Capítulo 1 – Alameda das Glicínias
Normalmente, a Rua dos Alfeneiros mantém um silêncio respeitoso durante a noite. Contudo, três vozes quebravam a regra sem remorso, agitadas e apressadas.
- Quantas pessoas disseram que isso é loucura?
- Hermione, se você reclamar mais uma vez, volta para a casa dos seus pais.
- Ok. Quem terá coragem de me levar à força? Você, Rony? – respondeu, ácida.
- Sim, eu! O mesmo idiota que trouxe você não sei porquê!
- Não façam eu me arrepender de ter carregado vocês comigo! – esbravejou Harry, olhando preocupado para os lados.
- Vim para evitar alguma desgraça, por ficar preocupada quando toma decisões tão repentinas, Harry.
- Eles não vão me matar, pode ficar tranqüila. Podem gritar, me xingar, mas isso não.
- Isso nós teremos que esperar para ver!
- Sim. Esperarão na casa da sra. Figg.
- O quê? – perguntaram Rony e Hermione, estupefatos.
- Vejam que ótimo, a Alameda das Glicínias não é longe. Avisei para a sra. Figg que viríamos, e você pode nos esperar lá, Mione.
- Você enlouqueceu, certo? Vamos juntos!
- Se na rua vocês dois não se comportam, perto do tio Válter nem quero ver. Se acontecer algum imprevisto, alguém precisa pedir ajuda, e confio muito em você para isso, Mione.
- Agora entendi o porquê me pediu pra trazer walkie talkies.
- Do que vocês estão falando? – perguntou Rony, perdido na conversa "trouxa" deles.
- Depois explicamos, Rony. E não faça essa cara, temos pressa – cortou ela.
Ao chegarem na casa de Arabella, Rony resolveu provocar sua amiga.
- É, aproveita e paparica os gatos da sra. Figg pra não sentir falta daquela bola de... Ah, do Bichento – consertou, diante do olhar fulminante dela.
Harry preferiu bater logo na porta, para evitar mais uma briga. A sra. Figg somente entreabriu a porta, e ele deixou-a observar sua mão antes deles entrarem.
- Pegue a capa da invisibilidade e fique atenta ao walkie talkie. Se ouvir o sinal, não perca tempo e nem pense em aparecer sozinha para nos defender. Aparate imediatamente. Não demoraremos pra te buscar.
- E se realmente aparecer alguém, eu terei que...?
- Imobilizá-lo, claro! Queria matar por acaso? – disse Rony, tenso.
- Já esqueceu com que tipo de pessoas estamos lidando?
- Você não mataria ninguém, Mione. Pare de falar bobagem. Harry, vamos ou não?
- O que eu te fiz dessa vez, Rony? Está assim desde que voltei.
- Não fez nada, de onde tirou isso?
A cara contrariada da sra. Figg fez Harry novamente tomar uma atitude.
- Ok, Rony, vamos embora porque estamos perdendo tempo e temos que voltar pra estação antes do amanhecer, lembra?
- Mas nem são onze horas ainda!
- Quanto mais rápido a gente sair daqui, melhor. – disse, arrastando o amigo para fora – Sra. Figg, obrigado pela paciência.
- E que paciência! – resmungou ela.
Quando Rony já estava no quintal, Harry suspendeu a porta e disse rapidamente:
- Ele tá nervoso com a situação, não com você.
Ela aceitou a explicação, e resolveu ignorar o assunto. O importante era proteger seus amigos, não preservar aquelas incríveis discussões sem fundamento.
Analisou a residência da sra. Figg pela primeira vez, espantada pelo domínio que os gatos tinham no lugar. Apesar deles não estarem, sua presença e pêlos eram marcantes em cada pedaço da casa. Dirigiu um sorriso amarelo para a mulher e sentou-se no sofá, olhando para o pequeno aparelho.
A janela estava aberta, então pôde ouvir as vozes dos rapazes morrendo devagar, à medida que se dirigiam a cada dos Dursley. A noite prometia ser longa.
Tocaram a campainha duas vezes, apreensivos. Válter os atendeu com um humor dividido entre o medo e o aborrecimento.
- Por que veio perturbar minha família de novo?
- Não vim perturbar, só me ouça. Depois de tudo o que fizeram comigo, pensei até que não devia vir aqui, mas de qualquer maneira vocês não me mataram e isso já é uma grande coisa.
O maciço homem ensaiou interromper a conversa, fechando a porta na cara deles. No entanto, Harry continuou:
- Têm assassinos rondando a casa. Todos são bruxos, e nenhuma arma vai detê-los. Vai me ouvir ou não?
- Os assassinos são vocês!
- Quem dera, nesse caso...
- Rony! – advertiu Harry, sentindo que perdeu o controle. – Fiquem de olho nas pessoas que passam por aqui, não atendam estranhos como nós, por exemplo, porque tem assassinos querendo fazer mal a vocês por serem meus parentes. Por menos que gostem de serem meus parentes, para eles é fundamental matá-los para me atingir, então por favor, se notarem alguma coisa estranha, liguem pra esse número.
Ele estendeu um bilhete. Valter não se moveu. Então, sem o mínimo de paciência, Rony abriu a mão dele e colocou o número de telefone nela.
- Pronto, Harry. O recado tá dado, ele já entendeu. Não é?
Finalmente, ele saiu do estado de choque e deixou os dois falando sozinhos.
- Eu falei que era besteira.
- Rony, minha consciência está limpa. Avisei do perigo. Se ele quer duvidar, agora a responsabilidade não é mais minha.
Urgente para sair daquele lugar, Rony quase corria para chegar na Alameda. Logo procurou com o olhar a casa embatumada de gatos.
- A luz da casa não estava acesa?
- Vai ver as duas realmente se entenderam e foram para outro cômodo.
- Está muito escuro ali, antes tinha pelo menos a luz da sala...
- Primeiro você implica com ela durante todo o caminho, depois não pára de se preocupar?
- Tem alguma coisa errada, vamos logo!
- Eu desisto de vocês – afirmou, correndo atrás de Rony.
Algo raspava a porta. A sra. Figg imediatamente levantou, e Hermione ficou inquieta:
- Deixa que eu abro.
- Não precisa, é só um dos meus gatos.
- Como pode saber? Pode ser um animago!
- Conheço bem meus gatos, e o jeito de roçarem na porta. Sente-se e fique sossegada.
Ela resolver não impedir a senhora de fazer o que achava conveniente. Entretanto, envolveu-se com a capa e ficou alerta.
Um gato branco miou fraco e quase entrou. Porém, ele exalava um odor insólito e forte, que intrigou as duas. Mal fechou a porta, e a mulher desmaiou. Hermione sentiu-se tonta, contudo afastou-se.
De repente, ela ouviu um estalo. Ao invés de um gato, havia um feiíssimo homem, trajando uma capa negra. Ele apontou a varinha para a lâmpada e estourou-a. No escuro, Hermione guardou a capa da invisibilidade na bolsa e acendeu sua varinha, procurando escutar os passos dele. Foi atingida por um Expelliarmus, e apesar de estatelar em uma parede, tentou atacá-lo com um feitiço estuporante, sem sucesso pela mira feita às cegas. Sentiu uma mão em seu braço esquerdo, revidou proferindo um Reducto. Ele gemeu de dor, já que ela o acertou de raspão na cabeça, soltou-a e ela pôde ir mais longe. Queria encontrar o quarto da casa e fugir dali.
Ele a pegou pelos cabelos. Ela, por reflexo, deu-lhe um soco no rosto com determinação. Então, Hermione percebeu que seu braço direito começou a arder e sangrar, como se alguém o estivesse rasgando. Já livre dele, tombou na parede. O impacto de suas costas com o interruptor fez uma luz se acender. Assim, pôde ver um pouco do crânio dele exposto, junto ao sangue e a pele que explodira devido ao Reducto, e um arroxeado se formando na maçã do rosto.
Reconheceu, portanto, Antonio Dolohov, que a atacara uma vez no Departamento de Mistérios. Sem perder muito tempo, gritou um Expelliarmus e ele foi contra uma prateleira. Não suportando mais manter-se em pé, caiu. Infelizmente, desabou em seu braço, machucado por um feitiço que Dolohov executou sem pronunciar. Somente ouviu a voz de Rony chamando por ela, mesclando-se ao som de seu próprio manifesto de dor extrema, antes de desmaiar.
Rony viu Mione caída, e foi em direção a ela sem perceber Antonio embaixo da prateleira cheia de enfeites quebrados. Assustado pela quantidade de sangue que parecia prover do peito dela, da imobilidade e palidez da garota, julgou-a morta. Harry chegou ali e teve a mesma conclusão. Pegou sua varinha, cheio de raiva, foi até a prateleira e esperou Dolohov mover-se.
Quando ele tirou o móvel de cima de si, subitamente, Harry o derrubou com um contra-feitiço. Começariam a duelar, se não fosse Rony tentar intervir. Antonio aplicou a Maldição Cruciatus em Rony, ao notá-lo. Harry, sem saída, disse a primeira coisa que lhe veio à mente, ao ver seu amigo se contorcendo com uma expressão de horror na face, e lembrar que Hermione esvaía-se em sangue:
- Estupefaça!
Mesmo notando a forte luz vermelha, Rony fixou-se naquilo que o angustiava tanto quanto a dor física: a certeza de ter perdido Hermione. Este pensamento acompanhou-o enquanto perdia levemente a consciência e as forças.
