Capítulo 10 – Nada é normal
De repente o celular vibrou e House olhou imediatamente.
Eu te quero!
C
Ele ficou ruborizado.
"O que ela te respondeu?". Wilson perguntou notando a reação do amigo.
"Nada...".
"House, você nunca fica assim... vermelho".
"Eu não estou vermelho".
"Você está!".
"Eu estou com sede. Preciso ir". Ele mentiu e levantou-se rapidamente.
"House, o que aconteceu?".
Mas ele ignorou Wilson e seguiu para o elevador.
O que Cuddy queria dizer com aquilo? 'Eu te quero?', o que aquilo queria dizer exatamente?
House não voltou para a sua sala, ele subiu até o telhado para pensar. E ficou ali por uma hora, pareceu quinze minutos. Então ele respirou fundo e respondeu.
Cuddy terminou seu almoço e voltou para a sua sala. Ela só conseguia pensar em House, o tempo todo. Ela tinha que ser sincera sobre o que sentia, ela escondeu o sentimento por três longos anos. Então ela digitou.
Eu te quero!
C
Respirou fundo e enviou.
Depois disso Cuddy suava frio sem ter ideia de qual seria a reação de House. E nada de resposta chegar...
Ele tinha uma reunião importante para participar, mas estava sem cabeça. Ela deixou o telefone de lado e recebeu dois executivos importantes. Estavam conversando, Cuddy tentando se concentrar ali, mas seus olhos fugiam toda hora para encarar o visor de seu celular. Até que, um pop-up anunciou uma mensagem recebida. O coração de Cuddy quase saiu pela garganta.
"Desculpe-me é da escola de minha filha". Ela mentiu e pegou o celular.
Eu sempre te quero! H
Cuddy sorriu e tentou voltar sua atenção para a conversa, mas era difícil se concentrar. O homem que ela amava a queria, ela não pensava em outra coisa nos últimos dias, ela só queria tê-lo. Quando a reunião terminou Cuddy respirou fundo e mandou a mensagem.
Eu estarei em Princeton no final de semana, sozinha. Rachel ficará com Dora. Você tem um espaço pra mim no seu apartamento? C
House recebeu a mensagem e quase desmaiou. Ela, Lisa Cuddy, sairia de Cleveland para encontrá-lo em seu humilde apartamento em Princeton?
"O que foi?". Taub perguntou vendo o rosto de House mudar ao ler a mensagem.
"Nada aconteceu, grande pigmeu. Nada além das alegrias surpreendentes desse mundo".
"O quê?". Todos os membros do time olharam para ele. House, que estava extremamente mal humorado antes, agora era a alegria em pessoa?
"Vocês tiraram sangue do paciente?".
"Sim. Você já viu os exames...". Adams disse.
"Ah é verdade. Então façam mais exames!".
House saiu e todos ficaram sem entender. Pois eles já tinham dados suficientes para o diagnóstico.
Cuddy mandou a mensagem e ficou apreensiva, House encararia aquilo como um passo muito ousado? Ele se afastaria bruscamente? Ela esperou longos quinze minutos para receber a resposta.
Sempre há espaço para você. Te espero sexta? Sábado? H
Ela sorriu aliviada e excitada. Ainda bem que ele encarou positivamente, pois ela já havia até reservado o voo.
Voo reservado para sexta-feira. Chegarei à sua casa perto das oito horas da noite. Deixe o jantar pronto! C
House sorriu ao receber a mensagem. Sexta-feira, isso queria dizer que ela estava ansiosa, nem esperaria pelo sábado.
O ravióli estará à sua espera. H
House sabia que era um dos pratos preferidos dela.
Cuddy mordeu os lábios quando leu, ele não se esqueceu das preferências dela. Cuddy respirou fundo, difícil seria esperar até sexta-feira.
Quando ela chegou em casa avisou a filha que ela passaria o final de semana com Dora. Cuddy havia ligado para Dora e combinado tudo. A menina ficou feliz, ela gostava muito da vizinha e de sua filha.
Depois Cuddy foi tomar um banho feliz e ansiosa como uma adolescente.
House estava ansioso para sexta-feira. Ele não sabia o que esperar. 'Eu te quero' era algo muito vago.
"Cuddy disse isso?". Wilson reagiu espantado quando House contou as novidades.
"Sim".
"Wow!".
"O que isso quer dizer exatamente?".
"Que ela te ama!".
"Não, ela não disse isso".
"Mas está implícito".
"Pra você que é um homem romântico e iludido".
"O que você acha que quer dizer então?".
"Não sei. Ela pode querer o meu corpo apenas".
"E isso seria ruim?".
"Isso nunca é ruim, mas não é o que eu espero".
"E depois eu que sou o romântico?".
"Eu tenho sexo com qualquer mulher, com Cuddy é diferente".
"Você quer um relacionamento? Ou... Com Cuddy você não faz sexo. Faz amor doce amor!". Wilson zombou dele.
"Nós não nos saímos muito bem na última tentativa de relacionamento".
"Vocês mudaram, o tempo passou".
"Algumas coisas nunca mudam".
"Seja positivo, Cuddy vai deixar tudo pra trás e vir te ver".
"Esse é meu medo".
"O que você teme?".
"Que ela se decepcione".
"House, ela te conhece...".
"Por isso mesmo".
Naquela noite ele estava em casa pensativo e alguém bateu à porta. Ele olhou no relógio e era quase dez horas da noite. House se levantou e foi ver quem era.
"Tina?".
"Surpresa?".
"Sim".
Ela entrou sem pedir autorização.
"Soube que você levou um tiro".
"Sim".
"Não soube por você, já que você sumiu...".
"Eu estive ocupado".
"Com a sua ex-namorada?".
Ele olhou pra ela. "Tina, nós não temos um relacionamento".
"Greg, estamos juntos há algum tempo".
"Juntos é um tanto quanto contraditório".
"O que você considera então o que temos?".
"Uh... Um não relacionamento com sexo?".
"Você acha que é só isso?".
"Sexo nunca é algo para desvalorizarmos".
"Eu quero mais!".
"Tina, eu não posso fazer isso".
"Por que você ama a sua ex-namorada?".
"Porque eu não te amo".
Tina começou a fazer cara de choro. "Você está jogando o que temos pela janela".
"Desculpe".
Ela passou como um raio e saio. Minutos depois House ouviu novas batidas na porta.
"Eu esqueci de pegar minhas coisas". Era Tina novamente. Ela entrou e juntou algumas coisas que estavam na casa dele: escova de dente, xampu, peças de roupas.
"Adeus!".
"Adeus!".
House respirou fundo, essa era uma das razões que o fizeram ficar longos anos longe de relacionamentos.
Cuddy contou todos os últimos acontecimentos para sua terapeuta.
"E o que você espera que aconteça no final de semana?".
"Não sei. Não cheguei tão longe...".
"Eu tenho certeza de que você imaginou vários prováveis cenários".
Cuddy corou. "Eu não sei como ele vai reagir".
"Reagir ao que exatamente?".
"A mim".
"Você vai chegar lá e vai dizer o que?".
"Não sei...".
"Pois é bom que você saiba".
"Eu não sei... Talvez possamos não falar muito".
"Você acha que vocês farão sexo?".
"Sim".
"Por quê?".
"Porque o sexo entre nós sempre foi uma coisa fantástica e nós temos muita atração mutua. Sempre acaba acontecendo".
"E você acha que sexo por si só resolveria tudo?".
"Não".
"Então...".
"Eu não sei".
"Lisa, você vai até ele, imagino que ele deva esperar alguma coisa, algumas palavras, alguma decisão".
Ela estava confusa e pensativa.
"Você ama Gregory?".
Cuddy nada respondeu.
"Você sente atração por ele?".
"Sim". Ela respondeu rapidamente.
"Mas você tem sentimentos por ele?".
"Com certeza".
"Você consegue definir seus sentimentos?".
"Não... Eu... A falta dele me faz mal. Eu sinto que uma parte de mim está ausente. Eu o quero!".
"Isso não é o suficiente".
"Eu não sei! Eu não tenho o direito de simplesmente não saber depois de tudo o que houve? Eu só quero estar perto dele".
"Lisa, ele é uma pessoa com sentimentos. Você não pode feri-lo para descobrir os seus".
A semana estava se arrastando e isso era bom e ruim ao mesmo tempo. Bom porque eles precisavam pensar e entender o que sentiam e esperavam um do outro. Ruim porque a expectativa só crescia.
Finalmente sexta-feira chegou. Cuddy mal conseguiu trabalhar naquele dia. Na noite anterior ela fez a mala e, por via das dúvidas, ela colocou as melhores lingeries na mala. Todas haviam sido compradas depois do término conturbado de namoro com Theodore, quando ela resolveu voltar a cuidar de si.
"Dra. Cuddy".
"Sim Gina".
Ela era a secretária do CFO.
"Você participará do evento de caridade amanhã?".
"Oh não, eu havia avisado Thomas de que tenho um compromisso".
"Oh, mas é importante".
"Eu sei, mas meu compromisso também é. Estarei fora da cidade".
"Que pena!". A mulher disse só da boca pra fora, pois ela odiava Cuddy.
"Mas a doutora participará da festa de gala de aniversário do hospital no mês que vem?".
"Sim, não perderei essa por nada". Cuddy deu um sorriso simpático.
"Ok. Boa viagem!".
"Obrigada".
Perto das cinco horas da tarde Cuddy deixou o hospital, ela tinha um voo para pegar.
"Eu não sei o que há com ela, mas Lisa Cuddy está simpática". Gina comentou com outra secretária.
"E linda! Reparou nas roupas dela? Na pele dela? No cabelo?".
"Eu não a acho tão bonita assim...". Gina respondeu irritada.
"Oh, então você está cega".
Gina ficou ainda mais irritada.
House havia limpado toda a casa no dia anterior. Ele também fez compras para o jantar e para ter a geladeira cheia de coisas que Cuddy gostava. Na sexta ele chegou em casa perto das seis horas e começou imediatamente a cozinhar. Ela chegaria em duas horas aproximadamente. Quando estava tudo quase pronto ele foi tomar banho, aparou a barba, usou a melhor loção pós-barba que tinha, colocou sua melhor boxer. Mas ele não queria parecer muito pomposo, então ele manteve o cabelo desgrenhado, afinal, ele sabia que Cuddy gostava assim. Depois colocou uma camisa passada (sim, ele passou a camisa) e uma calça jeans. Ele arrumou a mesa, ajeitou o sofá e alguém bateu à porta. Ele respirou fundo, olhou para o relógio: Dez para as oito. Ele foi atender.
"Tina?". Ele respondeu surpreso e frustrado.
"Eu tenho que falar com você".
"Não, você não tem".
"Sim, eu tenho".
"Não tem. Eu estou ocupado". Ele tentou fechar a porta.
"Você está com uma mulher? Eu sinto cheiro de comida. Você cozinhou pra ela?".
"Sim".
"Você nem esperou a cama esfriar?".
"Não fazemos sexo há pelo menos três semanas. Já está bem fria".
"Seu filho da puta!".
"House!".
Era Cuddy.
"Oi".
"É ela? A sua ex-namorada?".
"Cuddy essa é Tina e ela está de saída".
Cuddy sentiu o peito rasgar. O que aquela mulher fazia ali? Ela esperava algo romântico, mas isso? Encontrar a namorada dele na casa dele?
"Você roubou o meu namorado?". Tina perguntou agressivamente.
"Eu não...".
"Eu nunca fui o seu namorado". House contestou. "Vamos Cuddy, entre!".
"Não sei se é uma boa ideia".
"Claro que sim. Tina chegou agora, mas já está de saída".
"Não, eu não estou!". Tina disse possessiva.
"Eu vou deixar vocês dois". Cuddy disse voltando para o taxi.
"Cuddy!".
Mas era tarde, ela entrou no taxi e partiu.
"Olha o que você fez!".
"Bem feito". Tina respondeu vitoriosa.
"Tina, eu e você: acabou. Entende?".
"Você e ela também, ela é a sua ex-namorada, não atual namorada".
House empurrou Tina para fora e fechou a porta.
"Você me agrediu!".
Ele nada respondeu.
"Você me empurrou!".
House balançou a cabeça. Ele tentou ser o mais educado possível e tinha certeza que não a havia machucado e nada assim.
"Seu bruto! Filho Da puta!".
A mulher ficou ainda algum tempo na porta na expectativa de House abrir. Mas eventualmente desistiu.
Cuddy, Tina nunca foi minha namorada, eu já havia deixado claro que não tínhamos mais nada, ela apareceu aqui sem eu esperar. Volte, por favor! O ravióli vai esfriar. H
"Para onde senhora?". O taxista perguntou.
"Para qualquer bar aqui perto". Ela disse ao taxista, Cuddy só queria sair de lá imediatamente.
"Ok".
Cuddy parou em um bar onde costumava ir com House quando namoravam. "Que ironia!". Ela disse para si mesma enquanto se escorava no balcão.
"Por favor, um gim com tônica".
Ela foi servida e começou a beber. Cuddy estava com a mala ao lado.
"Você foi expulsa de casa?". O garçom perguntou gentil.
"Pode-se dizer que eu viajei por livre e espontânea vontade".
"Você costumava vir aqui com aquele sujeito alto, não?".
"Sim". Ela respondeu triste.
"Vocês ainda estão juntos?".
"Não".
"É uma pena, pois vocês pareciam muito apaixonados".
Ela riu. "Nem só de paixão vive o relacionamento".
"Raramente vejo casais tão apaixonados assim".
"Você pode me servir um Dry Martini agora, por favor?".
"Claro que sim".
"Na verdade House é um homem incorrigível. Quando você acha que ele mudou, ele prova que não...".
"Ele deve ter te decepcionado muito".
"Acho que fui eu quem criou expectativas demais".
"Vocês terminaram hoje?".
Ela riu. "Não, há três anos".
"O quê? E só hoje você deixou a casa?".
"Na verdade não... É complicado... Mas ele... Ele sempre consegue me afetar, não importa. Sempre!".
"Isso é porque você é ainda apaixonada por ele".
"Eu?".
"Com certeza".
"Continue mandando as bebidas". Ela pediu e ele obedeceu.
Cuddy olhou o celular e viu a mensagem dele. "Ele estava com outra...".
"Oh, ele te traiu?".
"Não exatamente".
"Desculpe, mas... Qual foi o problema entre vocês afinal?". O garçom perguntou confuso e curioso.
"Ele entrou na minha casa com o carro dele, e literalmente. Depois foi preso e salvou minha filha de um sequestro. Ele tomou um tiro por ela".
O garçom pensou que Cuddy já estava bêbada. Ou que tinha algum problema sério.
"Ok, talvez seja melhor parar a bebida".
"Não, eu mal comecei".
E Cuddy continuou falando de House pelos próximos vinte minutos enquanto bebia.
"É o seguinte senhorita, você é completamente apaixonada por esse sujeito: House, e você deveria estar na casa dele agora, não aqui. Poucas vezes eu vejo alguém tão apaixonada, não desperdice isso".
Ela franziu a testa. "Ele estava com outra".
"Pelo que você me disse ele estava expulsando outra... É diferente. Ele tem culpa se a mulher apareceu na casa dele?".
"Pensando por esse lado...".
"Você quer que eu chame um táxi pra você?".
"Sim, por favor". Cuddy falava com dificuldades.
"Vamos, eu te ajudarei".
Cuddy entrou no táxi e pediu para ser levada até o endereço dele. Quando chegou o taxista ajudou com a mala e ela bateu à porta. Era onze e meia da noite.
House, que esteve em agonia durante todo o tempo, foi atender.
"Cuddy?".
"Eu preciso falar com você".
"Você está bêbada!".
"Você quer brincar de falar o obvio?". Ela entrou e se jogou no sofá.
"A mala dela senhor". O taxista disse entregando-a para House.
"Oh ok".
"Meu pagamento?".
House olhou ao redor, onde estaria a carteira dele. "Só um momento". Ele foi pegar o dinheiro enquanto Cuddy estava deitada no sofá. Depois ele voltou.
"Cuddy, o que houve?".
"Eu bebi...".
"Oh sério?". Ele perguntou sarcástico.
"Eu preciso falar".
"Ok".
"Eu não posso mais negar o fato".
"Fato?".
"Que eu sou completamente apaixonada por você".
Ele segurou o sorriso. Ele sempre amou Cuddy bêbada quando estavam juntos. Ela ficava relaxada, sincera e, as vezes, até um pouco chata, mas era o preço a pagar para vê-la assim. Uma mulher que não saia da linha, que mantinha-se firme o tempo todo, era sempre interessante ver a transformação quando havia bebida em seu organismo.
"Ok. Continue...".
"Eu amo tudo sobre você. Eu amo o seu rosto, amo sua barba, seus olhos azuis, sua língua, oh sim, eu amo a sua língua, definitivamente".
Ele sorriu.
"Eu amo como você me toca, eu amo a sua voz, eu amo o seu cheiro, sua pele, eu amo como você pensa, sua inteligência, seu senso de humor. Eu amo como você e Rachel interagem. Eu amo como você me fode".
"Eu acho que gostei disso, sobretudo dessa última parte".
"Então venha pra mim. Eu te quero!". Mas Cuddy virou para o lado e vomitou no tapete de House. Ele foi ajuda-la.
"Ok, você precisa descansar".
"Eu te quero!".
"Amanhã...".
"Agora!". Mas assim que ela disse isso dormiu. House sorriu. Nada era normal e simples pra eles afinal.
Continua...
