e depois chamo o cachorro do vizinho para terminar o serviço. Aí eu ficarei com a sua mãe só pra mim".

A menina arregalou os olhos em choque, ela morria de medo do cachorro do vizinho.

"Sua mãe ficará tão triste, mas eu posso trazer outro bebê pra ela. Então ela te substituirá no coração dela. Ela te esquecerá!".

"Não". A menina chorava.

"Então é melhor tomar cuidado com o que diz".

Continua...