CAPÍTULO 14 - A detenção de Snape.

Pontualmente às oito horas uma dupla de adolescentes estava plantada à frente de uma porta de madeira antiga, desgastada pelo tempo e de aspecto malcuidado.

- Harry, você tem idéia do que ele vai mandar a gente fazer?

- Não, e não fale mais comigo. - Respondeu zangado. Sofia não insistiu.

A porta foi aberta e ambos adentraram o recinto. Era uma sala de tamanho médio, Harry a conhecia, tinha ido várias vezes lá no ano anterior receber aulas de oclumência - apesar de não ter conseguido fazer progressos na área. Havia várias estantes com dez prateleiras cada, abarrotadas de frascos com os mais diversos ingredientes para poções, tudo muito sujo e empoeirado, teias de aranha por toda a parte. A menina sentiu um nojo imediato pelo local.

- Pelo visto, os trouxas são pontuais. - O professor olhava-os atrás de sua mesa com um sorriso cruel. - A tarefa de vocês será arrumar essa sala. Pela sua expressão, vejo que gostará muito desse trabalho. - A garota torceu o nariz mas resolveu não revidar.

- Não poderão sair daqui até estar tudo limpo e arrumado. - O bruxo fez um movimento com a varinha e surgiram vassouras, panos, espanadores e esfregões, além de dois baldes com água limpa, sabão e óleo para lustrar madeira. - Os baldes são encantados, basta pedirem e a água se tornará limpa. Quando acabarem a porta se abrirá e poderão ir.

- Mas isso vai levar a noite toda! - Harry sentia o sangue ferver de raiva.

- Então da próxima vez trate de controlar melhor seu parceiro, Potter. Até amanhã. - A figura de negro saiu e a fechadura trancou sozinha.

- AH, EU NÃO ACREDITO! PRESO A NOITE TODA AQUI! LIMPANDO ESSA IMUNDÍCE! E COM VOCÊ! - Apontou acusadoramente para Sofia, que olhava tudo.

- Não pode ser tão mal assim... - Ela tentou amenizar e recebeu um olhar assassino de volta. - Eu fico calada, prometo!

- Melhor... Então cada um vai limpar um lado e não dirija mais a palavra a mim hoje. - Disse o bruxo, traçando uma linha imaginária no meio da sala. A trouxa assentiu e retirou o colete e a gravata que usava, ficando com uma blusa de alças apenas.

- Pronto, assim eu trabalho melhor.

O rapaz reparou que o peito dela parecia menor mas não teceu comentários. Concentrou-se em limpar as prateleiras que alcançava sem realmente se importar se estava ou não tirando a sujeira dali. Sua colega balançou a cabeça desgostosa, iam ficar ali por muuuuito tempo.

Duas horas depois...

Harry estava sentado no chão espanando displicentemente um frasco com uma poção para dormir. Não limpara nem um quinto de sua parte e não aprecia ligar para isso. Resolveu então ver o quanto Sofia progredira. Tomou um susto! As seis prateleiras mais altas de todas as estantes estavam impecáveis, bem lustradas, os frascos brilhando de tão limpos, arrumados em ordem alfabética. Olhou a menina e essa não parava, subia a descia a escada sem parar nem parecer cansada, havia tirado o chapéu e os longos cabelos balançavam suave e ritmicamente. Parecia que estava... Dançando?

- O que está fazendo? - Ela não respondeu. - O que está fazendo? - Disse num tom mais alto. Nada. - EI! - Pegou-a pelos ombros irritado e notou que ela usava fones de ouvido bem pequenos, escondidos sob os fios negros.

- Ai, que foi? - Perguntou ela destampando os ouvidos.

- Perguntei o que fazia.

- Ah, limpava ué? Não é para isso que estamos aqui?

- Me refiro a isso. - Ele apontou os fones.

- Resolvi trazer pro caso da tarefa ser muito tediosa. Eu adoro música. - Respondeu sorrindo. O rapaz se sentiu incomodado com isso.

- E como limpou tudo tão depressa?

- Hábito. E já estaria como eu se parasse de enrolar e colocasse trabalhasse.

O bruxo grunhiu algo e sentou-se num banco. Ela deu de ombros e voltou a limpar. Ele ficou observando-a durante muito tempo, até que finalmente terminou de limpar tudo.

- Ufa, acabei! - Exclamou, tirando um lenço rosa bordado do bolso e enxugando a testa.

- Lenço bonito. - Disse Harry sarcástico.

- É mesmo, não é? - Ela pareceu não notar a ironia e mostrou-lhe a peça, era delicado, de linho, com as iniciais S e M bordadas numa ponta. - Sabe, se eu te ajudar, você promete trabalhar pra que a gente saia daqui antes do dia amanhecer?

O bruxo ponderou, realmente era melhor agir ou ficaria ali até o outro dia, uma perspectiva nada boa. - Está bem, vamos lá.

Iniciaram então a penosa tarefa de retirar o pó, limpar cada frasco, polir os móveis. Ao final de uma hora e meia acabaram com as estantes, só restando o chão e os móveis menores.

- Ah, pausa, por favor! - Falou a menina se jogando na poltrona de Snape. - Hum, é tão macia, ele sabe o que é bom.

Ficou ali, de olhos fechados, balançando a cabeça conforme a música que ouvia. Harry sentara-se em frente a ela, um pouco mais distante e não conseguia deixar de pensar no motivo para os seios da trouxa terem encolhido.

- Eu uso uma faixa. - Uma voz suave o tirou dos devaneios. Ela o olhava com um sorriso maroto. O garoto sentiu as bochechas esquentarem e tentou se justificar:

- Ei, não era isso que estava pensando...

- Deixe. Eu preciso disfarçar, lembra? Um homem não pode ter algo tão proeminente assim na dianteira. - Disse rindo e fazendo menção de se levantar.

- Ah, você é doida! Mas vou ser bonzinho dessa vez, pode descansar aí que eu termino o trabalho.

- OBA! - Gritando de alegria, Sofia aconchegou-se ainda mais na poltrona.

Meia hora a mais e tudo estava limpo, Harry sabia que o professor não poderia reclamar de nada. Tinham feito tudo a contento. Ia chamar a colega para saírem dali quando notou que a mesma ressonava tranqüilamente.

- Era só o que me faltava... Preguiçosa. - Pensou em acordá-la mas ao mirar bem a garota viu que estava num sono profundo e teve pena de despertá-la. - Vai me dever essa, Sofia...

Sorrindo catou o colete, a gravata e o boné espalhados pelo chão e pegou a trouxa no colo. Esta remexeu-se um pouco e envolveu o pescoço do rapaz com os braços. Morrendo de vergonha, Harry tratou de sair dali correndo dali. Porém, ao passar por um corredor, mais precisamente o que ficava a Sala Precisa, não percebeu o lenço que escorregou do bolso da calça da menina e ali ficou. Também não ouviu o estalido da porta se abrindo nem viu que seus dois ocupantes saíam um tanto ofegantes e amarrotados. A moça foi quem primeiro notou o pano no chão.

- Olhe só Draco o que eu achei. - Disse pegando o objeto. - Um lenço, acho que é de uma garota. - O rapaz olhou desinteressado mas ao notar as iniciais bordadas arrancou violentamente o lenço de suas mãos. - Ai, seu grosso.

- Quieta Pansy! - Reclamou virando e revirando o tecido. - É, parece de uma menina... Vou ficar com ele por enquanto. - Disse e um sorriso enigmático tomou conta de sua face. Sua companheira estranhou.

- O que foi?

- Nada! - Ríspido. - Agora vamos antes que o Filch venha atrás da gente. - E arrastou a garota para a torre da Sonserina.

Enquanto isso Harry conseguira chegar ileso ao salão comunal da Grifinória. Estava deserto e ele pôde subir sem problemas aos quartos. Adentrou o de Sofia e depositou a menina na cama, retirando-lhe os fones e o aparelho de som da cintura e os depositando no criado mudo. Tirou também os sapatos e as meias e cobriu-a com um lençol. A trouxa remexeu-se e murmurou qualquer coisa, fazendo o rapaz reparar nos lábios vermelhos e carnudos. Sorriu e aproximou mais o rosto do dela, um beijo seria uma boa forma de agradecimento. Mas quando estava quase juntando as bocas, Sofia virou-se bruscamente de lado e acertou o ombro no nariz do colega, que deu um pulo para trás, tentando conter um grito. Quando a dor acalmou, ele suspirou e abandonou o quarto.

- Ainda não foi dessa vez...