Réquiem de Esperança
Capítulo I – O Inesperado
Disclaimer : Gundam Wing não me pertence, mas sim a Yoshiyuki Tomino. Caso fosse meu, apertaria tanto as bochechas do Shinigami que era capaz de morrer nas mãos do Deathscythe... Ou seria nas mãos do Heero ?
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Era mais uma manhã amaldiçoada de segunda-feira.
Estava de frente ao espelho de minha suíte, checando se a minha aparência estava em ordem. Um homem de negócios como eu, Heero Yuy, não poderia surgir com alguma falha de nenhuma espécie. Etiqueta era, então, um bom começo.
Chequei em meu laptop os compromissos pendentes. Um pequeno tremor percorreu o meu corpo quando li o que estava escrito na lacuna de meio dia : Almoço com Relena Peacecraft. A voz irritantemente aguda daquela mulher ainda atormentava a minha cabeça !
Era mais uma manhã em que me amaldiçoava por ter acordado.
Segui para a cozinha e tomei um copo de suco de laranja que havia preparado na noite anterior. Não gostava de empregadas; ter alguém estranho dentro de minha residência era algo completamente fora de cogitação. Era só por opção.
Desci até o elevador e me dirigi até meu Porsche 911. Mirei o volante sem emoção. A perspectiva de rever aquela mulher histérica me desanimava por completo. Tive uma idéia que me pareceu a mais ideal. Ligar para Trowa, meu amigo e sócio. Busquei o celular e segui até a saída de meu prédio. O dia estava realmente lindo lá fora e o parque que se situava em frente a meu prédio tinha inúmeras cerejeiras floridas. Resolvi ir até lá.
Não que eu me importasse com a visão.
- Trowa ?
- Heero ? Algum problema ?
- Sinto em lhe dizer, mas não poderei comparecer ao almoço com Relena hoje.
- Mas por quê ?
- Simplesmente não tenho paciência com ela e nem com suas cantadas ! Se eu for hoje, mandarei aquela maluca ir para determinados lugares não muito agradáveis.
- Heero, nós vamos acertar um grande negócio com as empresas Peacecraft e...
- Por que não podemos resolver isso com o irmão dela ?
- Milliardo se retirou dos negócios da família, sabe muito bem disso. Vamos, Heero, o contrato precisa de você.
- Trowa, não insista. – um vento bagunçou meus cabelos já desalinhados. Quis me sentar um pouco e aproveitei para fazê-lo numa cadeira de praça, de frente a uma pequena mesinha onde um rapaz estava sentado, de cabeça baixa. – É melhor que você vá.
- Mas o Quatre hoje vai terminar o plantão dele no hospital geral e combinamos de almoçar juntos. Não posso.
- Eu não vou e ponto final ! Estou pouco me lixando para as empresas dela !
- Como eu consigo agüentar alguém como você ? Faça o que quiser, tire este maldito dia de folga. Vou ligar para Quat e ver o que consigo fazer.
- Sabia que não me decepcionaria.
O telefone foi desligado na minha cara. Dei uma gostosa risada interna; adorava provocar acessos de fúria em Trowa. Relaxei confortavelmente na cadeira e passei incontáveis minutos na mesma posição, apenas olhando o vai e vem de pessoas. Nunca soube bem o motivo, mas apreciava a observação dos mais diferentes tipos humanos.
Mas ainda tinha uma coisa que me incomodava; o rapaz que estava apoiado na mesa, sentado numa cadeira de frente para a minha. Ele não poderia estar dormindo, ou teria acordado com a minha voz ao telefone. Não conseguia ver seu rosto; além de estar com a face escondida nos braços, usava um boné azul. Passei a observá-lo mais atentamente e descobri o porquê da minha inquietação.
O rapaz não estava respirando.
Merda ! Aquilo era só o que me faltava acontecer ! Normalmente teria ido embora, o deixado ali ou chamado uma ambulância. Mas desta vez era diferente. A figura me parecia extremamente jovem e delicada, não deveria ter mais que a minha idade.
É nessas horas que realizamos os atos mais estúpidos. E são esses atos estúpidos que são considerados mais heróicos.
Sem pensar duas vezes, segurei-o pelo queixo e vi seu rosto pálido. Coloquei-o nos braços e saí correndo em direção a meu prédio, chamando a atenção das pessoas que passeavam tranqüilamente no parque. Acomodei-o no banco do carona e segui cantando pneus para o primeiro lugar lógico que surgiu em minha mente.
O hospital geral onde Quatre estava dando plantão.
Sorte dele – e minha também – de que o hospital era muito próximo. Contradizendo todas as leis de trânsito, liguei para o celular de Quatre dentro do carro.
- Heero ?
- Quatre, estou chegando aí com um rapaz que não está respirando.
- Como ? – ouvi sua voz perplexa.
- Sem mais perguntas, prepare o atendimento.
Desliguei sem deixá-lo retrucar. A pressa foi tão grande que mal notei que quase atropelara alguns pacientes na porta do hospital. Vi a feição intrigada de meu amigo loiro e a maneira alucinada em que correu com o rapaz completamente roxo na maca, lançando-me um olhar de censura misturado a choque. Foi aí que finalmente compreendi um erro grave que havia cometido : eu deveria ter feito uma respiração boca a boca no garoto !
Mas aquilo era algo fora da minha esfera de atuação. Eu não colaria meus lábios na boca de um estranho, mesmo que este fosse peculiarmente bonito.
De onde saíra tal pensamento ?
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Abrir os olhos nunca me pareceu tão... Angustiante.
Olhei ao meu redor e reconheci o lugar onde estava. Num quarto de hospital, deitado numa cama, como soro injetado em minha veia. Nada poderia ser mais desagradável do que a sensação de falha que apertava o meu peito.
Eu não havia conseguido ao menos me matar.
Alguns flashes dos últimos acontecimentos rodopiavam na minha cabeça. Lembrava-me de ter ido ao parque e me envenenado ali mesmo. Adorava ver as cerejeiras em flor e quis morrer perto delas. Aquelas pétalas róseas me faziam recordar a minha mãe.
Não que tivesse saudades dela.
Mas é que, em todas as fracas memórias felizes que tinha dela, mamãe estava sempre sorrindo ao vê-las florescer. E também foi debaixo de uma delas que veio a falecer. Aquele era um dia que, sinceramente, não tinha a mínima vontade de recordar.
Tive vontade de sair correndo dali, mas estava muito fraco. Sabia que teria dificuldades de me mover por algum tempo. Além de não ter conseguido o que desejava, piorei mais ainda as coisas para o meu lado ! Que ótimo, nada poderia ficar pior agora.
Só não conseguia entender como diabos eu viera parar naquele hospital ! Tinha certeza de que ninguém repararia num rapaz dormindo na cadeira da praça ! Essa era uma explicação que adoraria ouvir, mas não queria esperar por ela. Precisava sair urgentemente dali. Com alguma sorte, nenhum conhecido me identificara naquele local. Estudava meticulosamente as minhas possibilidades quando a porta do quarto se abriu e vi uma pessoa entrar... Meu Deus, era Quatre !
Eu disse que as coisas não poderiam ficar piores ? Ah, eu estava enganado.
- Você acordou, Duo. – Quatre olhava para mim ainda perplexo – Precisamos conversar algo muito sério por aqui.
- Professor Quatre... Eu... Eu não tenho o que explicar.
- Ah, tem sim, Duo Maxwell ! Você é um rapaz recém-formado em medicina e creio que escolheu esta profissão dos infernos para ajudar as pessoas ! Por que simplesmente usou seus conhecimentos para tentar se matar ?
Não tive palavras para responder o que me era dito. Não tinha coragem para encarar Quatre, meu antigo professor que sempre me apoiou nas dificuldades que tive durante o curso.
- Responda, Duo ! Por que usou de sua acessibilidade para conseguir morfina e injetar uma dose letal em si próprio ? Ah, eu deveria comunicar o Conselho sobre sua conduta ! Mas você sabe muito bem que não vou fazer isso.
Olhei para ele perplexo. Havia cometido um erro fatal e Quatre, aquela pessoa tão correta, simplesmente iria passar a mão na minha cabeça ?
- Por quê ?
- Duo, meu querido Duo... – ele se sentou na beira da minha cama; era muito estranho, ele nem deveria estar fazendo isso só para começar ! – Só Deus sabe o quanto me preocupei com você enquanto cursava e trabalhava ao mesmo tempo. Pensei que não fosse agüentar. Mas você me surpreendeu ! Agora, se ia atirar tudo pela janela, por que tanta garra ?
- Professor Quatre...
- Chame-me apenas de Quatre, Duo.
- Quatre... – as lágrimas saíram profusamente de meus olhos – Desculpe-me...
- Não quero desculpas. Se você tivesse chegado neste maldito hospital um minuto mais tarde, você teria morrido ! Nunca me perdoaria se me fosse entregue o seu corpo sem vida naquela porta !
- Não é culpa sua.
- Sei que não é, mas me sinto responsável por você de certa forma. Não seja tão ríspido comigo, Duo. Você sabe que sempre te ajudei. Mas acho que finalmente encontramos o meu limite. Não há mais nada que possa fazer.
Quatre também havia desistido de mim. Então por que eu ainda continuava respirando ?
- Mas não pense que por isso estou te abandonando. – ele podia ler pensamentos ? – Muito pelo contrário. Só queria saber os motivos que levaram a essa sua cabecinha a agir de tal forma. O Duo que conheci era muito sorridente e cheio de energia, não o corpo roxo que me foi entregue.
- Desculpe, mas eu não quero falar sobre isso...
- Respeito a sua vontade. Porém agora me resta a certeza de que você precisa de alguém mais do que nunca. E quem sabe você não tenha encontrado quem poderá te ajudar ? – olhei-o intrigado – Há uma pessoa querendo falar com você agora.
Vi-o sair de meu quarto e fiquei extremamente confuso. Quem diabos queria me ver ? Não existia uma única pessoa no mundo que tivesse vontade de me ver, nem naquele momento e nem nunca. A resposta apareceu diante de meus olhos, andando calmamente. Um homem moreno de olhos azuis, e muito bonito por sinal. Ele se aproximou de minha cama e me olhava sério. Passamos incontáveis minutos desta maneira.
- Quem é você ? – perguntei, afinal.
- Heero Yuy, a pessoa que te salvou. – ele mantinha um semblante impassível, assim como o meu.
- Eu não pedi para ser salvo.
Continua...
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N/A : Acho que esta é a primeira vez na minha vida que escrevo algo pensando apenas no começo e desprezando completamente o final. A idéia me assaltou de tal maneira que não pude deixar de escrever. Estou cruzando os dedos para que dê tudo certo e que vocês gostem da minha primeira fic de Gundam Wing ! Completamente fora de planos, diga-se de passagem. Como não tenho costume de escrever em primeira pessoa, peço desculpas se houver alguns erros. Mas descobri que pode ser maravilhoso escrever assim depois de ler tantas fics da Arsinoe (fazendo propaganda explicitamente). Beijos e lembrem-se : reviews são sempre bem vindas !
