Réquiem de Esperança
Capítulo VI – Strike
Disclaimer : Yoshiyuki-san veio aqui em casa para disputarmos de uma vez por todas os direitos de Gundam. Trowa sugeriu que nós disputássemos no baralho e, depois de partidas intermináveis de pôquer, acabei por perder... Mas, já que tive azar no jogo, será que terei sorte no amor ?
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Relena estava me deixando maluco.
Há dias que aquela idiota e Trowa me faziam trabalhar no software das empresas Peacecraft. Tudo estaria bem se aquela mulher maluca não mudasse de idéia a todo instante.
Um dia estrangularia seu pescocinho com um sorriso sádico no rosto. E pobre daquele que tentasse me impedir.
Há alguns dias eu vinha perdendo gradualmente o apetite. Talvez seja ódio reprimido. Pobre do Duo, que tentava cozinhar e eu mal tocava em sua comida. Mas quando se tem uma dor difusa se irradiando no umbigo não é muito fácil comer. Relena devia estar me causando uma gastrite.
Ainda não entendia como deixei tão passivamente que Duo tomasse conta da minha cozinha. Mas pelo menos ele se distraía com alguma coisa, eu mal falava com ele. Já que ele morava sozinho, não deveria ser tão difícil.
Mesmo assim, gostaria de passar mais tempo com ele. Naquele dia que ele invadiu a cozinha, pude perceber momentaneamente um lado dele que ainda não tinha visto. Fragilidade. A fragilidade que Quatre queria proteger. Foi uma sensação esquisita. Era como se seu corpo emanasse uma incerteza, uma vontade assassina.
Shinigami... De onde tiraram tal apelido ?
Arrisco-me até a dizer que Duo daria um bom amigo, se eu não fosse tão anti-social. Mas se Trowa e Quat ainda estavam do meu lado, acho que isso significava que eu não era tão rabugento assim.
Ou talvez eles fossem pacientes demais.
Fazia alguns meses que não tinha nenhum relacionamento mais íntimo. Será que toda esta tensão acumulada estava sendo extravasada para o meu mau humor extremado de alguns dias ? E como a minha linha de raciocínio chegara até aqui ?
"Heero, meu filho, relacionamentos só atrasarão a sua vida. Trate de ser um bom profissional, de ser bem sucedido. Ser perfeito."
- Bom dia, meninos. – a voz de Relena entrando na sala onde eu estava com Trowa me despertou.
O que minha mãe diria se soubesse que quem estava me cantando era Relena Peacecraft ? Ainda bem que ela estava morta numa hora destas.
- Bom dia, Relena. – Trowa respondeu cordialmente e puxou uma cadeira para que ela sentasse.
- Hn. Dia.
Trowa me lançou um breve olhar de censura. Mas o que diabos ele queria ? Que eu me levantasse, entregasse minha cadeira a ela e ainda fizesse uma breve reverência ? Cavalheirismos são antiquados, desnecessários e não fazem o meu gênero. O apocalipse deveria estar acontecendo no dia em que eu tivesse uma atitude de cavalheirismo.
Podem me achar idiota, mas este é apenas o meu jeito de ver as coisas.
- Heero, você terminou o programa ?
- Se você não inventar nenhuma alteração, sim.
- As alterações foram necessárias. Minha empresa necessita do máximo de segurança possível e sei que você é competente o suficiente para tal.
- Sim, o programa está muito bom, quase perfeito, diria. – Trowa se manifestou.
Quase perfeito ? Então não está bom, está péssimo ! Fui capacitado para originar perfeição, não poderia me contentar com tão pouco. Mas eu me contentaria desta vez apenas para me livrar de Relena.
A verdade era que aquela mulher era inteligente. Todas as modificações que me foram pedidas tinham fundamento e visavam à segurança do software. Se bem que seria necessário um hacker muito competente para driblar as defesas que eu tinha imposto. Teria de ser um hacker perfeito. E essa pessoa era eu, modéstia a parte.
Lembrei-me da visão de Duo remexendo na minha cozinha. Meus olhos percorreram seu rosto, seus braços pálidos, suas coxas mais ou menos grossas... Desde quando eu andara reparando tanto nas coxas de Duo ?
- Muito obrigada, meninos. Qualquer coisa, telefonarei para cá. – a voz feminina me tirou dos pensamentos.
- O prazer foi nosso, Relena. – que Trowa falasse apenas por si só – Qualquer problema, não hesite em nos ligar.
- Adeus. – falei friamente, relaxando na cadeira assim que ela foi embora.
- Em que planeta você esteve durante toda esta conversa ? Não prestou atenção numa palavra sequer !
- Nada importante. Qualquer coisa é mais interessante que aquela mulher.
- Que tal irmos até o boliche hoje de tarde para relaxar ? Nós dois, Quatre e Duo ?
Franzi as sobrancelhas. Que convite mais social era aquele ?
- Não é uma boa idéia. Não gosto de sair.
- Mas deveria aprender. Você tem quase trinta e um anos ! – soltei um grunhido irritado – Assim vai ficar solteiro para sempre.
Eu ouvira direito ? Trowa estava preocupado com a minha vida afetiva ?
- Não sabia que era alcoviteiro... Quatre não lhe é uma boa influência. – dei um sorriso enviesado.
- Está enganado. Ele é uma ótima influência... – notei o tom duplo da afirmação e ergui uma sobrancelha.
Trowa havia bebido alguma coisa antes de sair de casa ?
- De toda forma, Duo deve ficar de repouso.
- Ele já está praticamente bom. Acho que Quatre não verá problemas.
Minhas saídas estavam se esgotando. Mas eu poderia simplesmente recusar.
- Não temos nenhum compromisso esta tarde ?
- Nada importante. Posso pedir para Sally desmarcar.
Por que simplesmente não negava de uma vez ? Acho que, na verdade, não conseguia por causa de Duo. Ele passara todos esses dias na minha casa sem receber minha atenção já que, em minha escala de prioridades, o trabalho sempre veio em primeiro lugar.
- Hn. Que seja.
Um sorriso vitorioso apareceu no rosto de Trowa e ele se levantou. Fiz o mesmo.
- Três horas, no boliche perto da sua casa. Depois saímos os quatro para jantar.
Apenas o olhei e saí, dando um leve aceno com a cabeça para Sally, sentada em sua cadeira. Segui até o meu carro e entrei. Sim, eu tinha quase trinta e um anos e o último relacionamento sério que me lembrava fora há cinco anos, com a própria Sally Po que trabalhava como nossa secretária.
Acho que homens devem ter alguma espécie de fetiche por secretárias, mas Sally era uma garota legal. Mas não era a pessoa. Hoje estava casada com um velho conhecido de faculdade, Wufei. Nunca fui muito com a cara dele e a recíproca era completamente verdadeira e válida. Talvez fosse porque eu e Trowa abrimos a White Fang, quando ele preferiu trabalhar para a Preventers. E a nossa empresa era a melhor, lógico.
Depois dela, seguiram-se muitos casos, mas nenhum relacionamento. Acho que a idéia de estar com alguém, de dividir todas as minhas coisas e pensamentos, de me aprisionar, simplesmente tudo isso me atormentava. As únicas correntes que aceitava eram as da White Fang. Acho que já mencionei que o trabalho vem em primeiro lugar para mim.
Mas por que eu estava me lembrando de tudo isso agora ? Não sabia que as palavras de Trowa me afetariam tanto.
Girei a ignição para partir. Deveria estar parecendo um idiota dentro do próprio carro, mirando o nada. Dirigi no mais absoluto silêncio, estacionando o carro em minha garagem. Quando cheguei ao nono andar, um cheiro peculiar invadiu minhas narinas.
Cheiro de algo queimado.
Abri a porta do meu apartamento e constatei que o odor provinha de lá. Nada estava fumaçando, o que indicava que não havia incêndio. Segui o cheiro ruim e entrei na minha adorada cozinha, encontrando um Duo no chão, de costas para mim, limpando algo. Olhei para a pia e vi uma panela com algo indecifrável, completamente preto. Constatei, com um pequeno horror, que algumas paredes estavam meladas de preto também.
- O que diabos aconteceu aqui dentro ? – falei irritado.
Duo virou-se para me olhar, completamente espantado. Vi-o abrir e fechar a boca repetidas vezes e depois baixar o olhar para o chão.
- Eu tentei fazer uma receita nova, mas não deu muito certo.
- Isso já deu para perceber. O que você fez errado, baka ?
- Eu... Tentei flambar uma carne para o almoço... Mas acho que coloquei conhaque demais...
Ok. Vamos com calma. Aquele baka tentou, com seus parcos conhecimentos culinários, flambar uma carne para o almoço. Os azulejos estavam melados de preto. Ele colocara conhaque demais. Um estalo.
- Você quase incendiou a minha cozinha ! – falei completamente enfurecido.
- Eu consegui controlar as chamas... Agora é só limpar e...
- Não quero saber ! Fiquei longe deste cômodo ! Minha cozinha não é parque de diversões !
Ele me lançou um olhar magoado e voltou a limpar o chão. Se não me bastasse uma maravilhosa manhã com a Relena, agora aquele maluco quase pusera fogo na minha casa ! Será que Deus tinha algum problema comigo só pelo fato de eu não acreditar na existência dele ?
Acho que meus pensamentos também já estavam bastante confusos. Banho era uma boa opção. Entrei em minha suíte e verifiquei que tudo estava na mais perfeita ordem. Tirei minha roupa e entrei debaixo da ducha quente.
Estressado. Extremamente estressado. Paciência. Calma. Controle. Perfeição. Calor. Calor humano. Gemidos. Um corpo embaixo do meu. Fogo líquido. Suor. Sexo.
Não sei como segui esta linha de raciocínio, mas estava excitado. E nada melhor que um orgasmo para relaxar a minha mente. Encostei-me a parede e deixei que minhas mãos me levassem a esta explosão de alívio e retorno ao meu tão amado autocontrole.
Hoje eu estava pensando demais em relacionamentos e coisas deste tipo. Isso não era do meu feitio.
Quando percebi que meus músculos já me deixaram me mover naturalmente, saí do chuveiro e vesti uma roupa casual folgada. Duas e meia da tarde. Eu passara tempo demais naquele banheiro, me aliviando. Estava na hora de convidar Duo para o maldito boliche.
Era bom perceber que o meu raciocínio estava fluindo melhor.
Procurei por Duo no apartamento inteiro e não o achei. Bem, ele só poderia estar em seu quarto. Dei duas batidas leves na porta e não obtive resposta. Entrei vi o quarto iluminado. Duo estava parado em frente a janela aberta, sem camisa e com uma calça folgada preta, com a trança caindo-lhe pelas costas. Ele tinha um belo corpo, tinha de admitir.
Mas duas coisas me chamaram atenção : ele estava com uma espécie de corrente no pescoço. E estava chorando.
Ótimo, o baka estava chorando. Era a pior pessoa do mundo quando se trata de emoções e todas estas baboseiras sentimentais. Aliás, poderia dizer que não estava apto a nada que não se aprendesse na escola ou na universidade, exceto sexo, é claro. Ok, já estava eu falando de sexo de novo.
Aproximei-me com cuidado e passei um braço pelos seus ombros, notando que ele inclinara a cabeça em minha direção, apoiando-a em meu peito. A correntinha que ele ostentava tinha um crucifixo o qual ele esfregava repetidamente. Ele soltou a cruz e começou a esfregar os olhos, enxugando as lágrimas.
- Não sabia que era religioso, Duo. – falei suavemente.
- Eu sou ateu.
- Não sabia que ateus andavam com crucifixos no pescoço. – falei divertido, alisando seus ombros.
- É apenas uma lembrança da minha mãe. – ele olhava para um ponto fixo na janela – Pensei que estivesse bravo comigo.
- E estou. – ele se encolheu um pouco – Por que estava chorando ?
- Nada importante.
- Você não choraria por bobagens, baka.
Ele sorriu. Senti que tinha chegado no ponto certo.
- Posso te dar um abraço, Hee-chan ?
- Pode.
Ele se virou e me abraçou, enterrando a cabeça no meu pescoço. Fiquei um tanto travado com o pedido, mas à medida que ele continuou a chorar no meu pescoço, tive vontade de protegê-lo, passando meus braços por suas costas quentes e bem talhadas. Cada vez mais eu tinha certeza de que Duo não passava de uma criança pequena precisando de apoio. Mas eu não sabia como fazê-lo; não me fora ensinado tal coisa.
"Por alguma razão, Duo simplesmente não consegue pedir ajuda com as palavras."
Mas eu poderia ajudá-lo de alguma forma ? Quatre também me dissera que ele poderia ser sarcástico, mas o Duo que estava na minha casa era extremamente frágil. Eu preferiria que ele fosse sarcástico. Sarcasmo é mais fácil de se lidar.
Esse abraço poderia ajudá-lo de alguma forma ?
- Hee-chan, desculpe-me pelo que fiz em sua cozinha. – sua voz saiu abafada no meu pescoço, com seu hálito quente se chocando contra as lágrimas que molharam minha pele.
- Tudo bem, baka. Não se preocupe com isso, você não destruiu nada. – levantei o rosto dele e enxuguei as lágrimas – Trowa nos convidou para jogarmos boliche, você quer ir ?
Os olhos dele brilharam, mas desta vez foi de alegria.
- Se não for incomodá-lo... – falou um tanto manhoso.
- Troque-se, vamos chegar atrasados.
Ele sorriu e deu um beijo estalado na minha bochecha. Senti o rosto esquentar.
- Você sabe ser muito doce quando quer, Hee-chan.
Ele se afastou até o guarda-roupa, deixando um suave cheiro de lavanda no ar. Aquelas palavras surtiram um efeito curioso em mim. Eu sabia ser doce ? Então Duo deveria ter descoberto alguma habilidade desconhecida até então, porque nem mesmo Sally havia me dito isso algum dia em nosso antigo relacionamento. O mais próximo que cheguei disso foi um legal.
Eu era legal ?
Estava visivelmente confuso quando ele retornou com um sorriso e com uma blusa no corpo.
- Vamos, Hee-chan ?
- Vamos. É aqui perto. E não me chame de Hee-chan na frente de ninguém.
O sorriso dele aumentou e algo me disse que aquilo não era uma coisa boa. Descemos num tranqüilo silêncio e atravessamos a rua. Estávamos exatamente no fatídico parque em frente ao meu apartamento e as cerejeiras continuavam floridas. Notei que ele as olhava com um certo tom de melancolia nos orbes violetas.
- As cerejeiras te incomodam ? – perguntei baixinho.
- Não, de maneira nenhuma. – ele continuava a fitá-las – Elas lembram a minha mãe. Mamãe adorava flores.
- Por que você não me fala mais sobre a sua mãe ?
O brilho que vi em seus olhos não me deixou nem um pouco contente.
- Outro dia, talvez... Não quero falar sobre ela, não vamos estragar a nossa tarde. Você sabe jogar boliche, Heero ? – perguntou interessado.
Definitivamente, aquela não era a hora mais adequada para tocar no passado de Duo. Um dia, quando tivéssemos mais intimidade e ele se sentisse mais confiante sobre isso, talvez.
- Sei. Você sabe ?
- Joguei algumas vezes com Hilde e Solo, mas eles me diziam que eu era muito ruim. Você me ensina ?
- Hn. – grunhi de maneira estranha, nem afirmando e nem negando.
- Por que você fica tão ranzinza quando estamos com alguma companhia ? Deixe de ser tão anti-social, Heero !
Aquele menino estava me dando uma bronca ? Mas com quem ele pensava que estava falando ? Abri a boca para revidar, mas ele correu feito uma criança quando vê o seu brinquedo favorito numa vitrina. Fora cumprimentar Quatre na frente do boliche.
- Olá, Heero ! – Quatre me cumprimentou jovialmente e acenei com a cabeça – Você realmente fez um bom trabalho com a criança aqui.
- Hey, quem é criança aqui ? Eu vou te derrotar no boliche ! – Duo replicou.
- Pensei que você tinha dito que era muito ruim nisso.
Ele me deu língua e tive vontade de sorrir. Mas não faria isso – não em público.
- Sabia que vocês viriam. – Trowa falou e começou a entrar – Vamos jogar individualmente ou em duplas ?
- Vamos jogar em duplas primeiro, depois individualmente. Creio que nenhum de nós tenha algum compromisso para hoje.
- De acordo, Quatre. – segui até o balcão para reservar uma pista.
Escolhida a pista e as bolas, formamos as duplas : o casal apaixonado contra o baka e eu. Por que sempre eu tinha de ficar com aquele tagarela ?
- Ok, Duo. Você primeiro.
- Eba ! – ele pegou a bola parecendo uma criança contente e a jogou.
A bola rolou e não acertou nenhum pino. Ele fez uma cara tristonha e jogou a segunda bola, sem acertar nenhum pino novamente. Sentou-se do meu lado com um grunhido frustrado.
- Você não é ruim. É péssimo.
- Obrigado pela parte que me toca. – falou irritado – Vamos ver o quanto você é bom depois do Quatre.
Quatre derrubou 7 dos 10 pinos e foi recebido com um sorriso de Trowa. Levantei-me, peguei minha bola devidamente escolhida e lancei-a na pista, fazendo um strike. Dei-lhe um sorriso provocativo e ele fez um gesto nada educado com a mão direita.
A partida de duplas foi se seguindo de uma maneira bastante animada. Era nítida uma rivalidade entre Quatre e Duo e Trowa e eu. Quatre era um bom jogador, mas Duo era terrível. Em sua melhor atuação, derrubara apenas 5 pinos, além de levar um tombo feio quando resolveu comemorar na pista. Sentou-se a meu lado com uma mão na cabeça, onde provavelmente formaria um galo.
- Viu só, já derrubei cinco pinos !
- Da próxima vez não lance a bola, mas se jogue na pista. Vai acertar mais pinos.
Ele deu um pequeno soco no meu braço e fez novamente o gesto nada educado com a mão direita. Ouvi-o murmurar baixinho um "você vai ver só", mas ignorei solenemente. Afinal, era a última rodada da partida e eu precisava fazer três strikes para vencermos. Eu precisava fazer um strike no primeiro arremesso e isso não seria um problema para mim.
Caminhei lentamente com a bola na mão, fixando meu olhar nos dez pinos em formação triangular. Comecei a dar uma corridinha e, quando ia arremessar a bola, ouvi a voz de Duo ao fundo.
- Vamos lá, faz um strike, Hee-chan !
A bola saiu dos meus dedos numa angulação errada, derrubando apenas três pinos. Isso seria o de menos, se não fosse o belo escorregão que levei, caindo de bunda no chão. Sem contar, ainda, nas risadas dos três atrás de mim.
Eu ainda mataria aquele idiota de tranças.
Levantei-me enfurecido e segui até ele, dando-lhe um cascudo. As risadas de Trowa e Quatre ficaram mais fortes e ele me deu língua de maneira infantil. Sentei pesadamente na cadeira a seu lado.
- É duro perder, Hee-chan ? – Trowa debochou.
Foi a minha vez de levantar o dedo para ele.
- Omae o korosu, baka ! – Duo deu uma pequena risada – Eu falei para não me chamar assim. – falei entre os dentes.
- Você que provocou... Se não tivesse xingado tanto a minha performance... Se bem que você não ficou muito atrás desta vez, Hee-chan.
Eu falei que Duo não era sarcástico comigo ? Acho que me enganei profundamente. Se eu mudava na frente de outras pessoas, com certeza não era o único. Ele passava de adorável a insuportável em apenas poucos segundos.
- Agora que vamos começar uma partida individual – Trowa começou – por que não apostamos um pouquinho ?
- Trowa ! – Quatre censurou.
- Calma, meu anjo. É só uma apostinha boba. Quem perder, paga o jantar.
- Fechado. – falei imediatamente.
- Tudo bem, se você me prometer que vai passar um mês sem tocar naquele baralho.
- Quat... Você está me tratando feito um viciado.
- Sem brigas, pombinhos apaixonados. – Duo interveio – Eu aceito.
Nós três o olhamos de maneira estranha. Duo não trabalhava há um bom tempo e só estava naquele apartamento por boa vontade da dona – embora nós três tenhamos nos juntado e pago seus aluguéis e contas atrasadas. Com que dinheiro ele pensava em pagar o jantar, com aquele desempenho aterrador no boliche ?
- Duo, não acho uma boa idéia... – Quatre começou, mas Duo o interrompeu.
- Se eu perder, não pago o jantar, mas passo uma semana de faxineiro na casa do ganhador.
- Aceito. – Trowa falou e Quatre concordou com a cabeça.
A mim só restou soltar um grunhido.
Mas algo me dizia que aquele baka sabia exatamente o que estava fazendo. Quatre derrubou oito pinos; Trowa, nove e eu fiz um spare. Esperamos pacientemente pelo baka trançudo começar sua nova sucessão de desastres quando ele fez um strike.
Virou-se para nós três com um sorriso no rosto ao fitar três olhares espantados – ou melhor, dois.
- Calma, pessoal, foi apenas sorte de principiante.
Não, aquilo não fora sorte de principiante. Duo blefara naquele jogo de duplas. Ele era tão bom quanto eu e Trowa, se não fosse melhor. Com o caminhar do jogo, uma sucessão de X foi aparecendo na tabela de pontos de Duo, além de três idiotas embasbacados. A cada strike, Duo inventava um novo gesto provocativo. Rebolava – muito bem, por sinal – pulava, falava.
No final, ele terminou o jogo com 300 pontos, nada menos que 12 strikes consecutivos.
- Você blefou. – foi tudo o que consegui dizer.
- Você me subestimou, Hee-chan. – ele sorriu provocativamente – Acho que dei uma bela lição nos três. As aparências enganam.
- E como enganam. Mas foi um infeliz incidente para mim... Vou ter de pagar o jantar. – Quatre sorriu.
- Duo, você é sensacional. Nem mesmo Heero havia feito os doze strikes !
Ele sorriu, se gabando. Tive vontade de esganá-lo. Ele havia me feito de bobo !
- Já que você venceu, escolha aonde vamos jantar. – Quatre falou e um sorriso maior apareceu no rosto de Duo.
- Já que vocês insistem...
Por que será que eu não fiquei surpreso ao entrar na pizzaria da esquina ?
A conversa na pizzaria seguiu noite adentro e tudo passou como um borrão para mim. A maldita dor difusa na minha barriga continuava desde a manhã, agora um pouco mais forte, e aquelas pizzas não deveriam estar ajudando muito. A minha concentração já estava se esvaindo quando notei que estávamos na porta do meu prédio se despedindo de Quatre e Trowa que entravam no carro em que vieram. A única coisa que meus ouvidos apuraram foi a voz de Quat dizendo :
- Adeus meninos. E Duo, como seu médico, lhe digo que você está em perfeitas condições. Pode voltar para casa amanhã mesmo.
Continua...
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N/A : Bem, a idéia do boliche surgiu numa conversa com uma amiga minha... Faz tanto tempo que não jogo ! Não que eu seja uma boa jogadora ou que entenda muito – pelo contrário. O boliche que tinha por aqui fechou e a gente ficou chupando dedo... (isso é o que dá morar no fim do mundo). E a idéia da cozinha foi uma contribuição da minha linda Perséfone.
Nossa, quantas reviews eu recebi ! Mas teve uma que foi tão hilária que tenho de comentar aqui mesmo. Foi a da Megara-20 – um beijão pra você ! – que disse "Mas uma coisa eu percebi...o Duo passou a mão q tava pegando em cebola no cabelo do Heero... AH". Sabia que eu nem tinha reparado ? Rolei de rir quando li a review ! Gostaria de mandar beijos especiais também para a Celly, Litha, Ana Paula, Ophiuchus no Shaina, Anne, Anna Malfoy e Tina Chan. As respostas das reviews estão lá no meu blog, chibi ponto weblogger ponto com ponto br. Muito obrigada e mil beijos ! E lembrem-se : reviews são sempre bem vindas !
