Capítulo 5 – Ação

Cuddy respirou fundo e pensou que precisava se controlar pelo bem de sua filha. Se ela havia colocado um homem louco dentro de sua casa, a responsabilidade seria dela para resolver a bagunça que criou. Cuddy respirou fundo seguidamente, alinhou a roupa e voltou para a sala.

"Você demorou". Joshua, quer dizer, Theodore disse.

Ela colocou um falso sorriso no rosto. "Sim. Eu estou nervosa com o sumiço de Rachel...".

"Oh meu amor, não há de ser nada". Ele a abraçou. Cuddy queria esganá-lo naquele momento, mas precisou se conter. "Eu vou te ajudar com isso".

"Vamos comigo até a delegacia, por favor?". Cuddy queria tirá-lo de lá para que Wilson e House pudessem entrar.

"Eu não posso agora, estou aguardando uma ligação importante".

"Leve o seu celular".

"Não". Ele respondeu rapidamente. Cuddy notou que ele não queria deixar a casa, isso significava que Rachel devia estar ali, em alguém lugar. Cuddy ficou tão enjoada que vomitou ali mesmo.

"Lisa...".

"Oh desculpe, eu estou nervosa".

"Eu entendo, meu amor. Será que você está grávida?".

Cuddy vomitou outra vez só em ouvir aquilo.

"Lisa...". Ele se aproximou.

"Não...". Ela reagiu com a aproximação se afastando. "Eu estou bem. E não estou grávida".

"Tem certeza? Seria lindo um filho nosso...".

Cuddy queria matá-lo. "Eu tomo anticoncepcional e sempre usamos preservativos".

"Podemos começar a não usar...".

"Joshua, eu preciso encontrar Rachel. Se alguém fez algo com ela pagará muito caro!". Ela falou com o tom de voz muito firme.

Ela estava cada vez mais enjoada. Cuddy precisava avisar Wilson e House. Ela precisava avisar a polícia. Cuddy tinha que fazer alguma coisa imediatamente.

"Eu vou embora então, eu preciso procurar Rachel".

"Lisa, eu acho melhor não ir à polícia. Não ainda. Vamos tentar não envolvê-los sem necessidade, tudo bem?"

Cuddy ficou perturbada, como ela pode se deixar enganar por esse monstro? Como ela pode se deitar com esse homem? Ela não o amava, e mesmo assim abriu a porta de sua casa pra ele, pois tinha certeza de que ele era um homem digno. Como ela se enganou tanto? Definitivamente ela deveria desistir de encontrar alguém, era só decepção atrás de decepção.

"Eu vou tentar procura-la na vizinhança próxima de casa". Ela falou meio perturbada.

"Ótimo!". Ele disse satisfeito. "Dê-me notícias. Assim que eu terminar as reuniões que tenho hoje me juntarei a você nas buscas".

"Ok". Ela ia saindo.

"Ei, meu beijo?".

Sério que ele pediu isso? Ele sabia que ela estava preocupada com a filha e não pareceu ter nenhuma empatia. Ele era um louco psicopata. Isso deixou Cuddy mais preocupada ainda. Onde estaria a filhinha dela? Nas mãos desse monstro? Cuddy sentiu-se uma péssima mãe. Uma mulher egoísta. Uma tola completa.

"Eu estou preocupada, não tenho cabeça...".

"Ok, me desculpe".

"Tchau". E ela saiu. Caminhou até o carro que ficava em um ponto distante estrategicamente e entrou. Depois ela desabou a chorar.

"O que houve?". Wilson perguntou assustado.

"Ele está com Rachel".

"O quê?".

"Eu tenho certeza disso...". Cuddy contou o que viu.

"Você estava certo House, satisfeito?". Ela respondeu com irritação, mas dando-se por vencida.

"Não. Por mais que você me odeie, eu não sou o foco de sua raiva, ou não deveria ser".

"Eu sou uma péssima mãe". Ela continuava chorosa.

"Não Lisa...". Wilson tentava remediar.

"Deixei Rachel sofrer na frente dos meus olhos".

"Lisa, não adianta...".

"Calem-se vocês dois! Temos que pensar em uma maneira de entrar na casa e resgatar Rachel". House disse resoluto.

"Mas nem sabemos onde ela está". Wilson argumentou.

"Com certeza em algum lugar da casa". House respondeu. "Geralmente em um porão ou sótão. Eu posso entrá-la".

"Você? Você é...".

"Aleijado?". House perguntou pra Cuddy.

"Não ia dizer isso...".

"Wilson não tem condições emocionais de fazer isso. Você... nem se fala...".

Cuddy não parava de chorar um minuto sequer, de repente a presença de House passou de indesejada para reconfortante e isso a deixava ainda mais confusa.

"Eu ainda acho que devíamos chamar a polícia. Agora mais do que nunca". Wilson falou.

"Não!". Cuddy disse. "Ele pode machucar Rachel se perceber que há policiais envolvidos".

"Então o que vocês sugerem? Não somos especialistas nisso...".

"Eu vou entrar!". House falou.

"Não House". Wilson contestou.

De repente o telefone dele vibrou. "House". Ele atendeu.

"Não, eu estou fora da cidade hoje". Ele disse.

Cuddy olhou interessada, seria a namorada dele?

"Eu não sei quando volto... Pode demorar. Ok. Tchau".

"Então... Eu vou entrar!". House desligou e voltou ao assunto.

"Era Tina?". Wilson perguntou.

"Sim. Vamos combinar como faremos isso. Precisamos que ele fique distraído com algo e eu tenha condições de circular para os outros cômodos".

"Você vai entrar com uma bengala e quer ser sutil?". Wilson perguntou.

"Eu vou entrar sem bengala".

House estava com a passada melhor por conta da natação. Não era suficiente para andar e correr por ai, mas era muito melhor do que antes.

"Você está louco? Você não terá equilíbrio".

"Wilson, vamos seguir com o plano e parar de pensar com pessimismo".

"Pessimismo? Sério que você está falando isso?".

"Ei, vamos ouvir House". Cuddy disse.

"Ok, então é o seguinte. Deve haver outra entrada na casa que não a principal, pois a casa é isolada e aqui eu imagino que eles não fechem portas e janelas". House falou.

"A janela dos fundos está aberta. Eu vi". Cuddy disse.

"Ótimo. Temos um começo. Então eu vou me esgueirar para entrar por lá".

"Pela janela? Com a sua perna?". Wilson não admitia aquela ideia.

"Sim Wilson. Mas preciso que ele tenha uma distração enquanto eu entro e circulo pela casa à procura de Rachel".

Os três ficaram pensativos.

"Joshua... Quer dizer, Theodore tem a ex-esposa hospitalizada em estado de coma em um hospital em Phoenix". Cuddy se lembrou.

"Ex-esposa? Conhecendo-o como eu estou conhecendo, isso é no mínimo suspeito". House falou e Cuddy arregalou os olhos, claro que ela não havia pensado nessa possibilidade até então. "Mas podemos usar isso a nosso favor".

"Como assim?". Wilson perguntou.

"Você liga pra ele e finge que é sobre a mulher, ex-mulher. Você sabe o nome?". Ele perguntou para Cuddy.

"Theresa, mas não sei o sobrenome".

"Ok, serve... Fala que é sobre Theresa. Inventa uma série de perguntas e diz que é necessário. Que ela faleceu, sei lá... Diz qualquer coisa, mas mantenha-o no telefone".

"Ok...". Wilson respondeu pensativo.

House se preparava para sair do carro. Ele tirou a camisa social que ficava sobre uma camiseta branca estampada. Nessa hora Cuddy olhou para os braços dele, e eram maiores do que ela se lembrava, House estava bem, ele estava saudável e bonito. Cuddy não sentia mais raiva, ou irritação com a presença dele. Ela sentia nostalgia e paz. Sentimentos que ela não se lembrava de sentir nos últimos anos. Tudo era confuso demais em sua cabeça. Rachel, House, Joshua... Como ela poderia sentir essa paz com tudo o que acontecia com a filha? Nessa hora o sentimento mudou e ela entrou em pânico.

"E se algo já aconteceu com Rachel? Eu nunca irei me perdoar".

"Calma Cuddy, vamos pensar positivo". Wilson tentou falar palavras de conforto.

"Eu nunca irei me perdoar!".

"É cedo pra essa discussão. Temos que focar nossos esforços em encontrá-la". Wilson a abraçou.

"Por que você está fazendo isso?". Cuddy perguntou para House.

"Porque é certo. Porque é Rachel". House respondeu.

Cuddy mordeu o lábio inferior e acenou com a cabeça.

"Prontos?". Wilson perguntou quando digitou o número de Theodore e apertou em 'ligar'.


Enquanto isso, do lado de dentro da casa.

Tão logo Cuddy saiu, Theodore desceu para o porão. A menina estava sonolenta por conta das medicações que ele havia aplicado, então Theodore ficou olhando Rachel dormir. Quando ela despertou estava com uma venda na boca e arregalou os olhos ao perceber a presença do homem.

"Logo isso vai terminar, Rachel. Sua mãe ficará feliz quando souber que eu te salvei, ela virá definitivamente pra mim e seremos uma família feliz. Eu odeio crianças, mas prometo que tentarei não te matar". E ele deu um sorriso macabro.

A menina estava apavorada.

"Eu amo Lisa, e só quero que ela me ame de volta. Só isso". O homem dizia. "Eu faria qualquer coisa para Lisa me amar de volta, até dar um filho a ela. Nosso filho! Você ficaria de lado, pois você sabe que não é a filha legitima de sua mãe, certo?".

"Mamãe me ama!".

"Oh, ela diz isso até termos o nosso próprio filho".

"Ela me diz que sou especial".

Ele riu de forma macabra. "Você é uma menina ingênua e inocente. Ela te abandonará quando tivermos nosso próprio filho. Vou providenciar isso com urgência".

"Não! Você é ruim!".

Ele recomeçou a rir.

De repente o telefone de Theodore tocou. Era um número desconhecido.

"Alô!". Ele atendeu.

"Theodore? Nós temos noticia de Theresa". Wilson disse.

Nesse momento ele trancou a porta do porão e se afastou. "O que aconteceu?".

"Você tem papel e caneta?".

"Espere...".

Eles notaram o homem na sala, era possível vê-lo circulando por lá.

"Eu vou entrar!". House disse baixo.

"Espere!". Cuddy puxou o braço dele. "Por favor, traga a minha filha!".

"Eu irei encontrá-la. Nem que eu não saia vivo de lá". Ele falou e saiu rumo à janela na parte de trás da sala.

Cuddy sentiu o peito apertar. Com certeza ela estava tensa por conta de Rachel, mas não só. House correndo perigo a afligia, mas ela bloqueou esse pensamento, Cuddy focou apenas na preocupação com a filha. House era um mero acaso na situação toda.

Ele chegou à janela dos fundos e entrou com cuidado. Cuidado com a perna e para não fazer nenhum ruído. Theodore continuava ao telefone.

"Eu não sou mais casado com ela... Não me interessa se ela morreu".

House tinha que ser ágil. Ele pensou que a maior possibilidade era de que a menina estivesse no sótão ou porão, descer era mais fácil, então ele procurou por uma escada que levasse até lá. No caminho ele se deparou com um retrato de Theodore e Cuddy, nitidamente Cuddy forçava um sorriso na foto, House balançou a cabeça, como ela pode se deixar levar por um monstro manipulador daqueles? Cuddy era tão inteligente. Mas, realmente ela não tinha um bom histórico amoroso.

"Eu não sei... Eu não tenho os números dos documentos dela aqui. Eu preciso procurar, mas estão na minha outra casa". Theodore continuava.

House encontrou uma porta e abriu. Mas era o banheiro. Depois entrou em outra porta, mas era uma despensa de mantimentos. Então Theodore veio em direção a ele. House se escondeu atrás de uma poltrona velha.

"Nós estamos divorciados. Quer dizer... Ainda somos casados no papel, mas...".

House arregalou os olhos, esse sujeito era casado? Realmente, Cuddy escolheu bem.

House notou um acesso no corredor, mas o sujeito estava impedindo a passagem dele. Então ele se esgueirou devagar, mas na hora Theodore se virou.


"Não senhor Theodore, eu tenho algumas perguntas importantes e, sinto dizer, mas o senhor precisa me ajudar, caso contrário teria que reportar a policia que o marido de Theresa não contribuiu com as informações".

"Marido?". Cuddy perguntou baixo e Wilson balançou a cabeça.

Como ela pode se rebaixar tanto? Um sujeito que não era bonito, não era interessante, ele a entediava profundamente, mas ela se enganou acreditando piamente que ele era um homem decente e que homens decentes eram assim mesmo...

O telefone de Cuddy vibrou, ela ignorou. Mas continuou insistente. Era Arlene. Cuddy saiu do carro para atender.

"O que foi?". Ela perguntou em tom de voz baixo.

"O que está acontecendo? Você está escondida de Joshua?".

Cuddy respirou fundo. "Pode-se dizer isso".

"Lisa, o que está acontecendo? O sujeito é um babaca, gordo e entediante, mas ele é seu namorado, não? Você o escolheu, sabe-se lá porque".

"Mamãe, não posso falar agora".

"Por quê? Está fazendo sexo?".

"Não!".

"Imagino que Joshua tenha um pênis tão pequeno que...".

"Mamãe estou no cinema. Depois falamos".

E ela desligou. Arlene nunca gostou de Joshua, diferente de Julia. A mãe dela ainda falava de House, o homem que teve coragem de se posicionar, de enfrentá-la e de tomar uma atitude, já que todos os outros eram uns molengas perto de sua filha.

Cuddy voltou para o carro. Estava demorando muito e ela estava preocupada com Rachel e House, apesar dela negar essa última parte.


House não sabia dizer como Theodore não o viu ali. Mas simplesmente ele ignorou a presença dele, provavelmente Wilson estava fazendo um bom papel em entretê-lo. Então House continuou e conseguiu abrir a porta. Só podia ser aquela porta, pois dava acesso a uma longa escada.

"Ótimo, escadas para um aleijado. Ainda mais na escuridão". Ele falou consigo mesmo.

House começou a descer, era um lugar velho, com odor de mofo, paredes descascadas iluminado por uma leve penumbra que vinha do exterior. Ele tomou cuidado para não cair, já que a visão era muito comprometida. Na parte de baixo ele usou o celular para iluminar e viu Rachel.

Ele andou até ela e a menina arregalou os olhos quando o viu. House sentiu muita raiva por vê-la amarrada e nitidamente dopada. Ele abaixou o lenço que tampada a boca da garota.

"House!".

"Shhhh... Não fale nada Rachel, ok?".

"OK".

"Shhhhhh... Não fale nem ok".

"Ok. Oh, desculpe".

"Vamos sair daqui. Eu vou te desamarrar e você vai comigo sem fazer nenhum barulho sequer".

A menina balançou a cabeça. Ela estava assustada, House podia dizer que Cuddy gastaria muito dinheiro com terapia infantil. E adulta, já que ela também precisaria se cuidar.

Eles começaram andando, subindo as escadas. House na frente e Rachel grudada nele.

"Não solte de mim, mantenha-se abraçada a mim". Ele disse preocupado com o estado dela, já que Rachel havia sido medicada sabe-se lá com o que.

House ouviu Theodore falando ao telefone distante.

"Vamos!".

Ele abriu a porta e puxou Rachel. Depois o desafio seria chegar à saída. Ele olhou a janela e seria por ali, não haveria outra maneira. Chegando lá ele ajudou Rachel a sair e depois ele mesmo ultrapassou a barreira. Estavam fora.

"Vamos engatinhando pra que ele não nos veja".

Começaram a engatinhar, avistaram o carro e Wilson e Cuddy os visualizaram.

"Oh meu Deus! Eles!". Cuddy falou alto.

"Quem é? Lisa?". Theodore ouviu do outro lado da linha e estranhou a voz conhecida.

Então ele olhou pela janela e viu Rachel e House engatinhando a caminho de um carro estacionado.

"Filhos da puta! Me enganaram!".

Ele desligou o telefone rapidamente e foi para o quarto.


"Lisa, não fale... Ele te ouviu!". Wilson disse desesperado.

"Desculpe, foi o impulso".

"Oh Deus, ele desligou! Temos que tirar House e Rachel daqui agora!". Wilson saiu e foi ao encontro dos dois. Cuddy também.

De repente Theodore apareceu na porta de casa com uma espingarda.

"Filhos da puta!". Ele atirou, o barulho ressoou tão alto que toda a pequena vizinhança ouviu. Rachel levantou-se e correu para a mãe, ela a abraçou quando chegou. Cuddy queria protegê-la. "Você está bem querida? Dói em algum lugar?".

A menina balançou a cabeça negativamente.

Wilson continuou correndo para encontrar House, mas ele notou que o amigo retardou os passos e sangue, muito sangue.

Continua...