Casal: AyaxKen

Classificação: Yaoi, Lemon, Angst

Nota: Esta história é dedicada inteiramente a minha coisa rosa querida Lilik.

Anos Vazios - Primeira Parte

- Encomenda para Hidaka-san! – disse o carteiro, após bater levemente na porta de vidro da Koneko. Todos os presentes na floricultura viraram seus olhos para o homem, principalmente três deles.

Ken achou muito estranho. Desde que entrara para a Kritiker, ele fora considerado 'morto'. E agora ele tinha uma encomenda? Com cautela ele pegou o pequeno pacote das mãos do homem e assinou o formulário, despedindo-se dele. Yoji se aproximou com um ar sério.

- Estranho não?

- É... – disse revirando o pacote e arregalando os olhos quando viu o remetente.

- O que foi Ken? – disse o loiro após ver semblante do jogador.

- N-nada... é, Yoji, você pode cuidar das minhas tarefas por alguns minutos? – sem esperar a resposta, o moreninho desapareceu porta adentro, subindo em direção os quartos.

Aya apenas observou o outro desaparecer pela porta e então encarou o playboy arqueando a sobrancelha.

- Não tenho a mínima idéia do que se trata. – disse Yoji, vendo a dúvida implícita nos olhos do espadachim.


Ken entrou no quarto e trancou a porta com cuidado, sem querer que ninguém entrasse lá por ora. Ele então se sentou na cama e começou a abrir o pacote. Dois objetos caíram em seu colo: um álbum de fotografias e uma carta. Pegando a carta, que estava meio amarelada, começou a ler:

"Gostaríamos de informar ao senhor Hidaka Ken que sua avó, de nome Hidaka Chiori acaba de falecer, devido a complicações cardíacas. Como desejo da paciente, entregamos os seguintes itens no endereço em mãos.

Atenciosamente,

Hospital Kataori".

Suas mãos tremeram enquanto mil perguntas rodavam sua cabeça. Sua avó morrera? Quando? E o mais importante? Como ela sabia que ele estava vivo e onde morava?

O moreninho tinha uma afeição profunda pela avó. Desde que seus pais haviam morrido quando tinha apenas dois anos, fora ela quem o criara e o educara. Doera mais do que nunca quando tivera que fingir sua própria morte, sabendo que aquilo significava nunca mais vê-la.

Ken limpou algumas lágrimas que se acumulavam no canto de seus olhos verdes e então pegou o álbum e abriu. A primeira foto já o abalou: Havia uma mulher, de olhos verdes iguais ao dele e um homem que era sua cara, tirando os olhos. Eles seguravam um bebê, que ele tinha certeza que...

- Meus pais... – sussurrou passando os dedos pela fotografia, acariciando aqueles rostos que não se lembrava, por terem morrido cedo demais.

Foi folheando o álbum, vendo fotos de seus pais mais jovens, de fotos do casamento deles, tudo que nunca vira na casa da avó quando ainda morava lá. No último plástico, porém, estava um papel guardado, nenhuma foto. Curioso, ele pegou o papel e viu se tratar de um bilhete. A letra curvada reconheceu como sendo de sua avó. As palavras escritas tiraram seu ar.

"Sei o que fez. E o perdôo. Só espero que na escuridão você ache a pessoa que lhe faça feliz".

Um soluço foi acompanhado de outro enquanto Ken abraçava o álbum.


Os três estavam sentados na mesa da cozinha, com semblantes que variavam do tédio, para a preocupação até curiosidade.

- E ele não desceu desde então? – disse Omi, já informado do acontecimento estranho daquela tarde.

- Não. – disse Yoji, fumando um cigarro distraidamente.

- Acho melhor vermos o que aconteceu. – disse Aya. Os dois loiros o encaram com surpresa. O ruivo arqueou a sobrancelha – Que foi?

- Você... realmente está preocupado... com um de nós? – disse o ex-detetive.

O ruivo lhe deu um ar gélido.

- Já que vocês não se movem, eu mesmo vou ver o que houve. – disse, ignorando o comentário do mais velho.

Após o líder sair, Yoji colocou a mão no queixo, pensativo.

- Aí tem...

- Como assim Yoji-kun?

- Acho que algo vai acontecer nessa casa. – disse apenas, terminando de fumar.


O moreno ouviu as batidas leves, mas nem se dignou a responder. Ele estava perdido num mundo de lembranças, de remorso e principalmente saudade.

Sua avó sabia! Mas como? E como o achara? E por nunca viera atrás dele, pedindo respostas?

A batida voltou, um pouco mais forte. Ele bufou, irritado. Sua voz saiu rouca por causa do choro de horas antes.

- O que foi!

Aya se assustou um pouco com a voz do outro. Parecia que andara chorando por horas... ele franziu a sobrancelha e respondeu.

- É o Aya. Queremos saber quando você vai sair daí.

- Vai embora!

O ruivo suspirou impaciente.

- Vai abrir a porta ou eu vou ter que abri-la a força?

Apenas o silêncio o respondeu. Sua paciência, que já era pouca, se esgotou. Ele ia arrombar a porta quando ela abriu bruscamente, fazendo ele dar de cara com o moreno.

Ken parecia ter apanhado. Seus olhos verdes estavam inchados e vermelhos. Seu rosto todo estava marcado e seu cabelo bagunçado. O espadachim sentiu algo fisgar em seu coração ao vê-lo daquele jeito.

- Já abri. Satisfeito? – resmungou o moreninho, dando de costas o espadachim e indo até sua cama.

Ainda meio atordoado, Aya adentrou no quarto e fechou a porta atrás de si. Então caminhou até o jogador e perguntou.

- O que aconteceu Ken?

- Por que se importa? – disse rancoroso, mas se arrependeu assim que aquelas palavras saíram de sua boca. Ele viu o ruivo encara-lo, com algo parecido com dor nos olhos.

- É verdade. – disse num tom frio – Porque deveria me importar? Fujimiya Aya nunca se importa com ninguém, não é?

Quando viu o espadachim sair do quarto abruptamente, ele se xingou de todos os nomes que conhecia.


- Ken, abre a porta, é o Yoji.

O moreno parou de encarar o teto e mirou a porta, desejando ter lasers nos olhos.

- Já disse pra me deixar em paz!

- A Manx está aqui.

Ken levantou-se a contragosto da cama. Ele queria, pelo menos por um tempo, esquecer que trabalhava para a Kritiker, que era um assassino. Era pedir demais?

O moreninho foi até o banheiro e jogou um pouco de água fria no rosto, apesar disso não atenuar os olhos vermelhos. Ele então se dirigiu a sala de missões.

O atleta soube antes mesmo de chegar lá que todos os olhos se voltariam para ele. Estranhamente, apenas um ele temia encarar: íris violetas.

Manx nada disse. Havia sido informada, horas antes por Omi, do comportamento estranho de Siberian. E era algo que ela iria investigar a fundo.

- Weiss, a missão é bem simples. Este homem que está no prontuário que cada um de vocês recebeu é um perigoso traficante de órgãos. Muitas pessoas têm desaparecido do hospital onde ele costuma atuar, pessoas que em sua maioria não possuem mais família ou contato com ela. O hospital para cobrir essas faltas, simula suas mortes quando na verdade elas são apenas colocadas em coma induzido. Bombay recebeu a localização do laboratório, que conseguimos a muito custo. Vocês devem mata-lo e destruir o laboratório.


O silêncio era mortal no prédio. Quatro sombras se movimentavam habilmente, com destino ao subsolo. Aya não podia evitar em observar Ken. Aparentemente ele estava bem, mas para o ruivo ele parecia mecânico demais, longe demais.

Eles chegaram perto do subsolo e, como combinado, se dividiram em dois grupos. Balinese e Bombay começaram a montar as bombas, Siberian e Abyssinian iriam cortar a energia de todos os experimentos do traficante.

Ken entrou por uma das portas laterais, sendo banhado por uma tênue luz. Aya entrou logo atrás dele.

- O que é isso? – perguntou o moreninho a ninguém em particular.

Vários tubos, de três metros de altura, estavam cheios de um líquido borbulhante que era iluminado por uma luz verde. E dentro havia pessoas. Várias delas.

- Provavelmente são as pessoas que desapareceram do hospital. – disse o ruivo indo até um painel do lado dos tubos.

O jogador encarava as pessoas com um pouco de choque. Elas não mereciam isso! Foi quando ele viu.

Suas pernas se mexeram de modo automático até ele parar em frente de um dos tubos. Sua mão ergueu-se e tocou a superfície de vidro. Aya ergueu o rosto do painel e viu o gesto. Ele franziu a sobrancelha.

- Siberian, o que foi?

- Obaa-san...

O espadachim arregalou os olhos e então foi até perto do outro.

- O que você disse?

Ken tinha fechado o punho contra o vidro.

- Eles disseram que ela havia morrido!

O espadachim encostou a mão no braço do moreninho, mas este se desvencilhou com força.

- Siberian...

- Siberian porra nenhuma! Eles mentiram pra mim! Enquanto eu estava sofrendo, eles estavam usando a obaa-san de cobaia!

Aya segurou no braço dele, mas dessa vez mais firmemente. Sua voz saiu autoritária.

- Siberian, temos que desligar os sistemas e sair daqui.

- Eu não vou deixa-la aqui!

- Mesmo que você a tire do tubo, é tarde demais, ela não vai sobreviver muito e você sabe disso.

- Então vou deixa-la no tubo até achar um jeito!

- Nossa missão é destruir o laboratório, o traficante e as evidências.

- Foda-se a missão! Obaa-san não é uma 'evidência' e eu não vou deixa-la morrer!

– gritou Ken, cada vez mais exaltado.

Aya apertou o braço que segurava, estreitando os olhos. Se o moreno continuasse a gritar assim, iria atrair a atenção do traficante antes da hora. Não vendo outra solução ele chamou pelo intercomunicador.

- Balinese, Bombay. Siberian está causando problemas.

O atleta encarou o ruivo incrédulo. Então se atirou contra o outro, dando um soco no rosto dele.

- Como você se atreve Aya? Se fosse a sua irmã, você não diria isso, seu filho da puta!

- Eu estou aqui para completar a missão. E é Abyssinian. – replicou de modo frio, devolvendo o soco no outro.

Ken bateu contra o vidro onde sua avó estava, devido ao impacto do soco, fazendo ele rachar. Ele deslizou até o chão, tossindo um pouco, vendo seu sangue cair de sua boca. Ele levantou-se e logo se voltou para a avó, constatando com horror que o líquido borbulhante agora começava a vazar.

- Olha o que você fez! Se ela não conseguir se salvar, eu nunca vou te perdoar Aya! – ele se dirigiu até o painel, tentando achar uma maneira, qualquer coisa.

Nesse momento Omi e Yoji entraram na sala e apenas scanearam rapidamente a situação: o vidro quebrado, a marca vermelha no rosto do ruivo, Ken se mexendo freneticamente na frente do painel. A voz de Aya saiu autoritária.

- Bombay, você tem algum dardo para apagar Siberian?

- Eu tenho tranqüilizante, mas... Abyssinian...

- Faça-o.

Ken voltou-se para o ruivo ao ouvir isso e foi em direção a ele, empunhando as garras.

- Eu te mato, desgraçado!

Antes que ele conseguisse chegar ao destino, um dardo acertou em cheio seu pescoço. Ele caiu com um baque no chão. Yoji olhava tudo com a sobrancelha erguida. Devia haver um motivo para o outro agir assim, certo?

- Balinese, me ajude a carregar ele pra fora daqui. Bombay, consegue desligar o sistema e sair daqui sozinho?

- Consigo sim Abyssinian. Mas... porque ele estava...

- Explico depois. Não temos muito tempo

O loiro ajudou a pegar o moreno inconsciente enquanto sua intuição dizia que aquilo não ia acabar bem.


- Como ele está?

- Ainda apagado. Deve acordar daqui uma hora, mais ou menos.

Aya suspirou pesadamente. Eles estavam na sala, esperando Omi voltar do quarto de Ken. A missão havia sido completada com sucesso.

- Muito bem Aya, agora você poderia explicar o porque dele agir assim? – inquiriu Yoji, cruzando os braços.

- Uma das pessoas que estavam naqueles tubos... pelo o que ele disse... era a avó dele.

- Nani! – exclamou o loiro – E você deixou a gente continuar com a missão mesmo assim?

- Não havia nada mais que pudéssemos fazer Kudou! Todas aquelas pessoas já estavam mortas, por assim dizer.

- Isso é verdade Yoji-kun. Mesmo que tirássemos alguém de lá, esta pessoa morreria logo em seguida.

- Isso explica porque ele agiu assim.

- Eu tentei argumentar com ele, mas ele não quis me ouvir.

- Eu imagino como você deve ter argumentado com ele. – disse o playboy cheio de sarcasmo.

Aya levantou-se do sofá num rompante, estreitando os olhos. Sua voz saiu ácida, cheia de ódio.

- Tente argumentar com uma pessoa que ela deve deixar alguém querido morrer e você vai ter uma idéia do que houve.

Sem dizer mais nada, ele saiu da sala, indo para seu quarto. Omi caiu numa das poltronas, sentindo o começo de uma enxaqueca. Yoji bufou e então saiu da sala também. Precisava de um cigarro.


Ele abriu os olhos, sentindo-os pesados. Um gosto amargo predominava na sua boca. Ele tentou levantar-se, ainda meio desnorteado. Num momento estavam no laboratório, na missão e depois...

A missão! Num gesto brusco o jogador levantou-se da cama. Ele constatou com horror que usava apenas a calça do seu pijama. E que estava no seu quarto. Ele andou freneticamente no local, procurando suas garras, em qualquer lugar. Achou-as debaixo da pilha que era suas roupas da missão.

Após coloca-las, ele estreitou os olhos. Ele escancarou a porta do quarto andando rápido pelo corredor. Omi abriu a porta do seu, estranhando o barulho. Ele viu o moreninho passar.

- Ken-kun, já acordou...

Ele viu as garras na mão direita do atleta e arregalou os olhos. Ele se dirigiu rapidamente até o quarto de Yoji.

- Yoji-kun! Abra, rápido!

Ken deu um chute na porta do ruivo, abrindo-a com força. Aya estava sentado no balcão da janela, usando também apenas a calça do pijama. Ele voltou seus olhos para a porta e arregalou-os.

- Eu disse que ia te matar maldito. – sibilou o jogador, antes de avançar contra o espadachim.

Aya só teve tempo de desviar da garra, vendo-a atingir a parede onde sua cabeça estava, arrancando um pedaço dela. Ele rolou pelo chão e pegou sua katana encostada na parede a tempo de sofrer outro ataque do moreno. Ele bloqueou a garra, e eles se encararam.

- Ken...

- Cala a boca, maldito! Eu te odeio Aya... te odeio! – gritou o jogador, sentindo lágrimas quentes inundarem seus olhos verdes – Você vai morrer, eu vou acabar com a sua raça!

Ele deu um chute no estômago do ruivo, fazendo-o cambalear com o impacto. Ele avançou novamente, mas antes que pudesse fazer algo, um par de braços segurou-o.

- Me solta!

- Calminha aí Ken.

- Me solta Yoji, senão eu mato você também!

Omi encarava tudo da porta, assustado. Porque ele estava agindo dessa maneira? Aya levantou-se, cuspindo um pouco de sangue no chão. Ele se aproximou do moreno.

- Pare de agir como um idiota Ken.

- Cala a boca! Você vai morrer, e daí Aya-chan vai sentir na pele o que eu estou sentindo agora! – gritou o moreninho.

O ruivo o socou. Sua voz saiu mortalmente fria.

- Não envolva minha irmã nessa história.

- Você não devia ter envolvido minha avó na história também! Filho da puta! – Ken estava fora de si e tentava a todo custo se desvencilhar do loiro, mas ele o segurava de maneira forte.

- Omi, pegue mais tranqüilizantes. Aya... ligue para a Manx. – disse o playboy, sério.

Eles fizeram o que Yoji falara sem hesitar. Ken começou a gritar ameaças para o ruivo e agora para o loiro. Sua garra causava arranhões no braço do ex-detetive e ele se debatia como uma fera enjaulada.


- Não tenho outra alternativa. Siberian vai ter que ser afastado. Até que ele recupere o bom senso, ou quem sabe, de uma vez por todas.

Os três estavam em silêncio. Ken, depois de muita luta fora apagado e estava preso em seu quarto, para não tentar mais nada. Manx suspirou pesadamente.

- Eu vou com ele.

Ela voltou seus olhos para o líder da Weiss.

- O que quer dizer com isso Abyssinian?

- É por minha culpa que ele está fora de si. Então eu vou me afastar com ele e ter certeza que ele vai se recuperar.

A ruiva apenas o encarou longamente.

- Muito bem. A Kritiker possui uma casa isolada numa praia particular há algumas horas daqui, própria para esses casos. Vocês irão para lá amanhã. Por enquanto Siberian ficará preso até que ele não ofereça mais perigo para você, tudo bem?

- Certo.

A ruiva se retirou. Ele então se dirigiu ao loiro.

- Yoji... preciso de um favor seu.

- O que quer Aya? – perguntou o playboy estranhando.

- Como você foi um detetive, preciso que ache algo pra mim. Acho que pode ajudar na recuperação de Ken. É só um palpite, mas...

- Claro, se for pra ajudar ele.

Depois de explicar o que queria, Yoji sorriu e se retirou. Omi também deu boa noite e foi para seu quarto. Aya deixou-se cair na poltrona, esfregando as têmporas com a ponta dos dedos.

Aquilo era culpa sua. Apesar de doloridas, as acusações de Ken eram verdadeiras. E ele iria tentar remediar o estrago que causara. Com todas as suas forças.

CONTINUA.

Mystik