Capítulo 15 – Uma noite para se lembrar
Quando Julia voltou a si ela não podia acreditar que havia levado um tapa na cara de sua irmã. Cuddy sempre se controlou, mesmo quando eram crianças ou adolescentes. Julia sempre a provocava e Cuddy saia-se muito bem.
Brian, marido de Julia, tentou partir pra cima de Cuddy. House entrou no caminho.
"Ei! Vamos parar já com isso!". Arlene disse em tom de voz maternal, como se educasse duas meninas briguentas.
Wilson se aproximou quando ouviu a confusão.
"É inadmissível que isso aconteça durante a cerimônia de Purim". Arlene continuava repreendendo as filhas.
"Ela me bateu mãe". Julia reclamou ainda em choque.
"Você não é completamente santa Julia, e finalmente sua irmã tomou alguma ação para defender o macho dela".
Todos ficaram surpresos e House queria rir. Mas se segurou.
"Mamãe!". Julia protestou.
"Vamos já parar com esse clima. O banquete está servido. Encham a boca com comida e não com porcaria". Arlene esbravejou e partiu em direção a mesa farta.
"O que houve?". Wilson perguntou em tom de voz baixo para House.
"Cuddy deu um direto de direita no rosto de Julia".
"Ela deu um soco na irmã?". Wilson arregalou os olhos em choque.
"Não exatamente...".
"Ufa!".
"Foi mais um tapa mesmo".
"O quê? É sério?".
"Sim".
"E eu perdi isso?".
"Wilson... Você sempre perde o melhor da festa".
O marido de Julia a arrastou dali. Cuddy veio em direção a House. Ela tremia.
"Vá comigo até o jardim".
"Claro!".
Eles caminharam até lá. House notou que Cuddy estava muito abalada com tudo. "Desculpe!".
"Por quê?". House perguntou confuso.
"Porque eu não me contive".
Ele a abraçou forte. Cuddy chorou em seu ombro.
"Você se conteve a vida inteira quando o assunto é a sua família. É bom deixar ir as vezes".
"Não assim...".
"Ok, foi um tanto dramático e teatral, mas passos de bebê".
Ela riu entre lágrimas.
"Lisa Cuddy, eu te amo muito! Saiba disso".
Cuddy sorriu e ele enxugou uma lagrima que caia de seu olho esquerdo.
"Obrigado por me defender, eu sei que não é uma tarefa fácil". Ele falou.
"Eu sei que você errou muito, eu também errei. Ninguém tem o direito e ficar apontando nossos erros e falhas, isso só cabe a nós dois". Ela respondeu.
"Julia falou o que falou, outros também falaram o que falaram. Não quero que isso te perturbe a ponto de você se expor assim". House disse.
Ela acenou com a cabeça.
"Julia mereceu o tapa. Vai Cuddy! Mas... Eu não quero que você precise recorrer a isso pra me defender. Você não precisa me defender, deixe que falem, eu não ligo pra eles, eu só ligo pra você".
"Não! Eu não admito que falem de você. De nós!".
"Cuddy, muitos vão falar, nossa história não é exatamente simples. Somos pessoas interessantes e chamamos a atenção".
Ela sorriu.
"Se você não ligar pra essas pessoas, nós ficaremos bem. Eu prometo que aprendi, não vou mais entrar nas casas de ex-namoradas com o carro".
Ela riu e deu um tapa leve no braço dele. "Não fale assim!".
"Eu falei algo bom. Não vou mais entrar em casa nenhuma com o carro".
"Seu bobo!". Ela o puxou para um beijo. "Eu te amo! Eu não admito ninguém falando nada sobre você".
"Então você terá muito trabalho pela frente".
Ela sorriu e o puxou novamente para um beijo, dessa vez mais demorado.
"Ei!". Uma voz se fez ouvir. "Parem com a putaria e venham comer! Vocês precisam se alimentar porque eu sei que essa noite terão muita atividade".
Eles quebraram o beijo e Cuddy enfiou a cabeça no pescoço dele.
"Diga que não é a minha mãe".
"Não é a sua mãe!".
"Sério?". Cuddy olhou depressa e viu Arlene a porta.
"É a minha mãe!".
"Sim, mas você me disse pra eu dizer que não era...".
"Oh... Cale-se!". Ela falou bem humorada e o puxou pela mão.
"Ok Arlene. Ok!". Ele respondeu e a senhora riu. Ela gostava daquele sujeito, apesar de tudo.
Eles entraram e se sentaram a mesa. Julia e Brian estavam na ponta oposta, o que foi um alivio para House e Cuddy. Wilson estava perto deles.
"Está tudo bem?". Wilson perguntou preocupado.
"Tudo certo". Cuddy o tranquilizou.
Wilson continuou olhando desconfiado.
"Tudo certo Jimmy. Minha mulher só defendeu a minha honra".
Cuddy começou a rir alto, Wilson e House a seguiram. Os três não conseguiam se controlar e chamaram a atenção de todos os presentes.
"Que absurdo!". Brian resmungava.
"Ok, eu só queria saber o que é tão engraçado pra rir também". Lia, prima de Cuddy, disse.
"Eles são jovens e felizes, quem pode culpa-los". Tia Eva falou.
"Isso é no mínimo falta de educação com nossa cultura milenar". Brian continuava instigando os presentes.
"Ok Brian, eu nunca te disse nada em respeito a minha irmã, mas você é chato demais!". Cuddy disse e House não conteve a risada.
Wilson arregalou os olhos prevendo o pior.
"Lisa!". Julia a repreendeu.
"Já que estamos no clima da sinceridade, eu achei melhor deixar as coisas claras". Cuddy falou.
"E você é uma...".
"Diga mais alguma coisa e você estará fora dessa mesa pra sempre!". Arlene disse para Brian que olhou espantado para a sogra.
"Essa é a minha família e não é perfeita. Você é o marido de Julia e está longe de ser perfeito. House é... alguma coisa da Lisa, House deveria ser o marido, mas não é, assim como ele também não é perfeito. Melhor nos aceitarmos assim e seguirmos com a hipocrisia familiar natural". Arlene falou e House não se conteve, ele levantou uma taça de vinho.
"Um brinde a família Cuddy!".
Wilson queria morrer com a atitude dele.
Mas Arlene sorriu e também levantou sua taça. Os demais a seguiram e todos brindaram, exceto Julia e seu marido.
"Mamãe, é esse o louco endemoniado que quase te matou?". Jacob, filho mais velho de Julia, perguntou.
"Filho, depois conversamos".
"Ei... Filho de Julia". House falou.
"Jacob". Cuddy disse.
"Jacob, eu sou Gregory House e me desculpe se fiz algo perigoso que assustou a sua mãe".
"Assustou-me? Você está de brincadeira". Julia respondeu.
Nesse momento House se levantou. Cuddy tentou contê-lo pelo braço, mas não conseguiu.
"Eu gostaria de dizer algumas palavras a toda a família Cuddy".
Cuddy arregalou os olhos.
"Show time!". Wilson disse enquanto bebia todo o cálice de vinho.
"Eu tive uma vida muito difícil desde cedo, não financeiramente, mas emocionalmente. Eu não vou entrar em detalhes porque não vem ao caso e porque... dói".
"Ah pode falar tudo!". A tia Anna disse divertida.
"Cala a boca Anna". Arlene falou na expectativa.
"Eu nunca tive uma família realmente unida como a de vocês, e depois... meu problema na perna...". House se emocionou.
Wilson franziu a testa e encheu o copo com mais vinho.
"Eu simplesmente tinha muitas dores, fortes e excruciantes dores e a única coisa que me dava um alivio eram os remédios. Com o tempo, sim... Eu fiquei fisicamente dependente, pois era a única coisa que resolvia o problema e ninguém gosta de sentir dor, não é mesmo?".
"Não". Jacob respondeu impressionado com a história.
"Então eu peço desculpas se me excedi, mas tudo estava tão confuso em minha vida e em minha mente... Nada justifica meus atos, nunca vou me redimir completamente, mas gostaria da chance de tentar".
Cuddy não reconhecia a pessoa dizendo aquelas palavras.
"Eu realmente amo Lisa e quero ser o homem para ela, mas preciso da ajuda de vocês pra isso. Sei o quanto a família e o judaísmo são importantes para ela, eu só gostaria que me dessem outra oportunidade para mostrar que mudei".
Muitos estavam emocionados a mesa. Julia inclusive. Brian não estava nada convencido.
"Você mente!".
House se emocionou. "Desculpe. É natural que duvidem de mim".
Wilson não parava de beber, ele estava quase aplaudindo a encenação do amigo. Cuddy estava sem palavras tentando entender tudo.
"Você merece uma segunda chance. Todos merecem!". Tia Anna falou emocionada e foi abraçá-lo. Depois várias outras pessoas fizeram o mesmo.
"Obrigado pelo voto de confiança, prometo que não os desapontarei". House disse.
"E eu que pensei que viria um pedido de casamento ao invés dessa babaquice". Arlene fofocou pra ele.
"Aparentemente funcionou". House fofocou de volta.
"Tenho que concordar que você é uma raposa esperta". A mulher disse orgulhosa fazendo House sorrir.
Comeram a sobremesa e em seguida Cuddy puxou House para fora de casa.
"O que foi aquilo?".
"Arte?".
"Você mentiu".
"Não totalmente".
"Qual parte daquilo não foi mentira?".
"Que eu te amo".
Ela tentou conter um sorriso e balançou a cabeça.
"Eu não quero mais mentir ou me justificar para a minha família House, eu só quero viver em paz com as minhas escolhas independente do que eles sintam ou pensem".
"Cuddy, eu sei que em longo prazo você se arrependeria de mim. De nós... Melhor assim. Não me custou nada dizer o que eu disse".
"Você mentiu".
"Eu disse, não totalmente. Eu realmente tive uma infância difícil emocionalmente, realmente tive o problema da perna e doía como o inferno, as vezes ainda dói muito. Vicodin era o que aliviava e eu me tornei dependente dessa sensação. Eu realmente sinto muito pelo que fiz e... eu realmente te amo mais do que tudo na vida. Talvez... Rachel esteja por perto no quesito sentimento".
Os olhos de Cuddy se iluminaram. "Você ama Rachel?".
"Claro que sim. Como você pode duvidar?".
Cuddy abriu um largo sorriso e o abraçou. "Eu amo que você ame Rachel".
Ele sorriu. "Estamos bem?".
"Sim, seu bobo. Só não precisa mentir por isso, eu estou bem com você e não vou me arrepender em longo prazo".
House respirou fundo.
"Ei... Você merecia o Oscar". Wilson se aproximou com a taça de vinho em mãos.
"E você vai ficar tão bêbado que vai sair na rua só de cueca". House respondeu de volta.
"Purim está mais interessante do que imaginei, mas para lidar com algumas coisas, só com álcool no sangue".
"Wilson, você não acha que bebeu demais?". Cuddy perguntou preocupada.
"Não é como se eu fosse beijar a sua tia Anna de tão bêbado". Wilson disse rindo por conta da embriaguez.
"Wilson chega!". Cuddy tirou a taça de vinho dele.
"Ei!". Ele tentou protestar.
"Ela está te fazendo um favor. Anna pode não gostar porque perderá a chance de pegar nas suas bolas, mas você agradecerá Cuddy depois".
"Eu não...".
"Vamos pra dentro... Está frio". Cuddy abraçou House e puxou Wilson pela mão.
Assim que entraram Rachel veio correndo em direção a House.
"House, House...". A menina estava o tempo todo tentando chamar a atenção dele.
"Ei...".
"Meus primos querem te conhecer. Eles querem saber se você usou um trator para quebrar a parede de nossa casa".
Cuddy arregalou os olhos e House olhou pra ela pra tentar entender se ela estava constrangida.
"Vá House! É bom esclarecer as coisas com as crianças. Mas... Cuidado!".
E ele foi.
House virou o herói das crianças. Eles o adoraram. House era divertido, fazia vozes engraçadas e era muito inteligente. Julia estava mais serena depois do discurso dele, mas Brian seguia incomodado.
"Ele é um mentiroso!".
"Mas minha irmã deixou claro que ficará com ele, temos que aceitar".
"Sério Julia?".
"O que eu posso fazer?".
"Não sei... A família é sua!".
Quando viram os filhos com House, Brian perdeu as estribeiras.
"Ei... Saia de perto dos meus filhos agora!".
"Brian!". Julia tentou contê-lo.
"Relaxa Nian, eu só estou conversando com as crianças". House falou.
"É Brian!". Ele o corrigiu.
"Oh me desculpe por isso também então Lian".
O homem pensou em atacar House, mas Arlene chegou bem na hora.
"Brian porque você não vai comer um pouco de Oznei Haman, você precisa de um pouco de doce pra adoçar a sua vida. Vá com ele Julia".
E eles foram. Poucas pessoas ousavam contestar Arlene.
"Vejo que você não convenceu Brian".
"Uh... Não devo ganhar o Oscar esse ano então".
Arlene continuou séria. "Eu sei que você quis dizer tudo aquilo".
House olhou pra ela.
"Com outras palavras, mas quis dizer aquilo".
"Você é otimista".
"Eu sou realista e observadora".
"Há controvérsias".
"Você é o homem certo pra Lisa e Rachel. Só... Se lembre de que essa é a última chance de fazer direito".
"Se eu fizer algo errado você vai me mandar comer Oznei Haman?".
"Não. Eu chamarei um Mohel e pedirei pra ele cortar um pouco mais abaixo do que uma circuncisão normal".
"Uau! Você sabe como assustar um homem".
Ela riu sarcástica. "Você tem sorte que eu gosto de você".
"Por que eu salvei a sua vida?".
"Porque você faz bem a Lisa. E Rachel". Ela o encarou e saiu.
Antes de irem embora naquela noite, House e Cuddy precisaram acordar Wilson que dormiu estendido no sofá.
Continua...
