Casal: AyaxKen
Classificação: Yaoi, Lemon, Angst
Nota: Esta história é dedicada inteiramente a minha coisa rosa querida Lilik.Anos Vazios - Quarta parte
Yoji e Omi entraram apressados no hospital. Desde aquele telefonema de Manx, ambos estavam angustiados para chegar na tal cidade onde os outros dois estavam instalados. Eles foram andando pelos corredores até avistarem Ken.
O moreninho estava sentado no chão, encostado na parede, apesar de haver várias cadeiras vazias na sala de espera onde ele se encontrava. Seu olhar estava perdido e seus dedos mexiam inconscientemente com as contas da pulseira que usava.
Omi se ajoelhou, colocando a mão no ombro do outro.
- Ken-kun... está tudo bem com você?
A voz do moreninho saiu sumida.
- Ele... me empurrou. Porque? Ele disse que nunca ia me deixar... baka mentiroso.
Yoji ajudou o arqueiro a erguer o outro. A voz era consoladora.
- Vem... você precisa descansar. Senta aqui Ken.
O moreninho desvencilhou-se deles, lágrimas quentes inundando seus olhos opacos.
- Vocês não entendem! O Ran... prometeu... – ele soluçou, abraçando seu corpo – Ele prometeu...
Nesse momento o médico apareceu na sala. A um sinal do mais velho, o hacker conduziu gentilmente o jogador para uma das cadeiras. O playboy acompanhou o médico, falando assim que saíram da sala de espera.
- Como ele está?
O senhor suspirou longamente.
- Temo que as notícias não são animadoras. O carro atingiu o senhor Fujimiya em cheio, resultando em algumas costelas quebradas. Mas a batida na cabeça é o que me preocupa. Segundo o resultado dos meus exames ele poderá ficar desacordado por tempo indeterminado.
- Você diz... tipo em coma?
- Exatamente.
- O que?
Os homens voltaram-se para a voz e deram de cara com Ken e Omi atrás dele tentando traze-lo de volta a sala de espera. O atleta saiu num rompante pelos corredores, em direção a saída. Os loiros cumprimentaram o médico e saíram atrás do outro.
- Mentiroso! Mentiroso filho da puta! Porque prometeu aquilo se não ia cumprir? Porque... – ele estava na entrada do hospital e dezenas de pessoas o encaravam com olhares estranhos, vendo o moreno resmungar em voz alta. Mas ele não se importava.
Uma semana. Sete dias. 168 horas. Ken podia contar em várias maneiras o tempo em que estava sofrendo. O quadro clínico de Ran não mudara nada. Ele continuava em coma, sem chances futuras de acordar. Como a sua irmã.
Ele se isolara. Sabia que não estava sozinho naquela casa, que Omi e Yoji sempre estavam por perto, mas eles não eram o ruivo. Aquela casa, aquele pequeno paraíso criado por eles agora era a mais turva e preciosa lembrança do jogador.
O moreninho passava horas e horas lendo o diário da avó, tentando achar uma maneira, qualquer uma, de ajudar Ran. Afundava-se em pesquisas de símbolos, ia para a praia praticar seu poder recém descoberto, mas cada dia se desesperava mais por não achar uma resposta para suas angústias.
Aquele sofrimento já ia completar duas semanas, quando Ken achou algo peculiar no diário de Chiori. O dia em que fora escrito era no dia da morte de sua mãe. E o que lera lhe enchera de confusão.
"Nunca pensei que falaria isso, mas minha filha Hikame é uma idiota. Uma completa idiota. Eu sei como ninguém a dor que é perder alguém querido. Sei que ela deve ter sofrido muito quando Naoto morreu. Mas ela deveria se lembrar que ainda tem um filho para criar. Ken não deveria crescer sem os pais.
Ouvi o barulho do besouro naquela manhã e soube, no mesmo instante, que Hikame havia proclamado a maldição. E que havia se matado. Meus temores se confirmaram quando, já à noite, o oficial Kotaro veio me informar do corpo de minha filha que pescadores haviam retirado do mar. Meu coração quase parou.
Muitos estranharam minha atitude distante, sem lágrimas. Mas eu tinha sido avisada pelo besouro. E eu também tinha que ser forte, por meu pequeno Ken. Nunca revelarei a ele sobre suas habilidades, já que não tenho certeza se ele realmente as herdou e também nunca revelarei sobre a verdadeira morte de sua mãe. Ele não precisa sofrer sabendo que ela preferiu seguir Naoto no mundo dos mortos do quê cuidar dele.
Mas essa maldição me preocupa. Seria minha filha tão egoísta a ponto de proclamá-la? Só o tempo dirá. Mas desde já sinto um enorme pesar pelo meu neto... e por aqueles que virá a amar".
O moreninho fechou o enorme diário e colocou-o ao seu lado na cama. Uma palavra girava e girava na sua mente.
- Maldição?
- Você vai viajar? Mas para onde Ken-kun? – Omi realmente não entendia a atitude do outro.
- Eu preciso Omitchi. – um sorriso melancólico – Mas volto em no máximo dois dias.
Ele não queria abandonar Ran. Mas precisava de respostas. E algo em seu interior lhe dizia que as encontraria na sua cidade natal e ajudaria ao ruivo também.
Ken abraçou Omi e logo desceu as escadas com a mochila, encontrando Yoji encostado no batente da porta, olhando para o mar. Sua voz saiu baixa.
- Se você o ama, porque está fugindo?
- Yoji, eu não...
- Nem eu, nem Omi somos idiotas. – cortou o playboy agora o encarando.
O jogador colocou a mochila no chão e foi até o mais velho, abraçando-o. Após um momento de surpresa, o ex-detetive retornou o abraço, confortando o mais novo, enquanto sussurrava.
- Por que está indo embora Ken?
- Não estou indo embora. Eu apenas... estou atrás de respostas. – admitiu o moreninho numa meia verdade.
- Quer que a gente cuide dele até você voltar? – um soluço escapou de Ken. Yoji sorriu – Volte logo. A gente te espera, ta bom?
Yokohama. Havia anos que não voltava para aquele lugar. Desde que se mudara com a avó para Tokyo atrás dos seus sonhos de se tornar um jogador de futebol na capital.
- O futuro se mostrou bem diferente obaa-san. – murmurou para si enquanto estacionava a moto no penhasco que ficava perto de sua antiga casa.
Ken desligou o veículo e desceu, com o diário de Chiori em mãos, indo até a ponta do penhasco, ouvindo o barulho ruidoso do mar contra as rochas ecoar em seus ouvidos. Ajoelhou-se, colocando o livro no chão, pegando a adaga dentro dele, abrindo-o numa certa página.
Ele encontrara esse feitiço logo depois de ler aquela intrigante passagem no diário da avó. Dizia funcionar para invocar aqueles que não estavam mais neste mundo. E no momento, essa era a única solução que encontrara.
O moreno fez um pentagrama na rocha com a adaga e depois fez um corte na mão com ela, franzindo o cenho levemente. Sua voz saiu baixa.
- Aquele que se foi deve voltar. Aquele que o mar tragou, deve retornar. Perguntas são feitas para respostas achar. Invoco o mundo dos mortos para a paz encontrar.
Ele derrubou o sangue em cima do pentagrama, repetindo o feitiço várias vezes, achando que nada iria acontecer realmente. Foi quando um vento gelado circulou seu corpo, fazendo sua pele se arrepiar. Como uma vertigem, seu mundo foi sugado, as imagens passando aceleradamente ao seu lado até parar.
Ele se via no mesmo penhasco, mas tudo a sua volta estava sem cor. E havia uma pessoa a sua frente, na ponta do penhasco. Uma mulher.
- Okaa-san?
A dita mulher virou-se. Íris verdes iguais as suas o encararam. Hikame sorriu.
- O que faz aqui Ken?
Por um momento o jogador não soube o que dizer. Por um momento.
- Eu achei o diário da obaa-san. E esse feitiço. Só você pode me ajudar.
- O que posso fazer por você?
- Ela escreveu no diário dela que você proclamou uma maldição... antes de se matar.
A loira sorriu. Então virou seu corpo para o mar novamente, entoando:
- Todos aqueles do meu sangue, a partir deste feitiço serão impedidos de amar. Se eles se apaixonarem com todo seu ser, o amado sofrerá uma morte terrível. Assim, livro-os deste sofrimento que é o amor.
Ken sentiu uma raiva cega subir-lhe pela garganta. Ele se aproximou da figura da mãe, gritando.
- Como você pode ser tão egoísta? Impedido de amar? Que espécie de mãe é você que joga essa maldição no seu próprio filho!
Hikame voltou seu olhar vazio ao atleta.
- Você ainda não conhece a dor de amar meu filho. A dor que é amar alguém mais que a si próprio, a ponto de desistir de algo muito precioso para você. E depois... perdê-la.
- Por sua causa... por causa dessa sua idiotice... Ran pode morrer! – ele não se conteve. O tapa dado em Hikame ecoou no cenário vazio do penhasco.
A mulher encarou-o, sem se abalar.
- Ran?
Ken não soube de onde tirou o sangue para corar diante do tom curioso da mãe.
- A pessoa que eu amo. Você pode não saber, mas eu sofri muito na minha vida. Quase fui morto queimado, fui traído pela pessoa que eu mais confiava. Afundei-me nas trevas de uma maneira que acho que nunca poderei escapar. E quando obaa-san precisou de mim... eu não pude ajuda-la. Mas... se não fosse por tudo isso... eu nunca o teria conhecido. Talvez seríamos mais dois desconhecidos na multidão.
- Filho... – o tom de Hikame foi sério – Se você pudesse... voltar no tempo... e desfazer tudo isso. Se pudesse realizar seus verdadeiros sonhos... você o faria?
A pergunta pegou o moreno de surpresa.
Se ele pudesse voltar no tempo e desfazer tudo isso... se Kaze nunca o houvesse traído... ele ainda jogaria na J-League. Seria mais famoso do que jamais imaginara. E sua avó ainda estaria viva. Ele encontraria alguém que o amasse... e seria feliz.
Mas...
A realização caiu como uma tonelada de tijolos em sua cabeça. Ele não teria Ran. Ele nunca teria conhecido Ran, eles nunca teriam viajado para Nagoya naquela casa de praia, nunca teriam se beijado pela primeira vez a luz da lua, ele nunca teria sentido aquele fogo se alastrar pelo seu corpo diante das mãos do espadachim. Ele nunca teria aquela semana plena de felicidade.
Lágrimas escorreram por suas bochechas contra sua vontade. Aquela realização de que ele se sujeitaria a sofrer tudo aquilo de novo apenas para pode estar com o ruivo lhe mortificou. A idéia de que tudo tinha um propósito neste mundo... de que seu destino fora sofrer para encontrar Ran. De que até aquele momento no terraço onde lutara com o espadachim, onde o vira pela primeira vez... fôra nada mais do que uma existência vazia.
- Eu... não quero mudar nada. Se mudar algo significa perde-lo... quero que tudo continue como está.
A mulher sorriu ternamente. Então perguntou de novo.
- Mesmo que esse amor lhe traga dor e sofrimento?
Ken sorriu melancolicamente.
- Hai. Porque ele se tornou mais importante do que eu jamais poderia imaginar. Ele…se tornou o meu mundo okaa-san. O meu Ran.
Hikame o encarou com os olhos verdes brilhantes. Então disse.
- Você nunca precisou de um feitiço para resolver sua vida. A única força que pode quebrar a maldição... é o seu amor. Um amor... que você estaria disposto a se sacrificar por ele.
O barulho do besouro ecoou alto. Ken paralisou. Então a loira falou novamente.
- Você está pronto para viver... meu filho.
Ele não pôde fazer nada ao ver o corpo da mãe cair no mar. Como a dezessete anos atrás. O turbilhão que o levara até lá surgiu novamente, e seu mundo escureceu.
- Doutor, venha rápido! – disse a enfermeira pelo interfone.
O médico Kawamura foi sem demora até o quarto 880. Curioso pela urgência que a voz da enfermeira denunciara. Ao chegar descobriu porque. O paciente Fujimiya Ran abrira os olhos.
CONTINUA.
Mystik
