Casal: AyaxKen
Classificação: Yaoi, Lemon, Angst
Nota: Esta história é dedicada inteiramente a minha coisa rosa querida Lilik.Anos Vazios - Segunda parte
A casa parecia ser escolhida a dedo para férias longas. Talvez verão, ele não sabia dizer. Ela tinha dois andares e era feita quase que inteira de madeira. Seus degraus se dirigiam para a praia particular, provavelmente outra propriedade da Kritiker.
No primeiro andar ficava a pequena sala, composta de dois sofás e uma mesa de jantar para quatro pessoas. Uma estante de mogno completava a decoração, e nela havia alguns livros aleatórios. Por uma das portas laterais podia se entrar na cozinha, toda feita de azulejo azul-claro.
No segundo andar, havia três quartos. Dois eram de solteiro e um era para casais. As camas eram forradas de seda azul-marinho e os móveis também eram de mogno. Nos três quartos havia uma enorme janela que dava de frente para o mar.
Era simples, mas aconchegante, pensou Aya, colocando as malas no seu quarto de solteiro. Ken ficaria no outro. Ele terminou de abrir a mala e então suspirou. Seriam férias longas.
Depois daquela noite onde tudo ficara acertado com Manx, o ruivo pensou seriamente se essa seria a melhor idéia mesmo. Afinal, o jogador quase tentara mata-lo. Como ele podia ter certeza que isso não iria acabar acontecendo quando estivessem sozinhos lá?
Mas no terceiro dia da tentativa, a atitude do moreninho mudara radicalmente. Se isso era bom ou ruim, nenhum dos três assassinos poderia dizer. Ele fora solto das amarras que o prendiam, mas se confinara em seu quarto. Ele não comia, não falava, ficava apenas o tempo todo sentado na bancada da janela segurando o que parecia ser um álbum de fotografias nas mãos.
Omi tentava anima-lo, tentava fazer Ken sair do estado de 'choque' que se encontrava, tudo sem sucesso. Depois fora a vez de Yoji, mas nada resultou da tentativa. Aya se encontrou com uma espécie de zumbi em sua companhia quando foram escoltados para a casa na praia.
Ele terminou de arrumar suas roupas e então se dirigiu até o quarto que Ken ocuparia. Ele nem se surpreendeu com a cena: o jogador sentara na enorme janela, segurando aquele maldito álbum novamente. Ele se aproximou a passos largos, dizendo num tom exaltado.
- Eu te proíbo de ficar desse jeito aqui Hidaka!
O silêncio foi sua resposta. Ele bufou, exasperado. Ótimo começo. Foi quando seu celular tocou. Ele se afastou do moreno catatônico e atendeu.
- Moshi, moshi?
- É o Yoji. Achei algo que possa te ajudar.
Aya sorriu levemente, sem perceber que era observado por olhos verdes.
- Ótimo, achei que ia ficar de mãos atadas.
- Vá até o centro da cidade perto da casa que um agente da Kritiker vai te entregar, eu pedi para a Manx.
- Obrigado... Yoji.
- Se eu souber que ele piorou, você vai sofrer até a morte.
- Eu sei.
- Ja ne.
Aya desligou o aparelho e suspirou aliviado. Sem olhar para o outro, saiu do quarto, pretendendo ir se encontrar com o agente da Kritiker.
Ken observou o pequeno sorriso nos lábios que achou serem feitos de pedra. Sem saber porque seu coração deu um pequeno pulo em seu peito. Era tão estranho ver Aya sorrir... que quando isso ocorria, ele não podia deixar de ficar maravilhado.
Assim que o espadachim saiu do quarto, o moreninho voltou seus olhos para o álbum gasto de tanto ser manuseado. Ele abriu-o e começou a ver as fotos de seus pais pela milésima vez naquela semana.
Já era noite alta quando o espadachim voltou para a casa. Ele aproveitara a ida até a cidade e comprara alguns mantimentos. Fazia muito tempo que não cozinhava, desde que seus pais haviam morrido, mas ele achava que ainda podia dar conta do recado.
Ele colocou as compras na mesa e pegou a caixa de formato médio que recebera do agente. Respirando fundo, ele começou a subir as escadas para o segundo andar, indo até o quarto de Ken.
Chegando lá, viu que o local estava vazio, mas um barulho baixo de água correndo podia ser ouvido do banheiro. O espadachim sentou-se na cama de solteiro, decidindo por esperar o moreninho. Foi quando suas mãos esbarraram no álbum, que estava em cima dos lençóis.
Deixando sua curiosidade dominar, ele colocou a caixa de lado e pegou o álbum. Abriu e observou a primeira página. Um casal com um bebê. Ele arqueou a sobrancelha diante do homem, que era a cópia de Ken, tirando os olhos. As íris verdes estavam na mulher.
- Os pais dele... ?
- O que você pensa que está fazendo!
O ruivo levou um susto ao ter o álbum arrancado da sua mão e a exclamação feita. Ele encarou Ken, que usava apenas uma toalha enrolada na cintura e abraçava o álbum protetoramente.
Aya levantou-se e então pegou a caixa. Já era um começo ele falar alguma coisa.
- Eu vim apenas entregar isso.
O jogador o encarou desconfiado. O ruivo depositou a caixa no colchão e disse:
- Pedi para Yoji ir até a casa onde sua avó morava. – ele viu os olhos verdes se arregalarem – Ele encontrou isso, que eu realmente não sei do que se trata e disse que lhe pertencia. Quase todo o resto foi destruído.
Após terminar de falar, ele se dirigiu para a porta. O moreninho apenas sussurrou.
- Aya...
- Gomen. Pela morte da sua avó. Eu sei o quanto é doloroso se perder um ente querido, mas... às vezes... as coisas apenas acontecem. – sussurrou num tom melancólico. Ele então pousou seu olhar violeta no outro – E... poderia me chamar de Ran enquanto estivermos nesta casa?
Ele saiu sem esperar por uma resposta. Ken observou-o por alguns segundos antes de sentar-se com estrondo na cama, pegando a caixa e abrindo-a com afobação. Então tirou um livro de couro marrom, de tamanho médio e volumoso. Na capa estava escrito em letras douradas: "Diário pertencente a Chiori".
Ele abraçou o objeto e sorriu, um sorriso levemente feliz.
- Ran...
Ele bateu na porta levemente, antes de empurra-la com o pé. O ruivo adentrou no quarto carregando uma bandeja pequena.
Ran colocou-a na penteadeira de mogno e então foi até a janela, abrindo as cortinas. Os raios solares iluminaram o quarto e revelaram o corpo dormindo calmamente entre os lençóis azul-marinho.
O espadachim sentou-se na beirada da cama e colocou a mão no ombro do outro.
- Ken?
O moreninho se remexeu assim que a claridade atingiu seu rosto. Ao sentir o toque quente em seu ombro ele abriu os olhos verdes, confuso onde estava.
- Aya?
O ruivo suspirou ante o nome usado pelo outro. Então retirou sua mão, falando.
- Eu trouxe café da manhã. Achei que teria fome. – então se levantou e se preparou para sair do quarto.
Ken sentiu sua pele fria após aquela mão ter se retirado de seu ombro. Ao ouvir as palavras do ruivo, ele arregalou os olhos e levantou-se, chamando timidamente.
- Er... Ran?
O mais velho parou e então se virou, encarando o outro, um olhar confuso em seu rosto.
- Anou... gomen... pelo modo que eu agi. Mas, sabe, eu pensei que pudesse ser uma nova chance de ver minha obaa-san viva e tudo aquilo me fez ter raiva não só da situação, mas de mim mesmo. – ele torcia nervosamente os lençóis entre os dedos – E sobre o nome... você vai ter que me dar um tempo para me acostumar a lhe chamar de Ran.
O mencionado sorriu levemente. Então voltou até a cama e sentou-se na beira.
- Tudo bem. Ambos erramos ao agir como agirmos. Mas já é um bom começo que você esteja disposto a conversar.
O jogador sorriu.
- E também queria agradecer... por ter encontrado o diário da minha obaa-san pra mim. Ainda não li muito, mas aquilo... é precioso pra mim.
- Eu imaginei. Achei que aquilo pudesse servir de algum consolo...
- E serviu. Arigatou... Ran. – ele encarou-o nos olhos.
Ambos sentiram algo mudar. Eles não sabiam bem o que era, mas ficaram bem mais confortáveis uns com o outro. Ken foi o primeiro a desviar o olhar, sussurrando timidamente.
- Não se importa... de tomar café da manhã comigo?
O espadachim sorriu levemente.
- Não. O que vai comer primeiro?
Ran podia dizer que se sentia em paz. Já fazia quase uma semana que ele estava isolado com Ken naquela casa e depois daquela manhã onde haviam conversado e feito às pazes, eles dividiam momentos de silêncios confortáveis.
Eles haviam criado um ritual: o ruivo preparava o almoço enquanto o moreno encostava-se à porta da cozinha, absorto em ler o diário de Hidaka Chiori. Vez ou outra ele comentava alguma passagem com Ran, que dava sua opinião quando achava que devia.
Hoje não era diferente. Ran Terminava de temperar o polvo, pois decidira que faria Takoyaki naquele dia. Foi quando ouviu a voz do jovem:
- Ran, você não vai acreditar nisso!
- O que foi Ken? – perguntou, sem parar o que fazia.
- Obaa-san era uma bruxa!
O espadachim parou e então se voltou para o outro, arqueando a sobrancelha. O moreninho conhecia bem aquele gesto.
- Eu não estou pirando de novo, ta?
- Sei.
O tom fora sério, mas o sorriso no canto do lábio de Ran traiu a intenção. Ken riu, pensando em como aquele gesto, mesmo que leve, era lindo.
- Pára com isso, Ran! Ela até escreveu aqui que eu poderia ter chances de ter herdado os poderes dela.
- E você acreditou?
- Que tal a gente comprovar?
O espadachim virou-se novamente, voltando a preparar o almoço. Então ouviu Ken lhe provocar.
- Está com medo Ran?
- Porque eu estaria?
- Porque eu posso provar que você está errado.
Ele parou o que fazia novamente. Parecia que o jogador o conhecia bem até demais.
- Dificilmente Ken.
- Quer apostar?
- No que nós possivelmente poderíamos apostar?
- Se eu conseguir provar... – as íris verdes, o encararam de frente – Nós vamos até a cidade à noite.
Ran colocou o óleo na frigideira para esquentar. Então comentou.
- Cansado daqui?
- Não é isso. Mas quero sair um pouco, ver gente diferente.
- Minha companhia deve ser detestável mesmo. – comentou secamente.
- Não é isso Ran, e você sabe! – Ken passou a mão pelos cabelos nervosamente.
O ruivo suspirou. Então colocou alguns Takoyakis para fritar.
- Muito bem. Se você não conseguir provar, você se encarrega da janta hoje.
- Nani! Ran... você sabe que eu sou um desastre na cozinha!
- Eu nunca provei da sua comida para saber disso. – replicou o espadachim, sem deixar de sorrir levemente com o pânico do outro.
Ken franziu o cenho e então foi até o outro, pegando-o pelo braço e virando-o de frente.
- Aposto que está se divertindo com isso não é maldito?
Ran o encarou nos olhos, só agora percebendo o quão próximos estavam. Sua voz saiu baixa como sempre.
- Você se irrita fácil Hidaka. Nenhum bruxo seria bem sucedido com esse pavio curto.
- Baka! – exclamou o jogador, soltando o braço do ruivo, e se afastando. Ele ficara incomodado com aquela proximidade – Ta, eu aceito. Depois do almoço nós vamos comprovar os meus 'poderes'.
Ran riu baixo quando viu o outro sair furiosamente da cozinha. Ele nunca imaginara que seria tão divertido tirar o atleta do sério.
- Acha que isso vai dar certo? – perguntou o ruivo, cruzando os braços.
- Pela milésima vez, estava escrito no diário da Obaa-san. Agora senta logo Ran!
O mencionado bufou e sentou-se ao lado do moreno na mesa de jantar. Eles haviam acabado de almoçar e Ken mal esperara ele tirar a mesa e já o arrastara para a sala novamente. A mesa agora tinha o velho diário, aberto numa página específica e três velas grossas, da cor negra. De onde o jogador tirara aquilo, era a dúvida em sua mente.
- E então... o que pretende fazer?
- Segundo a obaa-san, a nossa família conseguia manipular objetos sólidos, isso incluía acender velas sem precisar de fogo.
Ran arqueou a sobrancelha. Ken revirou os olhos.
- Só resta tentar e não precisa fazer essa cara.
- Só estou esperando por sua 'tentativa'.
O jogador ignorou-o e voltou seu olhar para a vela negra a sua frente. Ele espalmou ambas as mãos na mesa e concentrou seu olhar nela. Muito bem, como ele faria aquela vela acender-se sem isqueiro ou fósforo? Com magia? Mas deveria ter algumas palavras mágicas, não deveria?
- Você tem o olhar de fogo por acaso?
- Urusai, Ran. Você está me desconcentrando.
- Certo.
Ele encarou a vela novamente. Talvez devesse ser o poder da sua mente, talvez devesse se concentrar. Ele piscou irritado e bufou. Então viu uma faísca mínima sobre a vela. O jogador arregalou os olhos e pegou o diário da avó, lendo a passagem que deixara em aberto avidamente.
- O que houve?
- Calma... um minuto só.
- Ken, não acha que isso é per...
- Achei! – exclamou o outro, cortando o ruivo. Ele leu em voz alta – "Criar o fogo com a força da vida". É isso!
- Isso o que?
Ken deu um sorrisinho para Ran e então voltou seu olhar para a vela.
- Observe.
O jogador fechou os olhos por alguns segundos, se concentrando. Quando os abriu, eles pareciam ter escurecido. Ele então soprou levemente contra a vela. O vento logo ficou laranja e do nada, o fogo surgiu no pavio, como que trazido pelo vento. O espadachim arregalou os olhos.
- Impossível...
Ken riu e então pegou a outra vela, soprando contra ela novamente. Ela se acendeu. Assim como a terceira. O ruivo estava sem palavras.
O moreninho levantou-se da cadeira e pegou o diário. Ele se dirigiu ao segundo andar e disse, em alto tom para que Ran ouvisse.
- Hoje à noite vai ter um festival na cidade. Poderíamos dar uma passada lá, o que acha?
O mais velho não soube o que responder.
CONTINUA.Mystik
